Diplomacia
Dilma critica diplomata e diz que operação colocou em risco a vida de senador boliviano
Presidente rebateu o diplomata brasileiro Eduardo Saboia, que conduziu a fuga de Roger Molina de La Paz para o Brasil: 'DOI-Codi é tão distante da embaixada brasileira em La Paz como é distante o céu do inferno'
Laryssa Borges e Gabriel Castro, de Brasília
Veja.com, 27/08/2013
Em sessão solene do Congresso Nacional, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Violência contra a Mulher entrega o relatório final à presidente da República, Dilma Rousseff, e homenageia a Lei Maria da Penha (Evaristo SA/AFP)
“Não estamos em situação de exceção, não há nenhuma similaridade. Eu estive no DOI-Codi. Eu sei o que é o DOI-Codi e asseguro que é tão distante da embaixada brasileira em La Paz como é distante o céu do inferno”
A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta terça-feira que a operação de fuga de Roger Pinto Molina da embaixada brasileira em La Paz, conduzida pelo diplomata brasileiro Eduardo Saboia, colocou em risco a vida do senador boliviano. “Se nada aconteceu, não é a questão. Poderia ter acontecido. Um governo não negocia vida, um governo age para proteger a vida”, disse.
Roger Pinto Molina estava asilado na representação do Brasil em La Paz desde 28 de maio de 2012. O parlamentar, que é acusado de corrupção, alega ser perseguido politicamente pelo governo de Evo Morales. No último final de semana, Molina chegou ao Brasil com o auxílio de Saboia, encarregado de negócios da representação diplomática em La Paz. O governo brasileiro afirma não ter autorizado a operação.
A fuga de Molina para o Brasil abriu uma crise diplomática com a Bolívia e derrubou nesta segunda o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota. Saboia usou um carro da representação brasileira em La Paz para percorrer o trajeto de 1.600 quilômetros até Corumbá (MS). O veículo dispõe de imunidade diplomática e foi escoltado por dois fuzileiros navais brasileiros. De lá, usou um avião obtido pelo senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) para chegar a Brasília.
Após a operação, Saboia afirmou que "escolheu proteger um preso político, como também Dilma foi perseguida" durante a ditadura militar. Irritada, Dilma rechaçou nesta terça a comparação: “Não estamos em situação de exceção, não há nenhuma similaridade. Eu estive no DOI-Codi [onde presos políticos foram torturados na ditadura]. Eu sei o que é o DOI-Codi e asseguro que é tão distante da embaixada brasileira em La Paz como é distante o céu do inferno”.
Em visita ao Congresso Nacional, a presidente também afirmou que os governos do Brasil e da Bolívia negociaram, sem sucesso, a concessão de um salvo-conduto para Molina. “Lamento, profundamente, que um asilado brasileiro tenha sido submetido à insegurança. Lamento, porque num estado democrático e civilizado, a primeira coisa que se faz é proteger a vida, sem qualquer outra consideração.”
Para justificar a operação de fuga, Saboia argumentou que o estado de saúde de Molina se deteriorava a cada dia e que ele poderia tentar o suicídio. Dilma afirmou que “não tem nenhum fundamento acreditar que é possível que um governo, em qualquer país do mundo, aceite submeter a pessoa que está sob asilo a risco de vida”.
Nesta terça-feira o ministro da Defesa, Celso Amorim, deverá dar explicações formais sobre a presença de dois fuzileiros navais na escolta do político entre a Bolívia e o Brasil.
CPMI da Mulher - As declarações de Dilma foram dadas depois de uma sessão especial realizada pelo Congresso para apresentar o relatório final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Violência contra a Mulher. A visita foi uma tentativa de melhorar a relação entre Executivo e Legislativo, que passou por momentos de turbulência nos últimos meses.
Em seu discurso na solenidade, a presidente defendeu "tolerância zero com a violência contra a mulher". Ela também prometeu construir 27 centros de apoio chamados de Casas das Mulheres - uma em cada unidade da federação. "Temos a ambição de chegar a inaugurar algumas dessas casas no dia 8 de março do ano que vem."
Durante dezoito meses, uma CPI investigou a violência contra mulheres. Nas três últimas décadas, 92.000 mulheres foram assassinadas no país. A comissão propôs mudanças na Lei Maria da Penha e a tipificação do "feminicídio" como agravante do crime de homicídio. A presidente prometeu acatar recomendações.
Durante dezoito meses, uma CPI investigou a violência contra mulheres. Nas três últimas décadas, 92.000 mulheres foram assassinadas no país. A comissão propôs mudanças na Lei Maria da Penha e a tipificação do "feminicídio" como agravante do crime de homicídio. A presidente prometeu acatar recomendações.
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