segunda-feira, 28 de julho de 2014

Prata da Casa: as instituições de Bretton Woods - Carlos Marcio B. Cozendey

Como é meu habito, sempre leio e resenho os livros dos diplomatas, de qualidades notoriamente desiguais, em função dos diferentes formatos dos textos originais. Muito frequentemente se trata de teses internas ao Itamaraty, e são portanto cercados por todos aqueles cuidados que o diplomata, em face de uma banca que pretende esquartejá-lo, deve tomar para justamente evitar esse massacre. Outros são livros escritos para um público externo, o que pode aumentar ou diminuir outras qualidades, mas enfim, a maior parte do que tenho lido supera justamente a maior parte do que vejo publicado no mundo acadêmico.
É o caso deste pequeno livrinho, da coleção Em Poucas Palavras, que reúne todas as qualidades para ter sido publicado por uma grande editora comercial, e conhecer assim divulgação mais ampla.
Eu acabei de fazer uma resenha, mas aí me dei conta que já tinha feito a resenha para um número anterior do Boletim da ADB, a associação dos diplomatas.
Bem, junto as duas aqui para novamente expressar meu reconhecimento por essa obra.
Paulo Roberto de Almeida 

Carlos Márcio B. Cozendey:
Instituições de Bretton Woods: desenvolvimento e implicações para o Brasil
(Brasília: Funag, 2013, 181 p.; ISBN 978-85-7631-488-2; Coleção Em Poucas Palavras)

As 160 páginas do corpo de texto não perfazem exatamente um livro “em poucas palavras”, mas cada linha da obra está impregnada de um triplo conhecimento: histórico, teórico e prático, sobre as origens, o desenvolvimento, nas décadas seguintes, e sobre o funcionamento atual dos dois irmãos de Bretton Woods, o Banco e o Fundo, que foram criados em 1944 na pequena cidade do New Hampshire para presidir à ordem econômica do pós-guerra. O autor é o secretário de Assuntos Internacionais da Fazenda, e como tal segue, no G20 e em outras instâncias, as negociações para a reforma do sistema monetário, que já passou por fases melhores do que a atual. Depois das paridades cambiais estáveis, o regime de flutuação não ajuda a manter a estabilidade mundial, mas o maior perigo advém dos desequilíbrios fiscais nacionais, um tema que todavia foge do escopo deste livro. 
           
O autor conhece a bibliografia e domina a teoria do comércio e das finanças internacionais. Mais importante: ele é o negociador brasileiro nas duas irmãs de Bretton Woods e no G-20 financeiro, o que lhe dá um conhecimento direto das diferenças entre o ancien régime e o novo, que não é bem um regime, e sim arranjos parciais e limitados entre os principais protagonistas, para evitar as “guerras cambiais” do passado. O dólar continua tão hegemônico quanto foi na origem, embora o Banco Mundial já não seja tão importante como no imediato pós-Segunda Guerra. O G-20, contudo, tem menos da metade dos participantes da conferência de 1944, e a distribuição de poder econômico é mais equilibrada; ou seja, a oligarquia financeira continua firme no comando do timão, embora as divergências sobre o que fazer continuem tão agudas quanto antigamente.

  

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