Dois editoriais recentes da Folha de São Paulo tocaram num assunto para lá de controvertido. A questão dos gases de efeito estufa e seu possível efeito sobre mudanças climáticas.
Mostraram de modo explícito o equívoco científico em que a COP 21 se enredou. A simples revisão das emissões brasileiras, que não é uma pequena ilha perdida no meio do Oceano Pacífico, mostrou uma diferença de quase um terço (28,6%) entre um resultado e outro levantamento e avaliação. Um terço dessas emissões brasileiras, que seria o esforço de redução é igual a mais de 300 milhões de toneladas de CO2 equivalentes, ou igual as emitidas por um País como a França.
E, aparentemente, isso em nada alterou as metas de redução de produção de gases ou ainda o que poderia acontecer com o clima planetário. Mesmo tendo- se partido da premissa que reduzindo a queima de carbono fóssil, a atmosfera do Planeta, principalmente a temperatura, ficasse com um aumento de no máximo 2ºC até 2050, como estipulado em Paris.
Como conseguiram determinar com tamanha precisão as previsões para o meio do século? Chutaram é evidente. Isso não tem validade científica e quem respaldou essa barbaridade foi o stablishment científico representado pelo IPCC.
Como acreditar e confiar nessas contas?
Como tomá- las como referência para o estabelecimento de políticas nacionais e globais que terão implicações em todos os setores das sociedades humanas?
Como acreditar que reduções de tantas mil toneladas implicarão em diminuição da temperatura média do planeta, se diferenças da magnitude apresentada no caso brasileiro são calculadas (e quase não divulgadas) sem o menor constrangimento e sem gerar nenhuma correção nas pretensas ações mitigadoras.
No caso brasileiro essas metas de mitigação estão projetadas sobretudo junto ao setor agropecuário da economia. Para variar números megalomaníacos como ressaltou muito bem a Folha.
Só para relembrar, no final dos anos 80 a USP coordenou um projeto que já preconizava o plantio de florestas para minimizar os impactos das mudanças climáticas. O FLORAM era uma concepção abrangente de como as florestas poderiam contribuir tanto com o ambiente como com a economia. Esse projeto teve um desdobramento em São Paulo com um plano de desenvolvimento florestal sustentável que propunha o plantio de quatro milhões de hectares no Estado, formulado no início da década de 90. Tais formulações ainda são atuais e se encaixam perfeitamente nas projeções governamentais acrescidas das propostas para o setor pecuário e de integração floresta- agropecuária. À época como agora, o limitador era achar como financiar esses mega projetos. Não se falava ainda em serviços ecossistêmicos, nem em mercados internacionais desses novos “produtos”.
Independentemente dessa concepção, a redução dos desmatamentos e das queimadas, a adoção de técnicas sustentáveis pela agropecuária, o aumento de produtividade das pastagens, o incremento das áreas florestais, a proteção da biodiversidade e de recursos hídricos, e assim por diante, são compromissos que devem ser assumidos porque apontam para um mundo mais equilibrado e mais sustentável, transitando de ecossistemas simples para os de maior complexidade.
É primordial, portanto, que se atente o olhar sobre as atividades agrícolas que são as únicas ações humanas que captam carbono da atmosfera e o transformam em fibras, alimentos, energia, etc. Fazem o papel que os antigos fisiocratas conferiam ao setor: é o único que produz, enquanto os outros apenas transformam.
No cômputo geral, mesmo que um provável aquecimento global se devesse também às atividades humanas, o papel da agropecuária nesse processo seria desprezível, apesar das metodologias empregadas apontarem essas atividades como grandes emissoras de gases efeito estufa.
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