A invenção da natureza por Alexander von Humboldt,
livro de Andrea Wulf
Paulo Roberto de Almeida
[Excertos de
livro, divulgação]
O livro de Andrea Wulf,
jornalista alemã radicada na Grã-Bretanha, sobre o maior cientista
ambientalista de todos os tempos, verdadeiro patrono dos ecologistas
contemporâneos, é uma preciosidade bibliográfica: A invenção da natureza: as aventuras de Alexander von Humboldt
(tradução de Renato Marques; 1a. edição; São Paulo: Planeta, 2016) é
uma biografia perfeitamente reconstituída, com todo o aparato científico das
citações e consultas a um volume impressionante de literatura secundária usada para a composição de um imenso painel cultural do mundo, em todas as
partes, tal como existente do final do século 18 a meados do 19, mas remetendo
igualmente aos modernos discípulos do sábio alemão.
Realizei muitas anotações
a partir do livro de Andrea Wulf, e coloco estes excertos, exclusivamente selecionados por interesse pessoal, nos parágrafos
seguintes.
A partir de sua viagem à
América do Sul, entre 1799 e 1804, Humboldt elaborou um relato pessoal e uma
narrativa científica, na qual ele relata os primeiros efeitos da destruição
humana sobre as paisagens naturais:
“Quando as florestas são
destruídas, como o são em toda a parte na América por obra dos plantadores
europeus, com uma precipitação imprudente, as fontes de água secam por completo
ou se tornam menos abundantes. Os leitos dos rios, permanecendo (p. 97) secos
durante parte do ano, são convertidos em torrentes toda vez que caem pesadas
chuvas em suas cabeceiras. Desaparecendo a relva e o musgo juntamente com a
vegetação rasteira nas encostas das montanhas, as águas das chuvas não sofrem
obstrução em seu curso; em vez aumentarem lentamente o nível dos rios por meio
de progressivas filtragens, durante as intensas chuvaradas as águas sulcam os
declives das colina, empurram para baixo o solo solto e formam as súbitas inundações
que devastam o país”. (p. 98)
Alguns anos antes, na
própria Alemanha, onde trabalhava como inspetor de minas, Humboldt já havia
feito as mesmas observações com respeito ao excessivo desmatamento e o uso de
madeira como combustível. Outros tinham feito as mesmas observações antes dele,
mas com preocupações mais econômicas do que amnbientais.
Texto de Andrea Wulf: “A
madeira era o petróleo dos séculos XVII e XVIII, e qualquer escassez do produto
criava ansiedades com relação a combustível, manufatura e transporte, semelhantes
à comoção que as ameaças à produção de petróleo geram hoje em dia. Já em 1664m
o jardineiro e autor inglês John Evelyn escrevera um livro sobre silvicultura
que se tornou um sucesso de vendas – Sylva,
a Discourse of Forest Trees, que tratava da escassez de madeira como crise
nacional. ‘Seria melhor ficarmos sem ouro do que sem madeira’, Evelyn tinha
declarado, porque sem árvores não haveria indústrias de ferro e vidro, lareiras
ardentes para aquecer as casas durante as noites frias de inverno, tampouco uma
marinha de guerra para proteger as costas da Inglaterra.” (p. 98). Colbert, na
França, também proibiu o corte de árvores, e plantou árvores para uso exclusivo
da Marinha. “A França perecerá pela falta de madeira”. (p. 99). Mais tarde,
Benjamin Franklin inventou uma lareira eficiente no uso de combustível.
Sobre um outro
americano, Jefferson, o terceiro ou quarto presidente dos Estados Unidos:
“Sofria do que chamava de ‘enfermidade da bibliomania’, constantemente
comprando e estudando livros”. (p. 151)
Joseph Banks,
naturalista inglês do Kew Gardens, escreveu a Jacques Julien Houtton de la
Billardière, em 9 de junho de 1796, no auge dos conflitos entre os dois países
na sequência das guerras napoleônicas:
“A ciência das duas
nações pode ficar em paz, enquanto a Política está em guerra”, (p. 123),
citando o livro de Joseph Banks: The Letters of Joseph Banks, A Selection,
1768-1820 (London: Imperial College Press, 2000, p. 171).
Alexander von Humboldt se
espantou com os abusos e o arbítrio da dominação autocrática da coroa espanhola
nas Américas: “O rei espanhol detinha até mesmo o monopólio sobre a neve que
caia em Quito, Lima e outras cidades coloniais, de modo que pudesse ser usada
na fabricação de sorvete para as elites abastadas. Era um absurdo, afirmou
Humboldt, que algo que ‘caia do céu’ pudesse pertencer à Coroa espanhola. A seu
ver, a política e a economia de um governo colonial eram baseadas na ‘imoralidade.’”
(p. 160), escreve Andrea Wulf com base no livro de AH, reproduzindo observações
feitas em Quito, em fevereiro de 1802; Voyage aux régions équinoxiales du
Nouveau Continent, fait en 1799, 1800, 1801, 1802, 1803 et 1804, em 34 volumes,
ilustrados com 1.500 gravuras.
Humboldt também produziu
um livro inteiro de observações sociais, políticas e econômicas sobre a ilha de
Cuba: Essai politique sur l’île de Cuba
(1826), com severas críticas ao sistema da escravidão.
Encontrei um único erro
neste livro, não sei se da tradução por inadvertência, ou da edição original,
por distração, quando aparece uma frase sobre “..a morte Bolívar no final de
1814” (p. 231, da edição brasileira), quando o libertador morreu em 1830.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 3042: 23 setembro 2016
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