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quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Guerra civil espanhola (1936-1939): um conflito seminal, aos 80 anos - Paulo Roberto de Almeida

Ao se completarem 80 anos da guerra civil internacional da Espanha, repostei meu artigo sobre a participação de voluntários brasileiros no conflito, corrigindo os links da revista e indicando o da plataforma Academia.edu:


BrasileIROS Na Guerra Civil Espanhola, 1936-1939:
combatentes brasileiros na luta contra o fascismo
Paulo Roberto de Almeida

Publicado em:
revista Sociologia e Política (Curitiba, PR; ano 4, nº 12, junho 1999, Dossiê: Política Internacional, pp. 35-66; ISSN 0104-4478, impressa; 1678-9873, online; DOI: http://dx.doi.org/10.5380/rsocp.v0i12.39262; links: http://revistas.ufpr.br/rsp/article/view/39262; pdf: http://revistas.ufpr.br/rsp/article/view/39262/24081).
Postado em Academia.edu, em 14/09/2015 (link: http://www.academia.edu/28496518/608_Brasileiros_na_Guerra_Civil_Espanhola_1936-1939_1999_). Relação de Trabalhos n° 608. Relação de Publicados nº 238.
  
RESUMO
Artigo de natureza histórica sobre a participação de brasileiros, majoritariamente pertencentes ao Partido Comunista, na guerra civil espanhola e sobre o contexto político-diplomático do conflito espanhol. Baseado em pesquisa original feita em fontes primárias, sobretudo em entrevistas e questionários com ex-combatentes e seus familiares, e em consulta às fontes secundárias disponíveis sobre o assunto, o trabalho constitui um dos primeiros levantamentos sobre o envolvimento de combatentes voluntários brasileiros nos episódios militares daquela guerra civil, com destaque para sua participação nas Brigadas Internacionais.

PALAVRAS-CHAVE: Guerra civil espanhola, 1936-39; Brigadas Internacionais; participação de brasileiros voluntários.

Texto inédito, servindo como introdução a um novo trabalho, ainda em fase de redação: 

A guerra civil espanhola tem uma característica muito especial, e tem isso de peculiar, em que ela não foi, apenas ou simplesmente, uma guerra civil espanhola. Ela foi, basicamente, uma guerra civil internacional, ainda que travada essencialmente no território espanhol (algumas operações se passaram no norte da África, de onde partiu Francisco Franco para liderar a rebelião nacionalista contra os republicanos).
À diferença de outras guerras civis – como a inglesa do século 17, por exemplo, que surgiu de um conflito entre o rei, de tendências absolutistas, e o parlamento – ou de revoluções políticas e sociais – como a francesa, que colocou o absolutismo em cheque, tanto por razões de representação política da burguesia, como classe ascendente, quanto por uma aguda crise de abastecimento atingindo as camadas mais pobres da população –, a guerra civil espanhola foi uma revolução política e social, ademais de um golpe contra o governo constituído, dentro de um conflito ideológico radical. De fato, se tratou de uma dos mais graves enfrentamentos entre projetos alternativos de sociedade, que marcaram um dos séculos mais brutais e destruidores da história da humanidade.
A guerra civil espanhola é inseparável do contexto internacional que prevaleceu na Europa e no mundo durante a primeira metade do século 20, colocando em confronto não apenas ideologias autoritárias bastante similares em seu formato – ainda que não em suas substâncias respectivas – como também concepções completamente opostas de organização política, como podem ser governos democráticos de um lado e regimes autocráticos do outro, ademais de modos diferentes de organização social da produção, ou seja, economias de mercados mais ou menos livres de um lado, regimes coletivistas ou estatizantes do outro, como eram o socialismo soviético e o corporativismo fascista.
Ela foi o produto combinado de diversas rupturas daquele conjuntura, desde a Grande Guerra e a revolução bolchevique, de 1917, que dela deriva diretamente, da tomada do poder pelas milícias fascistas de Mussolini, em 1922, e das crises seguidas na ordem econômica do entre-guerras, a começar pela quebra da Bolsa de Nova York em 1929, pelas insolvências bancárias a partir de 1931, e pela depressão que se seguiu. Aquela fase da história também assistiu à ascensão dos expansionismos militaristas nos anos 1930, a começar pela invasão da Manchúria pelo Japão em 1931, continuando pelo rearmamento agressivo da Alemanha sob Hitler, a partir de 1933, e a invasão, pela Itália fascista em 1935, da Abissínia (Etiópia), o único Estado africano membro da Liga das Nações. Mas ela também foi o resultado das estratégias e táticas contraditórias de Stalin, via III Internacional, nomeadamente a política de “classe contra classe” adotada a partir de 1928 – que viu os comunistas bolcheviques hostilizarem bem mais os socialdemocratas e os trotsquistas do que os fascistas, num primeiro momento –, mas depois recomendar uma política de “aliança de classes”, ou de Frentes Populares, inclusive na própria Espanha e na França, mas apoiar, contraditoriamente, tentativas insurrecionais, como a experimentada no próprio Brasil, em 1935, quando buscaram ultrapassar os compromissos “burgueses” que também foram ensaiados na China e em outros países simultaneamente.
Finalmente, a guerra civil espanhola é fruto, também, e essencialmente, da própria crise política e social espanhola do início dos anos 1930, que levou à abdicação do rei, em 1931, e à instalação de um novo regime republicano, erigido em frágeis bases partidárias e parlamentares. Já se vivia, então, um contexto no qual apelos autoritários e claramente fascistas estavam sendo abertamente promovidos, entre outras regiões, um pouco em toda a Europa e na América Latina: depois de Mussolini, Portugal deu início a um “Estado Novo” em 1928, diversos países latino-americanos conheceram golpes de Estado ou mudanças de regime depois da crise de 1929, e o próprio Japão, que tinha iniciado uma democracia parlamentar “burguesa” no bojo da revolução Meiji, começou uma descida para o fascismo militarista e expansionista no mesmo período.
A Espanha acumulou todos esses elementos ideológicos e institucionais na primeira metade dos anos 1930, tanto quanto se ressentia, desde muitas décadas, de suas próprias contradições econômicas, sociais e políticas; o outrora mais poderoso império do início da era moderna tinha se convertido numa economia atrasada, num país muito dividido num contexto de outros exemplos mais pujantes de capitalismo industrial e financeiro, sob o controle das novas burguesias triunfantes em diversos países europeus. Não se pode descurar, tampouco, a importante esfera das mentalidades: uma Contra Reforma particularmente “bem sucedida”, o que deixou a Igreja Católica especialmente retrógrada, e um conservadorismo político e social claramente reacionário, todos esses elementos caracterizados por altas doses de intolerância recíproca no seio de movimentos políticos à esquerda – inclusive um forte anarquismo sindicalista – e à direita do espectro ideológico então predominante numa Europa em crise generalizada.
A Guerra Civil Espanhola começou em julho de 1936 e terminou em março-abril de 1939: durante todo o período do conflito ambas as partes em luta, os republicanos governamentais de um lado, os monarquistas e direitistas revoltosos de outro, contaram com apoio internacional e solidariedade política e material de suas correntes de adesão respectivas, o movimento democrático e comunista internacional os primeiros, as forças organizadas do nazi-fascismo europeu os segundos. A ajuda ativa, para ambos os lados, traduziu-se também no envio de contingentes de combatentes estrangeiros — voluntários e profissionais — que foram integrados às diversas forças e exércitos em presença nos campos de batalha, embora desproporcionais em número e em organização e, sobretudo, dispondo de logísticas militares diferenciadas e de suprimentos bélicos desiguais, quando comparados entre si.  
Do lado republicano, a solidariedade internacionalista para com o governo legal de Frente Popular manifestou-se pela criação, em quase todo o mundo, do “comitês de ajuda à Espanha republicana”, em especial pelo afluxo de voluntários estrangeiros, vários milhares deles, que se agrupariam nas “Brigadas Internacionais”. O Brasil também se fez presente, embora modestamente, nesse movimento internacional de solidariedade, através do envio irregular e clandestino — pois que coordenado pelo Partido Comunista, então na ilegalidade — de um pequeno grupo de combatentes experimentados que, apesar de dispersos em diferentes unidades militares, distinguiram-se nas várias frentes de luta em que estiveram engajados em defesa da causa legalista, que também era identificada com a luta antifascista e com a causa do socialismo internacional.
  
ler o artigo completo em: 
revista Sociologia e Política (Curitiba, PR; ano 4, nº 12, junho 1999, Dossiê: Política Internacional, pp. 35-66; ISSN 0104-4478, impressa; 1678-9873, online; DOI: http://dx.doi.org/10.5380/rsocp.v0i12.39262; links: http://revistas.ufpr.br/rsp/article/view/39262; pdf: http://revistas.ufpr.br/rsp/article/view/39262/24081).
Postado em Academia.edu, em 14/09/2015 (link: http://www.academia.edu/28496518/608_Brasileiros_na_Guerra_Civil_Espanhola_1936-1939_1999_).  

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