Ao se completarem 80 anos da guerra civil internacional da Espanha, repostei meu artigo sobre a participação de voluntários brasileiros no conflito, corrigindo os links da revista e indicando o da plataforma Academia.edu:
BrasileIROS Na Guerra Civil
Espanhola, 1936-1939:
combatentes brasileiros na luta contra o fascismo
Paulo
Roberto de Almeida
Publicado em:
RESUMO
Artigo
de natureza histórica sobre a participação de brasileiros, majoritariamente pertencentes
ao Partido Comunista, na guerra civil espanhola e sobre o contexto político-diplomático
do conflito espanhol. Baseado em pesquisa original feita em fontes primárias,
sobretudo em entrevistas e questionários com ex-combatentes e seus familiares,
e em consulta às fontes secundárias disponíveis sobre o assunto, o trabalho
constitui um dos primeiros levantamentos sobre o envolvimento de combatentes
voluntários brasileiros nos episódios militares daquela guerra civil, com
destaque para sua participação nas Brigadas Internacionais.
PALAVRAS-CHAVE: Guerra civil espanhola, 1936-39; Brigadas Internacionais;
participação de brasileiros voluntários.
Texto inédito, servindo como introdução a um novo trabalho, ainda em fase de redação:
A guerra civil espanhola
tem uma característica muito especial, e tem isso de peculiar, em que ela não
foi, apenas ou simplesmente, uma guerra civil espanhola. Ela foi, basicamente,
uma guerra civil internacional, ainda que travada essencialmente no território
espanhol (algumas operações se passaram no norte da África, de onde partiu
Francisco Franco para liderar a rebelião nacionalista contra os republicanos).
À diferença de outras
guerras civis – como a inglesa do século 17, por exemplo, que surgiu de um
conflito entre o rei, de tendências absolutistas, e o parlamento – ou de
revoluções políticas e sociais – como a francesa, que colocou o absolutismo em
cheque, tanto por razões de representação política da burguesia, como classe
ascendente, quanto por uma aguda crise de abastecimento atingindo as camadas
mais pobres da população –, a guerra civil espanhola foi uma revolução política
e social, ademais de um golpe contra o governo constituído, dentro de um
conflito ideológico radical. De fato, se tratou de uma dos mais graves
enfrentamentos entre projetos alternativos de sociedade, que marcaram um dos
séculos mais brutais e destruidores da história da humanidade.
A guerra civil espanhola
é inseparável do contexto internacional que prevaleceu na Europa e no mundo
durante a primeira metade do século 20, colocando em confronto não apenas
ideologias autoritárias bastante similares em seu formato – ainda que não em
suas substâncias respectivas – como também concepções completamente opostas de
organização política, como podem ser governos democráticos de um lado e regimes
autocráticos do outro, ademais de modos diferentes de organização social da
produção, ou seja, economias de mercados mais ou menos livres de um lado,
regimes coletivistas ou estatizantes do outro, como eram o socialismo soviético
e o corporativismo fascista.
Ela foi o produto
combinado de diversas rupturas daquele conjuntura, desde a Grande Guerra e a
revolução bolchevique, de 1917, que dela deriva diretamente, da tomada do poder
pelas milícias fascistas de Mussolini, em 1922, e das crises seguidas na ordem
econômica do entre-guerras, a começar pela quebra da Bolsa de Nova York em
1929, pelas insolvências bancárias a partir de 1931, e pela depressão que se
seguiu. Aquela fase da história também assistiu à ascensão dos expansionismos
militaristas nos anos 1930, a começar pela invasão da Manchúria pelo Japão em
1931, continuando pelo rearmamento agressivo da Alemanha sob Hitler, a partir
de 1933, e a invasão, pela Itália fascista em 1935, da Abissínia (Etiópia), o
único Estado africano membro da Liga das Nações. Mas ela também foi o resultado
das estratégias e táticas contraditórias de Stalin, via III Internacional,
nomeadamente a política de “classe contra classe” adotada a partir de 1928 –
que viu os comunistas bolcheviques hostilizarem bem mais os socialdemocratas e
os trotsquistas do que os fascistas, num primeiro momento –, mas depois recomendar
uma política de “aliança de classes”, ou de Frentes Populares, inclusive na
própria Espanha e na França, mas apoiar, contraditoriamente, tentativas
insurrecionais, como a experimentada no próprio Brasil, em 1935, quando
buscaram ultrapassar os compromissos “burgueses” que também foram ensaiados na
China e em outros países simultaneamente.
Finalmente, a guerra
civil espanhola é fruto, também, e essencialmente, da própria crise política e
social espanhola do início dos anos 1930, que levou à abdicação do rei, em
1931, e à instalação de um novo regime republicano, erigido em frágeis bases
partidárias e parlamentares. Já se vivia, então, um contexto no qual apelos
autoritários e claramente fascistas estavam sendo abertamente promovidos, entre
outras regiões, um pouco em toda a Europa e na América Latina: depois de
Mussolini, Portugal deu início a um “Estado Novo” em 1928, diversos países
latino-americanos conheceram golpes de Estado ou mudanças de regime depois da
crise de 1929, e o próprio Japão, que tinha iniciado uma democracia parlamentar
“burguesa” no bojo da revolução Meiji, começou uma descida para o fascismo
militarista e expansionista no mesmo período.
A Espanha acumulou todos
esses elementos ideológicos e institucionais na primeira metade dos anos 1930,
tanto quanto se ressentia, desde muitas décadas, de suas próprias contradições
econômicas, sociais e políticas; o outrora mais poderoso império do início da
era moderna tinha se convertido numa economia atrasada, num país muito dividido
num contexto de outros exemplos mais pujantes de capitalismo industrial e
financeiro, sob o controle das novas burguesias triunfantes em diversos países
europeus. Não se pode descurar, tampouco, a importante esfera das mentalidades:
uma Contra Reforma particularmente “bem sucedida”, o que deixou a Igreja Católica
especialmente retrógrada, e um conservadorismo político e social claramente
reacionário, todos esses elementos caracterizados por altas doses de intolerância
recíproca no seio de movimentos políticos à esquerda – inclusive um forte
anarquismo sindicalista – e à direita do espectro ideológico então predominante
numa Europa em crise generalizada.
A Guerra Civil Espanhola
começou em julho de 1936 e terminou em março-abril de 1939: durante todo o
período do conflito ambas as partes em luta, os republicanos governamentais de
um lado, os monarquistas e direitistas revoltosos de outro, contaram com apoio
internacional e solidariedade política e material de suas correntes de adesão
respectivas, o movimento democrático e comunista internacional os primeiros, as
forças organizadas do nazi-fascismo europeu os segundos. A ajuda ativa, para
ambos os lados, traduziu-se também no envio de contingentes de combatentes
estrangeiros — voluntários e profissionais — que foram integrados às diversas
forças e exércitos em presença nos campos de batalha, embora desproporcionais
em número e em organização e, sobretudo, dispondo de logísticas militares
diferenciadas e de suprimentos bélicos desiguais, quando comparados entre si.
Do
lado republicano, a solidariedade internacionalista para com o governo legal de
Frente Popular manifestou-se pela criação, em quase todo o mundo, do “comitês
de ajuda à Espanha republicana”, em especial pelo afluxo de voluntários
estrangeiros, vários milhares deles, que se agrupariam nas “Brigadas
Internacionais”. O Brasil também se fez presente, embora modestamente, nesse
movimento internacional de solidariedade, através do envio irregular e
clandestino — pois que coordenado pelo Partido Comunista, então na ilegalidade
— de um pequeno grupo de combatentes experimentados que, apesar de dispersos em
diferentes unidades militares, distinguiram-se nas várias frentes de luta em
que estiveram engajados em defesa da causa legalista, que também era identificada
com a luta antifascista e com a causa do socialismo internacional.
ler o artigo completo em:
Postado em Academia.edu, em 14/09/2015 (link: http://www.academia.edu/28496518/608_Brasileiros_na_Guerra_Civil_Espanhola_1936-1939_1999_).
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