Leitor assíduo, há muito, de seus artigos, peço vênia para comentar a respeito do exposto entre os parágrafos 6 e 8 do texto “China´s pivot, Brazil’s stance: a personal view”.
Creio que, ao assim proceder, continuarei no esforço de fazer o registro de experiências pessoais nos difíceis lugares onde servi, ao longo de mais de 40 anos de carreira diplomática, bem como poderia estimular os leitores de Mundorama a serem mais participativos, no que diz respeito a comentários dos artigos publicados.
Assim, tendo servido em Pequim, entre 1982 e 1985, gostaria de lembrar que a opção de transferir o reconhecimento diplomático da “República da China” para a RPC, em 1974, não se reduziu ao estimulo para que os chineses do continente “tomassem mais cafezinhos”.
Em termos simplificados, acho que poderíamos dizer que tal iniciativa inseriu-se na formulação de uma “Política Nacional para o Exterior” – em oposição a uma mera política externa comercial. Apesar de extrema direita no plano interno, a atuação de Geisel – com apoio do Chanceler Silveira e inspiração do Embaixador Ítalo Zappa, com que servi em Maputo e Pequim – teve expressivo significado na inserção internacional brasileira, em mundo então bipolarizado, com a valorização do conceito de “nação”, tão presente em discursos do Zappa.
Com o mesmo impulso, houve o reconhecimento do MPLA, como único representante da “nação” angolana. Isto é, tanto na China quanto em Angola, procurávamos identificar qual seria o real representante de cada nação. Não poderia ser a Ilha de Formosa, no caso chinês, nem os outros movimentos de libertação de Angola, que falavam, estes, francês ou afrikans.
Assim, os que vivemos o início das relações com a RPC sentíamos que, naquele momento, participávamos como parceiros (estratégicos, seria definido mais tarde) com um terceiro polo de poder mundial, então emergente.
Não se pode simplificar o acordo, assinado por Figueiredo, em 1984, e não por Sarney, em 1988, para construção de satélites – que foi e talvez seja ainda o projeto mais sofisticado entre dois países então em desenvolvimento. Tive o privilégio de acompanhar o início de tal cooperação, viajando, inclusive, a centros de pesquisa China, com pioneiros nossos nesse setor.
Então houve, sim, uma visão estratégica, no início. Caso haja interesse, poderei elaborar mais sobre este aspecto das relações.
Quanto aos demais pontos de seu artigo, teria pouco a comentar. Apenas lembro que outro país possui comércio bilateral semelhante ao nosso, com a China, exportando apenas produtos primários e aviões, enquanto importa todo tipo de bugiganga: os Estados Unidos da América.
Abraço afetuoso, do admirador
Paulo Antônio Pereira Pinto
Embaixador em Minsk"
Com prazer recebo estas críticas e delas farei bom uso em minha exposição oral sobre a questão.
Paulo Roberto de Almeida
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