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domingo, 10 de dezembro de 2017
Presidencialismo no Brasil: antecipando a catastrofe? - General Olympio Mourao
Paulo Roberto de Almeida
O economista Ricardo Bergamini envia mais uma vez a seus correspondentes, entre os quais me incluo (e transcrevo abaixo), um conhecido trecho das memórias (do final dos anos 1960 ou início dos 70) do General Olympio Mourão, aquele que deu início ao movimento militar de 1964, deslocando suas tropas de Juiz de Fora ao Rio de Janeiro, e assim precipitando um processo em curso de crise político-militar na República.
Nunca conferi os originais para saber se a transcrição estava correta, mas esse trecho foi muito usado quando da eleição de Lula em 2002, e depois várias vezes durante o seu mandato, mas volta agora a ser novamente usado, quando um outro militar, por acaso Mourão também, defende abertamente a intervenção militar num Brasil aparentemente dominado pela corrupção desenfreada em todas as esferas, ao mesmo tempo em que esse mesmo militar apoia um dos candidatos (ex-militar) à presidência, nas eleições de outubro de 2018, aparentemente tão autoritário quanto os dois Mourões.
De fato, independentemente do que vai transcrito abaixo, sem maior consistência em relação ao processo real de crise política na qual o Brasil vive atualmente, o que pode ser deprimente para pessoas sensatas — como acredito que são os meus poucos leitores — é constatar quão medíocres são os homens que nos governam, e quão medíocres podem ser os que ainda nos vão governar. A deterioração da classe política não parece estar restrita ao Brasil, uma vez que na Europa e nos EUA vemos personalidades deprimentes chegando ao topo do poder, algumas até perigosas para a paz mundial e a boa convivência entre os povos, como pode ser o caso de um cretino fundamental.
Ao examinar o panorama político no Brasil, assusta-me ver pessoas aparentemente bem informadas, até estudiosos da política e das relações internacionais, apoiarem, sem qualquer necessidade de fazê-lo, uma personalidade tão execrável quanto o atual presidente americano, e tão deletério para a própria economia e política dos EUA e sua posição no mundo, e que por acaso são as mesmas pessoas que também apoiam uma personagem comparável no contexto brasileiro.
Ou seja, o panorama atual é assustador, tanto nos EUA, quanto no Brasil, e não podemos ficar otimistas a este respeito, pois mesmo que vença um centrista razoável, vemos a nação irremediavelmente dividida entre trogloditas políticos dos dois extremos do espectro, sem grandes esperanças de reformas estruturais razoáveis no futuro previsível. Se a ignorância política grassa entre a maioria dos eleitores, a confusão mental também impera entre letrados e acadêmicos.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 10/12/2017
Segue a transcrição prometida ao início:
“Maldita forma de governo que é o Presidencialismo.
Ponha-se na Presidência qualquer medíocre, louco ou semianalfabeto e vinte e quatro horas depois a horda de aduladores estará a sua volta, brandindo o elogio como arma, convencendo-o de que é um gênio político e um grande homem, de que tudo quanto faz está certo.
Em pouco tempo transforma-se um ignorante em sábio, um louco em gênio equilibrado, um primário em estadista.
E um homem nessa posição, empunhando nas mãos as rédeas de um poder praticamente sem limites, embriagado pela bajulação, transforma-se num monstro perigoso.
Enquanto esse monstro é dirigido e explorado apenas pela lisonja, bajulado pela corte, a Nação sofre prejuízos de monta, é verdade, mas, apenas danos materiais em sua maioria e morais alguns.
Quando, porém, sua roda é formada ou dominada por um bando refece de demônios, nesse momento a Nação corre os mais sérios perigos.
General Olympio Mourão Filho
Olímpio Mourão Filho (Diamantina, 9 de maio de 1900 - Rio de Janeiro, 28 de maio de 1972) foi um general de exército brasileiro, que participou ativamente do movimento integralista e também liderou a Revolução em 1964.”
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