Não poderia deixar encerrar o ano sem homenagear os primeiros 30 anos da existência da entidade da qual sou o atual Diretor (desde agosto de 2016), o Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, IPRI, vinculado à Funag, e que cumpriu um programa de trabalho razoável no decurso deste ano, sobre o qual já informei neste mesmo espaço; ver aqui: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/12/atividades-do-ipri-em-2017-um-primeiro.html).
Transcrevo abaixo a nota que foi publicada nos Cadernos de Política Exterior (n. 6, segundo semestre de 2017, p. 469-474; link:
http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&path=85&product_id=935;
série dos Cadernos de Política Exterior: http://www.funag.gov.br/ipri/index.php/cadernos-de-politica-exterior).
Paulo Roberto de Almeida
21 de dezembro de 2017
Paulo Roberto de Almeida
Diretor do Instituto de Pesquisa de Relações
Internacionais, IPRI-Funag.
O Itamaraty é conhecido
por constituir um serviço diplomático de excelência, desde as origens à
atualidade, o que já foi confirmado por testemunhos de diplomatas estrangeiros,
inclusive os vizinhos, portanto, insuspeitos. Ele é também conhecido por
abrigar famosos homens de letras, acadêmicos de qualidade, grandes
intelectuais, até de estatura internacional, o que é natural numa instituição
voltada para a interface externa do país. Em sua interface interna, essa
instituição conseguiu atrair, justamente, alguns dos mais legítimos
representantes da cultura brasileira, o que também pode ser aferido pela lista
de seus profissionais de carreira que se tornaram “imortais”, isto é,
integrantes da Academia Brasileira de Letras (ABL). A ABL, desde o início, foi,
possivelmente, a “ponte” mais evidente entre o Itamaraty e a sociedade
brasileira, ainda que, consoante seu caráter relativamente elitista, essa ponte
se fazia mais propriamente com a “república das letras”, um pequeno clube de
promotores da alta cultura nacional.
A segunda “ponte”, esta
bem mais democrática, foi o Instituto Rio Branco (IRBr), que, desde 1945,
assegura uma seleção regular, e perfeitamente meritocrática, das melhores
capacidades para servir ao Brasil no exterior e em todas as atividades internas
relativas ao trabalho de representação diplomática. O Instituto Rio Branco
começou por recrutar os melhores professores para capacitar ainda mais os
integrantes do serviço exterior. O processo de qualificação do pessoal de
carreira teve continuidade, mais adiante, pelos requerimentos funcionais à
ascensão funcional, o Curso de Aperfeiçoamento, em nível de secretário, e o
Curso de Altos Estudos, para os conselheiros, com exigência de tese defendida
em banca. O IRBr tornou-se, assim, um formador contínuo de “mão de obra”
altamente especializada, bem como um produtor de conhecimento, ainda que para a
própria instituição, embora, também, com o concurso de representantes da
academia.
Para justamente
estabelecer a terceira “ponte” entre o ministério e a sociedade civil foi
criada, em 1971, a Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG), que cumpriu, portanto,
seus primeiros 45 anos de existência em 2016. A ela se deve uma imensa
atividade de natureza cultural, mas também voltada para a promoção de estudos e
pesquisas sobre todos os temas que compõem a agenda de trabalho do Itamaraty. A
FUNAG acumulou, até aqui, um catálogo de centenas de títulos publicados, nas
muitas coleções em que se divide a sua produção editorial, uma das maiores do
Brasil, senão a maior de todas, em temas de relações internacionais, de
política externa e de história diplomática, com a peculiaridade de que essas
obras encontram-se livremente disponíveis em sua Biblioteca Digital. O acesso
aos materiais disponíveis em seu site espelha praticamente a quase totalidade dos membros
da ONU, em cifras milionárias, o que estabelece uma outra “ponte” com o público
no exterior, brasileiros estudando fora do pais, ou estrangeiros buscando
informação e materiais de estudo sobre a diplomacia brasileira e sobre todos os
temas de economia e de política internacional trabalhados no e pelo Itamaraty. A
FUNAG editou mais de mil livros nos últimos dez anos, a maior parte em
português, mas agora também em inglês e espanhol, e já caminhando para outras
línguas (como o mandarim e o árabe).
Muitos desses trabalhos
publicados pertencem ao ramo historiográfico, e, para isso, a FUNAG dispõe do
Centro de História e Documentação Diplomática (CHDD), sediado no Rio de
Janeiro, criado em 2002, e que acaba de completar, portanto, seus primeiros 15
anos de existência. O CHDD possui um veículo para a divulgação regular do
acervo histórico pertencente ao antigo Ministério dos Negócios Estrangeiros
(sob o Império) e também ao atual Ministério das Relações Exteriores (MRE),
renomeado a partir do regime republicano: trata-se dos Cadernos do CHDD, com materiais preciosos retirados dos arquivos do
Itamaraty, desde a documentação trazida pela família real portuguesa em sua
vinda ao Brasil, em 1808, até a transferência do MRE para Brasília, em 1970.
Entre a criação da FUNAG
e a do CHDD, atualmente dirigido pelo embaixador Gelson Fonseca Junior, e
possuindo o exato dobro da idade deste segundo órgão da FUNAG, situa-se o IPRI,
o Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, completando neste ano de
2017, seus primeiros 30 anos de vida, portanto. Criado em 1987, com base em
propostas formuladas algum tempo antes por dois diplomatas vinculados aos meios
acadêmicos, Ronaldo Sardenberg e Gelson Fonseca Júnior, o IPRI deve sua
existência, em boa medida, à tese do Curso de Altos Estudos defendida por este
último, justamente com o título de Diplomacia
e Academia (publicado como livro do IPRI e recentemente em segunda edição
pela FUNAG). O IPRI tem por missão produzir estudos e pesquisas sobre todos os
temas pertinentes às atividades do Itamaraty, com ênfase no período
contemporâneo, assim como aprofundar as relações com a comunidade acadêmica,
reforçando os canais de diálogo com as instituições de pesquisa em temas
correlatos.
Nessas primeiras três
décadas de suas atividades, o IPRI teve dez diretores, entre eles duas vezes
Carlos Henrique Cardim, que pode ser considerado um dos maiores editores de
relações internacionais do Brasil, dada sua experiência anterior à frente da Editora
UnB, onde já tinha publicado dezenas de grandes títulos das ciências sociais,
políticas e de relações internacionais do Brasil, além de outras grandes obras
do pensamento político internacional na qualidade de conselheiro editorial do
Senado Federal e de outras editoras. O IPRI começou publicando textos
elaborados no âmbito do Curso de Preparação à Carreira Diplomática, do IRBr,
passou aos Cadernos do IPRI (19
números, entre 1989 e 1994), depois às primeiras teses do Curso de Altos
Estudos (em sua fase inicial, que foram depois retomadas pela FUNAG),
prosseguiu com uma cooperação editorial com a Editora UnB, da qual resultou a
magnífica coleção Clássicos do IPRI– composta de grandes obras do pensamento universal
sobre relações internacionais –, ademais de dezenas de outros títulos em
diversas categorias de sua produção própria ou de autoria de diplomatas e
pesquisadores acadêmicos.
No período recente, o IPRI
tem elaborado o Repertório de Política
Externa – uma
compilação dos eventos mais relevantes da diplomacia corrente do Brasil – e o Banco de Teses e Dissertações, uma base de dados extremamente útil a todos os
estudiosos e pesquisadores, composto a partir da produção acadêmica brasileira
em seus cursos de pós-graduação em todas as áreas relacionadas às relações
internacionais do Brasil, ou seja, esse mesmo campo, mas também História,
Ciência Política, Direito, Economia e outras áreas afins. Sua atual produção
institucional está representada pelos Cadernos
de Política Exterior, uma revista que coleta artigos relevantes elaborados
pelos diplomatas, mas também por acadêmicos convidados, cobrindo todos os
campos da diplomacia corrente, e até alguns temas de maior escopo histórico. A
maior parte de todas essas publicações impressas do IPRI – com exceção dos
primeiros trabalhos – encontra-se disponível em sua página ou na Biblioteca
Digital da FUNAG.
Outras iniciativas
recentes do IPRI compreendem a série de entrevistas gravadas em vídeo, Relações Internacionais em Pauta, iniciadas por Alessandro Candeas, e as palestras
efetuadas em cooperação e convite conjunto com o Instituto Rio Branco, Percursos Diplomáticos, iniciadas na presente direção, todas inseridas nos
servidores da FUNAG, informadas no site do IPRI e também disponíveis na
plataforma do YouTube. O mesmo site do IPRI apresenta ainda diversas
ferramentas de consulta, informação e pesquisa, como relações de periódicos da
área, de cursos de relações internacionais e centros de pesquisa, geralmente em
caráter seletivo. O IPRI busca sempre aprofundar seu relacionamento e
cooperação com outras entidades similares, ainda que seus recursos próprios
sejam bem inferiores aos de grandes think
tanks internacionais.
O papel primordial do
IPRI, como uma espécie de think tank
da diplomacia brasileira, é a de produzir conhecimento útil para os seus
diplomatas, mas também levar a produção dos diplomatas ao conhecimento dos
profissionais de relações internacionais e dos pesquisadores estrangeiros, e
nessas tarefas vem sendo acessado por estudantes brasileiros e estrangeiros em
diversas partes do mundo, e massivamente no Brasil. A despeito de contar com
poucos pesquisadores em seu staff
próprio – muito pequeno para o ambicioso programa que gostaria de empreender a
cada ano –, o IPRI pode dispor da colaboração de praticamente todo o corpo
diplomático da ativa, bem como de vários já aposentados, mas que ainda
continuam a exercer atividades docentes de pesquisa e de produção de
conhecimento de valor para a história e a agenda corrente da diplomacia.
Em 2017, por exemplo, o
IPRI organizou e realizou quase meia centena de atividades próprias – não
contando, portanto, os seminários sob a responsabilidade da FUNAG, a serviço do
Itamaraty – sob a forma de palestras, conferências, mesas redondas, incluindo
alguns encontros reservados – ou seja, não abertos ao público externo, que
constituem a norma – para discutir alguns temas sensíveis da diplomacia
brasileira. Todos esses eventos, de nenhuma forma restritos aos aqui descritos
sumariamente, só puderam ser realizados com êxito graças ao trabalho incansável
do coordenador de Estudos e Pesquisas do IPRI, conselheiro Marco Túlio
Scarpelli Cabral, bem como do pequeno staff próprio do IPRI, liderados pela coordenadora Valeria Figueiredo Ramos.
Muitas, talvez mais da
metade, dessas atividades contaram com convidados estrangeiros, a despeito da
exiguidade de recursos disponíveis. Alguns desses eventos, que contaram com o
indispensável apoio da FUNAG, foram realizados fora de sua sede, geralmente no
Rio de Janeiro, seja no Palácio Itamaraty, seja em entidades como o Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro. No terreno específico da “ponte” entre a
diplomacia e academia, figuram as reuniões com os coordenadores de cursos de Relações
Internacionais – em nível de pós ou de graduação –, realizadas anualmente no
âmbito da Conferência sobre Relações Exteriores (CORE), organizada pela FUNAG. O
diretor do IPRI também tem procurado atender a todos os convites que lhe chegam
diretamente, ou por intermédio da FUNAG, para palestras ou participação em
eventos acadêmicos em universidades ou centros de pesquisa do Brasil e do
exterior. Foi o caso, em 2017, do prestigioso Estoril Political Forum, organizado anualmente pelo Instituto de Ciência
Política da Universidade Católica de Portugal.
Sob iniciativa do IPRI,
foi publicada em 2017 a primeira coletânea de escritos, discursos e entrevistas
do grande chanceler Oswaldo Aranha, cobrindo praticamente tudo de relevante que
o estadista gaúcho produziu no campo da diplomacia brasileira entre 1930 e
1960, a fase crucial da modernização econômica e da construção do moderno estado
brasileiro. Outros trabalhos que se inscrevem na produção própria do IPRI foram
publicados em livros ou revistas editadas por parceiros externos.
O IPRI pode
legitimamente orgulhar-se, nos seus primeiros 30 anos, de ter acumulado uma
produção considerável de obras impressas ou de eventos tópicos, no campo
coberto pelo seu mandato institucional, ainda que muitas dessas atividades,
mesmo quando inscritas em seu patrimônio histórico, não possuam um registro ou
memória documental estável e permanente, em suporte físico ou digital, dada a
pouca disponibilidade de ferramentas adequadas para a preservação dessa
produção nos seus primeiros anos de existência. Um dos desafios para os
próximos 30 anos, e mais além, é justamente o de assegurar que muitos desses
eventos tópicos, como palestras feitas em oportunidades surgidas
momentaneamente, possam também merecer o devido registro em suporte preservado
e, idealmente, transmissível pelos meios de comunicação hoje disponíveis.
Entre os meios e os fins, pode-se dizer que o IPRI,
mesmo contando com poucos meios próprios – capital humano, recursos físicos ou
financeiros –, foi capaz, em 2017, de realizar um número apreciável de
atividades, para as quais contou com a cooperação diligente de seu pequeno
grupo de colaboradores próprios: os pesquisadores e analistas Rogério de Souza Farias, Renata Nunes Duarte, Márcia Costa Ferreira, o
administrador Marco Antonio Soares de Souza Maia e o revisor editorial Rafael
de Souza Pavão, ademais das recepcionistas Patrícia Nogueira Teodoro, Kamilla
Sousa Coelho, Bárbara Terezinha Nascimento Cunha e Guilherme Feierabend
Engracia Garcia e do pesquisador associado Pedro Henrique Rodrigues Magalhães.
Os estagiários seguintes foram de enorme ajuda em trabalhos de assessoria
digital, informática e de organização: Danilo de Castro Barbriere, Bárbara
Graça Schuina da Silva, Maria Luiza Rodrigues dos Anjos, Rafael da Gama
Chaves e Sabrina Dutra da Silva. Todos esses
colaboradores foram excepcionais num ano bastante prolífico em realizações,
como se pode constatar pelo relatório de atividades do IPRI em 2017, disponível
em sua página. A todos eles, o reconhecimento do atual diretor do IPRI e o de
seu coordenador de Estudos e Pesquisas, e a promessa de continuar produzindo
conhecimento útil à diplomacia brasileira com a mesma qualidade intelectual que
sempre distinguiu o Itamaraty em toda a sua história.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 16 de dezembro de 2017; revisão: 21/12/2017.
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