Previsões
imprevisíveis para 2018:
sempre otimista quanto à sua improbabilidade
Paulo
Roberto de Almeida
Como costumo fazer todo final de ano, dedico-me a interrogar os
astros para saber o que eles reservam ao Brasil e ao povo brasileiro no ano que
se seguirá. Trata-se de uma tarefa fadada a um completo insucesso, e isso de
forma deliberada, pois que minhas previsões têm isso de peculiar que elas são
feitas, justamente, com vistas ao seu fracasso completo, sendo minha vitória tanto
mais retumbante, neste gênero bizarro de astrologia política, quanto mais longe
essas previsões se situarem de uma hipotética realização. Não por outra razão
se chamam “previsões imprevisíveis”, mas também poderiam ser chamadas de
“previsões imprevidentes”.
Todavia, essas previsões destinadas a não se realizarem também exibem
um invariável otimismo, no sentido de esperar que um dia elas possam se
concretizar. Ao revisar, um ano depois, as tarefas irrealizadas, ou inacabadas,
o que encontro são derrotas previsíveis, em face de missões praticamente impossíveis.
Não se trata, pois, de uma derrota completa, uma vez que posso renovar minha
confiança no poder preditivo dos astros, já que o meu tipo peculiar de
astrologia, como aquelas verdadeiras, só ganha título de nobreza e ares de
credibilidade quando suas apostas são deliberadamente inverossímeis e de
difícil, senão impossível, concretização.
Apenas para provar como tal prática de acertar no erro e no
insucesso das previsões é uma arte de difícil manipulação, apresento a seguir
um sumário de duas previsões que fiz alguns anos atrás, todas completamente
estapafúrdias nas condições que eram as nossas – isto é, da política e da
economia no Brasil sob o regime companheiro – e isto a despeito mesmo de seu
caráter plausível, como eu sempre me esforço por sublinhar.
Em dezembro de 2004, para não ir muito longe, eu redigia “Sete
previsões Imprevidentes: minha ‘caixa de surpresas’ para o novo ano”, que se
constituíam, como seria de se esperar, em antecipações impossíveis de ocorrer
no novo ano (divulgadas em Espaço
Acadêmico, n. 44, janeiro de 2005). Em resumo, minhas apostas provocadoras e visivelmente exageradas eram as
seguintes:
1. O governo decreta
sua conversão ao capitalismo;
2. O Estado decide
retirar-se parcialmente de cena;
3. Radical inversão das
políticas sociais;
4. Concentração de
recursos na educação fundamental;
5. Acaba a era Vargas:
abolida a Justiça do Trabalho;
6. Decretado o fim da
reforma agrária; e
7. Maior abertura e
inserção econômica internacional.
Fui vitorioso, como se pode perceber pela total impossibilidade de
realização das minhas previsões imprevisíveis, o que não me deixou descansando
nios louros do sucesso, pois que menos de dois anos depois eu voltava a apostar
na vitória de fracassos garantidos, ao anunciar novas previsões para 2007, como
transcrevo a seguir:
1. O Brasil crescerá pelo menos 5% a partir de 2007, com queda no
desemprego;
2. As contas fiscais caminharão para o equilíbrio, com tendência ao
superávit nominal;
3. O Congresso vai conhecer um ano de alta produtividade e baixos
gastos correntes;
4. O dólar vai se valorizar e a paridade do real satisfará aos
exportadores e agricultores;
5. O déficit da Previdência caminha para o desaparecimento, com um choque
de gestão;
6. A infraestrutura brasileira é renovada, com base em investimentos
privados;
7. A integração regional avança, com a adesão de Cuba, Bolívia e
Equador;
8. O governo demonstra alto grau de coesão política e grande
eficiência administrativa;
9. O ensino público dá salto de qualidade e universidades não fazem
greve por salários;
10. O MST reconhece que o agronegócio e a biotecnologia são
benéficos ao Brasil.
Feitas estas digressões preliminares, de simples resguardo
metodológico, vejamos quais seriam as minhas previsões para 2018:
1. Governo promete reduzir a base congressual para apenas 15
partidos;
2. Odebrecht patrocina nova cadeira na FEA-USP: Economia Política da
Corrupção;
3. Tucanos se unem para ganhar as eleições de 2018;
4. Petistas se dividem quanto a colaborar na caixinha do chefe com
contas bloqueadas;
5. Peemedebistas firmam pacto contra a corrupção;
6. FIESP quer que o Brasil conclua um acordo de livre comércio com a
China;
7. Congresso aprova projeto de resolução extinguindo o Fundo
Partidário;
8. Candidata da Rede consegue conceder uma entrevista compreensível;
9. Professores da UERJ atravessam o ano sem nenhuma greve;
10. Novo presidente eleito em outubro promete privatizar Petrobras e
Banco do Brasil.
Não é preciso elaborar muito a respeito de cada uma destas
previsões, não é mesmo? Como sempre, espero um completo fracasso no decorrer do
próximo ano, com a colaboração especial do governo, do Congresso, dos partidos
políticos, dos candidatos num ano eleitoral. Já vou colocar estas previsões
imprevisíveis na minha agenda, para um rendez-vous
com todos os meus 18 leitores em dezembro de 2018 para verificar minha nova
derrota. Quem quiser apostar contra mim, pode mandar ofertas (se possível de
livros) para este autor.
Brasília,
9 de dezembro de 2017.
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