Minha nota necrológica sobre o historiador de esquerda, que passou os últimos anos de sua vida lutando por seus títulos de nobreza e defendendo o partido de esquerda que desprezava os nobres e se encarregou também de dilapidar os pobres em favor dos muito ricos, que extorquia ou que colaboravam com ele, na missão de enriquecer os esquerdistas convertidos em capitalistas promíscuos.
Minha visão de Moniz Bandeira não é leniente, e independentemente do valor (ambíguo) de sua obra, sua personalidade era execrável, mas reconheço que ele combinava com a universidade, gramsciana em espírito, anticapitalista de fato, antiamericana por princípio.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4 de dezembro de 2017
PS.: A nota só está sendo publicada agora por não ter sido considerada aceitável em outros suportes.
Moniz Bandeira: um historiador de esquerda (1935-2017)
Paulo Roberto de Almeida
Luiz Alberto Moniz
Bandeira, provavelmente um dos maiores historiadores de esquerda do Brasil,
nasceu na Bahia em 1935, pouco depois da Intentona Comunista, e morreu no dia
10 de novembro de 2017, aos 80 anos do golpe de Estado Novo, quando Getúlio
Vargas inaugurou a ditadura fascista que durou oito anos, especialmente dura
com os comunistas de todos os matizes. Acusado de trotskista, foi preso duas
vezes sob outra ditadura, a do regime militar que dominou o Brasil durante mais
de duas décadas, entre 1964 e 1985. Tornou-se marxista aos 13 anos de idade, ao
ler os clássicos de Marx e Lênin, passando a militar nas correntes socialistas,
ao mesmo tempo em que trabalhava como jornalista nos principais jornais do Rio
de Janeiro, a partir de meados dos anos 1950. Ao lado de uma prolífica obra de
historiador, militou durante toda a sua vida pelas causas socialistas, com uma ênfase
especial no anti-imperialismo, que ele exercia especificamente na vertente do
antiamericanismo. Ironicamente, passou os últimos anos de sua vida colecionando
títulos de nobreza, sendo-lhe reconhecido em 1995, em Portugal, o título de
Barão de São Marcos, com direito ao uso de um brasão de armas e outros
privilégios de fidalguia: tornou-se um marxista aristocrático.
Seus primeiros livros,
sintomaticamente, foram dedicados à revolução russa e seus efeitos no Brasil, assim como ao líder da revolução bolchevique,
Lênin. Poucos dias depois que a revolução bolchevique de novembro de 1917
completou seu primeiro centenário, mas já desaparecido o sistema soviético
desde 1991, ele morreu, não sem antes ver publicada a 4a. edição de
sua biografia de Lênin, o último livro a sair em vida. Formado em Direito,
obteve, já maduro, o título de Doutor em Ciência Política pela USP, tendo sua tese
sobre os conflitos políticos na Bacia do Prata sido publicada posteriormente
sob o título de O Expansionismo
Brasileiro e a formação dos Estados na
Bacia do Prata: da colonização à Guerra
da Tríplice Aliança. Na tese, dissertou sobre as relações políticas e o
equilíbrio de poderes no Cone Sul desde a ocupação ibérica até quase o final do
Império no Brasil, mais exatamente até o término da guerra da Tríplice Aliança
contra o Paraguai. Mas ele já tinha publicado, logo depois de sair de dois anos
de prisão, sob o regime militar, em 1970, o livro que o tornou imediatamente
famoso e até apreciado pelos militares que o prenderam: Presença dos Estados Unidos no Brasil, o primeiro de uma série na
qual, com ampla base em pesquisa histórica, mas interpretações fortemente
antiamericanas, ele fustiga o imperialismo americano durante praticamente toda
a história independente da grande nação da América do Norte. A continuidade
daquele livro foi lançada alguns anos depois: Brasil-Estados Unidos: a rivalidade emergente (1950-1988), seguido,
vários anos mais tarde, por um terceiro dessa série: As relações perigosas: Brasil-Estados Unidos, de Collor a Lula, 1999-2014.
Entre um e outro, seguiram-se várias obras de pesquisa histórica ou de cunho
polemista, fortemente críticas ao papel dos Estados Unidos na geopolítica
mundial, com um foco detalhado sobre os países da América Latina (em especial
Cuba e o Cone Sul).
Em virtude de seu
casamento com Margot, em meados dos anos 1990, deixou o Brasil pela Alemanha,
tendo publicado alguns livros sobre esse país, tanto nas relações com o Brasil,
quanto na derrocada do socialismo em sua metade oriental. Um de seus livros
mais saudados tratou do governo João Goulart, no qual ele saudou a ascensão das
lutas sociais no Brasil e as tentativas de reformas progressistas abortadas.
Foi professor na Universidade de Brasília entre o final dos anos 1980 e o
início da década seguinte, quando aprofundou suas pesquisas – basicamente nos
arquivos do Itamaraty – sobre as relações diplomáticas entre os principais
países do Cone Sul e o grande impacto do imperialismo americano no cenário
político e econômico da região.
A despeito de ter
pesquisado em arquivos históricos, sua interpretação dos processos políticos
aos quais se dedicou ao longo de uma vida bastante prolífica no plano
intelectual foi inevitavelmente contaminada por um marxismo acadêmico
basicamente fiel aos conceitos centrais da doutrina do materialismo histórico, bem
como por um conhecimento claramente insuficiente da história econômica mundial.
Reproduziu, em várias de suas obras, a visão leninista e luxemburgueana da
expansão capitalista e do imperialismo ocidental, com direito ao uso de todos
os clichês que se podem encontrar nos estudos impregnados de marxismo clássico.
Esse simplismo analítico o tornou bastante apreciado pelo público universitário
e pelos gramscianos de academia, mas os pesquisadores mais sérios mantêm
diversas restrições metodológicas a uma produção marcada por claras simpatias
militantes. Sua obra subsistirá, dada a dominância esquerdista no ambiente
universitário, mas convêm recomendar aos leitores que ajustem suas lentes para
separar a informação de base histórica de sua interpretação enviesada pelo
maniqueísmo anticapitalista e por um antiamericanismo renitente.
Brasília, 24 de novembro de 2017
Um comentário:
Luiz Alberto Moniz Bandeira , Grande Oficial da Ordem de Rio Branco (Brasil), comendador da Ordem de Mayo (Argentina ) e portador da Bundesverdienstkreuz (Erster Klasse ) ( Cruz do Mérito Primeira Classe), conferida pelo governo da Alemanha recebeu estes títulos não por ambicionar títulos nobiliárquicos de nobreza, como debocha o pseudo biógrafo , mas por ser considerado um dos mais considerados SCHOLARS em matéria de relações exteriores do Brasil.
Quanto ao mais eu lemos na biografia acima, muito pouca coisa é documentada.São ilações de pouco conteúdo crítico e filosófico.
Pedro Fraga.
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