Disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/s/e421c22bd9/miseria-da-diplomacia-apogeu-e-declinio-do-lulopetismo-diplomatico).
Treze anos de misérias diplomáticas: estaria o Brasil
vacinado? , 9
1. Epitáfio
do lulopetismo diplomático , 15
2. O
Itamaraty e a diplomacia em tempos não convencionais , 19
3. Do
lulopetismo diplomático a uma política externa profissional , 29
4. O renascimento da política
externa , 37
5. Política externa e
política econômica no Brasil pós-PT , 51
6. O que faria o Barão hoje, se vivo
fosse? , 57
7. Auge e declínio do
lulopetismo diplomático , 65
8. O lulopetismo
diplomático: um experimento exótico , 85
9. O
Itamaraty e a nova política externa brasileira , 91
10. A política externa e a diplomacia no século XXI , 109
11. Crimes econômicos do lulopetismo na frente externa , 123
12. Uma visão crítica da
política externa: a da SAE-SG/PR , 131
13. Depois da diplomacia
companheira: o que vem pela frente? , 153
14. A diplomacia na
construção da nação: qual o seu papel? , 157
15. Política externa
brasileira recente: algumas questões tópicas , 167
Relação cronológica dos trabalhos recentes sobre diplomacia
brasileira , 179
Livros de Paulo Roberto de
Almeida , 181
Nota sobre o autor , 185
Paulo Roberto de Almeida
Esta nova compilação de
trabalhos sobre a política externa e a diplomacia brasileira pode ser vista
como dando continuidade a uma assemblagem anterior, que eu havia feito
apressadamente para apoiar um curso sobre esses temas no primeiro semestre de
2017: Quinze anos de política externa:
ensaios sobre a diplomacia brasileira, 2002-2017 (Brasília: Edição do
Autor, 2017, 366 p.; blog Diplomatizzando:
(http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/05/quinze-anos-de-politica-externa-ensaios.html). Essa coletânea, por sua vez, já incorporava uma
relação preliminar feita ao final de 2016: “Uma seleção de trabalhos sobre a
política externa brasileira na era Lula, 2002-2016” (Brasília, 6 junho 2016, 13
p.; também disponível no blog Diplomatizzando:
http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/06/a-politica-externa-brasileira-na-era.html). Ambas se ocupavam, basicamente, da política externa
e da diplomacia nos primeiros três lustros do século XXI, quando vigorou aquilo
que eu logo chamei de “lulopetismo diplomático”, uma das principais facetas do
lulopetismo em geral, que havia literalmente atropelado o país durante todo
aquele período.
Tanto a política
lulopetista em geral, quanto sua vertente externa foram por mim acompanhadas
atentamente, a cada passo, a cada medida, a cada iniciativa do bizarro regime,
que no entanto dispunha de amplo apoio na sociedade, nos meios políticos e
especialmente na academia, sem esquecer a própria diplomacia. Na postagem dessa
relação de junho de 2016 eu dizia que os trabalhos possuíam um “caráter geralmente acadêmico, mas não posso recusar certa
orientação opinativa (e portanto subjetiva, mas bem informada, pela minha
condição de diplomata) sobre esses tempos não convencionais nas relações
exteriores do Brasil, um período no qual a diplomacia brasileira esteve
associada ao Foro de São Paulo (uma organização controlada pelos comunistas
cubanos) e aos chamados bolivarianos. Agora que isso passou, posso ser mais
crítico, e incisivo, sobre esses anos de chumbo da diplomacia brasileira.”
Mas, antes mesmo de ser
enterrado o bizarro regime, e sem ter certeza de que a sociedade conseguiria
superar a fraude e a mistificação daqueles anos excepcionais, eu já tinha
publicado um livro inteiro sobre o “rabo diplomático” do “cachorro lulista”,
este aqui: Nunca Antes na Diplomacia...:
a política externa brasileira em tempos não convencionais (Curitiba:
Appris, 2014). Esse livro não foi feito pensando nas eleições presidenciais
daquele ano, mas não deixou de ser surpreendente que, consideradas todas as
informações já disponíveis sobre os descalabros econômicos, as fraudes políticas,
e o espetáculo de corrupção desvendado desde o início daquele ano, os
companheiros obtivessem mais um mandato para arruinar o país. Por uma dessas
ironias da história, a continuidade das investigações revelou que o candidato
da oposição também estava profundamente envolvido numa gigantesca teia de
corrupção, que unia as grandes empresas do país aos principais partidos
políticos e seus líderes.
Seria inevitável que o
ativismo lulopetista em todas as direções, por quaisquer meios disponíveis, não
poupasse tampouco o lado internacional das políticas públicas. Aliás, o “rabo”
da diplomacia chegou mesmo a abanar o “cachorro” do lulopetismo, tal a
importância dada a essa política pelo chefe da “organização criminosa” –
segundo o ministro Celso Melo, do STF – que dominou o país desde o início de
2003, como já tinha sido evidenciado por ocasião do Mensalão, em 2005. Essa
importância foi bastante ressaltada pelas investigações de um jornalista, Fabio
Zanini, cujo livro foi objeto de uma resenha aqui inserida; mas, à diferença do
Mensalão, não haviam sido detectadas até recentemente todas as manobras
criminosas empregadas pela tropa de meliantes políticos que desviou recursos de
fontes brasileiras e estrangeiras.
Minha relação de
trabalhos cobrindo essas áreas é bem superior, mas coletei neste volume apenas
aqueles que já tinham sido publicados ou divulgados pelos canais habituais que
utilizo. Alguns outros serão divulgados oportunamente, o que permitirá
justificar plenamente o título escolhido para este volume e esta apresentação:
“miséria da diplomacia”, o que me parece muito evidente, sobretudo a partir de
uma visão interna, portanto bem informada e “prevenida”, sobre as iniciativas
tomadas na vertente externa do Brasil. Essa visão precede, inclusive, a própria
diplomacia e o regime dos companheiros, pois se estende, originalmente, às
organizações da esquerda armada que provocaram a radicalização do regime
militar desde meados dos anos 1960 até o final do período autoritário. Um
conhecimento sobre os métodos de atuação dos militantes neobolcheviques que se
integraram ao partido hegemônico da esquerda, aqueles que eu chamei de
“guerrilheiros reciclados”, permitiu retirar elementos de convicção quanto à
ação deletéria, em grande medida encoberta, desenvolvida por eles igualmente na
frente externa, o que entretanto é difícil de ser evidenciado, em virtude,
precisamente, da falta de provas documentais de muitas dessas ações nessa
vertente (sobretudo aquelas feitas em direção, e em acordo com regimes
vinculados ao Foro de São Paulo).
Esse lado da “miséria
diplomática” talvez não possa ser exposta em toda a sua extensão, pois, à
diferença daquilo que ocorreu com os papeis da Stasi, no momento da queda do
muro de Berlim e da incorporação relativamente rápida da RDA à República
Federal da Alemanha, os companheiros e seus aliados externos tomaram as devidas
precauções para “neutralizar” possíveis evidências da diplomacia paralela
conduzida de modo obscuro durante toda a duração do regime companheiro. Em
alguns dos meus escritos aqui coletados eu abordo esse aspecto da “miséria
diplomática”, que é o seu lado obscuro, mas que ainda não foi objeto de estudos
mais detalhados.
Como conhecedor de longa
data do movimento comunista internacional, e de seus “derivativos” nacionais,
surpreende-me que doutrinas, práticas e argumentos já devidamente denunciados e
expostos claramente desde os estertores do regime stalinista nos anos 1950 –
objeto de inúmeros livros esclarecedores a esse respeito, entre eles um dos
mais famosos, O Ópio dos Intelectuais,
de Raymond Aron, prefaciado no Brasil por Roberto Campos, o Aron brasileiro –,
ainda tenham plena vigência nos meios políticos e acadêmicos do Brasil, e
encontrem bastante aceitação em camadas mais amplas da opinião pública. Mais
surpreendente ainda é que, a despeito de todas as denúncias e condenações já
oficializadas quanto aos atos criminosos perpetrados pelos principais chefes do
partido hegemônico da esquerda, várias dessas pessoas bem informadas ainda
insistam em apoiar os personagens. Não é preciso lembrar aqui que o próprio
chefe da chancelaria brasileira durante boa parte do regime lulopetista,
diplomata de carreira, figura nessa tropa de choque constituída para uma defesa
quase impossível, de certo modo desesperada, do grande responsável pela
corrupção avassaladora a que assistimos durante todos esses anos de euforia, de
fraudes e de mistificações.
Meus textos não se
ocupam de tais crimes comuns, mas várias das ações externas conduzidas pelo
poder petista, com base em recursos nacionais, podem configurar o que eu
chamaria de “crimes econômicos” (talvez não muito diferentes de crimes comuns),
uma vez que diversas “intervenções” externas pelo então chefe de Estado, depois
ex-presidente, foram precipuamente conduzidas para se integrar a essa cadeia de
corrupção montada deliberadamente por esses líderes políticos em pleno acordo
com os dirigentes de grandes empresas geneticamente corruptas. Por outro lado,
pontos obscuros da ação externa dessa diplomacia lulopetista foram diversas vezes
detectados em determinados episódios – nacionalização de ativos brasileiros no
exterior, apoio financeiro a aliados ideológicos, por exemplo – também poderiam
ser catalogados sob a rubrica de “crimes diplomáticos”, ou seja, mais um
aditivo definidor da “miséria da diplomacia” que legitima a opção pelo título
deste compêndio. Continua a existir uma imensa zona de sombras sobre o
desenvolvimento de toda a diplomacia lulopetista.
Ainda assim, e a
despeito de todas as evidências e sinais “precursores” de que coisas estranhas
estavam acontecendo na diplomacia brasileira durante esses anos de euforia do
lulopetismo, sua vertente diplomática continuou a dispor de amplo apoio entre
os principais formadores de opinião no Brasil, notadamente nos meios acadêmicos
e jornalísticos, com ampla capacidade de convencimento dos “corações e mentes”
dos brasileiros comuns, simples eleitores ou até membros das chamadas elites.
Nisso, a esquerda em geral e o lulopetismo em particularmente foram
particularmente eficientes – sobretudo usando recursos do Estado para divulgar
sua versão deformada da realidade e sustentar propaganda mentirosa por diversos
canais de comunicação – na veiculação e na disseminação de uma visão do mundo
conforme a seus princípios ideológicos, que encontram, por isso mesmo, grande
aceitação em diversos meios.
Tenho plena consciência
de que meus escritos destoam, em grande medida, das análises acadêmicas e dos
próprios argumentos diplomáticos normalmente encontrados nos diferentes
veículos que se dedicam à discussão e análise da política externa, das relações
internacionais e da diplomacia brasileira. Talvez porque eu me dedique não só a
uma exposição descritiva do que é feito na vertente externa das políticas
públicas do Brasil, mas também por que é feito, e por quem é conduzido, e com
quais motivações. Começo, aliás, por discordar frontalmente da terminologia
geralmente empregada nas exposições e análises “normais”, que tendem a
caracterizar as ações diplomáticas como sendo “do Brasil”, quando eu me inclino
a falar diretamente da “diplomacia lulopetista” como sendo diferente,
específica e peculiar às forças que controlaram o poder do Estado durante os
anos de seu controle dos executivos federais (e até de outros poderes).
Meus artigos – os aqui
compilados, os demais em livros ou periódicos, inclusive os ainda não
divulgados – não esgotam, obviamente, a
análise de todos os aspectos conceituais e operacionais daquilo que eu chamei
de “miséria da diplomacia” no Brasil. Isso que vai requerer ainda certa
pesquisa (mas existem muitos fatos sem documentação adequada) e acesso adequado
a atores envolvidos em vários episódios não devidamente documentados ao longo
desses anos de fraudes, mentiras, de mistificações e de crimes, de diversas
ordens. De minha parte não tenho nenhuma hesitação em expressar minha opinião
fundamentada sobre esses anos pouco gloriosos de nossa trajetória política. Só
não tenho certeza de que o Brasil e os brasileiros estejam devidamente
vacinados contra essa “doença de pele”, que representou o
lulopetismo, a despeito de todos os crimes desvendados e de todos os processos
concluídos ou em curso. Talvez ele seja mais do que uma simples “doença de
pele”, e conforme uma predisposição “genética” na incorporação de concepções
políticas e econômicas absolutamente nefastas e prejudiciais à boa governança do
país, e nisso se confunda com outras “epidemias” muito comuns no Brasil:
patrimonialismo tradicional, corporativismo entranhado, protecionismo
exacerbado, nepotismo e fisiologismo extensivos, nacionalismo primário e
ingênuo, estatismo atávico e outros “ismos” desde longe presentes em nossa
cultura e no sistema político.
Na diplomacia, no
entanto, vigorava, um profissionalismo meritocrático – ainda que contaminado
por diversos resquícios “feudais” – e uma excelente capacitação dos recursos
humanos, o que sempre distinguiu o serviço exterior no conjunto das carreiras
de Estado e das instituições de boa qualidade a serviço do Estado e dos
governos. O período lulopetista afetou apenas superficialmente o serviço
diplomático em si, ainda que tenha contaminado mais amplamente a orientação da
política externa e da atuação do Estado brasileiro em escala regional e
internacional. Esperemos que ao menos o serviço diplomático tenha sido vacinado
contra o exotismo e a bizarrice dessa presença deformadora em nossa diplomacia,
com um mínimo de efeitos colaterais sobre suas ações futuras. É o que posso
esperar como participante e analista – relativamente objetivo e independente –
de nossa política externa e de nossa diplomacia nos últimos 40 anos de
atividades e de reflexões nesse campo especializado da ação estatal.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 17 de
fevereiro de 2018
Coletânea disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/s/e421c22bd9/miseria-da-diplomacia-apogeu-e-declinio-do-lulopetismo-diplomatico).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.