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segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Deus, Pátria e Família: onde o Brasil vai chegar? - Paulo Roberto de Almeida

Antes de qualquer processo de declínio econômico e de decadência institucional sempre existe uma etapa de retrocesso mental nos dirigentes políticos, que curiosamente conseguem reagrupar o imenso contingente de ignorantes frustrados do país, no meio dos quais se encontram idiotas agressivos, trogloditas políticos, loucos de vários matizes que estavam justamente aguardando um idiota que possam chamar de seu para se reagrupar. Os bucéfalos saíram do armário e vão continuar se espalhando pelo país. Podem até dar as assinaturas para a criação do partido proto-fascista pretendido pela Bolsofamiglia.

Pessoas sensatas, como as que me leem, todas instruídas e bem informadas, são propensas a acreditar que certas coisas horríveis que já acometeram outros povos e nações não têm chance de acontecer por aqui. Isso é porque desconhecem a força avassaladora de massas ignorantes ou desesperadas capturadas por um psicopta que lhes oferece a via salvadora de sua misérias cotidianas e frustrações pessoais.
A Alemanha também era uma sociedade culta e avançada, dotada de elites refinadas, até se descobrir refém de autoritários alucinados.

Não digam que não pode acontecer por aqui. O ovo da serpente já está sendo chocado...

Paulo Roberto de Almeida


in 

A serviço de uma camarilha autoritária, dinheirista e familista


Primoroso o artigo do Vinícius Torres Freire na Folha de hoje (17/11/2019). Caracteriza perfeitamente o tipo de gente que se juntou a Bolsonaro. Traça um perfil da escória bolsonarista comandada por uma camarilha autoritária, dinheirista e familista.

Bolsonaro quer dar futuro ao reacionarismo

Vinicius Torres Freire, Folha de S. Paulo(17/11/2019)
Isolamento político e situação socioeconômica ruim podem dificultar ascensão da APB
A ideia de restauração de uma identidade conservadora do Brasil foi uma fantasia do bolsonarismo desde seu início.
Parecia tão caricata quanto um dia foi a candidatura de Jair Bolsonaro, que chegou ao Palácio do Planalto, no entanto. O presidente improvável quer agora criar o partido da sua revolução reacionária, a Aliança pelo Brasil (APB). O que pode sair daí?
A APB é um expurgo sectário no governismo e um movimento que isola ainda mais Bolsonaro no Congresso e na política partidária em geral. A arenga autoritária da família e de sua seita antiestablishment o afasta do Supremo, que, de resto, acaba de soltar Lula e retira paulatinamente o apoio ao lava-jatismo, uma seiva do bolsonarismo.
Que tipo de ambiente socioeconômico pode favorecer o movimento reacionário da APB? Trata-se de uma economia que apenas em 2024 deve voltar a ter a renda (PIB) per capita de 2013. Que deve ter uma taxa de desemprego além de 10% ainda na eleição de 2022. Que até então terá passado anos sem aumento do salário mínimo ou melhoria notável de serviços públicos, para nem mencionar o efeito do desmonte legal e estrutural do mundo do trabalho como o conhecemos.
O bolsonarismo também foi um meio para que certos grupos sociais pela primeira vez reivindicassem posições centrais de poder, mesmo que já tivessem participação política relevante. Por exemplo, fundamentalistas cristãos e o universo social e regional do agronegócio. Servidores públicos armados e os adeptos de suas ideias de segurança pública. Novas classes médias altas (em termos estatísticos, quem ganha além de R$ 5.000) e individualistas obsessivos de teologias e paganismos da prosperidade.
Os militantes enfáticos desses grupos chegaram ao centro e ao topo com Bolsonaro, não como aliados menores. Suas falanges radicais serão representativas de sua base social? Sem melhoras socioeconômicas mais notáveis, apelando à radicalização e ao isolamento político, exclusivista e sectário, a APB pode dar organicidade ao bolsonarismo e ainda crescer?
No seu núcleo central e puro, a APB tenta combinar o fundamentalismo religioso desconfiado ou enojado da ciência, um nacionalismo de torcida de futebol submisso à internacional reacionária e aquele conservadorismo de costumes das personagens carolas e taradas de Nelson Rodrigues.
Esse é um lado da moeda, o da propaganda do bem-pensante reacionário, digamos, que à primeira necessidade rasga essa fantasia, porém. O núcleo do movimento é autoritário, dinheirista e familista. Explode em violência em nome do interesse particular mais mesquinho e viveu pendurado no Estado.
Os modos “família” logo se dissolvem na cafajestagem sexista, na conversa recheada de palavrões e expletivos grosseiros, obcecada com sexo.
São escassamente letrados. São adeptos do “trezoitão” como mediador de conflitos e da dialética da briga de trânsito ou de torcidas organizadas. Não têm sentimento ou ideia de nação que não seja a de contraposição a inimigos internos ou externos, tanto faz se imaginários ou não (comunistas, globalistas, esquerdistas, feministas, isentões, cientistas etc.).
A APB vai conseguir passar verniz bastante de “Deus, Pátria, Família” nesse seu cerne bruto? Uma parte significativa do país vai se engajar nesse projeto de controle autoritário da educação e da cultura, de desmoralização da ciência, de diplomacia conflituosa, de desbaste de direitos civis e sociais?
Cabe acrescentar, como lembrou hoje Bernardo Mello Franco, em O Globo, que “Deus, Pátria e Família era o lema do integralismo, movimento de inspiração fascista fundado por Plínio Salgado em 1932. Deus, Pátria e Família é o lema da Aliança pelo Brasil, partido lançado pelo presidente Jair Bolsonaro em 2019. Os dois grupos de ultradireita são separados por 87 anos e duas ditaduras. Unem-se no apelo à fé, ao nacionalismo e ao anticomunismo para mobilizar seguidores e disputar o poder”.

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