Diplomacia bolsonarista
isolou o Brasil no mundo
Paulo Roberto de Almeida
Antes, durante e depois do dia das bruxas, a América do Sul está
enfrentando uma conjunção “astrológica” – para quem gosta dessas coisas –
excepcional, com manifestações, distúrbios, rupturas, eleições, sucessões
problemáticas, inovações jurídicas, enfim, a maior das confusões, e isso tudo
mais ou menos junto, o que promete um final de ano especialmente problemático.
No meio de toda essa movimentação, o Brasil, que sempre foi um país
propenso a ser intermediário, mediador, conciliador, proponente de bons ofícios
e país disposto a atuar sempre no sentido das melhores soluções pacíficas, de
consenso, em plena agitação política, o Brasil, retomo, ou sua diplomacia, está
singularmente ausente, totalmente indesejado e INCAPAZ de desempenhar o mesmo
papel positivo que sempre teve, uma vez que, pela própria capacidade de seus
diplomatas, sempre esteve à frente de iniciativas diplomáticas tendentes a
buscar a melhor solução possível para os conflitos existentes.
Hoje, a verdade é que NINGUÉM QUER O BRASIL, uma vez que o seu
presidente ofendeu quase todos os interlocutores vizinhos, elogiando ditadores
e violadores de direitos humanos, xingando candidatos que não combinam com sua
filosofia de extrema-direita, e o seu chanceler recrudesceu estupidamente em
cima do que disse o presidente, continuando a ofender os vizinhos.
SITUAÇÃO LAMENTÁVEL a de nossa posição atual na região, numa situação
depreciada e até evitada pelos demais países da América do Sul. Vejamos um
pouco mais.
1) Argentina: não existe
diálogo com o próximo governo, e a cúpula do Mercosul será feita ANTES da posse
do presidente Fernández, o que augura um péssimo começo para as relações
bilaterais e para qualquer reforma do Mercosul, com baixa expectativa para que
o acordo com a UE entre em vigor.
2) Uruguai: o candidato da
direita fez com que o embaixador do Brasil fosse chamado na chancelaria para que
lhe fosse entregue um recado direto ao presidente: “Não se meta em nossa
eleição”.
3) Chile: ao elogiar
Pinochet, e ofender o pai da ex-presidente Michelle Bachelet, atual Comissária
de Direitos Humanos da ONU, o presidente obrigou o presidente Sebastian Piñera
a se dissociar das grosserias proferidas pelo presidente brasileiro.
4) Bolívia: o presidente
Bolsonaro e o seu chanceler acidental jamais serão convidados para desempenhar
qualquer papel na atual crise nascida das últimas eleições no país, e o Brasil
sempre foi, e poderia ser, um país tendente a uma solução negociada na situação
atual, mas a parcialidade do governo brasileira torna impossível tal missão.
5) Peru: a crise deriva em
grande medida da corrupção da Odebrecht no país vizinho, e havia uma grande
cooperação jurídica entre os dois países. Aparentemente, essa cooperação está
prejudicada pela confusão institucional nos dois países.
6) Colômbia: a despeito de
ter um governo de direita, o governo da Colômbia não parece demonstrar nenhuma
disposição para qualquer coordenação com o Brasil no encaminhamento dos
problemas atuais, em especial na longa crise venezuelana.
7) Equador: a crise no país
parece estar terminando, mas tampouco o Brasil teria um papel significativo na
profunda crise que ocorreu, e ainda não foi inteiramente superada, no país andino,
com o qual o Brasil já teve excelentes relações.
8) Venezuela: desde o dia 1ro
de janeiro, por equívocos lamentáveis do chanceler e seus mestres aloprados,
não existe qualquer diálogo com o governo de fato em Caracas, por erros de
cálculo da diplomacia bolsonarista, por seguidismo idiota das iniciativas
eleitoreiras do governo Trump – e seu ex-conselheiro expurgado John Bolton –,
por outros erros monumentais dos mesmos aloprados em relação ao Grupo de Lima,
e não parece haver perspectivas de que a situação melhore no futuro breve.
Concluindo: se o Brasil está isolado no mundo, e está, com exceção
dessas ditaduras de direita apreciadas pelo presidente idem, o Brasil está
ainda mais isolado no continente, pois, ao que parece, nenhum, absolutamente
nenhum dos governos da região deseja ter o Brasil como interlocutor de
confiança para exercer qualquer papel de bons ofícios nos atuais problemas que
infelicitam a região.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 9/11/2019
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