O que a esquerda não conta sobre a ditadura militar
Gazeta do Povo, 12/11/2019
A Ditadura Militar instalada no Brasil em 1964 faz parte dos livros de história, mas também do debate político diário no Brasil. E até hoje é um tópico hipersensível tanto para esquerda como para a direita.
A Gazeta do Povo evidentemente não apoia qualquer tipo de governo que não preza a democracia. Em suas convicções, o jornal deixa claro que "A democracia é a única forma de governo que respeita plenamente a dignidade humana e permite aos seus cidadãos desenvolver ao máximo as suas potencialidades." Em várias reportagens, revelou como o período ditatorial fez mal ao país, deixando um legado de hiperinflação, corrupção, crime e violência urbana. Houve casos escabrosos, com os quais nenhum ser humano pode compactuar, como a tortura de crianças, de opositores políticos, e até o sequestro de bebês. Também mostrou como nem todos os que se opuseram à ditadura eram comunistas. E a prisão e tortura de uma freira , sem provas. Sendo bem claro: a ditadura militar brasileira não deve ser comemorada.
Um dos maiores facínoras do período era Carlos Marighella , que ganhou uma hagiografia cinematográfica dirigida por Wagner Moura. Ele até hoje é tratado como herói por alguns setores da esquerda, mesmo que tenha defendido a luta armada mesmo antes do endurecimento do regime militar. Marighella escreveu o infame 'Mini Manual do Guerrilheiro Urbano', no qual propunha execuções (de “um espião norte-americano, um agente da ditadura, um torturador da polícia, ou uma personalidade fascista do governo”, etc.), sequestros (para trocar por guerrilheiros presos) e, finalmente, o terrorismo, mesmo que deixasse vítimas civis pelo caminho — o que de fato aconteceu. Em entrevista a uma revista francesa, Marighella chegou a dizer que o Brasil se tornaria um novo Vietnã, “dezenas de vezes maior”.
Marighella ainda foi o criador da Aliança Libertadora Nacional, um grupo armado cujo objetivo era justamente o de instaurar um “governo popular revolucionário” no Brasil. O que Marighella pregava era tão violento que ele conseguiu ser expulso do PCB (Partido Comunista Brasileiro). Nem os próprios membros do grupo eram poupados da sanha assassina: militantes considerados traidores ou dissidentes eram executados nos chamados “justiçamentos”.
Os justiçamentos, aliás, dão um bom vislumbre do que seria o Brasil sob domínio comunista. Em países como a União Soviética e a China, era comum que membros da elite do Partido Comunista fossem eliminados quando caíam em desgraça, mesmo que fossem inocentes. Entre os vários grupos armados da esquerda no Brasil, a mesma prática foi utilizada, já que ideologias genocidas têm muito em comum.
Uma das vítimas foi o estudante de sociologia Márcio Leite de Toledo, de 26 anos. Toledo foi enviado a Cuba para treinamento de guerrilha e voltou ao Brasil clandestinamente. Após o retorno, na mesma época em que comandantes da ALNforam capturados pelos órgãos de segurança do regime militar, Toledo passou a discordar das táticas da organização. Como resposta, o comando da ALNconsiderou Toledo perigoso para a organização e um grupo de quatro guerrilheiros decidiu pela execução dele.
A organização não fez segredo do homicídio e anunciou em um comunicado: “A Ação Libertadora Nacional (ALN) executou, dia 23 de março de 1971, Márcio Leite Toledo. Esta execução teve o fim de resguardar a organização. Uma organização revolucionária, em guerra declarada, não pode permitir a quem tenha uma série de informações, como as que ele possuía, vacilações desta espécie, muito menos uma defecção deste grau em suas fileiras”.
Outro caso semelhante envolveu Francisco Jacques Moreira de Alvarenga, da Resistência Armada Nacionalista (RAN). Alvarenga foi executado com quatro tirospor um comando da ALN em 28 de junho de 1973, na sala dos professores do colégio Veiga de Almeida, no bairro carioca da Tijuca, onde dava aula de história.
Olga Benário (esposa de Prestes, judia alemã, deportada para a Alemanha nazista, morta na câmara de gás) foi também vítima de injustiças, desta vez por parte do regime fascista de Getúlio Vargas, que a entregou aos nazistas. Mas enquanto a história de Olga ganhou atenção mundial, foi objeto de filmes com orçamentos milionários, a de Elza segue no oblívio. Nem a imprensa, nem mesmo militantes (de direita ou de esquerda) comentam sua história.
Outra vítima cuja história não inspirou filmes, seriados ou livros é a do jovem soldado Mário Kozel Filho, que se estivesse vivo teria completado 70 anos em julho deste ano. Sua vida foi roubada por guerrilheiros de esquerda aos 19 anos, em 26 de junho de 1968. Uma caminhonete lotada de explosivos foi acelerada em direção ao Quartel General do 2º Exército, em São Paulo. Kozel teve o corpo despedaçado pela explosão.
Os pais de Kozel, um jovem de origem simples, só passaram a ter direito a uma pensão em 2003, no irrisório valor de R$ 330. Foi atualizado para R$ 1.140 em 2005. Mas o casal só foi informado em 2007, pela imprensa, a respeito dos valores. Em comparação, desde 1993 a viúva do guerrilheiro Carlos Lamarca recebe uma pensão de R$ 9.963,98, posteriormente atualizada para R$ 12.152,61. Lamarca era integrante do grupo que realizou o atentado, a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).
Atenciosamente,
Jones Rossi, editor de Ideias
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