Paulo Roberto de Almeida
---------------------------
Caro presidente Ronaldo Poletti, por meio de quem cumprimento todos os demais membros de nosso Instituto.
Caro amigo, colega, companheiro de aventuras intelectuais, Carlos Henrique Cardim, professor, diplomata, editor, mas sobretudo, grande intelectual e homem de pensamento.
Tenho especial prazer, neste dia, em recepcionar nosso mais novo membro, sobretudo porque ele promete ser aqui o mesmo empreendedor de grandes aventuras intelectuais que ele tem sido, no âmbito universitário e no ambiente diplomático, desde que chegou a Brasília, na hoje distante década dos setenta, mais exatamente em 1976, numa das turmas do Instituto Rio Branco, nossa academia diplomática. Eu ingressei um ano depois dele, mas pela via de um dos concursos diretos realizados naquela década, atualmente descontinuados.
Meu prazer também se explica pelo fato de que ele pertence à mesma tribo que eu, a dos sociólogos, hoje menos valorizada, mas que já teve um dos seus na presidência da República. Como eu, também, ele sempre manteve dupla militância, na academia e na diplomacia: desde sua chegada a Brasília é professor do Instituto de Ciência Política da UnB, sendo ainda um dos fundadores do curso de Relações Internacionais, o mais antigo no nível da graduação, atualmente exibindo excelência no mestrado e doutorado nessa área.
Mais importante ainda, foi Decano de Extensão da UnB, numa das fases mais ativas e brilhantes das atividades extracurriculares da universidade, inclusive porque, como presidente do Conselho Editorial da Editora da UnB, no período de 1978 a 1983, foi o direto responsável pela tradução e edição brasileira de aproximadamente 500 títulos em todas as vertentes das ciências humanas e sociais, clássicos do pensamento ocidental, da antiga Grécia aos internacionalistas contemporâneos, passando pelo Renascimento, Iluminismo e pelo liberalismo clássico.
Mais precisamente, ele foi o coordenador da “Coleção Pensamento Político”, com 70 volumes, da “Biblioteca Básica Brasileira”, e promotor da edição pela UnB da obra de Max Weber Economia e Sociedade e “Clássicos UnB”. Nestas coleções figuram primeiras edições no Brasil, além do clássico de Weber, os Comentários sobre a Primeira Década de Tito Lívio de Maquiavel, A Guerra do Peloponeso de Tucídides, e títulos de Karl Popper e Ortega y Gasset. Cardim ainda criou na UnB os Cursos de Extensão à Distância que atingiram cerca de 30 mil alunos. Foi Editor das revistas Documentação e Atualidade Política DAP, Relações Internacionais, Humanidades, Di&oa cute;genes, Parcerias Estratégicas, do Centro de Estudos Estratégicos da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, assim como dos Arquivos do Ministério da Justiça, e, ainda, da revista Diplomacia Estratégia Política (DEP), trilíngue, voltada para os países da América do Sul.
Finalmente, deu início a uma obra ainda em aberto, a revista 200, centrada no bicentenário da independência do Brasil, com a qual tive o prazer de colaborar, seja como simples autor, seja como facilitador de alguns trabalhos editoriais, enquanto diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais do Itamaraty. Aliás, fomos colegas nessa direção, mas o Cardim duplamente, pois foi por duas vezes diretor do IPRI, tendo editado, numa das vezes, a coleção “Clássicos do IPRI”, em cooperação com a Editora da UnB. A revista 200, infelizmente, teve uma única edição, em função das mudanças ocorridas no Itamaraty, mas acredito que ela deva merecer continuidade, de uma forma ou de outra.
Cardim escreveu uma profusão de artigos e ensaios, especialmente sobre o Barão do Rio Branco, tendo editado um livro sobre o grande diplomata, nosso patrono, por ocasião do centenário de sua posse no Itamaraty, fruto de um seminário memorável em 2002. Escreveu sobre outro diplomata, o historiador Varnhagen, quem visitou este planalto central, para reconhecer os locais da futura capital, em 1862, quando era ministro em Viena. Também estudou a carreira e as atividades políticas e diplomáticas de Rui Barbosa, a quem dedicou provavelmente a sua melhor obra: A Raiz das Coisas. Rui Barbosa: o Brasil no mundo, publicada em livro pela Editora Civilização Brasileira, depois de ter sido uma tese no Curso de Altos Estudos do Instituto Rio Branco.
Como diplomata, Cardim serviu na Argentina, Chile, Venezuela, Estados Unidos e Paraguai, e foi embaixador do Brasil junto ao Reino da Noruega, cumulativamente com a República da Islândia. Foi ainda assessor do ministro e deputado Marco Maciel na Casa Civil da Presidência da República, assim como assessor internacional do Ministério do Esporte e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inteligência. O Centro de Estudos Estratégicos, do qual foi diretor, se transferiu da Secretaria de Assuntos Estratégicos para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Cardim já é membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, da Academia Brasiliense de Letras, do Conselho Superior de Altos Estudos da FIESP, da Associação Nacional de Escritores e do Conselho Editori al do Se nado, onde ele colaborou com a edição de obras importantes do pensamento brasileiro.
Dentre as atividades que reputo as mais importantes na longa carreira acadêmica e diplomática do então jovem diplomata Carlos Henrique Cardim encontra-se a de organizador dos famosos “Encontros da UnB”, um série de convites a altas personalidades da cultura mundial, que permitiu a vinda ao Brasil, na Universidade de Brasília, muitos pela primeira e única vez, de importantes intelectuais, para seminários dedicados individualmente a suas carreiras, obras e pensamento, dos quais resultaram vários livros com os depoimentos apresentados. Entre os intelectuais convidados, estão os seguintes: Raymond Aron, Karl Deutsch, Gilberto Freyre, John Kenneth Galbraith, Henry Kissinger (que chegou a ficar encurralado por estudantes raivosos num dos auditórios), Norberto Bobbio, Maurice Duverger, Miguel Reale, Ernst Gellner, Giovanni Sartori, Robert Dahl, Mario Vargas Llosa, Afonso Arinos de Mello Franco, René Dubos, Roberto Campos e Leszek Kolakowski. Como editor na UnB, organizou o livro Bobbio no Brasil, e editou o Dicionário de Política do grande intelectual italiano com a colaboração de Nicola Mateucci.
O mais relevante, para nossa cerimônia, do meu ponto de vista, é o fato de que o embaixador Cardim teve a grande sorte, uma honra para qualquer profissional da carreira, de ter como patrono de sua cadeira o grande Duarte da Ponte Ribeiro, um dos maiores diplomatas do Império, também conhecido como “fronteiro-mor”, uma espécie de Indiana Jones da Diplomacia, uma vida de missões extremamente desafiadoras na América andina e depois na construção da seção de mapas do Itamaraty, como chefe da sua divisão de fronteiras. Mas deixo ao Cardim relatar as qualidades do patrono da sua cadeira.
Seja bem vindo caro amigo, grande intelectual, embaixador Carlos Henrique Cardim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário