O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

A insana guerra comercial de Trump contra a China prejudica EUA, China e o resto do mundo

Quando um idiota econômico acha que vai reduzir o déficit bilateral a golpes de sobretaxas, pode apostar que todos vão perder
Guerra comercial causou prejuízos aos EUA e à China
Chineses perderam US$ 35 bi em exportações até junho, diz Unctad. Maior prejuízo à economia americana se deu pelo aumento dos preços de produtos importados

Por Assis Moreira — De Genebra
Valor Econômico, 6/11/2019

A guerra comercial entre os Estados Unidos e a China tem gerado perdas bilionárias para as duas maiores economias do mundo e desvio de comércio, segundo confirmado por um estudo da Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad).
As perdas dos EUA estão amplamente relacionadas a preços mais elevados para os consumidores americanos, enquanto os prejuízos da China se refletem em perda significativa de exportações.
Segundo a Unctad, a sobretaxa de mais de 25% em importações procedentes da China imposta pelo presidente Donald Trump infligiu uma perda de US$ 35 bilhões nas vendas chinesas para os EUA no primeiro semestre. A queda nas vendas é de 25% em relação ao mesmo período do ano passado.
Por sua vez, dados americanos indicam que as exportações em geral dos EUA para o mercado chinês caíram US$ 15,1 bilhões, numa contração de 23,5% entre janeiro e junho. A Unctad não examinou o lado das exportações americanas, mas ao menos parte disso é resultado das sobretaxas chinesas adotadas em retaliação às medidas americanas.
Para o economista Alessandro Nicita, autor do estudo, no segundo semestre os prejuízos devem ser ainda maiores para as exportações das duas grandes economias, inclusive porque sobretaxas mais elevadas foram impostas.
Para a Unctad, o estudo serve como uma advertência global de que guerra comercial resulta em perdas para todos os beligerantes, além de afetar a estabilidade e o crescimento da economia global. Daí a expectativa quanto a um acordo, mesmo modesto, entre os presidentes Trump e Xi Jinping proximamente, para reduzir a escalada de conflito.
Dos US$ 35 bilhões de exportações chinesas perdidas ao mercado americano, cerca de US$ 21 bilhões (63%) foram ocupadas com desvio de comércio, ou seja, com importações de países não diretamente envolvidos na guerra comercial. Os outros US$ 14 bilhões foram perdidos por menor demanda dos EUA ou capacidade insuficiente de outros fornecedores.
Entre os parceiros mais competitivos que se aproveitaram da alta de tarifas contra a China, o estudo aponta Taiwan como o maior ganhador até agora. As exportações taiwanesas para os EUA cresceram US$ 4,2 bilhões no primeiro semestre, ocupando boa parte do espaço deixado pelos chineses nos setores de equipamentos para escritórios e de comunicação.
Também o México aumentou suas exportações para os EUA, em US$ 3,5 bilhões, principalmente no agronegócio, equipamentos de transporte e máquinas elétricas. A União Europeia (UE) vem em terceiro lugar, com ganho adicional de US$ 2,7 bilhões. O Vietnã ganha quase tanto quanto os europeus, com US$ 2,6 bilhões a mais de exportações, sobretudo móveis e equipamentos de comunicação.
O desvio de comércio beneficiou também Coreia do Sul, Canadá e Índia, com ganhos entre US$ 900 milhões e US$ 1,5 bilhão.
Para o autor do estudo, os consumidores americanos sofrem o maior impacto da alta de tarifas sobre importações procedentes da China, à medida que os custos adicionais são repassados na forma de preços maiores. 
No entanto, o estudo também mostra que as firmas chinesas começaram a absorver parte dos custos das tarifas, reduzindo os preços de suas exportações em cerca de 8 pontos percentuais.
A Unctad destaca também a competitividade de empresas chinesas que, apesar das sobretaxas, mantiveram 75% de suas exportações para os EUA.

Nenhum comentário: