Sobre o verdadeiro Itamaraty e o ataque de insanidade de que é vítima atualmente
Paulo Roberto de Almeida
[Objetivo: debate; finalidade: em defesa do Itamaraty]
Apenas um reparo, mas puramente formal— sem minimamente afetar o seu conteúdo, com o qual concordo inteiramente —, ao título da matéria de Rafael Moro Martins, jornalista do The Intercept Brasil, neste Sábado, 16 de maio de 2020: “A boçalidade infectou o Itamaraty”.
Eu corrigiria também o final: "O Itamaraty não está doente."
Não! Quem está doente, ou já era, são aqueles que o levaram a tal situação de prostração. Todos sabemos quem são, e eles não escaparão do julgamento da História, ou pelo menos da minha história.
Eu diria que o Itamaraty, enquanto corpo profissional de alta qualidade, permanece totalmente imune — digamos, a 99,9% — ao bacilo da ESTUPIDEZ e ao virus da BOÇALIDADE OLAVISTA, e seus quadros continuam capazes de produzir posições, posturas, subsídios a processos RACIONAIS de tomadas de decisão, nos métodos de trabalho e nos padrões de excelente qualidade técnica, que sempre foram os seus ao longo da história.
Os convertidos — mais por oportunismo sabujo, do que por crença verdadeira — ao ataque de boçalidade conduzido conjuntamente (mas de forma descoordenada, como é próprio dos personagens) pelo capitão desmiolado e seu suposto guru expatriado (o Rasputin de subúrbio, o subsofista da Virgínia), são muito poucos na outrora Casa de Rio Branco, talvez dois ou três, no máximo, entre os quais se incluem o chanceler acidental e seu chefe de gabinete.
Todos os demais diplomatas, ou dão continuidade normal a seus trabalhos, como sempre fizeram, ou permanecem silenciosos, esperando que o pesadelo termine. Alguns resolveram sair, pediram postos ou ficam enclausurados no silêncio.
Eu devo ser o único da ativa que ainda ousa falar abertamente, mas estou no limbo, lotado formalmente na Divisão do Arquivo, onde respondo a um Primeiro Secretário, de onde disparo estes meus petardos, recolhidos em meu “quilombo de resistência intelectual” (à estupidez e à boçalidade), que é o meu blog Diplomatizzando.
Alguns poucos, por vocação bajuladora, e/ou obsessão por promoção, por belos postos ou chefias remuneradoras, se deixam enredar no festival de patetices que emanam do Gabinete, na verdade controlado de fora, por dois ou três malucos, e amadores (pior que aprendizes) em política externa, anteriormente tutelados de longe por uma suposta “ala militar” que tampouco existe.
O Itamaraty de outrora, vibrante, participante, inteligente, converteu-se hoje em terra arrasada, sob o tacão dos ignaros que manipulam o chanceler acidental e seus subordinados.
Essa miséria destruidora da sua inteligência — como intitulei meu livro dedicado a estes tristes tempos, disponível livremente no meu blog — passará um dia, e vamos reconstruir a instituição em sua plenitude intelectual.
Os poucos que colaboraram ativamente na obra insana de desmantelamento de sua institucionalidade sentirão vergonha de terem servido de capatazes aos algozes de um momento, de uma fase que será superada. Eu pelo menos luto por isso, a que me obriga a minha consciência e minha honestidade intelectual.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 16/05/2020
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