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quarta-feira, 20 de maio de 2020
O presidente genocida - Ricardo Noblat
No dia em que pela primeira vez o número de mortos com Covid-19 no Brasil passou de mil em 24 horas, o presidente da República, em entrevista virtual concedida a partir da biblioteca do Palácio da Alvorada, resolveu contar uma piada e ele mesmo riu muito dela: “Quem for de direita toma cloroquina. Quem é de esquerda toma Tubaína”.
Cloroquina é a droga receitada pelo presidente para tratar doentes com coronavírus. Não há comprovação científica de que ela funcione, mas ele mandou que o Exército a produzisse em larga escala. Tubaína é um refrigerante de baixo custo à base de guaraná. Jair Bolsonaro é o presidente mais estúpido e ignorante da história do Brasil.
O mundo em que ele vive não gira em torno do Sol. Não tem vida inteligente nem seres sensíveis. As espécies são as mais rudimentares. Chafurdam em pântanos que exalam odores apodrecidos e venenosos. Não sobrevivem por muito tempo. Mas enquanto duram, tentam capturar e destruir os seus semelhantes. O planeta da morte.
Em menos de dois meses, o número de brasileiros vítimas fatais do coronavírus ultrapassará, hoje, a casa dos 18 mil. E o de infectados poderá chegar a 300 mil. A soma dos mortos já é maior do que a população de mais da metade dos municípios do país. O Brasil é o terceiro país com mais casos confirmados da doença e avança célere para a vice-liderança.
O fato é que o Brasil perdeu a luta contra o Covid-19. Como poderia ganhar com um presidente da República que se recusou a lutar? Bolsonaro foi o maior aliado do vírus quando ele apareceu por aqui em meados de março último. E continua sendo aliado. Não parece possível que ao cabo da pandemia seja absolvido por crime tão monstruoso e premeditado.
Quantas vezes você já o ouviu dizer: “Fiquem em casa, se protejam, é uma doença perigosa”? Nunca disse. Parece absurdo, mas ele nunca disse. Quantas vezes você ouviu Bolsonaro lamentar as mortes? Duas ou três vezes, se tanto. E sempre de maneira apressada. Quantas vezes você o ouviu dizer: “Precisamos salvar a Economia”. Ah, dezenas!
São poucos no mundo os chefes de Estado que se comportam dessa maneira. Conta-se nos dedos de uma mão o número deles. Bolsonaro é um dos dedos. E é também o mais importante dado ao tamanho do país que preside, e ao tamanho de sua população. É por isso que o mundo olha para o Brasil com assombro e não quer acreditar no que vê.
Como foi possível a eleição de um tipo tão primitivo como é Bolsonaro? Como é possível que os militares batam continência para ele e o apoiem com entusiasmo depois de tê-lo afastado do Exército no passado por indisciplina e conduta antiética? Até quando esse sujeito se manterá no poder apesar de todo o mal que causa ao país?
O que ele fez de bom até aqui? Cite algo de bom destinado a ficar na história como uma marca do governo Bolsonaro. E não se diga que foi por falta de tempo. Quinhentos e poucos dias são suficientes para que se avalie o que um governante será capaz de fazer de bom ou de mal por seu país. Que boa herança se desenha no horizonte?
A força do absurdo é tal que acabamos nos acostumando com ele e não reagimos. Já não surpreende mais que, em plena pandemia, Bolsonaro se empenhe em sabotar medidas de isolamento social adotadas no resto do mundo. Não surpreende que vire garoto propaganda de uma droga – em troca do quê? Nem que esqueça o que prometeu antes de se eleger.
O país está à deriva em mar que não é de almirante. Ao invés de mais médicos, o governo abre as portas para mais militares – outros nove ganharam cargos no Ministério da Saúde. Imune ao coronavírus, é inconcebível que Bolsonaro permaneça a salvo do desastre que promove alegre e irresponsavelmente. A hora do basta faz tempo que passou.
Ricardo Noblat
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