domingo, 31 de janeiro de 2021

Fernando Collor, novo chanceler do Brasil? - Guilherme Casarões

 O ex-presidente e hoje Senador Fernando Collor poderia vir a ser chanceler brasileiro ainda no governo Bolsonaro?


Um dos acadêmicos que mais entende de PExtBr, sabe, conhece, estuda, Guilherme Casarões, discorre com propriedade sobre a diplomacia de Collor, que agora poderia ser chanceler, no lugar do estrupício que existe hoje. Promoveu grandes debates na presidência da CREDN-SF. Tem consistência e propósitos. 

Seus comentários no Twitter:


“1) O ex-presidente @Collor, que hoje comanda a Comissão de Relações Exteriores do Senado, foi condecorado no Itamaraty e deu uma palestra sobre política externa, na qual ironizou o chanceler nomeado, @ernestofaraujo, por suas posições sobre o regime de mudanças climáticas.


2) Muita gente não entendeu o sentido da condecoração e da palestra. Collor tem algum conhecimento sobre política externa? Polêmicas à parte sobre a condução da economia e os escândalos, que são conhecidos, diria que a política externa do presidente Collor foi muito positiva.


3) Na tese que defendi sobre o tema (2014), chamo a estratégia de Collor de "autonomia pela modernização". Modernização, em 1º lugar, da agenda externa do país, abraçando "novos temas". Em 2º lugar, modernização econômica, alinhada, talvez até demais, c/o Consenso de Washington.


4) A 1ª estratégia buscava resgatar a credibilidade brasileira, perdida ao longo dos anos 80. O 🇧🇷 era visto como caloteiro (moratória de 87), protecionista (informática), violador de direitos humanos (esp. indígenas), destruidor da floresta, assassino de ativistas (Chico Mendes)


5) Collor bancou uma guinada diplomática, em que o 🇧🇷se transformou num grande ativista ambiental e de direitos humanos (o "globalismo" na sua melhor forma). Sediamos a Rio92, aderimos aos Pactos de DH, desmontamos o programa nuclear paralelo. Tudo isso feito em linha com o MRE.


6) A criação de uma Agência Nuclear 🇧🇷🇦🇷, ABACC, + a criação do Mercosul, reposicionou o país na região e no mundo. Deixamos de ser vistos como pária ambiental, nuclear, humanitário. Quebramos a balela de internacionalização da Amazônia, que vinha muito forte via Mitterrand/Gore.


7) No caso da modernização econômica, o BR tinha um objetivo muito claro em mente: renegociação da dívida externa, pré-condição p/controlar a hiperinflação e retomar o crescimento. Os 🇺🇸 de Bush exigiam adesão ao Cons. de Washington. Fizemos concessões enormes, com pouco retorno.


8. O timing foi péssimo: após o confisco da poupança, o país tinha poucos meses pra resolver a dívida antes da volta da inflação. A equipe econômica de @oficialZeliaCM até tentou, mas encontrou barreiras enormes (principalmente os bancos privados). Os 🇺🇸não cumpriram o combinado.


9) A luta de Zelia e Jório Dauster para renegociar a dívida foi uma das razões pelas quais o insuspeito Bresser-Pereira chamou a gestão da ministra de "tempos heroicos". Ao contrário do que reza o senso comum, não houve alinhamento automático a Washington, mas uma barganha dura.


10) Grande parte do dinamismo pretendido daquela política externa veio pela redefinição das relações presidente/Itamaraty. Parte do protagonismo se deslocou para Planalto e Economia. Collor lançou diplomacia presidencial e vinculou sua própria imagem à credibilidade nacional.


11) O experimento de nova gestão da política externa foi naturalmente interrompido c/o impeachment. Itamar Franco recupera o total poder do Itamaraty c/FHC e Celso Amorim. Dali nasce a "tradição" de chanceleres de carreira na Nova República, que retomam o gravitas da diplomacia.


12) Ainda assim, podemos considerar que Collor legou à PEB (1) o engajamento nos regimes multilaterais; (2) a institucionalização da integração regional; (3) as bases institucionais da política comercial; (4) cooperação inédita no campo nuclear; (5) protagonismo presidencial.


Link da tese, para quem se interessar: 


http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8131/tde-13052015-113251/publico/2014_GuilhermeStollePaixaoCasaroes_VOrig.pdf “

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