domingo, 21 de fevereiro de 2021

Mini-reflexão sobre alguns dos momentos decisivos na vida da nação - Paulo Roberto de Almeida

 Mini-reflexão sobre alguns dos momentos decisivos na vida da nação 

Paulo Roberto de Almeida


A ampliação do número de armas livremente disponíveis no Brasil terá um efeito persistente no aumento dos homicídios e dos crimes violentos de maneira geral. 

O país se tornará inevitavelmente mais “mortal” no longo prazo. 

Este será o legado maldito de Bolsonaro: uma sociedade infelizmente mais violenta e muito mais conflitiva do que poderia ser, na ausência dessas medidas alucinadas e alucinantes (com a leniência das FFAA, que perdem, assim, parte de seu monopólio legítimo do uso da força).

Esta será sua “marca” histórica, tão negativa, na longa duração, quanto a preservação do tráfico na Independência, quanto a extrema relutância em abolir a escravatura, tão danosa para o conjunto da sociedade e para o destino da nação quanto a incapacidade das elites em distribuir terras na Lei Agrária de 1850, ou em criar uma educação pública de massas de qualidade quando se instalou a República. 

Já estamos na sexta República e na sétima Constituição (oitava, se contarmos com as emendas de 1969), e ainda não logramos estabilizar institucionalmente o país.


Certas “decisões”, convenientes no curto prazo para seus proponentes, atendendo a interesses geralmente mesquinhos, possuem um “lasting effect”, que se amplia desmesuradamente por gerações sucessivas, impactando a trajetória futura da nação, se outro fosse o caminho adotado numa determinada bifurcação histórica.

O Brasil foi pródigo, no passado, em ações e omissões especialmente negativas do ponto de vista da construção de uma nação próspera e dotada de instituições sólidas.

Aparentemente, ele continuará a se arrastar penosamente em direção a um futuro incerto, de desigualdades estruturais e de injustiças sociais, porque suas elites dirigentes foram incapazes de diagnosticar e de equacionar os problemas mais elementares de todas as sociedades: infelizmente não soubemos sequer resolver o básico de uma sociedade sadia e ainda estamos longe de criar um Estado de Direito e uma nação de bem-estar social.


Chegaremos aos 200 anos de criação de um Estado nacional soberano com um balanço talvez, ou apenas, razoável no plano material, mas reconhecidamente frustrante no plano social e crescentemente miserável nas dimensões ética e moral, quando olhamos para aqueles que representam a nação no contexto internacional. 

Termino por uma confissão vinculada à minha carreira profissional nas últimas quatro décadas: sinto profunda vergonha pela imagem que esses irresponsáveis do poder atual projetam do Brasil no mundo.


Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 21/02/2021


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.