Mini-macro história sobre o país que um dia foi do futuro
Paulo Roberto de Almeida
Diplomata, professor
(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)
Considerações feitas a alguém que me perguntava sobre coisas quase impossíveis, ou pelo menos improváveis. Teremos condições de superar nossas principais mazelas em tempo razoável, saberemos consertar nossos “malfeitos” em pouco tempo?
Não seria esperar muito das nossas elites? Afinal de contas, elas demoraram meio século para extinguir o tráfico, esperaram quase mais quarenta anos para abolir a escravidão, nunca fizeram reforma agrária, só concederam direitos laborais pelas mãos de um ditador fascista, construíram tardiamente uma escola republicana, que logo veio abaixo na primeira pressão exercida pela urbanização e democratização do acesso aos mais pobres, jamais se ocuparam de eliminar, ou ao menos minimizar o patrimonialismo do estamento burocrático e dos políticos profissionais, sequer nos ocupamos seriamente de combater a corrupção e quando alguns tentaram foram prontamente escorraçadas pela cooperação mafiosa de bandidos de colarinho branco com “adevogados” de porta de cadeia regiamente pagos com o próprio dinheiro da corrupção, temos quase todo o know-how da corrupção bem azeitada, só faltando alguns aperfeiçoamentos para chegarmos no “ótimo paretiano” da cleptocracia científica, digna das melhores teses de candidatos a Ph.D. em ciência política, temos farto material disponível para romancistas iniciantes em busca de inspiração para obras no realismo fantástico, gênero Law & Order, enfim, somos quase campeões, medalhas de ouro nas Olimpíadas do Crime.
Tudo isso em menos de 200 anos de vida independente: já não é uma “boa” performance?
Poucos países fizeram como o Brasil no domínio da história monetária mundial: pelo menos oito moedas no espaço de três gerações, sendo seis novos padrões monetários em menos de dez anos, inflação astronômica, com números equivalentes a anos-luz de deterioração do poder de compra da moeda corrente.
Não, o Brasil definitivamente não é para amadores: nem os brasilianistas mais experientes conseguem explicar tudo isso para seus conterrâneos. Vamos precisar de todo um exército de sociólogos experimentados, e não tenho certeza de que eles dariam conta de nossa prolixidade na arte de não perder a oportunidade de perder oportunidades, como diria o saudoso Roberto Campos.
Somos realmente fantásticos, com toda a non chalance dos grandes desfiles de Carnaval, que enchem os olhos de admiração dos turistas, ao ver como fazemos o máximo de brilho a partir de tanta miséria humana e desagregação moral.
Sorry pela breve síntese de nossos fracassos…
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4000: 19 outubro 2021, 2 p.
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