A humanidade desumanizou-se?
Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.
Nota sobre a total indiferença que o morticínio na Ucrânia vem sendo recebido no chamado Sul Global, entre esses países o Brasil, incapaz de se manifestar sobre o massacre que vem sendo conduzido pela Rússia contra civis inocentes e a infraestrutura material do país.
Um dos fatos mais chocantes na atualidade internacional é constatar que a maior parte da comunidade dos Estados membros da ONU, especialmente do chamado Sul Global, permanecer completamente indiferente ao cenário de morticínio e de destruição bárbara perpetrados pela Rússia na Ucrânia.
Como é possível aos dirigentes, à população, não se indignar em face de um espetáculo de pura barbárie, terrorismo deliberado, crimes de guerra e contra a humanidade?
As pessoas, em geral, no Sul Global em especial, consideram que não há nada que possa ser feito e que os bombardeios contra alvos civis podem continuar a ser feitos porque um membro permanente do CSNU dispõe de um poder exclusivo, o de violar a Carta da ONE e todos os princípios do Direito Internacional impunemente?
Quando esse tipo de comportamento inadmissível passou justamente a ser considerado como admissível, normal e inquestionável? Quando foi que a MAIOR PARTE da humanidade se convenceu de que nada poderia ser feito, ou, coisa pior, que era possível continuar a comerciar e até a intensificar esse comércio e outras relações com a parte agressora, como se o lado perversamente amoral do seu comportamento pudesse passar a ser admitido como coisa menor?
O que foi que ocorreu com os países que aderiram e que ratificaram a Carta da ONU para ignorar por completo suas OBRIGAÇÕES inscritas na Carta de boicotar o agressor, de submeterem-no a sanções e de vir em socorro da parte agredida unilateralmente?
Por acaso, mais da metade da humanidade, seus dirigentes políticos, se julgam desprovidos de qualquer responsabilidade política, moral, simplesmente humanitária, em face da barbárie sendo cometida contra o povo iraniano?
Almas cândidas poderão argumentar com as matanças já em curso na África e em outros lugares, a maior parte resultado de guerras civis, conflitos políticos, étnicos ou religiosos, mas estamos falando, no caso da Ucrânia, nada disso estava dm curso, e sim foi uma agressão deliberada, unilateral, não provocada, das mais cruéis já vistas desde as guerras de expansão das potências nazifascistas dos anos 1930.
Estamos de volta aos momentos mais sombrios da história da humanidade, um tempo de desumanização inédita para os padrões do multilateralismo contemporâneo?
Tudo indica que sim…
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4725, 4 setembro 2024, 2 p.
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