140520CriseUSP
Não creio
que seja só a USP que esteja em crise: ela é apenas o lado mais visível do
calamitoso estado em que se encontram todas as IFES, e na verdade acredito que
toda a educação brasileira sofra de males terríveis, do jardim da infância ao
pós-doc, e não apenas devido às criminosas políticas educacionais dos
companheiros e suas "saúvas freireanas". As máfias sindicais, também
companheiras, a própria improdutividade dos professores e gestões totalmente
incompetentes, eleitas na base do compadrio e do corporatismo também são
responsáveis pela situação falimentar das universidades públicas, e não só no
plano orçamentário, mas no âmbito mental também.
O que eu
proponho paras as IFES?
Nada além
de uma bela crise, quanto mais rapidamente, mais profunda e mais devastadora
melhor.
Não quero
ser catastrofista, claro, mas as IFES não vão se reformar: elas só podem ser
reformadas a partir de uma crise decisiva, e dando-lhes apenas uma
"mesada" rudimentar e dizendo: "virem-se para arrumar a outra
metade do orçamento."
Concordo
com todas as críticas do Professor Pereira, e como ele acho que a meritocracia
radical não tem nenhuma chance de vingar nas IFES, não enquanto continuarem a
ser sustentadas pelo Estado, ou seja, por toda a sociedade, inclusive por
aqueles q ue nunca porão os pés numa universidade.
Portanto,
eu cortaria a mesada, simplesmente. Aí elas serão obrigadas a se reformar, ou
então afundar na decadência, o que aliás já parece ser o caso com os
companheiros no poder.
Paulo
Roberto de Almeida
Ler
a íntegra da longa, profunda e percuciente análise do Professor Pereira neste
link:
Sobre
a Crise na USP
Blog do Adonai
Sant'Anna,
quarta-feira, 25 de junho de 2014
Carlos de
Brito Pereira é professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da
Universidade de São Paulo (EACH/USP). Doutor em Administração pela USP e
pesquisador do Grupo Interdisciplinar de Física da Informação e Economia, ele é
um economista que publica no prestigiado Physica A.
Há algum tempo venho negociando com o professor Pereira a publicação de um
texto inédito sobre a crise que ocorre na USP, a mais importante universidade
de nosso país.
Por conta da extensão do texto, chegou-se a cogitar a possibilidade de
dividi-lo em três partes. Mas pedi ao autor para apresentar o artigo na íntegra
em uma única postagem, com o objetivo de facilitar o acesso aos leitores deste
blog.
A crise financeira e política na USP tem apresentado profundos reflexos na
produção intelectual da instituição, uma vez que essa universidade perdeu
posições em rankings internacionais das melhores instituições de ensino
superior do mundo e até mesmo da América Latina. E, seguindo a política usual
deste blog, o texto do professor Pereira promove uma análise honesta e,
portanto, incisiva, sobre as raízes da incompetência da instituição que já foi
motivo de orgulho de muitos brasileiros. No entanto, não se trata de um mero texto
de crítica. Mais importante do que isso, o autor apresenta uma solução viável
não apenas para a Universidade de São Paulo, mas para todas as instituições
públicas de ensino superior de nosso país.
Desejo a todos uma leitura crítica e insisto para que os leitores encaminhem
esta postagem para todos aqueles que exercem cargos de poder e influência. O
que sustenta este blog certamente não é o administrador, mas a efetiva ação de
seus leitores.
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Sobre A Crise
Na USP
escrito por
Carlos de Brito Pereira
“A
incompetência [na Universidade] era, portanto, estrutural. Para afastar
qualquer possível ameaça de serem depostos e para aumentar os laços de
dependência, os dirigentes frequentemente preferiam nomear os menos capazes
como seus subordinados diretos, algo que se repetia ao longo de toda a
hierarquia. Mesmo os de dentro lamentavam a tacanhez e submissão dos que
ascendiam [na Universidade]. As pessoas com iniciativa, raciocínio independente
e integridade, que tinham se ligado [à Academia] para levarem vidas
[intelectualmente] ativas ou para melhorar [o ensino], eram geralmente
[ignoradas ou se aposentavam].”
1. A Inocência
Dos Incompetentes
Nos últimos dias a crise na USP tem sido tema recorrente no noticiário e editoriais
dos principais jornais de São Paulo, com repercussão em vários outros meios de
comunicação em geral e em blogs que discutem ciência e vida acadêmica, como
este do professor Adonai Sant'Anna. O debate atual, com variações sobre o tema,
parece restringir-se apenas à questão financeira. Notadamente, concentra-se a
discussão nos últimos reajustes salariais. A principal causa apontada é a perda
de foco no que seria a principal missão da Universidade, e o principal culpado
seria o ex-reitor, Prof. Dr. João Grandino Rodas, por incentivar gastos
desnecessários e aumentar os salários acima do aumento da receita.
Com a experiência de quem trabalha em uma das mais conturbadas Unidades da USP,
posso dizer que essa discussão tem usado aquilo que batizei alhures de “o
sujeito oculto da USP”: Os problemas são apontados, eventuais causas e soluções
discutidas, mas ninguém aponta para os sujeitos que fizeram isso. Um ou outro
artigo trata da “estrutura” da USP, mas parece aquele discurso adolescente de
movimento estudantil, quando alguém se refere à culpa do “sistema”.
George Orwell escreveu vários ensaios sobre como a linguagem é corrompida
no debate público. Isto não é casual: chamar as coisas pelo nome correto e
indicar os responsáveis pelas ações não costuma ser bem visto tanto no mundo
político quanto na cultura brasileira. Porém, a crise da USP é grave e precisa
ser discutida da forma mais honesta, até para evitar que isto aconteça
novamente no futuro. Apontar o dedo para o último Reitor é conveniente. O Prof.
Dr. João Grandino Rodas é um alvo fácil e talvez tenha responsabilidade sobre a
situação, mas ele não estava sozinho e não brotou na Reitoria: foi votado no
Conselho Universitário e escolhido pelo Governador do Estado. Aliás, os atuais
Reitor e Vice-Reitor foram Pró-Reitores na administração passada.
Assim, como funcionaria o “sistema” da USP? Por princípio, a Universidade seria
uma República Platônica, onde os melhores exerceriam os cargos mais importantes
(uma “meritocracia”, pois). Logo, o Reitor seria o primus inter pares.
Dada a estrutura da carreira, esses melhores seriam os Professores Titulares.
Ora, a julgar pelo resultado recente, há que se perguntar: melhores em quê?
(...) (Ler a íntegra da longa, profunda e percuciente análise do Professor Pereira neste link:
http://adonaisantanna.blogspot.de/2014/06/sobre-crise-na-usp.html?m=1)
Iniciei este ensaio com uma longa paráfrase, mostrando como a atual governança uspianaparece-se
de certa forma com o sistema comunista. Nesse livro, Stephen Kotkin e Jan Gross
apresentam uma versão para o final dos regimes comunistas, na qual destacam a
importância do que chamam de “a sociedade incivil”, ou seja, os membros do Partido
Comunista em cargos importantes no regime. A analogia com a situação atual da
USP é inevitável: somente se membros do Conselho Universitário fizerem as
mudanças necessárias, poderemos sair da crise financeira em que nos
encontramos. Não será a sociedade civil que fará isto. Acredito que, se
insistirmos no caminho trilhado até aqui, apenas caminharemos para a
obsolescência e para a insignificância. Títulos, homenagens, número de
publicações apenas mascaram a situação. Em termos práticos, seremos inúteis
para a sociedade que nos financia.
Lembremo-nos de uma verdade há muito esquecida: não somos políticos ligados a
partidos políticos, burocratas barnabés de caricatura ou geniozinhos admirados
por amigos e parentes apenas porque temos o nome “USP” no nosso cartão de
visitas. Somos docentes da Universidade de São Paulo. Deveríamos ao menos
tentar honrar isto.
Ler a íntegra da longa, profunda e percuciente análise do Professor Pereira neste link: