O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Parlamentarismo: abrindo um debate - Carlos de Brito Pereira e Paulo Roberto de Almeida

Tendo eu registrado, nesta postagem:
http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2015/12/crise-politica-e-impeachment-jose-serra.html
 
que o senador José Serra (futuro "primeiro ministro" num governo Temer?) se pronunciou a respeito do parlamentarismo para 2018, por meio deste comentário meu:

A coisa mais interessante que eu achei nesta conversa toda foi que Serra se declara disposto a implementar o parlamentarismo até 2018.
Pessoalmente acho uma boa direção para o Brasil, ainda que existam dois grandes "caveats": 1) a sociedade já se pronunciou contrariamente no passado e o Congresso pode não aprovar essa reforma, e se aprovar, pode ser que não passe num plebiscito; 2) numa primeira etapa, o parlamentarismo representará a exacerbação dos piores defeitos do sistema político brasileiro: fisiologismo, prebendalismo, loteamento, anarquia partidária, e um pouco mais de corrupção, embora numa segunda etapa esses defeitos possam ser corrigidos.
um leitor, o Carlos de Brito Pereira, me escreve para apresentar seus argumentos, que encontro todos pertinentes.
Escreveu ele:


Carlos de Brito Pereira

35 minutos atrás  -  Compartilhada publicamente
Olá:
Seu comentário sobre já termos votado sobre este assunto duas vezes em 50 anos faz sentido. Creio que o assunto já está decidido.
O parlamentarismo faria sentido no Brasil apenas se a população de cada estado fosse corretamente representada na Câmara e o voto fosse distrital.
Se não me falha a memória, na última vez em que votamos sobre a matéria, os defensores do parlamentarismo & República (pois havia ainda os monarquistas, é bom lembrar) não conseguiam concordar sobre como seria esse regime e havia até quem fosse contra a dissolução do parlamento em caso de impasse. Ademais, propor parlamentarismo agora é querer aproveitar a terrível confusão político-econômica em que estamos para passar um tema que deveria ser discutido com calma. Caso contrário, fica parecendo golpe -- e em política, a aparência conta.
Abraços do seu leitor Carlos de Brito.
Ao que respondi o seguinte: 
 Concordo inteiramente. A primeira vez foi canhestro, para impedir Jango de governar plenamente em 1961, imposto pelos militares; Na segunda vez estava nas disposições transitórias da CF-88, apenas para contentar os monarquistas, justamente, e tampouco deu certo. Sou teoricamente a favor, com as ressalvas que você aponta: proporcionalidade correta em distritos eleitorais compatíveis com a realidade do eleitorado, e diferentes outros mecanismos de governança, inclusive barreiras a oportunismos partidários.
Vamos ver como o assunto se desenvolve agora...
O debate está aberto.
Paulo Roberto de Almeida  
Brasília, 7 de dezembro de 2015

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Sobre a crise na USP: pela meritocracia radical - Carlos de Brito Pereira

140520CriseUSP

Não creio que seja só a USP que esteja em crise: ela é apenas o lado mais visível do calamitoso estado em que se encontram todas as IFES, e na verdade acredito que toda a educação brasileira sofra de males terríveis, do jardim da infância ao pós-doc, e não apenas devido às criminosas políticas educacionais dos companheiros e suas "saúvas freireanas". As máfias sindicais, também companheiras, a própria improdutividade dos professores e gestões totalmente incompetentes, eleitas na base do compadrio e do corporatismo também são responsáveis pela situação falimentar das universidades públicas, e não só no plano orçamentário, mas no âmbito mental também.
O que eu proponho paras as IFES?
Nada além de uma bela crise, quanto mais rapidamente, mais profunda e mais devastadora melhor.
Não quero ser catastrofista, claro, mas as IFES não vão se reformar: elas só podem ser reformadas a partir de uma crise decisiva, e dando-lhes apenas uma "mesada" rudimentar e dizendo: "virem-se para arrumar a outra metade do orçamento."
Concordo com todas as críticas do Professor Pereira, e como ele acho que a meritocracia radical não tem nenhuma chance de vingar nas IFES, não enquanto continuarem a ser sustentadas pelo Estado, ou seja, por toda a sociedade, inclusive por aqueles q ue nunca porão os pés numa universidade.
Portanto, eu cortaria a mesada, simplesmente. Aí elas serão obrigadas a se reformar, ou então afundar na decadência, o que aliás já parece ser o caso com os companheiros no poder.
Paulo Roberto de Almeida 
Ler a íntegra da longa, profunda e percuciente análise do Professor Pereira neste link:

Sobre a Crise na USP
Blog do Adonai Sant'Anna, 
quarta-feira, 25 de junho de 2014

Carlos de Brito Pereira é professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH/USP). Doutor em Administração pela USP e pesquisador do Grupo Interdisciplinar de Física da Informação e Economia, ele é um economista que publica no prestigiado Physica A

Há algum tempo venho negociando com o professor Pereira a publicação de um texto inédito sobre a crise que ocorre na USP, a mais importante universidade de nosso país. 


Por conta da extensão do texto, chegou-se a cogitar a possibilidade de dividi-lo em três partes. Mas pedi ao autor para apresentar o artigo na íntegra em uma única postagem, com o objetivo de facilitar o acesso aos leitores deste blog. 


A crise financeira e política na USP tem apresentado profundos reflexos na produção intelectual da instituição, uma vez que essa universidade perdeu posições em rankings internacionais das melhores instituições de ensino superior do mundo e até mesmo da América Latina. E, seguindo a política usual deste blog, o texto do professor Pereira promove uma análise honesta e, portanto, incisiva, sobre as raízes da incompetência da instituição que já foi motivo de orgulho de muitos brasileiros. No entanto, não se trata de um mero texto de crítica. Mais importante do que isso, o autor apresenta uma solução viável não apenas para a Universidade de São Paulo, mas para todas as instituições públicas de ensino superior de nosso país.


Desejo a todos uma leitura crítica e insisto para que os leitores encaminhem esta postagem para todos aqueles que exercem cargos de poder e influência. O que sustenta este blog certamente não é o administrador, mas a efetiva ação de seus leitores.
____________________

Sobre A Crise Na USP

escrito por Carlos de Brito Pereira

“A incompetência [na Universidade] era, portanto, estrutural. Para afastar qualquer possível ameaça de serem depostos e para aumentar os laços de dependência, os dirigentes frequentemente preferiam nomear os menos capazes como seus subordinados diretos, algo que se repetia ao longo de toda a hierarquia. Mesmo os de dentro lamentavam a tacanhez e submissão dos que ascendiam [na Universidade]. As pessoas com iniciativa, raciocínio independente e integridade, que tinham se ligado [à Academia] para levarem vidas [intelectualmente] ativas ou para melhorar [o ensino], eram geralmente [ignoradas ou se aposentavam].”

1. A Inocência Dos Incompetentes

Nos últimos dias a crise na USP tem sido tema recorrente no noticiário e editoriais dos principais jornais de São Paulo, com repercussão em vários outros meios de comunicação em geral e em blogs que discutem ciência e vida acadêmica, como este do professor Adonai Sant'Anna. O debate atual, com variações sobre o tema, parece restringir-se apenas à questão financeira. Notadamente, concentra-se a discussão nos últimos reajustes salariais. A principal causa apontada é a perda de foco no que seria a principal missão da Universidade, e o principal culpado seria o ex-reitor, Prof. Dr. João Grandino Rodas, por incentivar gastos desnecessários e aumentar os salários acima do aumento da receita.

Com a experiência de quem trabalha em uma das mais conturbadas Unidades da USP, posso dizer que essa discussão tem usado aquilo que batizei alhures de “o sujeito oculto da USP”: Os problemas são apontados, eventuais causas e soluções discutidas, mas ninguém aponta para os sujeitos que fizeram isso. Um ou outro artigo trata da “estrutura” da USP, mas parece aquele discurso adolescente de movimento estudantil, quando alguém se refere à culpa do “sistema”.  George Orwell escreveu vários ensaios sobre como a linguagem é corrompida no debate público. Isto não é casual: chamar as coisas pelo nome correto e indicar os responsáveis pelas ações não costuma ser bem visto tanto no mundo político quanto na cultura brasileira. Porém, a crise da USP é grave e precisa ser discutida da forma mais honesta, até para evitar que isto aconteça novamente no futuro. Apontar o dedo para o último Reitor é conveniente. O Prof. Dr. João Grandino Rodas é um alvo fácil e talvez tenha responsabilidade sobre a situação, mas ele não estava sozinho e não brotou na Reitoria: foi votado no Conselho Universitário e escolhido pelo Governador do Estado. Aliás, os atuais Reitor e Vice-Reitor foram Pró-Reitores na administração passada.

Assim, como funcionaria o “sistema” da USP? Por princípio, a Universidade seria uma República Platônica, onde os melhores exerceriam os cargos mais importantes (uma “meritocracia”, pois). Logo, o Reitor seria o primus inter pares. Dada a estrutura da carreira, esses melhores seriam os Professores Titulares. Ora, a julgar pelo resultado recente, há que se perguntar: melhores em quê?

(...) (
Ler a íntegra da longa, profunda e percuciente análise do Professor Pereira neste link:
http://adonaisantanna.blogspot.de/2014/06/sobre-crise-na-usp.html?m=1)

Iniciei este ensaio com uma longa paráfrase, mostrando como a atual governança uspianaparece-se de certa forma com o sistema comunista. Nesse livro, Stephen Kotkin e Jan Gross apresentam uma versão para o final dos regimes comunistas, na qual destacam a importância do que chamam de “a sociedade incivil”, ou seja, os membros do Partido Comunista em cargos importantes no regime. A analogia com a situação atual da USP é inevitável: somente se membros do Conselho Universitário fizerem as mudanças necessárias, poderemos sair da crise financeira em que nos encontramos. Não será a sociedade civil que fará isto. Acredito que, se insistirmos no caminho trilhado até aqui, apenas caminharemos para a obsolescência e para a insignificância. Títulos, homenagens, número de publicações apenas mascaram a situação. Em termos práticos, seremos inúteis para a sociedade que nos financia.

Lembremo-nos de uma verdade há muito esquecida: não somos políticos ligados a partidos políticos, burocratas barnabés de caricatura ou geniozinhos admirados por amigos e parentes apenas porque temos o nome “USP” no nosso cartão de visitas. Somos docentes da Universidade de São Paulo. Deveríamos ao menos tentar honrar isto.

 Ler a íntegra da longa, profunda e percuciente análise do Professor Pereira neste link: