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terça-feira, 25 de junho de 2019

Quando o imperialismo impunha tratados desiguais; os da China foram até 1943 - Paulo Roberto de Almeida

Todos lemos, nos livros de história do Brasil, sobre os tratados desiguais aceitos por Portugal na sua relação (de dependência) em relação, primeiro à Inglaterra, depois à Grã-Bretanha, tratados esses que tiveram de ser engolidos pelo Brasil na independência, e mantidos até 1844. Vários outros países colocados na mesma situação de dependência semicolonial também sofreram o mesmo tratamento.
O que eu não sabia, pelo menos até 2006, era que a China teve de suportar esse regime humilhante até a Segunda Guerra Mundial.
Fiz um registro, e umas observações, em meu primeiro blog, numa postagem que reproduzo abaixo.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 25 de junho de 2019 

QUARTA-FEIRA, 11 DE JANEIRO DE 2006

150) História recente do colonialismo e do imperialismo


Ao abrir hoje, 11 de janeiro de 2006, um de meus boletins eletrônicos de imprensa, percorrendo as notícias com o mesmo olhar vago de quem já anda saturado de informações, cheguei, finalmente, à seção de "aconteceu nesse dia". Sempre gosto de efemérides, dada minha atração especial pela história.
Mas o que li nesse this day in history?

Esta singela entrada, sem maiores explicações:
"Em 1943, Estados Unidos e Grã-Bretanha firmaram tratados para abandonar seus direitos extraterritoriais na China" (In 1943, the United States and Britain signed treaties relinquishing extraterritorial rights in China.)

Ou seja, exatamente 63 anos atrás, os EUA e o Reino Unido, então aliados da China na luta contra as potências do Eixo (Alemanha nazista, Itália mussoliniana e Japão militarista), davam finalmente por terminados os iníquos tratados desiguais que eles tinham extorquido do antigo regime imperial chinês em pleno século XIX. Em suma, pouco mais de duas gerações antes da nossa, a China era um país praticamente ocupado pelos principais países ocidentais, que ali dispunham de prerrogativas de, e se comportavam como, potências ocupantes.
O Japão já tinha entrado nessa brincadeira no final do século XIX, ao derrotar a China pelo controle de certos territórios (inclusive Taiwan), e novamente no início do século XX, ao derrotar novamente a China e a Rússia imperial, pelo controle do norte da China e pela tutela da Coréia (pouco depois convertida em simples colônia). Ele deu continuidade à sua política expansionista em 1931, invadindo e ocupando a Manchúria, e novamente em 1937, ao lançar-se à conquista de novos territórios chineses.
Bem antes dessa época, as grandes potências ocidentais já tinham extraído da China tratados e concessões iníquas, que representavam cessão de soberania e status de extraterritorialidade, que só vieram a termo, em 1943, em função das necessidades da guerra no Pacífico. Do contrário, é possível que a China permanecesse um país tutelado até praticamente os anos 1960, como ocorreu com a maior parte de outros territórios asiáticos e africanos.

Os contrastes entre essa situação humilhante e, de um lado, o antigo prestígio da China imperial dos tempos de Kublai Khan e de Marco Polo e, de outro, o novo respeito adquirido atualmente pela China no cenário internacional, em termos de poder econômico e possível desafio estratégico, não poderiam ser mais chocantes.
O interessante, porém, mais do que constatar a “perversidade” do colonialismo e do imperialismo contemporâneo, seria refletir sobre a marcha da história, aplicada ao caso chinês.
A ocupação e a humilhação da China não foram apenas o infeliz resultado da prepotência e da arrogância das potências colonialistas ocidentais. Elas foram, igualmente, o resultado da própria incapacidade da China de defender-se e de equiparar-se, econômica, tecnológica e militarmente às principais potências ocidentais.
E como isso foi possível, tendo em vista os precedentes chineses? De fato, até o século XVII, mais ou menos, a China detinha um dos melhores registros históricos em termos de inventividade humana (tendo oferecido ao mundo inovações fabulosas), uma das histórias políticas, artísticas e culturais mais longas do ponto de vista de sua continuidade, uma institucionalidade administrativa quase “weberiana”, enquanto Império unificado, bem como constituía a maior economia do mundo, pelo menos em termos de volume bruto.
Se as potências ocidentais, que tinham, em suas fases diferenciadas de modernização, aproveitado invenções chinesas geniais como a pólvora e a imprensa, puderam vencer, ocupar e “esquartejar” a China tão “facilmente” no decorrer do século XIX, foi porque a China deixou-se, de certo modo, dominar pela superioridade militar e tecnológica do Ocidente. Ou seja, ela já tinha entrado em decadência bem antes, parado de avançar na escala tecnológica e se convertido à introversão econômica.
Colonialismo e imperialismo nunca são atos (ou processos) unicamente unilaterais, pois eles dependem de determinado contexto econômico e político para se imporem e se “exercerem”.
Prova indireta disso pode ser oferecida pelas demandas atuais de certos grupos humanitários ou de intelectuais “imperialistas” para que de certos países, membros da ONU, enfrentando o caos político e um imenso sofrimento humano decorrente de seus Estados falidos, sejam colocados novamente sob “tutela internacional”, ou seja, que eles sejam recolonizados e submetidos a algum tipo de poder imperial.
A China atravessou seu “calvário” colonial de praticamente um século e meio de provações e humilhações. Macau e Hong-Kong, colonizadas pelos portugueses e pelos britânicos nos séculos XVI e XVIII, respectivamente, foram devolvidas à China apenas na segunda metade dos anos 1990. Taiwan configura um outro problema, dada sua população nativa, sua antiga ocupação japonesa, reconquista chinesa e nova ocupação pelas tropas “nacionalistas” do general Chiang Kai-Tchek, derrotado por Mao Tse-tung em 1949 na luta pela hegemonia política quando da reemergência da China enquanto potência independente.
Do ponto de vista político, Hong-Kong já não é mais independente, embora ainda tenha soberania econômica, enquanto território aduaneiro membro do GATT desde a origem. É possível que Hong-Kong exerça hoje certo “colonialismo” e “imperialismo” econômico sobre a China, uma vez que são os seus padrões econômicos, comerciais e financeiros, da mesma forma que os de Taiwan, que estão sendo adotados pela China continental e não o contrário. Como se vê, a dominação política e a “exploração” econômica nunca são partes de uma relação unicamente unidirecional, sendo antes uma interação bem mais complexa, que deita raízes na própria história.
Por isso é que eu gosto da história e é por isso que vou continuar lendo as páginas de efemérides nos jornais diários.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 11 de janeiro de 2006, Blog 150.

A China e seus interesses nacionais: o que eu pensava em 2005 - Paulo Roberto de Almeida

Em face do entusiasmo ingênuo do governo Lula em relação à "parceria estratégica" entre o Brasil e a China, eu formulava, em 2005, alguns argumentos realistas quanto a essa possibilidade.
Creio que continuo pensando o mesmo, e o que mudou não dependeu de meu julgamento. A China reduziu o número de pobres, por suas políticas de crescimento acelerado, e só não conseguiu obter o status de economia de mercado na OMC por oposição dos grandes parceiros, pois ela tinha direito a alcançar essa condição em 2015 ou 2016. 
O artigo foi publicado em Mundorama, mas não consigo encontrar mais o link, por isso o reproduzo aqui, sem qualquer pretensão à originalidade ou novidade.
Paulo Roberto de Almeida
Brasilia, 25 de junho de 2019


A China e seus interesses nacionais:
algumas reflexões histórico-sociológicas

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 20 de junho de 2005.

A China não tem e não quer ter parceiros, estratégicos ou de qualquer outro tipo. A China é, para todos os efeitos, o seu próprio e único parceiro; ela quer continuar assim e acha que se basta a si mesma. Talvez ela tenha razão.
A China sempre foi uma nação sozinha, isolada e solitária, tanto nos contextos regional e internacional, como do ponto de vista de seu próprio desenvolvimento econômico e social, historicamente baseado num desperdício inacreditável de homens e de recursos materiais, com a elite dirigente consumindo esses fatores sem controle de ninguém e de nada, nem do próprio meio ambiente. Esse processo continua e deve continuar a ocorrer do mesmo jeito, hoje talvez até de forma ainda mais intensa, já que ela pode “mobilizar” recursos de outros países.
A China produziu, em eras passadas, algumas poucas e boas ideias, teve um mandarinato relativamente eficiente, em termos de “burocracia weberiana” e se tornou a maior economia planetária com base numa espécie de entropia míope. Mas até o século 18, pelo menos, ela continuou a ser a maior economia planetária, não tanto pelas interações (que eram poucas), mas pela sua própria “massa atômica”. Quanto ela deixou de ter ideias, ou quando as ideias dos outros foram mais poderosas, pois que apoiadas em canhoneiras, ela foi humilhada, dominada e esquartejada. Isso feriu fundo a autoestima e o orgulho nacionais dos chineses.
Os chineses conseguiram, depois de décadas de lutas (mais intestinas do que contra os inimigos externos, pois que ninguém consegue dominar a China), reverter a decadência e tomar novamente seu destino em mãos. Não tem a mínima importância histórica, ou estrutural, que essa retomada tenha sido feita sob o domínio do comunismo, um modo de produção absolutamente “passageiro” na história milenar da China. Com comunismo ou com o socialismo de mercado, o novo mandarinato de burocratas e de membros da nova nomenklatura trabalha para confirmar o destino secular da China, que é o de novamente se tornar a maior economia planetária e ditar suas regras para os “bárbaros” do exterior.
A China está operando essa volta a um lugar de preeminência econômica no planeta (a segurança militar é mera decorrência disso), mas os atuais imperadores e mandarins têm consciência de que ela não mais poderá fazer isso isoladamente, como ocorreu até o século 18, pois as condições do mundo mudaram. A China assumiu plenamente o conceito de interdependência econômica global, mas como ocorre com o famoso moto orwelliano, num mundo totalmente interdependente, alguns são mais interdependentes do que outros.
A China quer e vai ser interdependente à sua maneira, isto é, acomodando-se a regras às quais ela não mais pode se furtar, mas interpretando-as à sua maneira, e distorcendo-as para seu melhor conforto e segurança. Isto se aplica em quase todos os terrenos de interesse substantivo, mas especialmente às regras de comércio internacional e de investimentos estrangeiros. A China não pretende à dominação do mundo, mas ela não pretende mais que o mundo, ou seja, o círculo das superpotências, a domine mais. Isso não vai ocorrer e a China sabe que tem de conviver com as superpotências, mas não quer se submeter às regras existentes (que aliás nem são ditadas por essas superpotências, mas decorrem do processo de globalização capitalista).
A preocupação principal dos atuais imperadores e mandarins chineses é assegurar emprego (e, portanto, comida) a meio bilhão de chineses pobres, que podem, à falta de condições mínimas (mas mínimas mesmo) de existência, perturbar a paz no Império do Meio, e com isso afetar o poder e a dominação dos atuais dirigentes. Etapa importante nesse processo é transformar a China na principal fábrica planetária, aliás a única maneira de acomodar algo como 400 ou 500 milhões de chineses que precisam de emprego (e que não os terão nem na agricultura nem nos serviços).
Como ela só pode fazer isso construindo o seu próprio capitalismo manchesteriano (que certamente deixaria Engels de queixo caído), a China “precisa” destruir empregos no resto do mundo, pois essa é a única condição de sobrevivência de algumas dezenas, talvez centenas de milhões desses chineses “flutuantes”. Por coincidência, essa é também a “missão histórica” que lhe foi atribuída, atualmente, pela globalização capitalista, um processo impessoal, não controlado por nenhum país ou conjunto de corporações, mas que corresponde à “lógica” do sistema atual de alocação de investimentos e de organização espacial da produção de mercadorias.
Como a China trabalha com aportes ilimitados de homens e capital (com alguma limitação em outros recursos produtivos, como os de know-how e ciência básica), ela não terá nenhuma dificuldade em manter esse ritmo alucinante de destruição de empregos em todo o resto do mundo pelas próximas duas gerações pelo menos (ou seja, pelo próximo meio século). A China está ascendendo rapidamente na escala de agregação de valor, não apenas publicando exponencialmente em revistas científicas, mas passando da simples cópia e adaptação tecnológica para a inovação completa, já tendo chegado também ao design e marcas. Seu catch-up promete ser ainda mais impressionante do que o do Japão e da Coréia do Sul e provavelmente não haverá nada comparável na história econômica mundial.
Com tudo isso, a China vai agir exatamente como sempre agem os centros da economia mundial: organizando sua própria periferia de “abastecimento”, que ela espera poder controlar da forma como fazem os imperialismos modernos: não pela via extrativista, mas por redes de negócios centrados em circuitos financeiros próprios, chineses. A China vê o Brasil como o abastecedor prioritário de produtos alimentícios e de outras commodities para sua gigantesca máquina industrial. Ela também pretende inundar o Brasil (e já o está fazendo) de produtos manufaturados correntes.
O Brasil não conseguirá bater a China no terreno da indústria tradicional, isto é, aquela da segunda revolução industrial: ele será fragorosamente batido, como estão sendo todas as demais potências industriais. As indústrias brasileiras, se desejarem sobreviver no mundo manchesteriano-chinês, deverão fazer como todas as outras: avançar na concepção e desenho e mandar fabricar na China. Só assim elas conseguirão sobreviver enquanto empresas, do contrário perecerão corpos e bens. Vão-se os operários e sobram os engenheiros. Quanto mais cedo esse processo começar, tanto melhor para as empresas brasileiras candidatas à sobrevivência no mundo darwinista chinês.
Alguma renda extra será possível obter nos projetos conjuntos de fornecimento energético alternativo e nos produtos intensivos em recursos naturais, como corresponde às vocações ricardianas do Brasil. Países como o Brasil não devem alimentar grandes “planos estratégicos” em relação à China: a China fará aquilo que ela pretende fazer, segundo o seu interesse nacional, e não se deixará demover por nenhuma promessa de “aliança estratégica” ou qualquer outro arranjo que contemple interesses supostamente simétricos. Melhor fazer o que corresponde ao interesse nacional, sem esperar resposta ou gestos correspondentes de parceiros como a China.
Incidentalmente, a concessão do status de “economia de mercado” não deve alterar muito o panorama geral e seu desenvolvimento inexorável: ela só atrapalha os desejos protecionistas de alguns ramos da indústria brasileira, tendo uma incidência setorial em mercados de trabalho específicos. Talvez constitua um exercício útil do ponto de vista do cenário serial killer que virá mais adiante, quando a China for plenamente integrada ao regime gattiano normal (o que ocorrerá até 2015). A concessão desse status representou apenas uma antecipação do que ocorrerá inexoravelmente no terreno econômico. Ela obriga as empresas brasileiras a correrem um pouco mais rápido, o que talvez não seja mau, pois elas estavam se acostumando com muita proteção e nenhum desafio, desde 1995, pelo menos.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 20 de junho de 2005.

565. “A China e seus interesses nacionais: algumas reflexões histórico-sociológicas”, Meridiano 47 (Brasília, IBRI, n. 59, jun. 2005, p. 10-12; link:  http://periodicos.unb.br/index.php/MED/article/view/2135/1888). Relação de Trabalhos n. 1443.


domingo, 23 de junho de 2019

A Guerra Fria Econômica entre os EUA e a China se aprofunda - The Economist

Huawei Has Been Cut off From American Technology

The ban will be excruciating at best, and fatal at worst

America is no fan of Huawei. Its officials have spent months warning that the Chinese giant’s smartphones and networking gear could be Trojan horses for Chinese spies (something Huawei has repeatedly denied). They have threatened to withhold intelligence from any ally that allows the firm in. On May 15th they raised the stakes. President Donald Trump barred American firms from using telecoms equipment made by firms posing a “risk to national security”. His order named no names. But its target was plain.
For all the drama, the import ban hardly matters. Huawei has long been barred from America, in practice if not on paper. More significant was the announcement by the Commerce Department, on the same day, that it was adding Huawei to a list of firms with which American companies cannot do business without official permission. That amounts to a prohibition on exports of American technology to Huawei.
It is a seismic decision, for no technology firm is an island. Supply chains are highly specialised and globally connected. Cutting them off — “weaponising interdependence”, in the jargon — can cause serious disruption. When ZTE, another Chinese technology company, received the same treatment in 2018 for violating American sanctions on Iran, it was brought to the brink of ruin. It survived only because Mr Trump intervened, claiming it was a favour to Xi Jinping, China’s president.
Huawei matters more than ZTE. It is China’s biggest high-tech company, and is seen as a national champion. Its name translates roughly as “Chinese achievement”. Revenues of $105bn put it in the same league as Microsoft. Only Samsung, a South Korean firm, sells more smartphones. Huawei holds many crucial patents on superfast 5G mobile networks, and is the largest manufacturer of telecoms equipment. Were it to go under, the shock waves would rattle all of tech world.
By May 20th the impact of the ban was becoming clear. Google said it had stopped supplying the proprietary components of its Android mobile operating system to Huawei. A string of American chipmakers, including Intel, Qualcomm and Micron, have also ceased sales. Later that day the Commerce Department softened its line slightly, saying that firms could continue to supply Huawei for 90 days, but for existing products — for instance, with software updates for Huawei phones already in use. New sales, on which Huawei’s future revenue depends, remain banned.
Interdependence, of course, cuts both ways (see chart). Shares in American technology firms fell after the announcement, because Huawei is a big customer. Qorvo, which employs 8,600 people and makes wireless communication chips, derives 15% of its revenue from Huawei. Micron is in the memory business, of which Huawei is a big consumer. A report from the Information Technology & Innovation Foundation, a think-tank, also released on May 20th, guessed export controls could cost American firms up to $56bn in lost sales over five years.
Unlike Intel, Qualcomm or ZTE, Huawei is privately owned, so lacks listed shares whose price swing would hint at the extent of its distress — though the price of its listed bonds has dropped to 94 cents on the dollar. In public, the firm is staying calm. Ren Zhengfei, Huawei’s founder, said it would be “fine” without access to American technology. Huawei has spoken of activating a “Plan B” designed to keep it in business despite American sanctions. It has been stockpiling crucial components for months, and has made a conscious push to become less reliant on American technology over the past few years. Its phones in particular make extensive use of chips designed by HiSilicon, its in-house chipdesign unit.
Yet few analysts are as sanguine as Mr Ren. Three business areas in particular look vulnerable. Without Google’s co-operation, new Huawei phones will lack the latest versions of Android, and popular apps such as Gmail or Maps. That may not matter in China, where Google’s apps are forbidden. But it could be crippling in Europe, Huawei’s second-biggest market. Its telecoms business needs beefy server chips from Intel. The supply of software to manage those networks could dry up too. Huawei is developing replacements for all three, but they are far from ready.
Two questions will determine whether or not Huawei can weather the storm, says Dieter Ernst, a chip expert and China-watcher at the East-West Centre, a think-tank in Honolulu. The first concerns America’s motives. The timing of the ban, a few days after broader trade talks between China and America had broken down, was suggestive. On one reading, it is a tactical move designed to wring concessions from China. If so, it might prove short-lived, and Huawei’s stockpiles may tide it over.
Paul Triolo of Eurasia Group, a political-risk consultancy, is doubtful. Rather than a negotiating tactic, he sees the ban as “the logical end-game of the US campaign to take down Huawei”. A long-lasting ban would force the firm to look for alternative chips and software that Chinese suppliers would struggle to provide.
The second question concerns the reach of American power. The tangled nature of chip-industry supply chains, says Mr Ernst, means that many non-American companies make use of American parts or intellectual property. They may therefore consider themselves covered, wholly or partially, by the ban. Take Arm, a Britain-based firm whose technology powers chips in virtually every phone in the world, including those made by HiSilicon. Arm says that it will comply with the Commerce Department’s rules. That suggests that Arm will not grant Huawei new licences. It is unclear if Arm will offer support for existing licences, however. As Arm’s technology advances, Huawei risks being left behind.
Other non-American companies are as important. One industry insider with contacts in Taiwan says that American officials are pressing Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), a big and cutting-edge chipmaker, to drop Huawei, which is its third-biggest customer. That would be a crushing blow, for Chinese chip factories are not up to the task of manufacturing HiSilicon’s sophisticated designs. TSMC’s only peer is Samsung — and South Korea is another of America’s allies. TSMC said on May 23rd that it would continue supplying Huawei for now.
Even if the optimists are right, and the ban is lifted in exchange for trade concessions, a return to business as usual seems unlikely. America has twice demonstrated a willingness to throttle big Chinese companies. Trust in American technology firms has been eroded, says Mr Triolo. China has already committed billions of dollars to efforts to boost its domestic capabilities in chipmaking and technology. For its rulers, America’s bans highlight the urgency of that policy. Catching up will not be easy, believes Mr Ernst, for chips and software are the most complicated products that humans make. But, he says, if you talk to people in China’s tech industry they all say the same thing: “We no longer have any other option.”

quinta-feira, 13 de junho de 2019

Hong Kong: a revolução dos guarda-chuvas - Paulo Roberto de Almeida, João Perassolo (FSP)

Qualquer que seja o resultado final da "revolução do guarda-chuva" em Hong Kong – e o autoritarismo semi-tirânico do novo imperador chinês parece ter condições de se impor, ainda que apenas recorrendo a métodos brutais, contra o espírito democrático e libertário da antiga colônia britânica, atualmente revertida ao domínio do despotismo oriental de Beijing –, o exemplo de resistência oferecida pelos seus habitantes haverá de impressionar de alguma maneira seus irmãos chineses do continente, que, a exemplo dos estudantes da Praça da Paz Celestial, em 1989, também passarão a oferecer crescente resistência aos atuais ditadores do gigante asiático. Não importa quanto tempo se exercerá essa luta, hoje desigual, entre a liberdade e a tirania, o espírito da liberdade acabará por triunfar na China como um todo, pois ele é inerente ao ser humano, qualquer que seja o tempo e o lugar. 
Minha homenagem aos bravos resistentes da "revolução do guarda-chuva" em Hong Kong: sua persistência e denodo deixarão sementes que irão frutificar também no continente. Vocês já passaram à História...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 13 de junho de 2019


Guarda-chuva se firma como símbolo da democracia em Hong Kong

Objeto usado em manifestações em 2014 volta a aparecer em protestos contra projeto de lei de extradição


João Perassolo
Folha de S. Paulo, 12/06/2019

As imagens de milhares de jovens, a maioria estudantes, segurando guarda-chuvas enquanto se aglutinam ao redor da sede do governo da região remetem ao histórico "Movimento dos Guarda-Chuvas", manifestação pró-democracia ocorrida 2014.
À época, mais de 100 mil pessoas ocuparam o distrito financeiro de Hong Kong em um movimento que pedia eleições livres. Eles reivindicavam a escolha do chefe executivo local nas eleições de 2017 por meio de votação direta, e não por uma eleição realizada a partir de uma lista com candidatos previamente aprovados por Pequim. 
A ocupação durou 79 dias e foi majoritariamente pacífica, mas se tornou violenta perto do fim, quando manifestantes e policiais entraram em confronto. Para se protegerem de bombas de gás lacrimogêneo e jatos de spray de pimenta disparados pelas forças de segurança, os manifestantes seguravam guarda-chuvas amarelos.

"Não falamos ao fim do Movimento dos Guarda-Chuvas que estaríamos de volta?", disse a legisladora pró-democracia Claudia Mo nesta quarta (12), nas ruas de Hong Kong. "Agora estamos de volta!", completou, ao passo em que manifestantes repetiam as suas palavras.
Não se sabe se a proposta de lei de extradição será ou não aprovada pelo Parlamento local, que adiou a discussão do projeto para uma data indefinida em razão dos protestos. 
Mas o histórico não parece favorável, já que os guarda-chuvas de 2014, além de não protegerem efetivamente contra os efeitos dos gases, não foram bem-sucedidos no campo político. Pequim não atendeu à demanda pelo voto direto, cem manifestantes foram processados nos meses seguintes e nove líderes do movimento foram considerados culpados em um veredito de abril deste ano.
A eles foi imputado o crime de conspirarem para causar "incômodo à ordem pública". A sentença se baseou em uma lei de quando Hong Kong ainda era colônia britânica, há mais de 20 anos. A pena será de 16 meses de prisão.
O território localizado na costa sul da China voltou ao comando central chinês em 1997, em um acordo feito com a ex-primeira ministra britânica Margaret Thatcher que deveria garantir eleições livres e democracia para a região. 
Hoje, é um território semiautônomo da China, no regime que ficou conhecido como "um país, dois sistemas", e há a preocupação crescente de que esteja perdendo autonomia e sucumbindo pouco a pouco ao regime ditatorial do partido único chinês. 
Além dos guarda-chuvas, os manifestantes têm tentado "apagar" as bombas jogadas pela polícia de Hong Kong com água. Mas esta tática não é muito efetiva, de acordo com Fabio Rodrigues, professor do Departamento de Química da USP.

Segundo ele, o gás se espalha e ocupa todo o ambiente. Derramar água sobre o frasco que o contém ajuda a dissolvê-lo um pouco, o que diminui os efeitos marginalmente, uma vez que esses compostos gasosos são pouco solúveis em água. 

Of the countless protests and riots I've covered over the years, I've never once seen this tactic used. Tear gas grenades extinguished almost immediately with water. Hong Kong protesters seem incredibly well organised.

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A lógica da contenção de danos vale ainda para as máscaras de enfermagem que os manifestantes também utilizam. Rodrigues explica que elas não são efetivas no combate a gases tóxicos, mas ajudam a retardar o contato da substância com o aparelho respiratório.
Eficazes, mesmo, só máscaras como as usadas em guerra, que tem filtros de carvão ativado, responsável por prender as partículas tóxicas e deixar passar o ar puro. A julgar pelas fotos do protesto, são como as que a polícia de Hong Kong usa.
Diante deste cenário de equipamentos de proteção improvisados, fica claro que os guarda-chuvas têm pouco valor como escudo —mas não deixam de ser um símbolo na luta pela democracia.