O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador China. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador China. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

A China não é um bom exemplo para divulgação de estatísticas pelo IBGE - Simon Schwartzman

Marcio Pochman, o atual presidente maoísta do IBGE, acha que a China, que já foi muito grande e desenvolvida no passado, e que volta a sê-lo agora, e considera que o gigante asiático é um bom exemplo para as estatísticas do IBGE.

O cidadão em questão, que gostaria de voltar para antes de 1500, não passaria por um simples exame de qualificação no Comitê de Estatísticas da ONU. Vai destruir o IBGE? Talvez...

Paulo Roberto de Almeida

“A China não é um bom exemplo para o IBGE”

By Simon on Nov 23, 2023 04:30 pm

O jornal O Estado de São Paulo publicou hoje, 23/11/2023, uma entrevista minha sobre as questões de confiabilidade e divulgação dos dados do IBGE. O texto espelha razoavelmente bem a conversa telefônica que tive com o jornalista, com duas pequenas correções. Primeiro, não sou filho do jornalista Salomão Schwartzman, que era xará de meu pai. Segundo, que eu saiba, a ex-presidente do IBGE Suzana Cordeiro Guerra não foi indicada por Jair Bolsonaro, mas pelo Ministro da Economia Paulo Guedes, que no entanto não lhe deu o apoio que deveria.

Um estudo detalhado sobre a qualidade dos sistemas nacionais de estatística, publicado pelo Banco Mundial em 2019, mostra que os países mais desenvolvidos em relação a isto são a Noruega, Italia, Polônia, Austria, Eslovênia e Estados Unidos, todos com perto de 90 pontos em uma escala de 100. Nesta escala, o Brasil tem 76,8 pontos, a Índia 70,4 e a China 58,2, o que significa que nem China nem India são modelos para nós. O que a Índia tem de notável foi o grande avanço na implantação do governo digital. A China seguramente não está atrás no uso de informações digitais pelo governo, mas não é o melhor exemplo de transparência. 

Transcrevo abaixo o texto da entrevista, tal como publicado:

“A China não é um bom exemplo para o IBGE, diz o ex-presidente do instituto. Simon Schwartzman considera um equívoco o atual gestor, Marcio Pochmann, buscar no país asiático ideias para aplicar no Brasil, quando a Índia seria a melhor referência em digitalização.

O Estado de São PauloPor Carlos Eduardo Valim23/11/2023 | 14h30

O sociólogo Simon Schwartzman, filho do jornalista Salomão Schwartzman, presidiu o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) entre 1994 e 1998, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Na época, já defendia uma modernização da estrutura da instituição para proteger o corpo técnico da interferência política, algo que voltou a preocupar economistas e quem trabalha com dados populacionais.

A gestão do instituto está sob os holofotes desde o apagão de dados no meio do governo de Jair Bolsonaro, com o adiamento do último Censo, e agora com a escolha do economista Marcio Pochmann, filiado ao PT, para liderar o órgão.

Este último chamou atenção após, em uma palestra para funcionários do IBGE realizada no fim de outubro, defender “modernizar” a forma de divulgação dos dados da instituição e comentou que buscou exemplos de como trabalhar com pesquisas na China. Schwartzman contesta que a possibilidade de país asiático ser uma referência para o Brasil, e que o exemplo precisaria ser buscado na Índia, que digitalizou a coleta de dados de forma inovadora.

Em entrevista ao Estadão, ele também defende que o IBGE deveria receber uma autonomia operacional e administrativa similar à do Banco Central, além ter um conselho técnico que aferisse e cobrasse da instituição a adoção de padrões internacionais.

As declarações e os posicionamentos políticos de Pochmann trazem preocupação sobre a credibilidade do IBGE?

Eu não vi o texto da conferência dele, mas estou acompanhando as notícias de jornais. Claro que existe uma preocupação de algum tempo de que o IBGE precisa garantir que produz dados confiáveis. Uma coisa muito importante da estatística é que ela precisa ser reconhecida como um dado válido. E isso acontece ao se adotar padrões internacionais, como os usados pela ONU (Organização das Nações Unidas), com a mesma qualidade dos principais centros de estatística do mundo. Também é preciso ter gente com reputação técnica adequada coordenando esse processo. Isso tudo é necessário porque a sociedade não tem como aferir o detalhe técnico e se o trabalho foi feito corretamente. Então, é preciso um mecanismo que traga a garantia de aplicação das melhores práticas internacionais, o que traz confiança para investidores e para a população, e dá segurança para que se possa utilizar os dados para fazer políticas públicas.

Historicamente, os dados do IBGE não costumam ser contestados. Ele não tem este arcabouço confiável?

O IBGE sempre buscou fazer um esforço neste sentido, mas não tem uma estrutura suficientemente sólida para garantir isso. Não tem conselho técnico e um mecanismo para garantir que as melhores práticas estão sendo aplicadas. Então, ele depende muito de quem está na presidência, que é um cargo demissível. Não é uma posição protegida. Deveria ser um cargo mais técnico. O problema da credibilidade é que, quando uma pessoa vem com uma marca ideológica muito forte, já se cria um clima de desconfiança que causa muito impacto. A credibilidade é muito fundamental.

Durante sua gestão nos anos 1990, houve esforços para se adotar uma governança modernizada e a falta de apoio para isso teria sido o motivo de sua saída?

Na minha presidência, eu insisti para evoluir nisso e não consegui. Eu tentei, mas não consegui na época implementar as modificações necessárias. Continuo insistindo que é necessária essa estrutura. Nenhum governo posterior levou isso para frente.

Sem isso, a instituição ficou muito exposta a pressões políticas?

Houve situações em que o instituto ficou à mercê de pessoas com posições de ideologias muito marcadas, sem compromisso com a precisão.

O Pochmann disse que se espelhava na coleta de dados digitalizada feita pela China. Esse é um bom exemplo?

O país notável do terceiro mundo é a Índia. E todos os países da Europa Ocidental também fazem isso. A China não é um bom exemplo para o IBGE. Ela é muito fechada. A Índia é mais interessante na digitalização, e tem hoje uma população maior até do que a China. É um desafio altíssimo coletar dados lá na Índia, mas todo mundo tem identidade digital, todo mundo usa comunicação digital. Eles avançaram muitíssimo nisso.

O IBGE está muito atrás? O Pochmann também causou polêmica ao defender que a divulgação pela imprensa não seria mais tão importante se é possível divulgar mais as pesquisas pela internet. Isso faz sentido?

O IBGE já avançou muito na informação disponível na internet. Todos os sistemas são digitais, todos podem acessar. Mas a divulgação pela imprensa é importantíssima, para traduzir os dados mais importantes para a população. Não entendo qual seria a novidade que ele gostaria de trazer em relação a isso.

De todos os presidentes entre 2003 e 2019, só em 10 meses entre 2016 e 2017 não teve alguém que não era funcionário de carreira. Seria importante voltar a isso?

Eu não sei se é fundamental. Eu como presidente vim de fora. Chegar à direção vindo do corpo técnico não é essencial. A questão é que as pessoas escolhidas sejam reconhecidas na área, que entendam do tema, de estatísticas. É até bom vir alguém de fora, com uma perspectiva diferente. O problema atual não é esse. Precisaria haver um mandato e a autonomia do presidente do IBGE, como é no Banco Central. Ou, então, o gestor fica sob influência do ministro ou dependente da indicação do presidente.

Quando a gestão do IBGE perdeu a confiabilidade? A primeira indicada pelo governo do presidente Jair Bolsonaro, a Susana Cordeiro Guerra, vinha de fora da instituição, mas tinha boas credenciais. Por que isso não teve sequência?

Ela foi indicada pelo Bolsonaro e não recebeu apoio do Ministério da Economia quando se resolveu cortar a verba do Censo. Ela ficou entre dois fogos e não conseguiu permanecer. Ela tinha uma agenda importante de se passar a usar mais informações administrativas, geradas por outras áreas do governo, como a área fiscal e a de dados econômicos. Assim, o Brasil poderia depender menos da pesquisa de opinião e usar mais os dados administrativos de qualidade gerados. Até por causa da pandemia isso ficou mais agudo ainda. Ela queria adotar critérios para os integrar os dados administrativos aos produzidos pelo IBGE, e fez um trabalho neste sentido.

Quem produz dados administrativos relevantes?

Os ministérios da Saúde, da Educação, do Desenvolvimento Social e a Receita Federal, por exemplo. É parte do trabalho de várias áreas produzir essas informações. É preciso, então, desenvolver um processo mais organizado, para usar o que eles produzem como dados oficiais para efeito estatístico. O IBGE ainda tem um formato muito antigo, com agências localizadas em cidades do País, uma coisa dos anos 1930 e 1940, para coletar declarações das pessoas. Hoje não faz mais muito sentido, com os equipamentos de última geração e software modernos.

Artigos Recentes:

As guerras de cada um
A nova educação profissional
Pesquisa, inovação, pós-graduação e ensino superior no Brasil
Um novo ENEM? Ou um novo sistema de seleção para a educação superior?
O novo plano vem aí

sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Quatro líderes e um mundo virado ao revés Israel , EUA, Rússia e China - Thomas L. Friedman (NYT, Estadão)

 Quatro líderes e um mundo virado ao revés

Israel EUA, Rússia e China

Thomas L. Friedman
The New York Times É colunista e ganhador de três prêmios Pulitzer
O Estado de S. Paulo, 6/10/2023

Desde o dia em que aprendí que, em 1947, Walter Lippmann popularizou o termo Guerra Fria para definir o conflito que emergia entre EUA e União Soviética, achei que seria legal poder batizar um período histórico. Agora que o pós-Guerra Fria acabou, o pós-pós-Guerra em que entramos tem de ganhar um nome. Então, aqui vai: é a era do "Isso não estava nos planos".

Eu sei, não é uma expressão fácil de articular - e não espero que cole. Mas ela é certeira. Eu tropecei nela na minha viagem recente à Ucrânia. Estava conversando com uma mãe ucraniana que me contava que sua vida social tinha se reduzido a jantares ocasionais com amigos, festas de aniversário "e funerais".

Depois de digitar a citação na minha coluna, acrescentei meu próprio comentário: "Isso não estava nos planos". Antes do ano passado, jovens ucranianos vinham desfrutando de acesso facilitado à União Européia, entrando em startups de tecnologia, pensando sobre fazer faculdade e decidindo se passavam férias na Itália ou na Espanha. Então, como um meteoro, a invasão russa virou as vidas deles de ponta cabeça da noite para o dia.

Aquela ucraniana não está só. Muitos planos de muita gente - e de muitos países - saíram completamente dos trilhos. Entramos na era do pós-pós-Guerra Fria, que tem pouco a prometer em comparação à prosperidade, à previsibilidade e às novas possibilidades do período pós-Guerra Fria, que abrangeu os 30 anos desde a queda do Muro de Berlim.

Há muitas razões para isso, mas nenhuma é mais importante do que o trabalho de quatro líderes cruciais com uma coisa em comum: acreditam que sua liderança é indispensável e estão dispostos a adotar medidas extremas para se manter no poder o máximo que puderem.

PODER. Estou falando de Vladimir Putin, Xi Jinping, Donald Trump e Binyamin Netanyahu. Esses quatro - cada um à sua maneira - criaram perturbações dentro e fora de seus países com base em seu interesse particular, em vez dos interesses de seus povos, e dificultaram a capacidade de suas nações funcionarem normalmente no presente e se planejarem sabiamente para o futuro.

Veja Putin. Ele começou a carreira como um tipo de reformador que estabilizou a Rússia pós-Yeltsin e coordenou um boom econômico graças aos preços do petróleo em elevação. Mas a renda com o petróleo começou a cair e, conforme descreve o acadêmico russo Leon Aron em seu próximo livro, Ridingthe Tiger: Vladimir Putirís Rússia and the Uses ofWar, Putin deu uma grande virada no começo de seu terceiro mandato como presidente, em 2012, após os maiores protestos contra seu governo irromperem em 100 cidades russas e sua economia empacar.

A solução de Putin? "Mudar a fundação da legitimidade de seu regime do progresso econômico para o patriotismo militarizado", disse Aron, colocando a culpa de todas as dificuldades no Ocidente e na expansão da Otan. No processo, o presidente russo transformou seu país em um forte sitiado, que, em sua mentalidade e propaganda, somente Putin é capaz de defender. Ele ter invadido a Ucrânia para restaurar a mítica Mãe-Pátria russa foi inevitável.

Os acontecimentos na China também têm se desdobrado de maneira bastante inesperada. Depois de se abrir e afrouxar controles internos constantemente desde 1978, tornando-se mais previsível, estável e próspera que em qualquer outro momento da história moderna, a China experimentou uma virada de quase 180 graus sob o presidente Xi: ele suprimiu o limite de mandatos - respeitado por seus antecessores para evitar a ascensão de um novo Mao Tsé-tung - e fez-se presidente indefinidamente.

Xi, aparentemente, acreditou que o Partido Comunista estava perdendo o controle e, portanto, reafirmou seu poder em todos os níveis sociais e empresariais ao mesmo tempo, o que eliminou qualquer rival.

Isso tomou a China um país mais fechado do que em qualquer momento desde os dias de Mao e desencadeou comentários de que o mundo pode já ter visto o auge da China em relação a potencial econômico, o que equivalería a um terremoto na economia global.

Certamente não estava nos meus planos acabar escrevendo, depois de quase uma vida inteira acompanhando conflitos de Israel com inimigos externos, que a maior ameaça à democracia judaica hoje é um inimigo interno - um golpe no Judiciário liderado por Netanyahu que está fragmentando a sociedade e as Forças Armadas de Israel.

O ex-diretor-geral do ministério israelense da Defesa Dan Harel afirmou, em um comício pró-democracia em Tel-Aviv, na semana passada: "Eu nunca vi nossa segurança nacional num estado tão ruim" e houve "dano às unidades da reserva de formações essenciais das Forças Armadas, o que reduziu prontidão e capacidade operacional".

E este problema não é pequeno para os EUA. Ao longo dos últimos 50 anos, o Estado de Israel tem sido tanto um aliado crucial quanto, de fato, uma base avançada na região em que Washington projetou poder sem usar tropas americanas.

Israel destruiu tentativas incipientes de Iraque e Síria se tornarem potências nucleares e é o maior contrapeso atualmente à expansão do poder do Irã sobre toda a região. Mas, se tivermos mais três anos desse governo extremista de Netanyahu, com sua pretensão de anexar a Cisjordânia e governar os palestinos que habitam o território com um sistema à la apartheid, o Estado judaico poderá se tornar uma grande fonte de instabilidade, não de estabilidade.

E por quê? Em um recente perfil de Bibi no Times, Ruth Margalit citou Ze'ev Elkin, um ex-ministro do gabinete de Netanyahu, do Likud, descrevendo o primeiro-ministro da seguinte forma: "Ele começou com uma visão de mundo que dizia: 'Eu sou o melhor líder para Israel neste momento', que gradualmente se transformou numa visão de mundo que diz: 'A pior coisa que pode acontecer para Israel é eu parar de liderar o país, e portanto minha sobrevivência justifica qualquer coisa'."

PILAR. Nem é preciso dizer, depois de testemunhar o esforço de Trump para reverter a eleição de 2020 inspirando uma turba a invadir o Capitólio e ver esse mesmo homem se tomar o principal pré-candidato republicano à presidência em 2024, que a nossa próxima eleição será uma das mais importantes de todos os tempos - para que não seja a última. Isso não estava nos planos.

O denominador comum que une esses quatro líderes é que todos eles quebraram as regras do jogo em seus países por uma razão bastante familiar: permanecer no poder. Putin também iniciou uma guerra no exterior com o mesmo objetivo. E seus sistemas locais - a elite russa, o Partido Comunista Chinês, o eleitorado israelense e o Partido Republicano - não foram capazes de refreá-los.

Mas também existem diferenças importantes entre eles. Netanyahu e Trump enfrentam resistência em suas democracias, onde os eleitores ainda podem expulsar ou impedir ambos - e nenhum deles começou uma guerra.

Xi é um autocrata, mas tem uma agenda para melhorar a vida de seu povo e planeja dominar grandes indústrias do século 21, da biotecnologia à inteligência artificial. Mas seu governo, cada vez mais linha-dura, poderá ser exatamente o que impedirá a China de chegar lá, principalmente porque esse punho de ferro ocasiona fuga de cérebros.

Putin não passa de um chefão mafioso disfarçado de presidente. Ele será lembrado por transformar a Rússia da potência científica, que colocou o primeiro satélite em órbita, em 1957, em um país incapaz de fabricar um carro, um relógio ou uma torradeira que qualquer pessoa fora do país compraria. Putin teve de recorrer à Coréia do Norte para mendigar ajuda para seu Exército arrasado na Ucrânia.

Trump, em última instância, é o mais perigoso - e por uma simples razão: quando o mundo fica tão caótico assim e países tão importantes contrariam os planos, o restante depende dos EUA para assumir a liderança, conter os problemas e opor-se aos causadores de problemas. Mas Trump prefere ignorar problemas e louvar os criadores de problemas. É isso que torna a perspectiva de outra presidência sua tão assustadora, insensata e inconcebível.

Porque os EUA ainda são o pilar do mundo. Nem sempre fazem isso sabiamente, mas se parar completamente de fazê-lo, cuidado. Dado o que já está acontecendo nesses três outros importantes países, se os EUA vacilarem, nascerá um mundo no qual ninguém será capaz de fazer nenhum plano. Haverá um nome fácil para esse período: "Era da Desordem".

TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Se os EUA vacilarem, nascerá um mundo incapaz de fazer planos. Será a 'Era da desordem'

terça-feira, 19 de setembro de 2023

A ditadura equivocada na China - Carlos Alberto Sardenberg

A ditadura equivocada na China

Carlos Alberto Sardenberg

O Globo, 16/09/2023


Como não há debate sobre a falência de certas políticas, não há base para a procura das mais corretas

O governo da China enfrenta sérias dificuldades naquilo que parecia ser sua especialidade: botar o país para crescer. Há problemas econômicos específicos — como o endividamento das administrações regionais e o esgotamento de grandes projetos de infraestrutura —, mas a questão básica é mais profunda. Trata-se da perda de eficiência do sistema político, aquele que se poderia chamar de ditadura esclarecida.

Ditadura, pelo óbvio. A sociedade vigiada e controlada pelo Partido Comunista. Na economia, ampla abertura para o investidor privado nacional e estrangeiro. Por trás disso, o comando de uma burocracia formada nas melhores universidades ocidentais e treinada em grandes companhias.

Um pequeno exemplo: a política monetária é aplicada pelo Banco do Povo da China. O povo não manda nada. Mandam economistas que trabalham exatamente como os mais eficientes banqueiros centrais do mundo.

Há uma ideologia por trás disso. Sustenta que a democracia política, estilo ocidental, não funciona e, pior, atrapalha o crescimento econômico. Muito debate, parlamentos atrasando a aplicação dos programas, imprensa incomodando, sociedade reclamando e resistindo a medidas do governo — não há como ter eficiência, diz essa doutrina. Mas, para que isso seja verdade, é preciso admitir que a tecnocracia é eficiente e sabe claramente os interesses atuais e futuros dos cidadãos e do país. Logo, não erra.

Pois o governo do presidente Xi Jinping vem cometendo erros sucessivos. O mais desastroso foi o programa Covid Zero. A ideia era bloquear a transmissão do vírus. Um teste positivo numa fábrica — e se fechava toda a fábrica, trabalhadores e funcionários lá dentro, por quantos dias fosse necessário para testar todo mundo e isolar os doentes. Um caso num bairro, e todos os moradores eram simplesmente trancados em suas casas, com barricadas à frente dos prédios. Se o vírus escapava do bairro mesmo assim, regiões inteiras eram isoladas. Um caso num porto, e se fechavam todas as operações ali.

Sendo essa a política, o governo se descuidou da vacinação — e deu tudo errado. A Covid Zero paralisou seguidamente a economia e não impediu a transmissão. Quando, finalmente, se abandonou a política, a economia estava desorganizada, a sociedade cansada e não vacinada. Depois o governo se equivocou em várias tentativas de recuperação, e o resultado aí está: a China crescendo muito pouco, os ganhos de renda bloqueados.

Como se chegou a esse ponto? Pela natureza do regime. Sem democracia, sem livre debate, os médicos e cientistas que alertavam sobre os erros da Covid Zero eram simplesmente presos ou trancados em casa. Incipientes debates em alguma imprensa regional, reportando reclamações de moradores, foram rapidamente abafados.

O mesmo acontece nas decisões de política econômica. Quando o presidente e a administração central erram, a burocracia mantém esse erro, insiste, até que as próprias instâncias superiores, o presidente e a cúpula do partido percebam a besteira. De novo, como não há debate sobre a falência de certas políticas, não há base para a procura das mais corretas. Erro atrai erro.

E quer saber? É bom que isso esteja acontecendo. O povo chinês paga um preço e também muitos países cujas economias se ligaram mais fortemente à China. Mas era preciso desmistificar o sistema e derrubar a ideia de que a democracia atrapalha. É notável também a perda de prestígio da China como parceiro econômico e geopolítico. Se o governo lá muda suas políticas sem consultar seu próprio povo, por que consultaria outros governos?

Assim é que os países ocidentais no sentido amplo, democráticos e desenvolvidos — incluindo Japão, Austrália e Coreia do Sul —, buscam parceiros confiáveis. Países emergentes democráticos são candidatos. Alguns pularam na frente. O México ultrapassou a China como maior fornecedor dos Estados Unidos. Canadá também. A União Europeia, outro exemplo, procura fontes de energia fora da Rússia.

Enquanto isso, o Brasil de Lula, antiamericano, se alinha com China e Rússia.

sábado, 2 de setembro de 2023

A via chinesa da armadilha da dívida - Michael Bennon and Francis Fukuyama (Foreign Affairs)

O artigo trata da iniciativa chinesa do Cinturão e Rota (BRI), a nova rota da seda unindo a China a mercados na Eurásia e até mais além, mas baseada em empréstimos chineses para a construção de grandes obras de infraestrutura, mas que podem se revelar uma armadilha para países mais pobres. 

Paulo Roberto de Almeida

China’s Road to Ruin

The Real Toll of Beijing’s Belt and Road


By 


Published on 

This year marks the tenth anniversary of Chinese President Xi Jinping’s Belt and Road Initiative, the largest and most ambitious infrastructure development project in human history. China has lent more than $1 trillion to more than 100 countries through the scheme, dwarfing Western spending in the developing world and stoking anxieties about the spread of Beijing’s power and influence. Many analysts have characterized Chinese lending through the BRI as “debt trap diplomacy” designed to give China leverage over other countries and even seize their infrastructure and resources. After Sri Lanka fell behind on payments for its troubled Hambantota port project in 2017, China obtained a 99-year lease on the property as part of a deal to renegotiate the debt. The agreement sparked concerns in Washington and other Western capitals that Beijing’s real aim was to acquire access to strategic facilities throughout the Indian Ocean, the Persian Gulf, and the Americas.

But over the last few years, a different picture of the BRI has emerged. Many Chinese-financed infrastructure projects have failed to earn the returns that analysts expected. And because the governments that negotiated these projects often agreed to backstop the loans, they have found themselves burdened with huge debt overhangs—unable to secure financing for future projects or even to service the debt they have already accrued. This is true not just of Sri Lanka but also of Argentina, Kenya, Malaysia, Montenegro, Pakistan, Tanzania, and many others. The problem for the West was less that China would acquire ports and other strategic properties in developing countries and more that these countries would become dangerously indebted—forced to turn to the International Monetary Fund (IMF) and other Western-backed international financial institutions for help repaying their Chinese loans.

In many parts of the developing world, China has come to be seen as a rapacious and unbending creditor, not so different from the Western multinational corporations and lenders that sought to collect on bad debts in decades past. Far from breaking new ground as a predatory lender, in other words, China seems to be following a path well worn by Western investors. In so doing, however, Beijing risks alienating the very countries it set out to woo with the BRI and squandering its economic influence in the developing world. It also risks exacerbating an already painful debt crisis in emerging markets that could lead to a “lost decade” of the kind many Latin American countries experienced in the 1980s

To avoid that dire outcome—and to avoid spending Western taxpayer dollars to service bad Chinese debts—the United States and other countries should push for broad-based reforms that would make it more difficult to take advantage of the IMF and other international financial institutions, imposing tougher criteria on countries seeking bailouts and demanding more transparency in lending from all their members, including China. 

HARD BARGAINS, SOFT MARKETS 

In the 1970s, the Harvard economist Raymond Vernon observed that Western investors had the upper hand when negotiating deals in the developing world, since they had the capital and know-how to build factories, roads, oil wells, and power plants that poorer countries desperately needed. As a result, they were able to strike bargains that were highly favorable to themselves, transferring much of the risk to developing countries. Once the projects had been completed, however, the balance of power shifted. The new assets could not be taken away, so developing countries had more leverage to renegotiate debt repayment or ownership terms. In some cases, contentious negotiations led to nationalizations or sovereign defaults.

Similar scenarios have played out in several BRIcountries. Major Chinese-funded projects have generated disappointing returns or failed to stimulate the kind of broad-based economic growth that policymakers had anticipated. Some projects have faced opposition from indigenous communities whose lands and livelihoods have been threatened. Others have damaged the environment or experienced setbacks because of the poor quality of Chinese construction. These problems come on top of long-standing disputes over China’s preference for using its own workers and subcontractors to build infrastructure, edging out local counterparts.

The biggest problem by far, however, is debt. In Argentina, Ethiopia, Montenegro, Pakistan, Sri Lanka, Zambia, and elsewhere, costly Chinese projects have pushed debt-to-GDP ratios to unsustainable levels and produced balance-of-payments crises. In some cases, governments had agreed to cover any revenue shortfalls, making sovereign guarantees that obligated taxpayers to foot the bill for failing projects. These so-called contingent liabilities were often hidden from citizens and other creditors, obscuring the true levels of debt for which governments were liable. In Montenegro, Sri Lanka, and Zambia, China made such deals with corrupt or authoritarian-leaning governments that then bequeathed the debt to less corrupt and more democratic governments, saddling them with responsibility for getting out of crises.

Contingent liabilities on debt to state-owned enterprises are not unique to the BRI and can plague privately financed projects, as well. What makes BRI debt crises different is that these contingent liabilities are owed to Chinese policy banks rather than to private corporations, and China is conducting its debt renegotiations bilaterally. Beijing is also clearly negotiating hard, because BRI countries are increasingly opting for bailouts from the IMF, even though they often come with tough conditions, rather than trying to negotiate further relief from Beijing. Among the countries that the IMF has intervened to support in recent years are Sri Lanka ($1.5 billion in 2016), Argentina ($57 billion in 2018), Ethiopia ($2.9 billion in 2019), Pakistan ($6 billion in 2019), Ecuador ($6.5 billion in 2020), Kenya ($2.3 billion in 2021), Suriname ($688 million in 2021), Argentina again ($44 billion in 2022), Zambia ($1.3 billion in 2022), Sri Lanka again ($2.9 billion in 2023), and Bangladesh ($3.3 billion in 2023).

Some of these countries resumed servicing their BRI debts soon after the new IMF credit facilities were in place. In early 2021, for instance, Kenya sought to negotiate a delay in interest payments for a struggling Chinese-funded railway project linking Nairobi to Kenya’s Indian Ocean port in Mombasa. After the IMF approved a $2.3 billion credit facility that April, however, Beijing began withholding payments to contractors on other Chinese-financed projects in Kenya. As a result, Kenyan subcontractors and suppliers stopped receiving payments. Later that year, Kenya announced that it would no longer seek an extension of debt relief from China and made a $761 million debt service payment for the railway project.

The stakes for Kenya and the rest of the developing world are enormous. This wave of debt crises could be far worse than previous ones, inflicting lasting economic damage on already vulnerable economies and miring their governments in protracted and costly negotiations. The problem goes beyond the simple fact that every dollar spent servicing unsustainable BRI debt is a dollar that is unavailable for economic development, social spending, or combating climate change. The recalcitrant creditor in today’s emerging market debt crises is not a hedge fund or other private creditor but rather the world’s largest bilateral lender and, in many cases, the largest trading partner of the debtor country. As private creditors become more keenly aware of the risks of lending to BRI countries, these countries will find themselves caught between squabbling creditors and unable to access the capital they need to keep their economies afloat.

HIDDEN FIGURES

Beijing had multiple objectives for the BRI. First and foremost, it sought to help Chinese companies—mostly state-owned companies but also some private ones—make money abroad, to keep China’s huge construction sector afloat, and to preserve the jobs of millions of Chinese workers. Beijing also undoubtedly had foreign policy and security goals, including gaining political influence and in some cases securing access to strategic facilities. The large number of marginal projects Beijing undertook hints at these motivations: Why else fund projects in countries with huge political risks, such as the Democratic Republic of the Congo or Venezuela?

But accusations of debt trap diplomacy are overblown. Rather than deliberately miring borrowers in debt in order to extract geopolitical concessions, Chinese lenders most likely just did poor due diligence. BRI loans are made by Chinese state-owned banks through Chinese state-owned enterprises to state-owned enterprises in borrowing countries. The contracts are negotiated directly, rather than opened to the public for bidding, so they lack one of the benefits of private financing and open procurement: a transparent market mechanism for ensuring that projects are financially viable. 

The results speak for themselves. In 2009, the government of Montenegro asked for bids on a contract to build a highway connecting its Adriatic port of Bar with Serbia. Two private contractors participated in two procurement processes, but neither was able to raise the necessary financing. As a result, Montenegro turned to the China Export-Import Bank, which did not share the market’s concerns, and now the highway is a major cause of Montenegro’s financial distress. According to a 2019 IMF estimate, the country’s debt-to-GDP ratio would have been just 59 percent had it not pursued the project. Instead, the ratio was forecast to rise to 89 percent that year. 

Not all BRI projects have underperformed. Greece’s Piraeus port project, which expanded the country’s largest harbor, has delivered the win-win outcomes Beijing promised, as have other BRIinitiatives. But many have left countries suffering under crushing debt and wary of deeper engagement with China. In some cases, the leaders and elites who negotiated the deals have benefited, but the broader populations have not.

China’s BRI does pose problems for Western countries, in other words, but the primary threat is not strategic. Rather, the BRI creates pressures that can destabilize developing countries, which in turn creates problems for international institutions such as the IMF and the European Bank for Reconstruction and Development, to which those countries turn for assistance. Over the last six decades, Western creditors have developed institutions such as the Paris Club to deal with issues regarding sovereign default, to ensure a degree of cooperation among creditors, and to manage payments crises equitably. But China has not yet agreed to join this group, and its opaque lending processes make it hard for international institutions to accurately assess how much trouble a given country is in.

CAUTION AND PRESSURE

Some analysts have argued that the BRI is not a cause of the current debt crisis in emerging markets. Countries such as Egypt and Ghana, they point out, owe more to bondholders or multilateral lenders such as the IMF and World Bank than to China and are still struggling to manage their debt burdens. But such arguments mischaracterize the problem, which is not simply bad BRI debt in the aggregate but also hidden BRI debt. According to a 2021 study in the Journal of International Economics, approximately half of China’s loans to the developing world are “hidden,” meaning that they are not included in official debt statistics. Another study published in 2022 by the American Economic Association found that such debts have resulted in a series of “hidden defaults.”

The first problem with hidden debt occurs during the buildup to a crisis, when other lenders do not know that the obligations exist and are therefore unable to accurately assess credit risk. The second problem comes during the crisis itself, when other lenders learn of the undisclosed debt and lose faith in the restructuring process. It does not take much hidden bilateral debt to cause a credit crisis, and it takes even less to shatter trust in efforts to resolve it. 

China has taken some measures to ease the strain of these debts, hidden and otherwise. It has provided its own bailouts to BRI countries, often in the form of currency swaps and other bridge loans to borrower central banks. These bailouts are accelerating, with one working paper published in March 2023 by the World Bank Group estimating that China extended more than $185 billion in such facilities between 2016 and 2021. But central bank swaps are far less transparent than traditional sovereign loans, which further complicates restructurings.

China’s preference for not disclosing lending terms and renegotiating bilaterally may help protect its economic interests in the short term, but it can also derail restructuring efforts by undermining the two foundational elements of any such process: transparency and comparability of treatment—the idea that all creditors will share the burden equitably and be treated the same.

It does not take much hidden bilateral debt to cause a credit crisis.

The IMF’s policies for lending into murky distressed debt situations have evolved over decades, growing more flexible so that the fund can lend into and “referee” debt restructurings. But although the IMF was well suited to this role when the creditors were Paris Club members and even sovereign bond hedge funds, it is not well positioned to deal with China. Moreover, the mechanisms that the IMF and Western creditorshave developed to alleviate the worsening sovereign debt crisis among BRI countries are insufficient. In 2020, the G-20 established a Common Framework intended to integrate China and other bilateral lenders into the Paris Club’s restructuring process with IMF oversight and support. But the Common Framework has not worked. Ethiopia, Ghana, and Zambia have all applied for relief through the mechanism, but negotiations have been extremely slow, and only Zambia has reached a deal with creditors. The terms of that agreement, moreover, were underwhelming for Zambia, Zambia’s non-Chinese official creditors, and, most important, for the prospects of future restructurings.

Under the deal, reached in June 2023, Zambia’s official creditor debt was revised down from $8 billion to $6.3 billion after a major BRI loan was reclassified as commercial (even though it was covered by Chinese state-backed export credit insurance). Furthermore, the agreement may only temporarily reduce Zambia’s interest payments on official debt. If the IMF concludes that Zambia’s economy has improved at the end of its program in 2026, the country’s interest on official credits will ratchet back up. That creates a terrible set of incentives for the Zambian government, whose cost of capital will increase if its creditworthiness improves and could cause friction between the IMF and China down the road. These results are not surprising: the Common Framework provides the carrot of IMF support but lacks a stick to deal with a recalcitrant creditor, especially one with China’s geopolitical leverage over borrowers. 

Another initiative aimed at easing the brewing BRI debt crisis is the IMF’s Lending Into Official Arrears program. In theory, the program should allow the IMF to continue lending to a distressed borrower even when a bilateral creditor refuses to provide relief, but it, too, has proven ineffective. In Zambia, China holds more than half of official debt, making it extremely risky for the IMF to extend additional financing. Even in other cases in which China does not hold a majority of official debt, China simply has too much economic leverage over borrowers relative to the IMF, and the fund’s staff and leadership will always err on the side of caution when attempting to resolve conflicts between member states. 

As long as the IMF continues to exercise such caution, Beijing will continue to use its leverage to pressure the fund into supporting borrowers even when it does not have complete visibility into their indebtedness to China. To prevent future debt restructurings from becoming as challenging as the ongoing ones in Ethiopia, Sri Lanka, and Zambia, the IMF will need to undertake substantial reforms, strengthening its enforcement of transparency requirements for member states and taking a much more cautious approach to lending into heavily indebted BRI borrowers. Such a course correction is unlikely to originate from within the IMF; it will have to come from the United States and other important board members.

SLOW LEARNERS AND FAST LENDERS 

Some analysts have argued that China is going through a “learning process” as a debt collector, that Chinese lending institutions are fragmented, and that the process of building understanding, trust, and organized responses to sovereign debt crises takes time and cooperation. The implication is that Western creditors should be flexible while Beijing grows into its new role—and that the IMF should keep cutting checks in the meantime. 

But patience will not solve the problem because China’s incentives (and those of any other holdout creditor) are not aligned with those of the IMF or creditors who wish to expeditiously negotiate the restructuring of debts. This is why the IMF must strictly enforce requirements that oblige member states to be transparent about their debt obligations.

Even if the Chinese lending landscape is fragmented, moreover, the IMF and the members of the Paris Club should treat the Chinese government as capable of organizing its state-owned entities and providing a state-level response in debt restructurings. Beijing appears to be capable of doing so in bilateral debt renegotiations. In 2018, for instance, Zambia announced plans to restructure its bilateral debt with China and to delay ongoing BRI projects because of debt concerns. But after meeting with China’s ambassador to Zambia, then President Edgar Lungu reversed course and said there would be no disruption of the Chinese-financed projects, suggesting that Beijing had been able to coordinate with a number of Chinese state-owned enterprises and state-owned banks to avert a blowup. If China could do so bilaterally, it should be able to do so multilaterally, as well. 

One drawback of adjusting the IMF’s approach to the BRI debt crisis is that it would slow the fund down, preventing it from responding quickly to new crises. This is clearly a tradeoff. The IMFcannot act as both an unequivocal lender of last resort and an enforcer of the norms of transparency and comparability. It must be able and willing to withhold credit assistance when its requirements are unmet. The non-Chinese taxpayers who fund the IMF should not see their money pay for bad Chinese lending decisions. 

GOOD FOR THE IMF, GOOD FOR THE WORLD

Members of the G-7 and the Paris Club have several options for addressing the BRI debt crises. First, the United States and other bilateral creditors could assist BRI borrowers in coordinating with one another. Doing so would improve transparency, enhance information sharing, and enable borrowers to negotiate with Chinese creditors as a group instead of bilaterally. China’s approach of conducting renegotiations secretly and bilaterally disadvantages BRIborrowers, as well as other creditors, including the IMF and the World Bank.

Second, the IMF should establish clear criteria that distressed BRI borrowers must meet before they can receive new credit facilities from the fund. These criteria should be agreed on by a number of IMF board members in order to insulate the fund’s staff and leadership from conflict with China, which is also an important board member of the IMF. Transparency related to BRI debts is not the only area that these criteria should address. The IMF should also set much clearer criteria regarding which BRI loans will be considered official credits, as opposed to commercial ones. China has claimed that some major BRI loans are commercial rather than official loans because they are priced at market rates, even though they come from state-owned lending institutions such as the China Development Bank. The IMF has considered these classification questions case by case. But this approach is proving unworkable, since it enables scenarios such as the Zambian one in which a sizable portion of official debt suddenly becomes commercial overnight, enabling China to seek better terms. A continued ad hoc approach by the IMF will likely lead to similar gamesmanship and conflict in future restructuring negotiations. The IMF should simply clarify which BRI lending institutions will be considered official creditors in any restructuring process.

Under some recent IMF programs, borrowers have continued to service BRI debts through their state-owned enterprises while receiving sovereign debt relief at the national level. The only way to prevent this behavior is for the IMF to require borrowers to identify and commit to including all state-owned enterprise debts with sovereign guarantees in restructuring processes. Otherwise, BRI lenders will simply pick and choose which state-owned enterprise loans they would like to include in restructurings based on whether they think they can get a better deal through restructuring or through a bilateral renegotiation on the side. 

A Chinese construction project east of Cairo, Egypt, January 2023
Amr Abdallah Dalsh / Reuters

Requiring distressed countries to meet these criteria before they get new credit facilities would make the IMF less agile and limit its ability to respond quickly to balance-of-payments crises. But it would give borrowers and the sovereign finance industry much-needed clarity and certainty on the requirements for IMF intervention. It would also insulate IMF staff and leadership from recurring conflicts with China during every debt restructuring. 

Some will no doubt frame such reforms as “anti-China.” In truth, however, they are simply the steps necessary to protect the principles of transparency and comparability in sovereign debt restructuring. Western countries must be able to stand up for key elements of the rules-based international order when they are imperiled while still cooperating with China, which is an important member of that order. 

Finally, these reforms are the only way to protect the IMF from the fallout of the BRI debt crisis. Conflicts over BRI debt will continue to impede debt-relief efforts, undermining both the economic health of indebted developing countries and the effectiveness of the IMF. Only a reformed IMFcan reverse the damage—to developing countries and to itself.