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sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Camões e Os Lusíadas - José Paulo Cavalcanti Filho (Chumbo Gordo)

 

Camões e Os Lusíadas. Por José Paulo Cavalcanti Filho

… Há uma razão para falar em Camões agora, amigo leitor, É que, nesta quarta, o Gabinete Português de Literatura me distinguiu com o “Colar do Mérito Luiz Vaz de Camões”. Como complemento, “Em reconhecimento à sua destacada contribuição à cultura e à língua portuguesa”…

Camões

Luís Vaz de Camões veio da pequena nobreza – assim se dizia, na época, dos nobres sem casas nem títulos em Portugal. Desde jovem, passava dias e noites pelas ruas entre pedintes, arruaceiros, prostitutas, desvalidos. Ou nas tabernas. E escrevendo versos por puro prazer, quando possível e, às vezes, em troca de gorjeta. Ou comida.

Era conhecido, pelas incontáveis rixas em que se metia, como Trinca-Fortes. Em uma delas, na noite da procissão de Corpus-Christi, golpeou com espada o pescoço de Gonçalo Borges, cárrego (responsável) dos arreios do rei. Acabou preso no tronco. Libertado por Carta Régia de Perdão, em 7 de março de 1553, teve que pagar quatro mil réis para caridade e foi obrigado a ir servir na Índia. Seria mudança definitiva, em sua vida. Um destino jamais sonhado por seus pais – Simão Vaz de Camões, capitão de nau; e Ana de Sá, dos Macedo de Santarém, doméstica.

Em torno dele, quase tudo é incerto. Sabe-se, dos serviços que prestou na armada portuguesa, que nasceu em Lisboa – ou Coimbra, ou Santarém, ou Alenquer. Talvez em 1523 ou, mais provavelmente, em 1524 (havendo ainda quem sugira começos de 1525). Tendo a lei portuguesa 1540, de 02/02/1924, definido que teria sido em 05.02.1524. Estudou em Coimbra, entre 1542 e 1545, com o tio dom Bento de Camões, prior do Convento de Santa Cruz. Até que voltou para Lisboa. Mas a carreira das armas, logo percebeu, era mesmo das poucas opções que lhe restavam.

Para cumprir aquela sentença de perdão embarcou pouco dias depois, em 24 de março, na poderosa armada do capitão-mor Fernão Álvares Cabral, filho de um Pedro que conhecemos bem. Para Goa (Índia). Ali, naquele mundo para ele novo, sofreu todas as agruras. Numa expedição a Ceuta, perdeu o olho direito em batalha. Mais tarde, em 1558, naufragou na foz do rio Mekong – costa do Sião (hoje, Tailândia). Salvou-se despido, como todos os demais sobreviventes, tendo em uma das mãos os primeiros versos de seu Os Lusíadas.

Nesse episódio teria morrido uma chinesa, a quem Camões deu o nome poético de Dinamene, para quem depois escreveria uma série de poemas. Entre eles o famoso Soneto 48, que todos conhecem, começando assim:

“Alma minha gentil, que te partiste

Tão cedo desta vida, descontente,

Repousa lá no Céu eternamente

E viva eu cá na terra sempre triste”.

Foi Provedor dos defuntos nas partes da China. Desempenhando suas funções com não muita lisura, é de justiça reconhecer. E, vez por outra, frequentaria prisões. Por dívidas. Ou rixas.  Como dizia o próprio Camões, “Erros meus, má fortuna, amor ardente/ Em minha perdição se conjuraram”. Mas, sobretudo, nunca parou de escrever.

Poesia à Mesa : Primeira edição de "Os Lusíadas"Em 1570, afinal, estava novamente de volta a Lisboa. Com as carências financeiras de sempre. Segundo se conta, sobreviveu durante algum tempo graças ao fiel Jau, trazido das Molucas. Esse escravo esmolava, de noite, pedindo pão para seu mestre. Importante é que Os Lusíadas avançava. Sob o patrocínio de dom Manuel de Portugal, devotou-se então à sagração de seu país – naquela que é considerada, consensualmente, a mais bela epopéia do século XVI.

edição princeps – assim se diz das primeiras edições de um livro – foi impressa na tipografia de António Gonçalves, em Lisboa, no ano de 1572. Com privilégio real de impressão por 10 anos e publicada com um benévolo (e corajoso) parecer censório de frei Bartolomeu Ferreira, sem data. Terá tido também licença da Mesa Inquisitorial – que, todavia, não consta da impressão.

Tem aparato paratextual simples, 8.816 versos e 1.102 estrofes divididas em 10 cantos. Utilizando a divisão da divina Comédia, de Dante – que assim tem, como cantos, seus 100 livros. Há, hoje, cerca de 25 exemplares ainda existentes, em bibliotecas ou nas mãos de colecionadores, talvez menos que 10 completos.

Até fins do século XIX, se acreditava ter havido duas edições princeps, um mito devido a Manuel Faria e Souza – que (em 1639), ao comentar Os Lusíadas, confrontou dois volumes daquele mesmo ano em que o livro foi lançado, 1572; e verificou haver, neles, pequenas diferenças. Depois se comprovando terem sido bem mais que duas. Restando hoje assente que assim ocorreu pelo desejo de Camões, ou seu editor, em corrigir pequenas incorreções das impressões anteriores.

Dando-se que, em alguns casos, foram sendo aproveitados conjuntos de páginas já impressas, antes, e não utilizadas. Fazendo-se, as correções, nas novas páginas impressas. Uma explicação que só se pode compreender pelos rudimentares sistemas de impressão daquela época.

Apesar de numerosos indicativos dessa edição princeps na comparação com as demais, e curiosamente, o que a identifica é um pelicano, à primeira página, com o bico virado para a esquerda do leitor. Além do pelicano, também um detalhe no terceiro verso da primeira estrofe, que começa por “E entre”; enquanto nas versões posteriores, já corrigidas, começa por “Entre” apenas. Essas edições de 1572 tornaram-se conhecidas, por isso, como “Ee” e “E”.

Camões tinha com ele, ao morrer, aquela que acabou tida como a primeira edição autêntica, deixada ao frei Joseph Índio, que o acompanhou num hospital de Lisboa. Esse volume é conhecido como Holland House – por ter estado em casa do general Lord Holland, em Londres, a partir de 1812 e por mais de cem anos.

Outra edição famosa, em Portugal, é a segunda ‒ conhecida como dos piscos. Surgida, em 1584, dois anos após o fim do prazo do alvará que protegia a primeira (de 1572). Impressa pela tipografia Manuel de Lira (em Lisboa), e com licença do mesmo frei Bartolomeu Ferreira, responsável pela autorização da edição princeps. O nome jocoso dado à edição vem de uma citação, nos Lusíadas (Canto III, 65), sobre a “piscosa Cizimbra”.

Sezimbra é uma vila portuguesa no distrito de Setúbal. Abundante em peixes, bom lembrar. Trata-se da primeira edição comentada de Os Lusíadas. Explicando a citação, o comentador, como referência aos pássaros que ali se juntam em passagem para a África, provavelmente se referindo ao Pisco-de-peito-ruivo (Erithacus Rubecula).

Camões segue a trilha de outras epopéias do passado.  Sobretudo a Eneida, de Virgílio; o que se vê até na comparação dos versos iniciais dos poemas: Canto as armas e o varão, Virgílio; e As armas e os Barões assinalados, Camões. Também a Ilíada e a Odisseia, de Homero. Bem como a divina Comédia, de Dante.

Além de numerosas epopéias surgidas em Portugal, no mesmo século XVI de Os Lusíadas, mas antes dele – como as de André de Resende, Manuel da Costa ou José de Anchieta; e manuscritos que circularam, também antes de 1572, como os de António Ferreira e Jerónimo Corte-Real.

Nele temos o passado, com a exaltação das conquistas em que o povo português foi muito além do Mar Tenebroso. O presente, com o lamento pelo abandono das terras africanas por Portugal – de Safim a Azanos, de Azila a Alcácer Cequer. Sem contar a ameaça turca, conjurada só na batalha naval de Lepanto, em 7 de outubro de 1571.

Mas é, sobretudo, a antevisão de um futuro grandioso, na linha da Utopia do Quinto Império. E ninguém cantou Portugal como Camões. Ver  Canto X, 155,

“Pera servir-vos, braço às armas feito,

Pera cantar-vos, mente às Musas dada;

Só me falece ser a vós aceito,

De quem virtude deve ser prezada.

Se me insto o Céu concede, e o vosso peito

Dima empresa tomar de ser cantada,

Como a pressaga mente vaticina

Olhando a vossa inclinação divina”.

 Pouco antes, em Desenganos, escreveu “Nascemos para morrer/ Morremos para ter vida/ Em ti morrendo”. Assim foi. Luís Vaz de Camões morreria só em 10 de junho de 1580, pouco depois do desastre de Alcácer Quibir – em que desapareceu dom Sebastião, o Desejado, e Portugal passou a ter um rei espanhol.

Foi enterrado na igreja de Santa Ana e seus restos acabaram transferidos, em 1894, ao mosteiro dos Jerônimos, onde repousam num túmulo esculpido em mármore bem na entrada. Consta que disse, ao morrer, “Ao menos morro com a pátria”.

                                                                                                                                    ***********************************************

Há uma razão para falar em Camões agora, amigo leitor, É que, nesta quarta, o Gabinete Português de Literatura me distinguiu com o “Colar do Mérito Luiz Vaz de Camões”. Como complemento, “Em reconhecimento à sua destacada contribuição à cultura e à língua portuguesa”. Homenagem enorme, da qual nem me sinto merecedor. Deve ser por conta da idade…
O Gabinete (com 80 mil livros) está celebrando, agora, seus 175 anos. Um marco importante na história literária e intelectual de nosso estado. Por tudo, pois, grato a seu presidente, o eminente Celso Stamford; e a seu vice-presidente, o caro Alexandre Reis de Melo.
Agradeço, também, ao conselheiro da Embaixada de Portugal no Brasil, o Excelentíssimo senhor doutor Francisco Duarte de Azevedo. E logo encareço permitam uma observação pessoal. Para dizer que se trata de alguém que cultua a exatidão. Por exemplo lembro que foi ao Shopping Center Recife para comprar meias. A balconista desejou ter informações complementares, para melhor atender seu pedido. Reconhecendo aquele cliente como português, e forçando um sotaque lusitano,
‒ Diga mais.
E ele, preciso em tudo,
‒ Mais.
Muito grato a todos. E viva pelos seus méritos, por todos reconhecidos, o Gabinete Português de Leitura.
  • ________________________________________________JOSÉ PAULO CAVALCANTI FILHO

    José Paulo Cavalcanti Filho – É advogado, escritor,  e um dos maiores conhecedores da obra de Fernando Pessoa. Ex-Ministro da Justiça. Integrou a Comissão da Verdade. Vive no Recife. Eleito para a Academia Brasileira de Letras, cadeira 39.


sexta-feira, 10 de outubro de 2025

A prioridade na matemática - Arnaldo Niskier (Chumbo Gordo)

Um grande educador, que sabe o que é relevante na formação de capital humano.

A prioridade na matemática. Por Arnaldo Niskier

Mais de 60% dos nossos alunos do ensino fundamental terminam essa etapa sem dominar o que chamamos de regra de três. Sabe-se que os alunos que têm esse domínio, nos empregos para os quais são mobilizados, ganham muito mais, o que é uma vantagem nada desprezível.

Matemática

Se compararmos o aprendizado do Português e da Matemática dos nossos alunos do ensino fundamental, a segunda matéria sai perdendo de longe – e isso não é bom. O ensino da ciência dos números tem uma importância muito grande, no aprendizado em geral. O medo de lidar com os números é uma triste realidade, além do discurso vigente de que nem todos são capazes de aprender Matemática.

No Plano Nacional de Educação (PNE), ora em discussão no Congresso Nacional, discute-se a importância da alfabetização, mas é essencial incluir a Matemática nessa apreciação.

O fato de que ela apresenta os piores indicadores não pode servir de pretexto para excluir a matemática da necessária prioridade. Há uma triste realidade: nossos alunos saem da escola sem saber o mínimo da Matemática. Isso se reflete em concursos internacionais, como é o caso do Pisa. E também no conceito de empregabilidade e no que entendemos por exercício da cidadania. Devemos combater a ideia de que nem todos são capazes de aprender a fascinante matéria.

Mais de 60% dos nossos alunos do ensino fundamental terminam essa etapa sem dominar o que chamamos de regra de três. Sabe-se que os alunos que têm esse domínio, nos empregos para os quais são mobilizados, ganham muito mais, o que é uma vantagem nada desprezível.

Quando preparamos a coleção de livros intitulada “A Nova Matemática” (Bloch Editores), na década de 70, em parceria com a saudosa professora Beatriz Helena Magno, que vendeu 10 milhões de livros, sobretudo no Programa Nacional do Livro Didático, levamos em consideração todos esses aspectos, daí as razões desse grande sucesso. Não podemos compactuar com esses abismos de aprendizagem e os livros são instrumentos de fundamental relevo.

É claro que a base de todo esse projeto deve ser a formação dos professores (como eu tive o privilégio do estudo na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, com mestres consagrados como o saudoso Professor Haroldo Lisboa da Cunha). Há mestres competentes que devem ser procurados.

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Arnaldo Niskier - Editora Vozes

Arnaldo Niskier – Imortal. Sétimo ocupante da Cadeira nº 18 da Academia Brasileira de Letras. Professor, escritor, filósofo, historiador e pedagogo. Licenciado em Matemática e Pedagogia pela UERJ. Professor  aposentado da Universidade do  Estado do Rio de JaneiroFoi presidente da Academia Brasileira de Letras e secretário estadual de Ciência e Tecnologia e de Educação e Cultura do Rio de Janeiro. Presidente Emérito do CIEE/RJ. Honoris Causa da Universidade Santa Úrsula.Comendador do Superior  Tribunal do Trabalho.

O Quarto de Fernando Pessoa - José Paulo Cavalcanti Filho (Chumbo Gordo)

Um grande escritor falando de um poeta gigante. 

O Quarto de Fernando Pessoa. Por José Paulo Cavalcanti Filho


… Trata-se do livro, sobre Pessoa, mais vendido e mais traduzido no mundo (12 países). Digo só para me gabar, deve ser a idade. Nessas idas e vindas, deram-se fatos pitorescos. Relato aqui só um, entre muitos. Quando pretendi visitar o quarto em que viveu, ainda criança, no Largo de São Carlos.

Fernando Pessoa
Fernando Pessoa, Uma Quase Autobiografia, de Jose Paulo Cavalcanti Filho

Lisboa. Semana passada falei do amigo Fernando Pessoa. E como estamos na sua cidade, para ele só “uma eterna verdade vazia e perfeita” (Lisbon Revisited I), já digo que, durante os 10 anos que consumi escrevendo as 800 páginas de Fernando Pessoa, uma quase autobiografia, fui a Lisboa (exatamente) 30 vezes.

Nada a reclamar, ao contrário. Foi sempre bom. E trata-se do livro, sobre Pessoa, mais vendido e mais traduzido no mundo (12 países). Digo só para me gabar, deve ser a idade.

Nessas idas e vindas, deram-se fatos pitorescos. Relato aqui só um, entre muitos. Quando pretendi visitar o quarto em que viveu, ainda criança, no Largo de São Carlos.

O endereço do apartamento era número 4 de polícia, assim se diz ainda hoje, quarto andar esquerdo (de quem sai do elevador ou da escada). O edifício pertencia, então, à Fidelidade Mundial Seguros. Cheguei na portaria, mostrei os rascunhos do livro e pedi para subir. O porteiro, Fernando José da Costa Araújo, respondeu sem nenhuma simpatia

‒ Não tenho autorização para deixar o sr. dr. subir.

‒ Por favor, gostaria de falar com o diretor da empresa ou sua secretária.

‒ O sr. dr. deve se dirigir à Sede.

‒ Por favor, informe o telefone.

‒ Não tenho autorização para isso.

‒ Pode emprestar (apontei) as Páginas Amarelas?

‒ Não.

Ocorre que, precisamente após sua última frase, abriu a porta do elevador. Bem na minha frente. Então lhe disse

– Por favor chame a polícia para me prender que, sem sua autorização, estou subindo ao quarto andar.

E subi mesmo. Para ver o Tejo brilhando em duas janelas de seu quarto. E o sino da minha aldeia tocando, em frente, no outro lado da Rua Serpa Pinto. Pessoa lembra dele em poema famoso (sem título, sem data):

‒ Ó sino da minha aldeia,

Dolente na tarde calma,

Cada tua badalada

Soa dentro da minha alma.

E é tão lento o teu soar,

Tão como triste da vida,

Que já a primeira pancada

Tem o som de repetida.

Por mais que me tanjas perto

Quando passo, sempre errante,

És para mim como um sonho.

Soas-me na alma distante.

A cada pancada tua

Vibrante no céu aberto,

Sinto mais longe o passado,

Sinto a saudade mais perto.

Nenhuma dúvida de ser aquele mesmo. “O sino da minha aldeia é o da Igreja dos Mártires, ali no Chiado” (Pessoa, carta de 11/12/1931 para Gaspar Simões, amigo e depois biógrafo). Única que conheço onde os sinos ficam não à frente, mas nos fundos. Ao sair do elevador, na volta, o segurança estava com cara de poucos amigos

‒ O sr. dr. subiu sem minha autorização?

‒ Foi.

‒ E agora, o que hei de fazer?

‒ O sr. chama a polícia, vou sentar, esperamos e ela decide se me prende. Ou o senhor me deixa ir.

‒ Não sei, sr. dr.

‒ Eu sei.

Dito isto, lhe dei boa tarde e fui embora. Deu tudo certo. Graças. Adeus.

  • ________________________________________________JOSÉ PAULO CAVALCANTI FILHO

    José Paulo Cavalcanti Filho – É advogado, escritor,  e um dos maiores conhecedores da obra de Fernando Pessoa. Ex-Ministro da Justiça. Integrou a Comissão da Verdade. Vive no Recife. Eleito para a Academia Brasileira de Letras, cadeira 39.

sábado, 6 de maio de 2023

Por que o Brasil não deu certo - Jaime Pinsky (Chumbo Gordo)

Cinco anos atrás, Jaime Pinsky me convidou para escrever sobre as relações internacionais do Brasil num livro que organizou pensando num próximo governo empreendedor e inovador. Mas isso foi no primeiro semestre de 2018. No segundo semestre daquele ano começou a degringolada.

Apresentei o livro nesta postagem, retomada cinco anos depois: 

Brasil: o futuro que queríamos em 2018, e que aind...

Paulo Roberto de Almeida

BRASIL


Por que o Brasil não deu certo

Jaime Pinsky

E a gente acreditando no futuro do Brasil. A triste conclusão, depois de tudo, é que o país não vai. Vai é ser sempre o que já é: uma terra de gente simpática, agradável, sociável, mas um país de segunda, com enorme desigualdade social, uma elite econômica tendendo para a arrogância, o povo defendendo-se com certa dissimulação, corrupção endêmica e estrutural…

BRASIL

PUBLICADO ORIGINALMENTE NO SITE DO AUTOR, www.jaimepinsky.com.br - MAIO - 2023

Houve um tempo em que se discutia o futuro do Brasil. O escritor Stefan Zweig, muito famoso na ocasião, saiu da Áustria e veio se refugiar nestas terras tropicais, tentando fugir do nazismo. Após escrever um livro em homenagem à terra que o recebeu (“Brasil, país do futuro”), deu fim à sua própria vida. Os Estados Unidos haviam crescido de forma vertiginosa no século XIX, enquanto nós havíamos marcado passo, graças a um sistema agrário arcaico, que explorou mão de obra escrava até nos tornarmos o último país ocidental a conservar esse tipo de força de trabalho, humilhante para explorados e exploradores (além de pouco eficaz). Mesmo assim havia os que acreditavam no futuro do país e Zweig não foi o primeiro nem o último.

Minha geração também acreditou. Em alguns momentos parecia faltar pouco para deslancharmos de vez. Mas, alguma coisa sempre acontecia. Ou era um governo particularmente ruim, ou a conjuntura internacional que nos desfavorecia, ou falta de infraestrutura, ou pouca gente fazendo faculdade, ou muita gente fazendo faculdade, ou dengue, ou tantas outras coisas… E a gente acreditando no futuro do Brasil. A triste conclusão, depois de tudo, é que o país não vai. Vai é ser sempre o que já é: uma terra de gente simpática, agradável, sociável, mas um país de segunda, com enorme desigualdade social, uma elite econômica tendendo para a arrogância, o povo defendendo-se com certa dissimulação, corrupção endêmica e estrutural, governantes de todos os poderes usufruindo as benesses de seus cargos e o país, como um todo, distanciando-se, cada vez mais, das economias principais, seja dos tigres asiáticos, dos ursos europeus, dos cangurus australianos e até das lhamas andinas.

Sim, temos um motivo estrutural para isso: o Brasil tornou-se em 1822, formalmente, um estado nacional, mas não era nada disso. A maior parte dos países se organiza de baixo para cima, criando, paulatinamente uma consciência de identidade nacional e só depois busca se constituir politicamente, desvincular-se de ligações que eventualmente tinha (dependência política, heterogeneidade cultural e/ou religiosa, libertação nacional, etc.). O estado nacional vem depois, não antes. Basta pensar como se constituíram estados nacionais tão diversos como Estados Unidos, França, Rússia, Israel ou Angola para que esses processos históricos fiquem claros. No Brasil ocorreu algo bem diferente: tivemos um filho do rei de Portugal liderando um suposto movimento em um país onde representantes de povos indígenas e africanos, que constituíam a maioria da população, não foram sequer consultados e, no caso dos cativos (formalmente escravizados ou não), sequer libertados.

Por outro lado, temos que reconhecer que a razão estrutural, esse “pecado original” de nossa formação, não pode explicar tudo. Afinal, tivemos mais de duzentos anos depois da independência formal para superar esse problema e não o fizemos. Entra governo, sai governo e continuamos atrás. Pesquisas recentes, publicadas por economistas respeitáveis, chamam a atenção para o fato de continuarmos atrasados.  Há décadas corríamos atrás da China. Depois, dos demais “tigres asiáticos”. Também ficamos vendo a poeira levantada pelos grandes felinos. O diagnóstico é o de sempre: nossa mão de obra é pouco eficaz, tanto técnica quanto cientificamente. Não preparamos adequadamente as pessoas e o resultado é a baixa rentabilidade. Isso não tem a ver com inteligência ou habilidade de nossa mão de obra. Tem a ver com formação, escolaridade.

Ora, uma boa escola precisa de bons professores. Não adianta ter programas e mais programas de livros para os alunos. Um bom professor consegue dar aulas com livros de alunos de qualidade sofrível, mas para um professor mal formado não adianta os alunos terem os melhores livros. São os professores que precisam ter os melhores livros, os mais atualizados. São eles os formadores de cientistas, técnicos e operários. Se não tivermos bons professores, decentemente remunerados e sabiamente exigidos, não poderemos ter gente qualificada e eficaz em suas atividades. Há 30 anos, no governo Itamar Franco, uma comissão de professores, intelectuais e representantes da sociedade foi formada para discutir o assunto no Ministério de Educação e a conclusão foi que professores do ensino público deveriam receber livros de qualidade para sua formação. Essa comissão, dirigida pela grande educadora recentemente falecida, Magda Soares, fez um belo trabalho. Contudo, como aqui não há política de Estado e sim política de Governo, a coisa não se manteve.

Hoje precisamos de muito mais que livros para professores (embora esses continuem imprescindíveis). Contudo, pelo que se vê e lê, o Brasil parece ter outras prioridades. Mas como não falta combustível para levar o pessoal de volta aos currais eleitorais nos fins de semana, está tudo bem por aqui.

JAIME PINSKY: Historiador, professor titular da Unicamp, autor ou coautor de 30 livros, diretor editorial da Editora Contexto. Autor de vários livros sobre preconceito, cidadania e escravidão. Organizador e coautor do livro “Novos Combates da História“.

jaimepinsky@gmail.com

www.jaimepinsky.com.br


 

domingo, 31 de julho de 2022

“ O Brasil é um país que está embrutecendo.” - Maud Chirio (Journal du Dimanche)

 Brasil e suas violências

José Horta Manzano

Chumbo Gordo, 27/07/2022


…“O Brasil não é um país sob um regime ditatorial. É um regime baseado na desconstrução do Estado, que permite que a violência social floresça e seja incentivada na sociedade.”…


É interessante notar que um observador afastado, independente e não envolvido emocionalmente com nosso país consegue ter uma visão desapaixonada do drama que enreda o povo brasileiro. Para nós outros, que estamos envolvidos emocionalmente, é praticamente impossível fazer um julgamento neutro e imparcial.


O JDD (Journal du Dimanche) é um jornal semanal francês. Seu forte são entrevistas e artigos de fundo. A mais recente edição traz uma entrevista de Maud Chirio, historiadora francesa especializada em analisar a realidade brasileira.


Ela começa discorrendo sobre o aumento da violência:

“É violência urbana, mas há também uma explosão de violência feminicida, homofóbica e transfóbica e um aumento da violência política.”


E dá sua avaliação do momento político:

“O Brasil não é um país sob um regime ditatorial. É um regime baseado na desconstrução do Estado, que permite que a violência social floresça e seja incentivada na sociedade.”


E prossegue:

“Se Jair Bolsonaro for reeleito, o que é extremamente improvável, ou se ele manipular ou pressionar as eleições, estaremos em um ponto de inflexão. O Brasil poderia sair completamente do caminho democrático.”


Até chegar à impiedosa conclusão de sua análise:

 “O Brasil é um país que está embrutecendo.”


É de arrepiar. E pensar que o capitão imagina poder contar suas lorotas aos quatro ventos sem que ninguém se dê conta da feia realidade. Temos um bobão no Planalto. Um bobão perigoso.

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

quarta-feira, 11 de maio de 2022

Quem é fascista na guerra da Ucrânia? - Jaime Pinsky (CB, Chumbo Gordo)

Quem é fascista na guerra da Ucrânia? 

Jaime Pinsky

10/05/2022

Verdade. Muitos ucranianos ficaram do lado nazista durante a II Guerra Mundial. Isso dá aos russos o direito de invadir o país vizinho?

OTAN- UCRÂNIA

PUBLICADO ORIGINALMENTE NO CORREIO BRAZILIENSE
E NO SITE DO AUTOR, www.jaimepinsky.com.br

A bandeira da Ucrânia tem as cores azul e amarela. Já o grupo nacionalista direitista Pravy Sector usa a mesma bandeira, mas com as cores preta e vermelha. Este grupo se organizou a partir de 2013/14 quando promoveu manifestações contra seu governo, aliado da Rússia, conseguiu depô-lo e acabou por mergulhar o país em um caos político, econômico e étnico. A situação só se equilibrou a partir da surpreendente eleição do atual presidente, Vladimir Zielensky. Ele competiu como um “azarão”, entre os partidários da Rússia e os ultra-direitista. Para surpresa de todo mundo e do mundo todo ele venceu as eleições, tornou-se popular e acabou tendo que sustentar uma guerra contra Putin que não se conformou com sua vitória, uma vez que desejava um governante submisso aos seus desejos.

Todos devem se lembrar que no início do atual governo brasileiro grupos bolsonaristas referiam-se a “ucranizar” o Brasil. Seu objetivo declarado era promover uma guinada para a direita. Mas não seria errado supor que tinham a intenção de destituir poderes da República, algo promovido pelo grupo ucraniano que lhes servia de modelo (em 2014). A ultra direita ucraniana era chauvinista, francamente antirrussa, antissemita e antiglobalização. Além do que, é bom lembrar que agrupamentos políticos como o Pravy Sector promoviam treinamento militar, que ofereciam a correligionários de outros países. A militante bolsonarista, muito evidente no início do mandato presidencial atual, Sara Winter, proclamava a quem queria ouvir e a quem não queria também, que ela própria teria recebido treinamento na Ucrânia, com esse pessoal.

Putin e seu circulo de apoiadores alega que ao derrubar, em 2014, um presidente legalmente eleito, os ucranianos tiveram uma atitude fascista, de nacionalismo extremo, com caráter de antiglobalização, além de chauvinista. De fato, esse perfil político tem se manifestado em muitos países, podendo ser uma ameaça séria às instituições democráticas. Contudo, a invasão russa não se deu por aqueles que poderíamos chamar de “bons motivos”. Em nenhum momento o governo russo preocupou-se com a democracia, mesmo porque o próprio presidente russo não é um exemplo acabado de democrata radical… Ele manipulou e manipula as leis e os tribunais russos, colocando-os a serviço de seus interesses, não do interesse do aperfeiçoamento da democracia russa, muito menos do sistema democrático como concepção e prática política. Aristóteles já dizia, há mais de dois mil anos, que o sistema democrático baseia-se, antes de tudo, em “governar por turnos”, isto é, em haver revezamento de indivíduos e correntes políticas no poder. Oferecer veneno e cadeia aos adversários – o que tem acontecido na Rússia – não é, exatamente, a melhor maneira de estimular o desenvolvimento da democracia, convenhamos.

Não deixa de ser irônico que Putin não esperava por Zelinsky no poder. Um não político (era ator, antes de ser presidente, imitava e caricaturava presidentes na tevê, entre outras atividades artísticas) no poder, um cidadão com antecedentes familiares judaicos, não podia e não pode ser chamado de fascista ou de antissemita. Mas, como a lógica formal não é problema para governos autoritários, Putin e seu círculo de poder fingem que o presidente ucraniano é de extrema direita. Não é. E agora, para coroar a falta de sentido de algumas acusações, além de garantirem que os governantes ucranianos podem  ser antissemitas e judeus (!) um ministro russo acaba de afirmar que Zelinsky pode ser fascista, embora judeu, pois até Hitler tinha sangue judaico. O absurdo é evidente. Mas, não se trata apenas de atentado à lógica. É também um atentado às milhões de vítimas do nazismo. Além de infeliz, imbecil, grosseira, agressiva, a frase de uma autoridade russa fere todas as pessoas de bom senso no mundo, as de bom caráter, as sensíveis, todas as que têm compromisso com verdade. E, devo deixar muito claro, sou um apreciador da cultura russa, amo seus escritores – vários assassinados por Stalin – seus músicos, suas orquestras, seus cineastas, seus dançarinos.

Contudo, como neto de imigrantes, que só escaparam das câmaras de gás nazistas, perpetradas pelo mesmo Hitler a quem o ministro russo se refere como tendo sague judeu, eu me sinto no direito e no dever moral de solicitar pedido formal de desculpas por parte dessa autoridade. Minha avó Sara só escapou do Holocausto, com seus nove filhos, porque o Brasil permitiu que para cá ela viesse. Foi um bom investimento do país: hoje somos, entre netos, bisnetos e tataranetos dela mais de duzentos bons brasileiros que trabalham aqui como médicos, professores, empresários, técnicos, dentistas, editores, artistas, ente outras profissões.

Sim, a Ucrânia talvez não possa se vangloriar de seu passado democrático, de ser um país aberto para minorias culturais e étnicas. Sim, durante a II Guerra Mundial nem sempre colaborou com as democracias; na verdade, esteve mais perto da Alemanha nazista e há casos terríveis de massacres perpetrados por ucranianos contra minorias nessa época e até antes da guerra.  Contudo, ter ficado do “lado certo” contra o nazismo não dá à Rússia carta branca para invadir seus vizinhos, estados independentes, mesmo que não goste de seus governantes. E inventar mentiras contra ucranianos e outros povos não é digno de um país e um povo tão relevantes quanto o russo.

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JAIME PINSKY: Historiador, professor titular da Unicamp, autor ou coautor de 30 livros, diretor editorial da Editora Contexto. Autor de vários livros sobre preconceito, cidadania e escravidão. Organizador e coautor do livro “Novos Combates da História“.

jaimepinsky@gmail.com

www.jaimepinsky.com.br

quarta-feira, 13 de maio de 2020

O Brasil dos generais? - Aylê-Salassié F. Quintão (Chimbo Gordo)

O COMANDO DOS GENERAIS

AYLÊ-SALASSIÊ QUINTÃO

Chumbo Gordo, 29/04/2020

… Agora, apesar dos sucessivos pedidos de impeachment contra o atual Presidente, o Palácio do Planalto, centro do Poder do Estado, tornou-se habitat de militares de alta patente, comandados por um capitão proscrito.  O capitão não dá vez aos generais. Demite-os sem mais, nem menos, e cobra alinhamento às suas loucas atitudes e pensamentos confusos. Parece mesmo uma desforra…
Um marechal? Não, não existe mais. É um capitão, que saiu pela porta dos fundos das forças armadas, quem agora   comanda generais de quatro estrelas no Brasil. Sua força vem dos 57 milhões de votos, mas a persistência, que nesse momento, diante de um cenário totalmente adverso, é o que conta. Parece ser a manifestação explícita de um Ego ferido pela interrupção compulsória da carreira militar, há 20 anos, por desobediência e insubordinação.
Fala mais alto um Ego inflado e, aparentemente, ressentido que a vitória nas urnas, em 2018, entregue de bandeja pelos concorrentes de oposição. No esforço de perpetuar-se no Poder, vinham confundindo a população com falsos candidatos, falsas retóricas e falsos programas sociais.  O viés permite inferir que a insistência nesse caminho conduziu o retorno dos militares.
Agora, apesar dos sucessivos pedidos de impeachment contra o atual Presidente, o Palácio do Planalto, centro do Poder do Estado, tornou-se habitat de militares de alta patente, comandados por um capitão proscrito.  O capitão não dá vez aos generais. Demite-os sem mais, nem menos, e cobra alinhamento às suas loucas atitudes e pensamentos confusos. Parece mesmo uma desforra, fruto de uma personalidade duvidosa.
Aliás, vale lembrar que esse encolhimento da autoridade dos generais, já vinha ocorrendo desde a criação do Ministério da Defesa, no governo do cientista presidente Fernando Henrique, seguida da designação de civis, antes condenados na Justiça, para dirigi-lo. A própria ex-presidente guerrilheira Dilma Rousseff, ordenou um general sair de um elevador no Planalto, porque ela queria descer sozinha para a garagem.
O quartel de comando do Exército no Planalto reúne, hoje, alguns dos principais  oficiais superiores das forças armadas : os generais  Braga Neto, ex-chefe da intervenção contra a violência no Rio de Janeiro, agora chefe da Casa Civil; o general da ativa Luiz Eduardo Ramos , chefe da Secretaria de Governo; o general da reserva Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional; o major da reserva da Polícia Militar, Jorge Oliveira, chefe da Secretaria Geral Presidência; o almirante Flávio Rocha, chefe da secretaria de Assuntos Estratégicos. Lá estão ainda o vice-presidente, general Hamilton Mourão, que hoje chefia um vazio Conselho da Amazônia Legal.
            A    nomeação, para o Ministério da Defesa, do general Fernando Azevedo, que passou um tempo assessorando a presidência do Supremo Tribunal Federal, pretende dar a impressão de que as Forças Armadas assumiram uma nova postura. Desde a posse do presidente capitão, os generais insistem em vender a versão de que este é um governo com militares, mas não dos militares. Com a chegada de Braga Netto, essa ilusão acabou. Ele, que gosta de planejamento, já apresentou até um plano estratégico de recuperação da economia, chamado Pró-Brasil, quase que desqualificando os esforços do Ministério da Fazenda.
… A questão é saber até quando os generais vão conviver neste cenário. Eles tem medo dos eleitores de Bolsonaro que, provavelmente, já não são mais 57 milhões de cidadãos. Mas o Congresso não tem esse constrangimento, porque também foi votado…
Esses oficiais no Poder entendem que é melhor tentar influenciar o governo Bolsonaro de dentro do que se omitir, e arcar com os ônus elevados à frente. A coisa assumiu tal proporção que, para alguns, o eventual fracasso do governo Bolsonaro cairia sobre os seus ombros, como ocorreu na queda do regime militar, em 1985. A presença do ex-juiz Moro no Ministério da Justiça ajudava a minimizar os ranços hierárquicos entre os militares, ao reforçar o carisma justiceiro do capitão Presidente, relação agora um pouco estremecida com a demissão de Moro.
Mas, o capitão está com tudo e não está prosa. Será?
A explicação não vem das forças armadas, nem do Tribunal Superior Eleitoral, mas de Freud: a interação do ser humano com a realidade que lhe cerca, expõe publicamente a psiquê do capitão: o Ego, com  seus instintos primitivos representados pelo Id , componente nato dos indivíduos, que administra vontades e pulsões, formadas pelos instintos e desejos rudimentares. A partir do ID, desenvolvem-se as outras partes da personalidade humana: o Ego e Superego. Este expressão da impulsividade, da racionalidade e da moralidade.
As frustrações pessoais estendem-se à família que, também aparentemente, administra a governabilidade com o suposto apoio de milicianos, e não de generais. A manifestação em frente ao Forte Apache não foi convocada pelo Exército, nem por supostos seguidores.
A questão é saber até quando os generais vão conviver neste cenário. Eles tem medo dos eleitores de Bolsonaro que, provavelmente, já não são mais 57 milhões de cidadãos. Mas o Congresso não tem esse constrangimento, porque também foi votado. O Supremo Tribunal não pode dizer a mesma coisa, nem alguns ministros. Distraída pelo coronavírus, a população assiste tudo abestalhada.
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Aylê-Salassié F. Quintão* – Jornalista, professor, doutor em História Cultural. Vive em Brasília



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