O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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domingo, 31 de julho de 2022

“ O Brasil é um país que está embrutecendo.” - Maud Chirio (Journal du Dimanche)

 Brasil e suas violências

José Horta Manzano

Chumbo Gordo, 27/07/2022


…“O Brasil não é um país sob um regime ditatorial. É um regime baseado na desconstrução do Estado, que permite que a violência social floresça e seja incentivada na sociedade.”…


É interessante notar que um observador afastado, independente e não envolvido emocionalmente com nosso país consegue ter uma visão desapaixonada do drama que enreda o povo brasileiro. Para nós outros, que estamos envolvidos emocionalmente, é praticamente impossível fazer um julgamento neutro e imparcial.


O JDD (Journal du Dimanche) é um jornal semanal francês. Seu forte são entrevistas e artigos de fundo. A mais recente edição traz uma entrevista de Maud Chirio, historiadora francesa especializada em analisar a realidade brasileira.


Ela começa discorrendo sobre o aumento da violência:

“É violência urbana, mas há também uma explosão de violência feminicida, homofóbica e transfóbica e um aumento da violência política.”


E dá sua avaliação do momento político:

“O Brasil não é um país sob um regime ditatorial. É um regime baseado na desconstrução do Estado, que permite que a violência social floresça e seja incentivada na sociedade.”


E prossegue:

“Se Jair Bolsonaro for reeleito, o que é extremamente improvável, ou se ele manipular ou pressionar as eleições, estaremos em um ponto de inflexão. O Brasil poderia sair completamente do caminho democrático.”


Até chegar à impiedosa conclusão de sua análise:

 “O Brasil é um país que está embrutecendo.”


É de arrepiar. E pensar que o capitão imagina poder contar suas lorotas aos quatro ventos sem que ninguém se dê conta da feia realidade. Temos um bobão no Planalto. Um bobão perigoso.

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

sexta-feira, 22 de julho de 2022

Um balanço provisório da ausência de politica externa de 2019 a 2022 - Paulo Roberto de Almeida

Preparei um artigo mais longo, para a imprensa internacional, escrito diretamente em francês, em torno do balanço desastroso da (falta de) política externa no desgoverno Bolsonaro, assim como dos prejuízos incorridos pela diplomacia profissional. Já traduzi para o Português, mas aguardo as eleições para publicar no Brasil. 

Paulo Roberto de Almeida

Um balanço provisório da ausência de politica externa de 2019 a 2022


O Bozo não estará mais no poder para assumir os custos da política externa insana que impôs ao país, sobretudo no periodo do chanceler acidental, de janeiro de 2019 a março de 2021.
A perda de investimentos e a ausência de cooperação bilateral, ao lado de possíveis boicotes comerciais determinados por empresas e consumidores, são os prejuízos mais visíveis. Mas existem desgastes invisíveis e outros recuos intangíveis também, devido a ações erráticas e completamente fora dos padrões normais que se esperam de um grande país.
O Brasil de Bozo deixou de ser um Estado confiável, sobretudo na própria região onde sua diplomacia profissional costumava assumir a liderança de iniciativas de Integração. 
Foi como se um país inteiro tivesse sumido do mapa pela falta de diálogo e mesmo de presença com que o incapaz, ignorante e mal educado dirigente penalizou uma diplomacia outrora prestigiada na região e no mundo. 
O Brasil se apequenou, diminuiu de tamanho, se ausentou de interações e exibiu uma postura não cooperativa nas frentes ambientais, de direitos humanos e de contatos diretos entre chefes de governo durante o período do mais medíocre chefe de Estado de toda a história do Estado independente.
Não haverá NADA a comemorar no bicentenário; ao contrário, representará uma tentativa de sabotar o próprio sentido dessa data simbólica no itinerário da nação, dada a obsessão do dirigente em face de sua derrota iminente.

domingo, 3 de janeiro de 2021

A França decadente dos anos 1930 e o Brasil atual: dá para comparar? - Paulo Roberto de Almeida

A França decadente dos anos 1930 e o Brasil atual: dá para comparar? 

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

[Objetivoestabelecer similaridadesfinalidadeFrança dos anos 1930, Brasil atual] 

 

Raymond Aron escreveu em suas memórias:

J’ai vécu les années ‘30 dans le désespoir de la décadence française... Au fond, la France n’existait plus. Elle n’existait que par les haines des Français les uns pour les autres.

[Vivi durante os anos ‘30 no desespero da decadência francesa... Na verdade, a França não mais existia. Ela só existia no ódio dos franceses uns contra os outros.]

[Frontspício ao capítulo 1, “Decline and Fall: the French Intellectual Community at the End of the Third Republic”, Tony Judt, Past Imperfect, French Intellectuals, 1944-1956 (New York: New York University Press, 2011; first edition: Berkeley: University of California Press, 1992)]

 

Sem querer comparar, mas comparando: tem algum cheiro de Brasil atual no ar?

Ou seja, também estamos decadentes?

O Brasil não existe mais?

Só existe Brasil no ódio dos brasileiros uns pelos outros?

Volto à pergunta inicial: dá para comparar o Brasil atual à França dos anos 1930?

Dificilmente, era um país farol do mundo pela sua intelectualidade, pelo prestígio de sua cultura, todos tinham Paris como a sua segunda cidade, a começar pelos americanos cultos e pelos brasileiros ricos.

Mas, a História tem suas surpresas...

Depois disso, veio a derrota, a ocupação, a humilhação de Vichy, o colaboracionismo (bem mais do que a Resistência, que só se manifestou, de verdade, ao final, com a contraofensiva dos aliados, e isso depois que nazistas e comunistas andaram se ajudando reciprocamente).

Não, não dá para comparar: a história da França contemporânea é muito mais dramática, trágica e vergonhosa.

A nossa, por enquanto, é só vergonhosa.

Quem diria que o Brasil otimista dos primeiros anos deste século caminharia, primeiro para o mais grotesco cenário de corrupção política em mega-escala, depois para a maior crise e recessão de toda a sua história econômica, a Grande Destruição, inteiramente made in Brazil?

E quem diria que mergulharíamos, depois de uma breve fase de “corrupção normal”, e de esforços de ajuste econômico, no mais degradante e obscurantista governo de toda a nossa história, começando a contar desde 1549?

Quem diria que estaríamos tão divididos quanto os franceses dos anos 1930, sendo que as sementes da divisão do país já tinham sido plantadas no regime do “Nunca Antes”, sob a condução de um partido especialmente corrupto, e sob a liderança de um carismático líder político — e chefe de gangue — que nos deixou com uma personalidade medíocre, que conseguiu fazer tudo errado em poucos anos?

E que diria que o legado de tudo isso foi nos deixar entregues ao mais perverso, inepto e psicótico dirigente, que só não conseguiu ser mais corrupto do que os petistas por pura incompetência e mediocridade?

Raymond Aron viu mais longe do que todos os outros, nos anos 1930, 40 e 50, quando tinha contra si os mais “brilhantes” intelectuais franceses. Acabou prevalecendo, mas demorou muito: não teve a sorte, como Roberto Campos, de assistir à implosão do comunismo e ao triunfo da ideia democrática, mas nunca desesperou por defender as ideias corretas.

É o que nos resta: defender as ideias corretas e lutar para derrotar os Novos Bárbaros, como se fossem tropas de ocupação. 

Eu já estou na resistência intelectual há muito tempo, em meu quilombo do Diplomatizzando: continuarei lutando contra os obscurantistas e, em especial, contra o anti-Iluminista que assaltou o Itamaraty, levando nossa diplomacia às páginas mais vergonhosas de sua história bicentenária.

Tenho tudo registrado, nos três livros já publicados — Miséria da diplomacia, O Itamaraty num labirinto de sombras e Uma certa ideia do Itamaraty — e dentro em breve num quarto: Apogeu e demolição da política externa (pronto, em edição).

A História não absolverá os Novos Bárbaros, não no que depender de mim.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3837, 03 de janeiro de 2021