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domingo, 21 de junho de 2020

Dani Rodrik: crise global e globalização - Entrevista a El País

Não estou de acordo com tudo o que escreve ou defende Dani Rodrik, considerado um excelente economista, e que agora vai ser premiado com o galardão espanhol Princesa de Astúrias, que vai receber em 16 de outubro em Oviedo, na Galícia.
Não estou de acordo, por exemplo, com esse conceito de hiperglobalização, como se os economistas tivessem o direito de criar um conceito e achar que ele representa a realidade. Isso se chama arrogância intelectual, ou seja, achar que a sua visão da realidade é a mais perfeita, a adequada, a correta, ou a única possível.
Quais são os critérios para achar que a globalização, que é um processo praticamente natural das economias de mercado – mas que pode, sim, ser retrasada ou estimulada por medidas de governos e de entidades internacionais –, estava derivando para isso que ele chama de "hiperglobalização", que seria, supostamente, uma globalização desenfreada, sem controles, sem critério, em face da qual os países, os governos, as empresas apenas poderiam se render, se entregar, sem fazer nada.
Isso não é verdade. As rodadas multilaterais de comércio NUNCA representaram exageros da globalização, ou da liberalização do comércio, que sempre foi limitada pela vontade dos governos, que sempre atuaram por pressão dos lobbies industriais, comerciais, financeiros, de agricultores, etc.
Ele diz não se surpreender em que essa coisa que ele inventou - out of the blue, ou seja do seu cérebro –, a hiperglobalização, esteja vindo abaixo, quando o que existe é uma pandemia, um desses cisnes negros que ninguém poderia prever. Se não houvesse isso, a globalização, seja hiper, seja normal, seja mini, continuaria igual, florescendo em alguns países, sendo reprimida em outros (como o Brasil, por exemplo), que não participa de qualquer cadeia de valor significativa (por protecionismo e stalinismo industrial), por decisão de seus dirigentes e por pressão dos lobbies industriais, mesmo os estrangeiros, que já estão aqui instalados há muito tempo (o setor automotivo, por exemplo, é "industria infante" há pelo menos setenta anos). 
Vejamos o que ele diz: 
"Não voltaremos à era de hiperglobalização dos anos 2000. Haverá mais regionalização no comércio e um uso muito mais ativo de políticas públicas, como a industrialização. E mais tensões em áreas tecnológicas, onde as nações tratarão de construir muros em torno de seus sistemas de inovação. Mas não estamos falando do desmoronamento do comércio global. Não voltaremos para os anos 1930 do século passado."
Ele está descrevendo "REAÇÕES", ou refletindo a realidade, não fazendo obra de economista; essa apregoada "regionalização" do comércio pode ocorrer como pode não ocorrer, e isso não depende nem dele, nem por vezes da vontade dos países, mas das decisões das empresas. São elas que impulsionam a globalização, mas nem sempre podem fazê-lo segundo sua vontade, mas segundo disposições existentes no plano nacional e no dos acordos comerciais bilaterais, plurilaterais ou multilaterais existentes, e sabemos que esses podem ser mais ou menos propensos a maior ou menor abertura e interdependência.
Na verdade, empresas são como indivíduos: querem tudo de bom, e rejeitam o que não é bom. Elas rejeitam a concorrência e adoram monopólios, uma situação em que só elas ganham, por isso querem abertura nos outros países, mas se puderem fechar os seus mercados nacionais o fariam sem qualquer constrangimento.
Achar que "políticas industriais" decididas por burocratas, por políticos, ou induzidas por lobbies setoriais são superiores ao livre jogo do mercado é outra ilusão que não me parece digna de um economista.
Como sempre, eu sou um cético sadio. Acho que os economistas devem fazer o seu trabalho decentemente, traçar os efeitos de determinadas políticas em termos de bem estar, mas não devem achar que suas preferências pessoais, por um mundo mais "solidário", mais socialdemocrático, mais distributivistas sejam melhores do que um mundo puramente anárquico, ao sabor dos mercados. 

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 21 de junho de 2020

EL PAÍS
Crise global e globalização

“A pandemia funciona como uma lupa que amplifica as tensões econômicas já existentes”, diz o economista turco Dani Rodrik, professor da Universidade de Harvard. Nesta entrevista ao El País, ele fala sobre o futuro da globalização após a pandemia, uma crise que explicitou a importância da articulação global ao mesmo tempo em que promoveu o fechamento de fronteiras e deixou clara a necessidade de uma indústria nacional saudável. Para Rodrik, os sinais de que a hiperglobalização não era sustentável já existiam há muito tempo. “A grande pergunta agora é se criaremos uma globalização mais saudável e inclusiva ou avançaremos para o unilateralismo de Trump, com políticas insensatas que não beneficiam nem ao país que as promove nem aos seus sócios.” O economista acha que a solução passa por enxergar a globalização como oportunidade de “construir em torno de bens públicos, como evitar a mudança climática ou lidar com as pandemias”, dedicando menos interesse a temas como o comércio internacional e fluxos de capital. “Vamos nos afastando dessa ideia de que cada país devia se adaptar à economia internacional. E devemos entender que é justamente o contrário: que a economia internacional deve servir aos objetivos de cada país.” >>


Pandemia do Coronavirus

Dani Rodrik, economista: “Esta crise nos ensina que nossas prioridades estavam equivocadas”

Professor em Harvard diz que a pandemia amplificou as tensões econômicas já existentes e afirma que autocratas como Bolsonaro e Trump têm respondido pior ao momento.


Luiz Doncel
El País, 17 junho 2020


Dani Rodrik passeava com seu cachorro na manhã de quinta-feira passada quando deu uma olhada na sua conta do Twitter. Foi então que soube que havia ganhado o Prêmio Princesa de Astúrias de Ciências Sociais de 2020, um dos mais importantes da Espanha. A esse economista turco-norte-americano, um dos mais influentes da atualidade, não lhe escapa a ironia de ser premiado por seus estudos sobre a globalização justamente quando este fenômeno recebeu o golpe mais duro de sua história. A pandemia do coronavírus, afirma ele no seu gabinete da Escola de Governo John F. Kennedy, da Universidade Harvard, funciona como uma espécie de lupa que amplifica todas as tensões latentes na economia durante décadas.
“Não me surpreende que a hiperglobalização esteja vindo abaixo. Faz anos que digo que não é sustentável. A grande pergunta agora é se criaremos uma globalização mais saudável e inclusiva ou avançaremos para o unilateralismo de Trump, com políticas insensatas que não beneficiam nem ao país que as promove nem aos seus sócios”, diz ao EL PAÍS, por videoconferência, esse professor que é presença habitual nos bolões de aposta do Nobel. Para ele, tanto Trump quanto Jair Bolsonaro são líderes populistas que se gabam de ter todas as respostas, algo que esta crise contribuiu para desmentir. “Não me surpreende que autocratas como Bolsonaro, Trump ou até certo ponto Boris Johnson estejam respondendo pior à crise do coronavírus” , diz (leia mais no quadro abaixo).
Foi sua primeira entrevista desde que foi anunciado como ganhador do prêmio que —se a pandemia não impedir— receberá em 16 de outubro em Oviedo, no norte da Espanha.
Pergunta. As tensões entre a China e os EUA e os problemas na OMC já deixavam antever o declínio da globalização. Mas a pandemia foi o terremoto definitivo. Trata-se de uma sacudida temporária ou deixará rastros mais profundos?
Resposta. Os sinais de que a globalização se desfazia eram evidentes antes de Trump. Mas sua chegada à Casa Branca exacerbou essas tensões. Não voltaremos à era de hiperglobalização dos anos 2000. Haverá mais regionalização no comércio e um uso muito mais ativo de políticas públicas, como a industrialização. E mais tensões em áreas tecnológicas, onde as nações tratarão de construir muros em torno de seus sistemas de inovação. Mas não estamos falando do desmoronamento do comércio global. Não voltaremos para os anos 1930 do século passado.
P. Não estamos então perante o ocaso da globalização.
R. A hiperglobalização era um estado mental. Vamos nos afastando dessa ideia de que cada país devia se adaptar à economia internacional. E devemos entender que é justamente o contrário: que a economia internacional deve servir aos objetivos de cada país.
P. Que parte desta mudança pode ser atribuída a esta crise?
R. Nos EUA, esta crise tornou ainda mais evidente o nível de desigualdade e a falta de um seguro de saúde para muitas pessoas. No mundo, mostra as incompatibilidades do sistema chinês com os da Europa e EUA. Mostra que devemos criar um novo modus vivendi. A pandemia funciona como uma lupa que amplifica as tensões econômicas já existentes.
P. Que lições devemos extrair desta crise?
R. Ela nos ensina como nossas prioridades estiveram equivocadas nas últimas quatro décadas. Quanto trabalhamos para ter mais globalização econômica, como investimos pouco em assegurar os bens necessários para a saúde pública. Se tivéssemos dado a mesma importância à Organização Mundial da Saúde que à OCDE ou ao FMI, teríamos nos saído melhor. A crise é um aviso de que a melhor globalização seria a que se construísse em torno de bens públicos, como evitar a mudança climática ou lidar com as pandemias no âmbito da saúde pública. E não ter dedicado tanto interesse a assuntos como liberalizar o comércio ou os fluxos internacionais de capital.
P. É também um chamado de atenção a seus colegas, aos quais você critica pela obsessão com os modelos matemáticos?
R. Não acredito que o problema seja usar a matemática, que é apenas uma forma de garantir que não nos enganamos. Mas ela é um problema se fizer que deixemos de nos fazer as perguntas fundamentais. Um bom efeito da crise é que empurra os economistas a nos fazermos essas perguntas importantes. Vemos isso na quantidade de pesquisa acadêmica que está sendo publicada. Acredito que os economistas estejam respondendo ao desafio.
P. Você falou da boa saúde do Estado-nação. Ele sairá fortalecido desta crise? Está de volta? Ou será que na realidade, apesar do declínio tantas vezes prognosticado, nunca foi embora?
R. Sim, a decadência do Estado-nação ocorreu mais em nossa imaginação que na realidade. Quando havia uma crise, quem estava lá? Os Governos nacionais. Mas agora é muito mais evidente. Chama a atenção o papel da política industrial, que parecia ter desaparecido. Os países na verdade se ocupavam dela, mas era algo do que não se falava. E agora tanto nos EUA como na UE estas políticas voltam com muita força. Porque é preciso competir com a China, mas também porque é preciso assegurar a produção para cobrir, por exemplo, as necessidades sanitárias. É uma mudança muito importante na narrativa.
P. Você foi muito crítico com a gestão europeia da crise anterior. Mas o Banco Central Europeu, a Comissão Europeia e os Governos nacionais agiram agora com mais rapidez e decisão. Vemos finalmente uma resposta comum à crise?
R. É certo que desta vez foi mais rápida e efetiva, em parte graças à experiência da crise anterior. O fundo de recuperação proposto pela Comissão Europeia é um passo importante. E parece que a ideia de mutualizar a dívida se infiltra na UE. Resta ver se será um primeiro passo em um processo que leve a uma união fiscal e política ou uma resposta única a esta crise. Mas que a França e Alemanha tenham chegado a um acordo e que a Alemanha tenha aceitado o fundo é ótimo sinal. Isso não aconteceu há 12 anos.
P. Isto o deixa mais otimista com o futuro do euro?
R. Honestamente, não sei. A Europa deve escolher entre uma união fiscal e política real, ou recuar em sua integração. Essa é a opção em longo prazo. A única forma de superar feridas como o Brexit é criar uma comunidade política transnacional onde as pessoas se sintam representadas. É um caminho longo, mas será preciso decidir se se deseja trilhá-lo. Se não, temo que o Brexit será o primeiro passo em um processo de desintegração econômica. Se não se avançar por esse caminho, a união não poderá se manter em sua forma atual.
P. Ao falar de seu famoso trilema, segundo o qual os países têm que escolher dois destes elementos: democracia, hiperglobalização e soberania nacional, você diz que em nenhum lugar isso é tão verdadeiro como a Europa. A qual destas pernas a Europa poderia renunciar?
R. Sempre fui a favor da integração política na Europa. Mas estou consciente de que esse caminho é mais difícil depois das decisões tomadas na crise do euro. Em lugar de ser abordada como uma oportunidade para construir instituições melhores, uns puseram a culpa nos outros, numa história de esforçados trabalhadores alemães frente a gregos indolentes e endividados. Isso inflamou as tensões nacionais e deu força aos populistas. A reposta a essa crise fez que a integração política agora seja mais difícil. O fundo de 750 bilhões [de euros; 4,37 trilhões de reais] tem como mudar isso? Tenho alguma esperança de que haverá a solidariedade de que a Europa necessita para avançar na integração política. Anima-me que a Alemanha tenha aderido. Estou mais otimista, mas ainda há muitas dúvidas.
P. A desindustrialização afeta a países como a Espanha, que assiste ao fechamento de importantes fábricas. E a crise atual agravará esse processo. Que respostas os Governos podem dar?
R. É muito difícil aumentar o emprego na indústria. Talvez seja impossível. Os empregos de qualidade que queremos não virão da indústria, e sim dos serviços. Para um país como a Espanha, virá do turismo, das finanças, da educação, da saúde… Será preciso pôr em marcha regulações que permitam ao mesmo tempo aumentar a produtividade e o emprego de qualidade.

“OS AUTOCRATAS COMO TRUMP RESPONDEM PIOR À PANDEMIA”

Dani Rodrik concorda quando Estados Unidos e Brasil são mencionados entre os países mais afetados pela pandemia. Tanto Donald Trump como Jair Bolsonaro são líderes populistas que se gabam de ter todas as respostas, algo que esta crise contribuiu para desmentir. “Não me surpreende que autocratas como Bolsonaro, Trump ou até certo ponto Boris Johnson estejam respondendo pior à crise do coronavírus”, responde. “Há anos publiquei uma pesquisa em que comparava países com sistemas mais democráticos e liberais com outros onde a classe política tinha maiores tendências populistas e autoritárias. A ideia de que esses regimes respondiam melhor a choques externos ao permitirem que seus líderes tomem decisões rápidas, por não terem que negociar e chegar a acordos, não se sustentava nas análises que fiz sobre crises ocorridas nos anos setenta e oitenta do século passado. Acredito que isto seja assim porque os sistemas mais democráticos usam melhor a informação, porque contam com mecanismos onde todos os setores da sociedade possam apresentar seus pontos de vista”, afirma o economista de origem turca. Ele não esconde sua avaliação negativa sobre líderes como o norte-americano Trump e o turco Recep Tayyip Erdogan, a quem criticou em diversos artigos por suas tendências autoritárias. “São regimes em que só importa a visão de uma pessoa. Nos EUA se viu como Trump desprezou a opinião dos cientistas. E isto é muito mais fácil de fazer em um regime autocrático”, afirma.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Dani Rodrik: from Harvard to Princeton's Institute of Advanced Study, and a new blog...

Bem, eu já conheço (razoavelmente) o pensamento de Dano Rodrik (senão uma parte de sua obra) desde algum tempo. Agora, graças a seu anúncio de "mudança" para Princeton eu tomo conhecimento de que o Institute for Advanced Studies, onde pontificaram durante muitos anos George Kennan e Albert Hirschman (dois grandes pesquisadores e escritores, mas professores sofríveis) não pertence à Universidade, mas é independente. Eu sempre pensei que ele fosse uma espécie de fundação independente da Universidade, onde estive recentemente justamente para uma homenagem a Albert Hirschman, durante a qual comprei sua biografia por Jeremy Adelman.
Rodrik agora vai ocupar a cadeira que homenageia o grande economista, como ele um multidisciplinar, um pensador social, mais do que um economista.
Meus parabéns, portanto, e sucesso.
Paulo Roberto de Almeida

Dani Rodrik's Weblog

JUNE 27, 2013

quinta-feira, 27 de junho de 2013

O passado, o presente e o futuro da industrializacao - Dani Rodrik (paper)

Um excelente estudo comparativo, mostrando que o mundo é menos róseo do que gostaríamos que fosse, em termos de crescimento e de igualdade, apontando, várias vezes, para menos crescimento, e sobretudo mais desigualdade. Em todo caso, não existem fatalidades, embora as tendências estruturais, como mostra o economista Dani Rodrik, sejam realmente bem "pesadas".
A América Latina e o Brasil não fazem muito bonito no cenário, mas tampouco são os piores. Apenas alguns países estagnaram, outros recuaram. Nem preciso dizer quais, não é mesmo?
Paulo Roberto de Almeida
PS.: Agradeço a meu amigo André Eiras por me ter chamado a atenção para este paper.

The Past, Present, and Future of Economic Growth
Dani Rodrik

Abstract
Developing countries will face stronger headwinds in the decades ahead, both because the global economy is likely to be significantly less buoyant than in recent decades and because technological changes are rendering manufacturing more capital and skill intensive. Desirable policies will continue to share features that have served successful countries well in the past, but growth strategies will differ in their emphasis. Ultimately, growth will depend primarily on what happens at home. The challenge is therefore to design an architecture that respects the domestic priorities of individual countries while ensuring that major cross-border spillovers and global public goods are addressed.

Keywords: Economic growth, cross-border spillovers, income distribution, China, income inequality, industrialization, global supply chains, natural resource exporters

WORKING PAPER 1
JUNE 2013
Global Citizen Foundation
Phone: +41 (0) 225 18 0265
e-mail: info@gcf.ch2
The Past, Present, and Future of Economic Growth

Neste link: http://www.gcf.ch/wp-content/uploads/2013/06/GCF_Rodrik-working-paper-1_-6.17.131.pdf

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Dani Rodrik: entrevista sobre politicas economicas - Carta Capital

Entrevista / Dani Rodrik


Entrevista Dani Rodrik condena as políticas de austeridade, prevê o fim dos milagres econômicos e diz que nações como o Brasil levam vantagem
A EDUARDO GRAÇA, DE BOSTON
Um dos mais respeitados professores da Universidade Harvard, titular de Política Econômica Internacional da Escola John F. Kennedy, o economista de origem turca Dani Rodrik integra um grupo consistente (e crescente) de analistas críticos aos programas de austeridade adotados na Zona do Euro. "O que acontece na Europa é um assalto à democracia", define.
Autor de Has the Globalization Gone Too Far (1997), One Economics, Many fíecipes (2007) e The Globalization Paradox (2011), Rodrik concedeu a entrevista a seguir em seu escritório em Cambridge antes da polêmica sobre o erro de cálculo cometido pelos economistas Carmen Reinhart e Keneth Rogoff em estudo a respeito da relação entre endividamento e crescimento econômico, na verdade um libelo em defesa das políticas de austeridade preconizadas por conservadores e aplicadas na Europa com os resultados até aqui conhecidos. Um dia antes da entrevista, o acadêmico postara, no entanto, o seguinte comentário no Twitter sobre o lançamento de Austerity: The History of a Dangerous Idea, do diretor dos programas de graduação em Relações Internacionais e Estudos de Desenvolvimento da Universidade de Brown, Mark Blyth: "Foi preciso um cientista social para denunciar a insanidade das políticas econômicas baseadas o na austeridade".
Segundo o economista, a era dos "milagres econômicos" passou, o crescimento das economias tende a ser mais lento, mas os países com forte mercado interno e projetos de inclusão social estão em melhor posição para avançar. "O Brasil segue como uma dessas nações", afirma.
Rodrik será o principal palestrante do 1o Fórum de Economia promovido por CartaCapital. O seminário acontece na terça-feira 7, no Hotel Renaissance, em São Paulo, a partir das 9 da manhã. Após sua exposição, o economista responderá a perguntas do ex-ministro Delfim Netto e de Luiz Gonzaga Belluzzo, consultor editorial de CartaCapital.
Carta Capital: O senhor escreveu há um ano que países como Brasil, Índia e Coreia do Sul estão em posição melhor do que os demais para enfrentar os novos desafios econômicos globais. Continua a ter a mesma opinião sobre o Brasil?
Dani Rodrik: Sim. Obviamente o Brasil não teve um ano bom em termos de crescimento econômico. Mas não acho que deveríamos ser obcecados com variações anuais do PIB. Deveríamos, na verdade, estar prontos para crescimentos menores globais nas próximas décadas. O contexto global será menos propício a expansões econômicas significativas, se compararmos com o cenário dos últimos 25 anos. Mesmo países cujas economias vão relativamente bem experimentarão ventos bravios. Nesse contexto, países com grande mercado interno, que investem na inclusão social e se beneficiam mais de um dinamismo real de sua economia do que da súbita entrada de capital e dos humores do mercado, no âmbito de uma democracia robusta, estarão em melhor posição para atravessar os tempos duros. O Brasil, há um ano e hoje também, segue como uma dessas nações."
CC: Não se pode julgar a economia de um pais por um ano ruim, como o senhor diz. Mas há a percepção neste momento de que o Brasil deixou de ser um favorito do mercado. 0 senhor vê razão para essa mudança?
DR: Os humores das finanças globais e dos investidores internacionais variam muito. A pergunta aqui é: como os investidores brasileiros, os empresários brasileiros, os industriais brasileiros, veem a economia nacional? Tenho certeza de que eles terão uma série de queixas, mas eu pediria que refletissem sobre essa questão de forma global. Eles estariam em situação melhor na Rússia, na Turquia, na Venezuela?
CC: O índice de desemprego no Brasil bateu um recorde histórico de baixa e a inflação se mantém em patamar um pouco incômodo. Economistas do País defendem aumentar o desemprego para conter os preços. O que o senhor acha?
DR: Discordo completamente dessa linha de raciocínio. As políticas sociais implantadas pelo Brasil nas últimas décadas são importantíssimas, por vários aspectos. Primeiramente, elas são uma resposta coerente às demandas sociopolíticas da sociedade brasileira. Elas também constroem paulatinamente legitimidade para o modelo democrático brasileiro. Esses são dois objetivos de suma importância. Além disso, elas fortalecem as credenciais econômicas do Brasil. Repito: há um novo cenário econômico global em que o peso do mercado doméstico é cada vez maior. Quanto mais consumidores, quanto maior a classe média, mais diversa e saudável sua estrutura econômica será. A estratégia de crescimento econômico brasileiro precisa necessariamente passar pelo fortalecimento dessa nova classe média. É claro que toda essa transformação precisa se darem um cenário fiscal sustentável, mas não vejo os níveis de dívida no Brasil ingovernáveis. A não ser que o Brasil cresça muito, mas muito pouco mesmo nos próximos anos, não vejo sinais no horizonte que justifiquem essas medidas.
CC: Segundo o senhor, chegamos ao fim da era dos milagres econômicos e de agora em diante o crescimento será fruto de um investimento cada vez maior em capital humano. O Brasil tem um grave problema educacional. É um empecilho, não?
DR: Sim. Crescimento econômico como aquele registrado no Brasil e outros países nos anos 60 e 70 não haverá mais. Foi uma espécie de crescimento sem grande esforço. Você poderia colocar um trabalhador rural com pouquíssima educação em uma fábrica de sapatos e, imediatamente, triplicar a produtividade e o lucro. Só era necessário algum capital de investimento para as fábricas. No Brasil, esse investimento, como sabemos, deu-se com uma alta carga protecionista. Esse caminho acabou. O tipo de trabalho que gera cresci mento hoje necessita muito mais especialização e consistência de investimento de capital. Além disso, exige uma série de regulamentações e instituições muito mais sofisticadas do que no passado. O crescimento não será imediato e precisará, em sua maioria, vir do setor privado em cooperação com os setores públicos. Vejo cada vez menos uma demarcação clara de onde se é públ ico, onde se é privado.
CC: Um dos tópicos debatidos no mais recente encontro dos chamados BRICS, na África do Sul, foi a criação de um Banco Mundial dos países emergentes. Também se falou de uma opção ao FMI. Qual o significado dessas iniciativas?
DR: São propostas inegavelmente importantes e que podem ter um impacto na economia global. Mas gostaria de ver o foco dos BRICS na geração de novas ideias e novas estratégias de desenvolvimento voltadas especificamente para mercados emergentes. Os BRICS deveriam deixar de se pautar pelo mercado financeiro e pelos fluxos de capitais e investimentos. A economia global não precisa de mais instituições de financiamento. Da perspectiva dos mercados emergentes, é preciso mais e melhores ideias. Precisamos do enfraqueci mento da hegemonia das instituições criadas pelos países desenvolvidos, inclusive desta em que estamos, Harvard, em oferecer ideias que os demais necessariamente discutem, seguem, aplicam. Já é tempo de os BRICS terem confiança para contribuir de forma decisiva no universo do pensamento econômico e social. Não precisamos de mais um fundo de investimentos, e sim de linhas de pensamento diversificadas daquelas do "centro".
CC: Como o senhor vê o efeito do impasse ideológico entre democratas e republicanos na maior economia do planeta?
DR: O efeito dessa bata lha é extrema mente debilitante para a economia norte-americana. E é muito difícil para um observador local não se mostrar pessimista ante essa disputa ideológica divorciada da realidade, dos fatos. Por outro lado, precisamos levarem conta a longa tradição política americanado pragmatismo. Essa característica possibilita certa margem de movimentação distante do asfixiamento ideológico de Washington. Desde os anos 80, os Estados Unidos eram vistos como um paraíso fundamentalista do livre-mercado. No dia a dia, você percebe o pragmatismo no tamanho da intervenção do Estado, em níveis federal, estadual e local, na economia do país, em colaboração com o setor privado. Vê-se esse pragmatismo na prática, por exemplo, no estabelecimento de uma política industrial nacional, com incentivos a novos empreendimentos e a projetos inovadores. Minha esperança é de que a tradição do pragmatismo fale mais alto do que o impasse ideológico.
CC: Qual o papel das escolas de pensamento econômico dos EUA nesta guerra de ideias que atravanca o crescimento da economia americana?
DR: Criticam-se os economistas por não termos visão estratégica, por nos tornarmos tecnocratas, menos visionários. Talvez isso seja bom. Economistas visionários tendem a causar mais danos do que avanços. O último grande visionário americano foi Milton Friedman, um senhor economista, que conseguiu mudar a política econômica global de forma decisiva, e de forma positiva em vários aspectos. Mas sua visão de um sistema de mercado em competição com o governo, da impossibilidade de um ser o complemento do outro, do Estado compreendido como inimigo do mercado, ainda nos custa muito nos dias de hoje. Espero que os economistas sejam os generais de um exército no rumo certo, mas não os vejo necessariamente como os lideres da batalha.
CC: O senhor escreveu recentemente no,Twitter, ao receber o livro Austerity: The History of o Dangerous Ideo, de Mark Blyth, que "precisávamos de um cientista social para nos falar da insanidade das políticas econômicas de austeridade" É esta a palavra correta, insanidade?
DR: E difícil encontrar outra. E uma ilusão, baseada em atitudes morais e políticas independentes da economia. A economia é clara. Quem continuar a argumentar em favor de uma política econômica baseada em austeridade fiscal nos Estados Unidos, por exemplo, o fará por questões morais - quem pegou emprestado deve pagar, é sua vez de sofrer, similar à lógica dos alemães em relação aos espanhóis e gregos na Comunidade Europeia - ou por uma concepção política oportunista, a de se usar o momento econômico para diminuir o papel do Estado. É o uso político-ideológico da crise econômica.
CC: O senhor acredita na inevitabilidade do tão falado declínio político e econômico dos EUA?
DR: Declínio é um exagero e o futuro dos Estados Unidos passará pelo resultado dessa luta entre o pragmatismo e as ideologias conflitantes das quais falávamos há pouco. Mas sou otimista em relação ao futuro americano, especialmente se comparado com o Japão e a Comunidade Europeia. As novas descobertas de petróleo e gás natural são um fator importante. O país seguirá um farol de inovação, diversidade e liberdade para o restante do planeta.
CC: Os BRICS falam em incrementar transações comerciais sem passar pelo dólar. O senhor crê que a moeda americana deixará de ser a unidade monetária padrão para negócios planetários no futuro?
DR: Essa transformação é inevitável. O papel do dólar será diminuto, mas ele seguirá como uma das mais importantes moedas internacionais, fundamental para as reservas de muitos países. Esse declínio não terá, porém, grande relevância para a economia internacional.
CC: O avanço militar da China e as tensões com seus vizinhos do Pacífico, mais do que a redução do ritmo de crescimento do país, podem ser um complicador para o cenário econômico global?
DR: Politicamente, o avanço chinês representa a dissolução do cerco de segurança norte-americano no Pacífico e é reflexo do fim da ordem americano-europeia global. E um novo mundo onde a China não é apenas uma potência econômica, mas política e militar. O mistério é como a China exercerá sua influência global. Logo após a Segunda Guerra Mundial, a hegemonia americana deu-se pela projeção de seu poder baseado em um sistema democrático interno. Foi, de certa forma, um exercício de poder liberal. Obviamente, quando impuseram a visão americana em instituições criadas nos acordos de Bretton Woods, o beneficiário maior foram os Estados Unidos. Mas regras de transparência, de não discriminação, foram princípios que beneficiaram todo o planeta. O receio é que os princípios chineses ignorem a ideia global, valorizem a falta de transparência, o aumento da burocracia, os acordos caso a caso, o que não beneficiaria a comunidade internacional. Brasil e índia, os dois países democráticos dos BRICS, são peças importantíssimas nesse tabuleiro. Quando Brasil e índia usam seu poderio econômico de forma global, é importante perceber se eles estão de fato projetando os valores de suas vibrantes democracias. Para o futuro da economia global, seria fundamental que o fizessem.
CC: Em seu mais recente livro, O Paradoxo da Globalização, o senhor defende a impossibilidade de países serem ao mesmo tempo democracias modernas, contarem com uma economia globalizada e manterem um senso de soberania nacional. O que observamos na Espanha, Portugal, Grécia e Chipre é a ausência de democracia nas decisões econômicas praticadas pelas lideranças desses países?
DR: Sem dúvida, o que acontece na Europa hoje é um assalto à democracia. Quando elaborei esse tripé, há mais de dez anos, não poderia adivinhar a crise da Comunidade Europeia, um exemplo vivo do que propus. O que vemos nesses países é a entrega do poder decisório democrático a Bruxelas e Berlim, que não representam o destino dos cidadãos espanhóis, portugueses, cipriotas e gregos. E algo semelhante ao século XIX, quando a política econômica estava em piloto automático, imposta pelas regras do padrão-ouro, não importando os índices de desemprego, a deflação ou o sofrimento dos trabalhadores rurais. Não havia como o Estado se mover. O mesmo se vê agora na Zona do Euro.
CC: O estabelecimento de governos tecnocratas, como as experiências de Grécia e Itália, é uma solução possível para a crise?
DR: Não. São experiências temporárias, não soluções de longo prazo. A democracia também serve a uma função econômica. Tecnocratas deslocados dos eleitores não são garantia alguma de estabelecimento de políticas que levem em conta o desejo da maioria. Você apenas joga com a sorte. A questão europeia é saber qual das três pontas do tripé se manterá. As economias da periferia continuarão a se submeter à ideia de que só há uma regra econômica possível, manter-se na Zona do Euro, seguindo as regras de Berlim e Bruxelas, como se estivessem no século XIX? Ou a Comunidade Europeia será mais parecida com os EUA, terá um caráter mais federativo, em que o peso da realidade local será levado em conta? Infelizmente, essa janela para a grande transição europeia, neste momento, parece-me improvável, pois exigiria enorme investimento institucional e grande desapego de lideranças. A outra opção é a saída de alguns países da Zona do Euro, mais provável hoje.
CC: Quais os impactos na economia mundial do encolhimento da Comunidade Europeia?
DR: Seja qual for a solução encontrada, a Zona do Euro continuará a complicar o cenário econômico global. A saída de Grécia e Chipre, por exemplo, da Zona do Euro, após o choque inicial, pode ser boa tanto para a Comunidade Europeia quanto para a economia global.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

BRICS demais, bricks de menos... - Dani Rodrik

O que o mundo precisa dos Brics?


Por Dani Rodrik

Em 2001, Jim O'Neill1, do Goldman Sachs, cunhou celebremente o termo Bric para referir-se às quatro maiores economias em desenvolvimento - Brasil, Rússia, Índia e China. Mais de dez anos depois, no entanto, o único fator em comum desses países é que são as únicas economias entre as 15 maiores do mundo (ajustadas pela paridade do poder de compra) a não fazer parte da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Os quatro países têm estruturas econômicas muito diferentes: Rússia e Brasil baseiam-se nas commodities; a Índia, no setor de serviços; e a China, na indústria. Brasil e Índia são democracias, enquanto China e Rússia, definitivamente, não o são. E, como escreveu Joseph Nye2, a Rússia é uma superpotência em declínio, enquanto a China e (em menor medida) os outros dois estão em ascensão.
Ainda assim, em um raro caso em que a vida imita a imaginação, os Brics (os quatro originais mais a África do Sul, que passou a fazer parte do grupo posteriormente) formaram um grupo real entre eles, com encontros periódicos e iniciativas comuns de política econômica. A ideia mais ambiciosa até agora é a criação de um banco de desenvolvimento do grupo.
 Em sua reunião em Durban, em março, os líderes dos cinco países anunciaram que seu "Novo Banco de Desenvolvimento" vai ter foco em investimentos em infraestrutura de países em desenvolvimento, que, segundo eles, veem-se limitados por "investimentos externos diretos e financiamentos de longo prazo insuficientes". Eles comprometeram-se a fazer uma contribuição inicial de capital ao banco que seria "substancial e suficiente para o banco atuar no financiamento à infraestrutura".
Uma segunda iniciativa anunciada em Durban foi a criação de uma linha de crédito contingente de reserva de US$ 100 bilhões para lidar com "pressões de liquidez de curto prazo".
O fato de as maiores economias em desenvolvimento do mundo conversarem periodicamente e estabelecerem iniciativas comuns só pode ser motivo de aplausos. Ainda assim, é decepcionante que tenham escolhido o financiamento à infraestrutura como foco para sua primeira grande área de colaboração conjunta.
Essa abordagem representa a ideia de desenvolvimento econômico dos anos 1950, que há muito foi substituída por uma perspectiva mais diversificada, que aborda a multiplicidade de limitadores - desde a baixa governança até as falhas do mercado - cujo grau de gravidade varia de país a país. Seria até possível dizer que a economia global de hoje sofre de financiamento demais entre fronteiras e não de menos.
O que o mundo precisa dos Brics não é mais um banco de desenvolvimento, mas uma maior liderança quanto às grandes questões mundiais do momento. Os Brics são lar de cerca da metade da população e de grande parte do potencial econômico não explorado no mundo. Se a comunidade internacional deixar de enfrentar seus desafios mais graves - desde a necessidade de uma arquitetura econômica mundial sólida até as mudanças climáticas - os que vão pagar o maior preço serão os Brics.
Até agora, no entanto, esses países desempenharam um papel bastante tímido e pouco criativo nos fóruns internacionais, como o Grupo dos 20 (G-20) e a Organização Mundial do Comércio (OMC). Quando declararam alguma posição, foi em grande parte em busca de interesses nacionais estreitos. Será que eles realmente não têm nada de novo a oferecer?
A economia mundial até agora operou sob um conjunto de ideias e instituições que emanaram dos países avançados no Ocidente. Os Estados Unidos deram ao mundo a doutrina do multilateralismo liberal baseado em regras - um regime cujos vários defeitos acabam por destacar os nobres princípios segundo os quais o sistema funcionou em termos gerais. A Europa trouxe os valores democráticos, solidariedade social e, apesar de todos seus problemas atuais, o feito mais impressionante de engenharia institucional do século, a União Europeia.
Essas velhas potências, contudo, não têm a legitimidade nem o poder para sustentar a ordem global no futuro, enquanto as novas potências ascendentes ainda precisam demonstrar que valores vão articular e promover. Elas precisam desenvolver seu ponto de vista sobre uma nova economia global, um ponto de vista que vá além das queixas sobre sua estrutura de poder assimétrica. Infelizmente, ainda não está claro se elas estarão propensas a ir além de seus interesses imediatos para enfrentar os desafios em comum do mundo.
A experiência com seu próprio desenvolvimento torna países como China, Índia e Brasil avessos ao fundamentalismo de mercado e defensores naturais da diversidade institucional e da experimentação pragmática. Eles podem aproveitar essa experiência para articular uma nova história global que enfatize a economia real acima das finanças, a diversidade política acima da harmonização, a esfera da política nacional acima das restrições externas e a inclusão social acima do elitismo tecnocrático.
Mas precisam deixar de ser suplicantes e agir como verdadeiros líderes, compreender que os demais, incluindo também os países avançados, deparam-se com problemas que algumas vezes exigem políticas que coloquem sua economia doméstica em primeiro lugar. E os Brics precisam trabalhar para manter os princípios fundamentais que serviram tão bem à economia mundial - e a eles próprios - tão bem nos últimos 60 anos: multilateralismo e não discriminação.
Em última análise, porém, os Brics também precisam ser líderes dando o exemplo. As práticas de direitos humanos na China e Rússia, assim como a supressão da oposição política são incompatíveis com a nova liderança mundial. Esses regimes autoritários precisam reformar-se dentro de casa se quiserem exercer qualquer tipo de reivindicação moral no exterior.
Dani Rodrik professor de Economia Política Internacional na Universidade de Harvard, é autor de "The Globalization Paradox: Democracy and the Future of the World Economy (O paradoxo da globalização: a democracia e o futuro da economia mundial).

sábado, 7 de julho de 2012

O trilema europeu: moeda, soberania, democracia - NYTimes


Euro Zone Nations Wrestle With a 'Trilemma'
The New York Times, July 6, 2012

LONDON — So, let’s say you have mastered the euro zone concept of “financial contagion.” Maybe you even know a thing or two about the euro “doom loop,” in which sickly banks and indebted governments threaten to drag each other down a death spiral.
Time now to learn a new buzzword, one that captures the anxieties of those seeking long-term stability for the euro currency union: “trilemma.”
The term, coined a dozen years ago by a Harvard University economist writing about the global economy, has come to encapsulate the awkward political options confronting the 17 euro zone countries.
To make the currency union work for the long haul, euro countries’ heads of state have generally concluded that they must more fully integrate their economies. But within their own countries, the political leaders have only shallow support for that idea, if not outright resistance, from voters.
According to the trilemma theory, drawn in part from studies of the economic crises of 1930s and 1940s, it is possible to have two of three things: deep economic integration, democratic politics and autonomous nation-states.
But under the theory, it is not possible to have all three.
“To remain in the euro zone under current conditions, countries like Greece, Italy and Spain are increasingly being forced to give up decision-making authority to rules imposed by Germany,” said Dani Rodrik, the father of the trilemma theory.
“This is creating democratic stresses at home,” he said. “Ultimately, externally imposed austerity becomes incompatible with democracy at home.”
Mr. Rodrik, professor of international political economy at the John F. Kennedy School of Government at Harvard, first wrote about the trilemma idea in 2000, well before the euro zone debt crisis began. But he said the euro problems presented a perfect illustration of his theory.
It is much more than an obscure academic debate. Almost everyone now accepts that much closer economic integration is needed to save the euro.
But that raises the prospect of a reduced role for each nation-state within the currency bloc, and the creation of something closer to a federal structure for Europe, of the type that many of the original architects of the euro always expected to evolve.
A group of 10 European foreign ministers, with Guido Westerwelle of Germany as chairman, issued an interim report last month that argued for just such an approach.
The measures, the ministers wrote, could include a directly elected president of theEuropean Union’s executive body, the European Commission, a post now filled by a candidate nominated by the European Council and approved by a majority vote of theEuropean Parliament.
The report also proposed a pan-European minister of finance and a two-chamber parliament for Europe. Such a parliament might be able to initiate legislation — something the current European Parliament cannot do — and it would have a new, second chamber. How those second-chamber representatives would be selected was not specified.
The democracy question also surfaced late last month, when four of the European Union’s most senior officials published their blueprint on deeper monetary union.
“Integration and legitimacy have to advance in parallel,” said the paper by Herman Van Rompuy, president of the European Council; José Manuel Barroso, president of the European Commission; Mario Draghi, president of the European Central Bank; and Jean-Claude Juncker, the head of the euro zone finance ministers.
But they ducked the question of how such a parallel advance might be achieved.
One preliminary suggestion, which was to create a new parliamentary body for the euro zone, made up of members of the European Parliament and of national lawmakers from the 17 nations that use the currency, proved too controversial to be included in final draft of the four presidents’ blueprint.
Even so, in European capitals, the ideas dominating debate tend to center on the creation of a new euro zone parliament or on drawing national parliaments more closely into European decision-making — or some combination of the two.
Yet policy makers know the political context for making such changes is extraordinarily difficult. Nations in the euro zone’s southern tier are already facing years of fiscal austerity to meet their obligations to the currency union, while people in the stronger, northern economies that have provided financial guarantees for the bailouts are reluctant to take on further monetary burdens.
“We must respond to citizens in countries which undergo protracted structural adjustment and where unemployment is high,” Olli Rehn, a European Commission vice president who is responsible for economic and monetary union, said in a speech last month. “But we must also dispel the concerns of those citizens, who would otherwise perceive this process only as financing a supposedly perpetual flow of transfers.”
And it is difficult to argue for “more Europe” when smaller countries are already bristling at the decision-making power of larger countries and as long as bureaucrats in Brussels seem remote from voters.
“When Europe’s citizens and the authorities in Brussels look in the mirror, they don’t see each other,” said one European official, who was not authorized to speak publicly. “Yet every new step toward integration cuts closer to the sinews of the state — and in most countries that hurts.”
So how does Mr. Rodrik, the Harvard economist, propose that Europe resolve its trilemma?
A solution, in his view, might involve giving Greek, Spanish and Italian voters a greater say over euro zone decisions through a transnational system of democracy.
“This would be something like the U.S. federal system,” he wrote in an e-mail, “in which the federal government doesn’t bail out state governments but looks after residents of Florida, California, etc. directly because they are represented through their congressmen and senators.”
An alternative, Mr. Rodrik suggested, might be for those countries to leave the euro union, sacrificing greater economic and financial integration to regain sovereignty and democratic space.
“This is in essence the trilemma as it works out for the euro zone,” he wrote. “It says that economic union requires political union. The choice for Europe is either more political union, or less union — unless, that is, weaker countries are willing to give up on democracy.”
Another advocate of the theory, Nicholas Crafts, director of the Center for Competitive Advantage in the Global Economy at the University of Warwick, points to a historical parallel.
Under the 1944 Bretton Woods agreement, which proposed a system of convertible currencies and set up bodies including the International Monetary Fund, the side of the trilemma triangle that was sacrificed was economic integration, he said. Instead of merging economies, countries were permitted to limit the flow of capital across borders, giving them the freedom to pursue the economic paths they thought best.
The euro zone, Mr. Crafts said, is putting an unbalanced emphasis on fiscal union through tough rules on debts and deficits meant to prevent a repetition of the crisis.
“But we also need some compensating rules on the pooling of risks,” he said. “This would be a fiscal union that people want to belong to it; that has something to do with the federal level helping a state and not just disciplining it with a harsh straitjacket.”
But Mr. Crafts said the political realities of the euro zone might make such a federal helping hand difficult to create. “If you can’t deliver the federalism as well as the economic straitjacket,” he said, “you might see the euro zone breaking up.”

A version of this article appeared in print on July 7, 2012, in The International Herald Tribune.


domingo, 30 de maio de 2010

The Trilemma of Civilization - Dani Rodrik

Greek Lessons for the World Economy
Dani Rodrik
Project Syndicate, May 11, 2010

CAMBRIDGE – The $140 billion support package that the Greek government has finally received from its European Union partners and the International Monetary Fund gives it the breathing space needed to undertake the difficult job of putting its finances in order. The package may or may not prevent Spain and Portugal from becoming undone in a similar fashion, or indeed even head off an eventual Greek default. Whatever the outcome, it is clear that the Greek debacle has given the EU a black eye.

Deep down, the crisis is yet another manifestation of what I call “the political trilemma of the world economy”: economic globalization, political democracy, and the nation-state are mutually irreconcilable. We can have at most two at one time. Democracy is compatible with national sovereignty only if we restrict globalization. If we push for globalization while retaining the nation-state, we must jettison democracy. And if we want democracy along with globalization, we must shove the nation-state aside and strive for greater international governance.

The history of the world economy shows the trilemma at work. The first era of globalization, which lasted until 1914, was a success as long as economic and monetary policies remained insulated from domestic political pressures. These policies could then be entirely subjugated to the demands of the gold standard and free capital mobility. But once the political franchise was enlarged, the working class got organized, and mass politics became the norm, domestic economic objectives began to compete with (and overwhelm) external rules and constraints.

The classic case is Britain’s short-lived return to gold in the interwar period. The attempt to reconstitute the pre-World War I model of globalization collapsed in 1931, when domestic politics forced the British government to choose domestic reflation over the gold standard.

The architects of the Bretton Woods regime kept this lesson in mind when they redesigned the world’s monetary system in 1944. They understood that democratic countries would need the space to conduct independent monetary and fiscal policies. So they contemplated only a “thin” globalization, with capital flows restricted largely to long-term lending and borrowing. John Maynard Keynes, who wrote the rules along with Harry Dexter White, viewed capital controls not as a temporary expedient but as a permanent feature of the global economy.

The Bretton Woods regime collapsed in the 1970’s as a result of the inability or unwillingness – it is not entirely clear which – of leading governments to manage the growing tide of capital flows.

The third path identified by the trilemma is to do away with national sovereignty altogether. In this case, economic integration can be married with democracy through political union among states. The loss in national sovereignty is then compensated by the “internationalization” of democratic politics. Think of this as a global version of federalism.

The United States, for example, created a unified national market once its federal government wrested sufficient political control from individual states. This was far from a smooth process, as the American Civil War amply demonstrates.

The EU’s difficulties stem from the fact that the global financial crisis caught Europe midway through a similar process. European leaders always understood that economic union needs to have a political leg to stand on. Even though some, such as the British, wished to give the Union as little power as possible, the force of the argument was with those who pressed for political integration alongside economic integration. Still, the European political project fell far short of the economic one.

Greece benefited from a common currency, unified capital markets, and free trade with other EU member states. But it does not have automatic access to a European lender of last resort. Its citizens do not receive unemployment checks from Brussels the way that, say, Californians do from Washington, DC, when California experiences a recession. Nor, given linguistic and cultural barriers, can unemployed Greeks move just as easily across the border to a more prosperous European state. And Greek banks and firms lose their creditworthiness alongside their government if markets perceive the latter to be insolvent.

The German and French governments, for their part, have had little say over Greece’s budget policies. They could not stop the Greek government from borrowing (indirectly) from the European Central Bank (ECB) as long as credit rating agencies deemed Greek debt creditworthy. If Greece chooses default, they cannot enforce their banks’ claims on Greek borrowers or seize Greek assets. Nor can they prevent Greece from leaving the eurozone.

What all this means is that the financial crisis has turned out to be a lot deeper and its resolution considerably messier than necessary. The French and German governments have grudgingly come up with a major loan package, but only after considerable delay and with the IMF standing at their side. The ECB has lowered the threshold of creditworthiness that Greek government securities must meet in order to allow continued Greek borrowing.

The success of the rescue is far from assured, in view of the magnitude of belt-tightening that it calls for and the hostility that it has aroused on the part of Greek workers. When push comes to shove, domestic politics trumps foreign creditors.

The crisis has revealed how demanding globalization’s political prerequisites are. It shows how much European institutions must still evolve to underpin a healthy single market. The choice that the EU faces is the same in other parts of the world: either integrate politically, or ease up on economic unification.

Before the crisis, Europe looked like the most likely candidate to make a successful transition to the first equilibrium – greater political unification. Now its economic project lies in tatters while the leadership needed to rekindle political integration is nowhere to be seen.

The best that can be said is that Europe will no longer be able to delay making the choice that the Greek affair has laid bare. If you are an optimist, you might even conclude that Europe will therefore ultimately emerge stronger.

Copyright: Project Syndicate, 2010.
www.project-syndicate.org
For a podcast of this commentary in English, please use this link.
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