Recebi, em 15 de setembro de 2017, a visita do presidente e de membros do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba, na pessoa do Prof. Adilson Cezar e simpáticos acompanhantes, que vieram atribuir-me o
“Colar Evocativo do Jubileu
de Brilhante da Revolução Constitucionalista”. Abaixo, uma foto minha com os integrantes da comitiva, estando o Prof. Adilson Cezar à esquerda (ou direita, na foto).
Qual a origem dessa homenagem? Explico logo. Recebi, em 26 de julho último, a seguinte comunicação do presidente do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba, Prof. Adilson Cezar:
Sorocaba/SP, 26 de julho
de 2017.
Prezado amigo
Dr. PAULO ROBERTO DE
ALMEIDA.
DD. Diplomata.
(...)
Venho comunicar-lhe a
satisfação de poder agracia-lo com a condecoração “Colar Evocativo do Jubileu
de Brilhante da Revolução Constitucionalista” em conformidade com os anexos –
ofício informativo da outorga da condecoração “Colar Evocativo do Jubileu de
Brilhante da Revolução Constitucionalista”, e da competente ficha de
concessão.
(...)
Adilson Cezar
Minha primeira atitude, por não me considerar merecedor de tal comenda, foi de recusa do citado colar, cuja reprodução está acima, pela seguinte mensagem:
"Resposta em 31 de julho de 2017:
Caro Adilson,
Desejo, em primeiro lugar, agradecer
imensamente, e sinceramente, a honra que me é feita nesta comunicação, que
respondo tardiamente, devido a uma semana extremamente carregada de trabalho.
(...)
Quanto à nova honraria que pensa me fazer,
devo ser absolutamente sincero, como sempre sou, e dizer-lhe que não me julgo
merecedor da comenda.
A despeito de ser paulista, e de ter, como
democrata, os mesmos sentimentos democráticos que impulsionaram os revoltosos
de 1932, contra um governo provisório que se transformava em caudilhismo
arbitrário, não creio que eu possa figurar entre os contemplados com a
distinção relativa à Revolução Constitucionalista.
Saí de SP aos 21 anos para estudar fora do
país, voltei sete anos depois, ingressando logo em seguida na diplomacia, para
passar quase a metade do período decorrido desde então no exterior. Sempre
estou ligado a SP, por atividades acadêmicas e profissionais, e costumo
frequentar regularmente vários eventos na capital.
Entendo, contudo, que a condecoração deva
contemplar precisamente aqueles bem mais vinculados às atividades paulistas, e
não me considero enquadrado, mesmo sem conhecer o estatuto que regula a
honraria, nessa categoria.
Desculpando-me humildemente por esta postura,
mas que encontro justificada objetivamente, agradeço uma vez mais esta
distinção que me é feito, e coloco-me à disposição para o que puder ajudar no
âmbito do IPRI, do qual sou agora o diretor.
O abraço do Paulo Roberto de Almeida"
Nova comunicação, desta vez em 2 de agosto, do concedente:
Sorocaba/SP,
02 de agosto de 2017.
Meu prezado amigo
Dr. PAULO ROBERTO DE ALMEIDA.
Diretor do Instituto de
Pesquisa de Relações Internacionais (Funag-MRE).
Li com atenção sua
resposta ao meu oferecimento da condecoração Colar Evocativo do Jubileu de
Brilhante da Revolução Constitucionalista de 1932, e agradeço a sua posição
clara e objetiva.
Mas perdoe-me discordar
de seu ponto de vista – e por isso acredita-lo como estudioso merecedor sim
dessa honraria. Permita-me além do fato de ser paulista, como pesquisador
dedicado a recuperação histórica de nosso país – encaixa-se perfeitamente no
escopo dos propósitos desta:
Infelizmente penso que eu
errei no ato de lhe comunicar em não informar a respeito do regulamento da
mesma (como deixa claro em sua estimada resposta).
Regulamento: ".....tem por objetivo homenagear personalidades brasileiras
ou estrangeiras, bem como instituições que tenham colaborado para a divulgação
e estudos, relacionados com a nossa História e em particular àqueles que dizem
respeito à gloriosa epopeia da Revolução Constitucionalista de 1932”.
Poderia ainda desfilar
“n” motivos para lembrar que a Revolução Constitucionalista de 32, não deve ser
caracterizada como exclusividade dos paulistas, mas sim de todos nós
brasileiros. Tenho certeza de que sabe disso melhor do que ninguém.
Este meu arrazoado se faz
não com a intenção de demovê-lo, o que pode realizar a qualquer momento,
bastando para isso nos comunicar dessa sua decisão. Temos sim necessidade de
lhe esclarecer e mais ainda de demonstrar que a mesma tem fundo meritório aos
nossos olhos em seus trabalhos.
(...)
Sugiro ao amigo, que com
o tempo, reveja seu trabalho com olhar menos exigente, e perceba que pode sim
ostentar com justificativa uma condecoração como essa que lhe oferecemos. Se
amanhã, modificar essa opinião – por favor, nos comunique – pois poderemos aqui
em Sorocaba, recebe-lo em outra ocasião e ou até em uma de nossas passagens por
Brasília (...) poderemos
fazer aí esse imposição (já temos anteriormente feito isso...).
(...)
Muito obrigado pela
manifestação e a cortesia demonstrada.
Forte abraço.
Adilson Cezar.
De fato, o regulamento do Colar (aqui acima reproduzido em sua capa), esclarece em seu Preâmbulo que:
A finalidade deste Colar é galardoar personalidades brasileiras e estrangeiras, assim como instituições e pessoas físicas que tenham colaborado para a realização de estudos e divulgação de fatos históricos, que enalteçam a gloriosa memória de São Paulo e do Brasil.
O "do Brasil", e mesmo o "de São Paulo", cobrem, portanto, minha condição de pesquisador, de produtor de conhecimentos didáticos, relativos à nossa história, na qual São Paulo desempenha um papel fundamental na construção do Brasil contemporâneo, sobretudo do lado da economia, onde se concentram meus esforços de pesquisa e de sistematização do itinerário de nossas relações econômicas internacionais, no qual o café desempenha um papel fundamental.
Em função dessas considerações, decidi escrever o que segue ao presidente do IHGGS:
De: Paulo R. Almeida
Enviada em: quarta-feira,
2 de agosto de 2017 09:36
Para: Adilson Cezar
Assunto: Re: Ainda a condecoração.
Caríssimo Adilson Cezar,
Eu lhe sou muito grato pelas amplas especificações e explanação
sobre o sentido e os propósitos da honraria vinculada à Revolução
Constitucionalista de 1932, com as quais concordo plenamente, o que me permite
revisar minha posição, de princípio, de estritamente aceitar unicamente as
homenagens de que me julgo merecedor, e jamais compactuar com atribuições
políticas ou meramente cerimoniais.
Sou contrário, por exemplo, a quaisquer atribuições desse tipo de
honraria, em qualquer nível da federação, unicamente por desempenho de cargo,
eleito ou em comissão, uma vez que entendo que os estatutos dessas ordens as
prescrevem para aqueles que tenham, efetivamente, prestado relevantes serviços
naquelas áreas de atividades pertinentes à comenda, o que sempre envolve algo
mais, e um tempo maior de desempenho, do que simples eleição para o cargo ou
escolha para desempenho de função, o que pode ter sido obtido meramente por
compadrio (quando não por conivência ou cumplicidade), por nepotismo,
fisiologismo e outros “isso" ainda mais nefastos.
No passado, pensei em devolver minha Ordem do Rio Branco quando
com ela foi contemplado um conhecido e notório corrupto (...). Só não o fiz porque essa
Ordem divide claramente os agraciados entre os diplomatas do quadro e todos os
demais contemplados, (...).
Neste caso, permito-me indicar-lhe que é com prazer que aceito a
honraria, não por qualquer “paulistice” de minha parte — o que seria até
geograficamente incorreto, uma vez que apenas nasci no estado, e na capital,
mas dele me encontro afastado desde que ingressei no serviço público federal, e
também porque não cultivo qualquer tipo de “patriotice” piegas — mas justamente
pelo sentido que ela possui na justificativa alinhada em suas palavras, qual
seja, a de "homenagear personalidades brasileiras ou estrangeiras, bem como
instituições que tenham colaborado para a divulgação e estudos, relacionados
com a nossa História e em particular àqueles que dizem respeito à gloriosa
epopeia da Revolução Constitucionalista de 1932”.
Mesmo sem ser um historiador paulista, ou sequer historiador tout
court, creio que tenho oferecido certa agregação de valor ao conhecimento
histórico vinculado à diplomacia brasileira, em diversos trabalhos de cunho
historiográfico ou de interpretação sociológica sobre nossas relações
internacionais do passado e do presente, o que provavelmente me permite
integrar um pequeno corpo de estudiosos voluntários (ou seja, não
profissionais) engajados na pesquisa e divulgação de aspectos relevantes da
inserção global do Brasil. São Paulo é, desde a segunda metade do século XIX,
pelo menos, uma espécie de locomotiva do desenvolvimento brasileiro, não apenas
no sentido material do termo, mas igualmente na dimensão “mental", ou
espiritual, e intelectual dos progressos brasileiros em quaisquer terrenos nos
quais se tenham exercido seus habitantes originais, índios, portugueses,
brasileiros, e mesmo os imigrantes que vieram para dar sua contribuição à
produção de riqueza neste pedaço do Brasil.
Como muitos, sou descendente de imigrantes pobres, até
analfabetos, que vieram ao Brasil entre o final do século XIX e início do XX,
para, de certa forma, substituir os antigos escravos nas plantações de café, e
aqui puderam, italianos e portugueses, educar os seus filhos e “produzir”
paulistas que deram continuidade aos esforços de criação de riqueza e de
renda.
Não sou particularmente um estudioso da Revolução paulista, ou
Constitucional, mas sempre me revoltei contra as versões “carioca” ou “gaúcha”
de nossa historiografia, que classificam a revolução como sendo secessionista,
ou “oligárquica”, pois ela traduziu, justamente, as aspirações dos democratas e
liberais do estado, e de muitas outras partes do Brasil, que tinham perdido as
esperanças, a dois anos da revolução da Aliança Liberal, na liderança
castilhista e autoritária que levaria o Brasil a uma ditadura fascista poucos
anos adiante.
Tenho prazer, assim, em dar-lhe meu assentimento à concessão da
comenda, e dizer-lhe que me sinto orgulhoso de fazer parte de uma pequena
confraria de homenageados por serviços prestados ao estado e ao país, sem
quaisquer objetivos oportunistas ou compensatórios. Terei prazer em comparecer
à cidade, na primeira oportunidade possível, para transmitir um pouco do
conhecimento acumulado e da experiência adquirida em algumas décadas no exercício
da diplomacia ativa do país, e nos estudos empreendimentos em caráter
voluntário e particular, assim como estou à disposição para algum encontro em
Brasília com os mesmos objetivos. (...)
Agradeço, uma vez mais, a distinção feita, e coloco-me à
disposição para as demais disposição atinentes a este processo. Em anexo, um
breve currículo acadêmico e profissional mais atualizado.
(...)
Paulo Roberto de Almeida
Foi assim que recebi, no último dia 15, em meu escritório de Brasil, a comenda já reproduzida acima, acompanhada do respectivo diploma, como reproduzido abaixo.
Foram feitas muitas fotos na ocasião, que remeterei aos interessados oportunamente, e reproduzirei aqui, num limite aceitável.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 17 de setembro de 2017