O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador Raymond Aron. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Raymond Aron. Mostrar todas as postagens

domingo, 3 de janeiro de 2021

A França decadente dos anos 1930 e o Brasil atual: dá para comparar? - Paulo Roberto de Almeida

A França decadente dos anos 1930 e o Brasil atual: dá para comparar? 

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

[Objetivoestabelecer similaridadesfinalidadeFrança dos anos 1930, Brasil atual] 

 

Raymond Aron escreveu em suas memórias:

J’ai vécu les années ‘30 dans le désespoir de la décadence française... Au fond, la France n’existait plus. Elle n’existait que par les haines des Français les uns pour les autres.

[Vivi durante os anos ‘30 no desespero da decadência francesa... Na verdade, a França não mais existia. Ela só existia no ódio dos franceses uns contra os outros.]

[Frontspício ao capítulo 1, “Decline and Fall: the French Intellectual Community at the End of the Third Republic”, Tony Judt, Past Imperfect, French Intellectuals, 1944-1956 (New York: New York University Press, 2011; first edition: Berkeley: University of California Press, 1992)]

 

Sem querer comparar, mas comparando: tem algum cheiro de Brasil atual no ar?

Ou seja, também estamos decadentes?

O Brasil não existe mais?

Só existe Brasil no ódio dos brasileiros uns pelos outros?

Volto à pergunta inicial: dá para comparar o Brasil atual à França dos anos 1930?

Dificilmente, era um país farol do mundo pela sua intelectualidade, pelo prestígio de sua cultura, todos tinham Paris como a sua segunda cidade, a começar pelos americanos cultos e pelos brasileiros ricos.

Mas, a História tem suas surpresas...

Depois disso, veio a derrota, a ocupação, a humilhação de Vichy, o colaboracionismo (bem mais do que a Resistência, que só se manifestou, de verdade, ao final, com a contraofensiva dos aliados, e isso depois que nazistas e comunistas andaram se ajudando reciprocamente).

Não, não dá para comparar: a história da França contemporânea é muito mais dramática, trágica e vergonhosa.

A nossa, por enquanto, é só vergonhosa.

Quem diria que o Brasil otimista dos primeiros anos deste século caminharia, primeiro para o mais grotesco cenário de corrupção política em mega-escala, depois para a maior crise e recessão de toda a sua história econômica, a Grande Destruição, inteiramente made in Brazil?

E quem diria que mergulharíamos, depois de uma breve fase de “corrupção normal”, e de esforços de ajuste econômico, no mais degradante e obscurantista governo de toda a nossa história, começando a contar desde 1549?

Quem diria que estaríamos tão divididos quanto os franceses dos anos 1930, sendo que as sementes da divisão do país já tinham sido plantadas no regime do “Nunca Antes”, sob a condução de um partido especialmente corrupto, e sob a liderança de um carismático líder político — e chefe de gangue — que nos deixou com uma personalidade medíocre, que conseguiu fazer tudo errado em poucos anos?

E que diria que o legado de tudo isso foi nos deixar entregues ao mais perverso, inepto e psicótico dirigente, que só não conseguiu ser mais corrupto do que os petistas por pura incompetência e mediocridade?

Raymond Aron viu mais longe do que todos os outros, nos anos 1930, 40 e 50, quando tinha contra si os mais “brilhantes” intelectuais franceses. Acabou prevalecendo, mas demorou muito: não teve a sorte, como Roberto Campos, de assistir à implosão do comunismo e ao triunfo da ideia democrática, mas nunca desesperou por defender as ideias corretas.

É o que nos resta: defender as ideias corretas e lutar para derrotar os Novos Bárbaros, como se fossem tropas de ocupação. 

Eu já estou na resistência intelectual há muito tempo, em meu quilombo do Diplomatizzando: continuarei lutando contra os obscurantistas e, em especial, contra o anti-Iluminista que assaltou o Itamaraty, levando nossa diplomacia às páginas mais vergonhosas de sua história bicentenária.

Tenho tudo registrado, nos três livros já publicados — Miséria da diplomacia, O Itamaraty num labirinto de sombras e Uma certa ideia do Itamaraty — e dentro em breve num quarto: Apogeu e demolição da política externa (pronto, em edição).

A História não absolverá os Novos Bárbaros, não no que depender de mim.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3837, 03 de janeiro de 2021

 

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Raymond Aron: uma influencia decisiva em minha formacao - Paulo Roberto de Almeida

Recebi, no começo deste ano, uma consulta para um trabalho acadêmico, sobre a importância de Raymond Aron para o meu trabalho ou minhas reflexões de relações internacionais. Respondi ao questionário, e ainda recentemente consultei sobre o aproveitamento de minhas respostas para tal trabalho, mas ainda não obtive resposta.
Como acredito que Raymond Aron deve ter influenciado dezenas, centenas, talvez milhares de outros pesquisadores e estudiosos do mesmo campo, resolvi postar aqui minhas respostas a um questionário, que talvez interessem alguém, se isso tem alguma validade.
Comecei a ler Raymond Aron por meio de seus artigos no L'Express ou no Le Figaro, traduzidos e publicados no Estadão. Mais tarde, já na Europa, adquiri praticamente todos os seus livros, e lembro-me inclusive de ter emprestado um desses livros a um colega da ULB, que nunca me devolveu...
Estou com raiva até hoje.
Em todo caso, aqui vão minhas respostas às perguntas formuladas.
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 4 de outubro de 2018

Raymond Aron: uma influência decisiva em minha formação

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 18 de fevereiro de 2018
 [Objetivo: Respostas a consulta de acadêmicofinalidade:influência de Raymond Aron no meu trabalho intelectual.]


Respostas de Paulo Roberto de Almeida às questões recebidas:

I.      Como se deu o seu primeiro contato com Raymond Aron ou com a sua obra? Em quais circunstâncias?

PRA: Meu primeiro contato com a obra e o pensamento de Raymond Aron se deu ainda em meados dos anos 1960, jovem adolescente frequentando o “colegial” (ou seja, a segunda etapa do secundário, ou curso médio, depois do ginasial, no então chamado “clássico”, em contraposição ao “científico”, preparatório ao terceiro ciclo de estudos), mas já leitor de obras típicas dos cursos universitários em humanidades. Estudando de noite e trabalhando de dia, eu comprava o jornal “reacionário” O Estado de S. Paulo todos os fins de semana, especialmente aos domingos, interessado nos suplementos culturais do sábado, e nos grandes artigos internacionais do domingo. Minha atenção para os temas internacionais tinha sido despertada pouco tempo antes por uma palestra do cientista político e editorialista do Estadão Oliveiros da Silva Ferreira, feita ainda no ginásio (em 1964 ou 1965), sobre a crise dos foguetes soviéticos em Cuba e o contexto geral da Guerra Fria. A partir desse momento, passei a comprar o Estadão nas bancas, todo fim de semana, e passava as tardes lendo e estudando os grandes artigos traduzidos de grandes intelectuais internacionais. Entre eles se encontrava obviamente Raymond Aron, e ao que me lembre eram artigos traduzidos do semanário L’Express ou de outros periódicos publicados na França. Nessa época, eram poucas as revistas brasileiras sobre temas internacionais, e eu ignorava obviamente a existência da Revista Brasileira de Política Internacional, publicada no Rio de Janeiro desde 1958, mas que não circulava nos circuitos comerciais de varejo. Foi nas páginas do Estadão de domingo, portanto, que eu tomei contato, pela primeira vez, com os artigos eruditos de Raymond Aron e de Roberto Campos, duas leituras obrigatórias, ainda que com grandes restrições de caráter ideológico, uma vez que eu me considerava um aderente precoce da doutrina marxista, e portanto “inimigo” do pensamento de “direita” representado pelos dois intelectuais. Este foi o meu primeiro contato com as ideias “direitistas” de Raymond Aron, intelectual que nunca deixei de ler, mesmo tentando me contrapor, como também era o caso em relação a Roberto Campos, aos seus argumentos enquadrados no pensamento geopolítico da Guerra Fria, durante a qual eu mantinha um posicionamento anticapitalista, mesmo sem necessariamente aderir ao comunismo de tipo soviético, que sempre desprezei. 

II.    Em sua opinião, qual a influência do pensamento de Aron tendo em vista as temáticas intelectuais às quais ele se dedicou?

PRA: Posso dizer que essa influência foi enorme, mesmo a contragosto, se ouso dizer, uma vez que, numa primeira fase, o marxismo juvenil, de certo modo ingênuo, me levava a considerar que o lado correto era o do intelectual esquerdista Jean-Paul Sartre, não o de Raymond Aron, classificado entre os partidários da “direita”. Pouco antes de sair do Brasil, no final de 1970, em direção à Europa, eu já considerava indispensável ler suas obras, que conhecia de nome, mas que ainda não havia lido nem em francês – língua que eu dominava mal – nem em eventuais traduções em português, que ignorava existir. Sabia de seus livros resultantes das aulas na Sorbonne desde meados dos anos 1950, mas não tinha tido ainda oportunidade de ler.
Estimo que sua influência foi apenas parcialmente importante, no conjunto da academia até o final dos anos 1960, ou até mais além, uma vez que as humanidades no Brasil sempre estiveram bem mais vinculadas ao pensamento marxista do que às teses e argumentos “atlantistas” ou “liberais” de intelectuais como Raymond Aron ou, no caso, brasileiro, Roberto Campos, Eugênio Gudin, ou outros. Ainda se achava basicamente correta a postura de “estar errado com Jean-Paul Sartre, em lugar de acertar com Raymond Aron”, e 1968 era considerado um passo na direção correta, a de recusar a sociedade burguesa e construir uma sociedade solidária; esta não estava alinhada com as posturas do comunismo tradicional, mas sim com a Escola de Frankfurt, com Herbert Marcuse, com Wilhelm Reich e outros teóricos libertários. 
Na época “áurea” da Guerra Fria, Raymond Aron estava estritamente alinhado com os esquemas atlantistas da OTAN e dos EUA, então envolvidos na guerra do Vietnã, e portanto condenados por toda a esquerda mundial, da qual, uma parte pelo menos apoiava a “revolução cultural” da China de Mao, considerada uma etapa superior de construção do comunismo, acima do burocratismo do sistema soviético. Nesse contexto, Aron era cultivado apenas num pequeno circulo de iniciados, uma vez que a maior parte dos acadêmicos se alinhava com as posições “progressistas” da esquerda ocidental. 

III.  Aron ainda pode ser considerado, em termos intelectuais, autor atual e influente?

PRA: Absolutamente: todas as suas obras, sejam as de filosofia da história, ou as de sociologia industrial, e ainda as de geopolítica no contexto das doutrinas realistas, são pertinentes e indispensáveis a um debate intelectual da mais alta qualidade sobre os problemas sociais, políticos e geopolíticos das sociedades contemporâneas, mesmo no pós-Guerra Fria, uma vez que as características e tendências fundamentais da geopolítica mundial, e das sociedades industriais permanecem válidas mesmo após o declínio irresistível dos projetos socialistas de cunho marxista-leninista. Aron preserva uma lucidez impressionante em relação ao simples debate entre liberais e socialistas de cunho reformista (lassalianos, fabianos, ou seja II Internacional), e mantém coerência em relação às escolhas fundamentais que devem ser feitas no plano interno (democracia de mercado) e no contexto internacional (defesa dos valores ocidentais, contra propostas autoritárias de ordenamento político e social). 

IV.   Quando aluno, Aron aparecia como bibliografia nos cursos de graduação e/ou pós-graduação que você frequentou? Como professor, você utiliza ou utilizou obras de Aron como bibliografia em cursos de graduação e/ou pós-graduação? Nos dois casos, quais obras?

PRA: Frequentando cursos de Ciências Sociais no Brasil (USP) e no exterior (ULB, em Bruxelas), não me lembro de ter sido recomendado expressamente a ler Raymond Aron, mas como ele era um referência indispensável nos debates políticos da época, fui levado a buscar voluntariamente seus livros sobre a sociedade industrial, e seus debates com os intelectuais marxistas. Nessa época, início dos anos 1970, ainda procurava me alinhar mais com os autores marxistas (sobretudo da Europa ocidental), mas nunca deixei de ler Raymond Aron, como o contraponto necessário aos argumentos dessa linha. Junto com Aron, lia Karl Popper e outros “liberais”, embora tendesse a aderir bem mais às teses anticapitalistas dos socialistas franceses e ingleses, tipo Nikos Poulantzas, Christopher Hill, Perry Anderson e outros. Aron era o antagonista preferido de toda essa tropa de marxistas acadêmicos, aos quais eu aderia residualmente, sem deixar de me referir a Aron (ou Alain Peyrefitte, por exemplo) em sua contestação às principais teses dos esquerdistas. Aos poucos, Aron deixou de ser o “inimigo ideológico” para se converter no “adversário político”, mais adiante convertido em “interlocutor indispensável”, nas reflexões sobre as vias abertas às sociedades do Ocidente e as do Terceiro Mundo.

V.     Durante sua segunda visita ao Brasil, em 1980, Aron foi a figura central do simpósio “Raymond Aron na UnB”. Em relação ao homenageado, em sua opinião e tendo em vista o contexto da época, quais as principais motivações para o convite? Em que medida, tais motivações teriam estado ligadas ao contexto político nacional (início do processo de redemocratização) e ao contexto internacional, ainda marcado pela tensão bipolar entre os EUA e a URSS - para além das questões propriamente intelectuais?

PRA: Nessa fase, início dos anos 1980, eu já tinha ingressado na carreira diplomática (desde 1977) e me encontrava em postos no exterior, de 1979 a 1984, entre Berna e Belgrado, e tinha retomado minha tese de doutoramento em sociologia política, iniciada em 1976, mas interrompida em 1977 na volta ao Brasil. Posso dizer que Aron foi decisivo no plano puramente bibliográfico, pois passei todos esses anos lendo uma enorme bibliografia em história e sociologia, para completar uma tese sobre as revoluções burguesas, mas num sentido totalmente contrário ao que tinha quando fiz o projeto e iniciei os trabalhos entre 1976 e 1977. Não só Aron, mas Weber, Fernando Braudel, Barrington Moore Jr., Albert Hirschman, os revisionistas históricos sobre as revoluções burguesas, influenciaram minha conversão do marxismo acadêmico a uma análise mais realista dos processos políticos e sociais que levaram as sociedades do Ocidente moderno a sistemas políticos pluralistas e abertos. Aron, entre vários outros, foi essencial nessa revisão interpretativa sobre a natureza do poder político e suas relações com a base social e econômica no processo de modernização contemporânea.
Não tomei conhecimento da vinda de Raymond Aron ao Brasil senão depois de 1985, ao retomar ao Brasil e começar a dar aulas na UnB e no Instituto Rio Branco (a academia diplomática do Itamaraty) de sociologia política, exatamente. Aron era, não preciso dizer, uma referência indispensável, junto com Weber, Marx e outros teóricos, na construção das aulas e nas reflexões sobre nossa transição democrática pós-regime militar. Foi nesse momento que abandonei completamente os esquemas marxistas de reflexão em favor de uma visão mais eclética, inevitavelmente influenciada por intelectuais como Raymond Aron.

VI.   Também à época de sua segunda visita, a Editora da UnB traduziu e publicou a principal obra de Aron dedicada ao tema das relações internacionais, Paz e Guerra entre as nações, além de diversos outros títulos de autores tidos como conservadores ou liberais. Em sua opinião, qual a importância deste esforço editorial tendo em vista o ambiente intelectual brasileiro da época?

PRA: O esforço empreendido no âmbito da UnB, sobretudo por um dos integrantes do Conselho Editorial da Editora da UnB, o diplomata Carlos Henrique Cardim, foi absolutamente magnífico, no sentido de trazer ao Brasil as mais importantes obras do pensamento político e de relações internacionais, até então inacessíveis ao público local, em especial os cientistas sociais brasileiros. Simplesmente não se tinha acesso a essas obras, a não ser trazidas do exterior pelos próprios acadêmicos que estudavam fora, mas os estudantes estavam praticamente excluídos desse universo. De repente, no espaço de poucos anos – primeira metade dos anos 1980 – todas essas obras ficaram disponíveis, com traduções de qualidade, feitas por diplomatas e professores. Se quisermos mensurar esse aporte em termos de PIB intelectual, pode-se dizer que a riqueza intelectual trazida por essas edições situou-se na faixa de 10 a 20% de acréscimos bibliográficos, senão mais. Mas não só as edições: a própria presença de eminentes intelectuais trazidos para debates pessoais com acadêmicos brasileiros representou um empreendimento intelectual até hoje inigualado nas proporções que essas iniciativas da UnB representaram à época e nos anos subsequentes. A série “[Fulano] na UnB” ofereceu uma apresentação sintética do pensamento de cada um dos intelectuais trazidos ao Brasil, que pode ser considerada inédita no plano mundial, uma vez que não existe depoimentos do gênero dos que foram feitos na UnB nas edições estrangeiras.

VII.  O livro ‘Paz e Guerra entre as nações’ foi adotado pelo MEC como leitura obrigatória nos cursos de graduação em relações internacionais a partir dos anos 2000. Como você avalia a influência desta obra em particular para o campo das RI? Aron pode ser considerado um autor original ou influente a partir das reflexões contidas no livro?

PRA: Os poucos geopolíticos existentes no Brasil, mas muitos outros professores de relações internacionais, são obrigados a recorrer ao pensamento de Aron, pois ele é incontornável no debate a respeito das grandes questões da guerra e da paz no plano mundial. A bibliografia necessariamente parte de Morgenthau e vai diretamente a Aron, como referência indispensável na discussão da temática geopolítica. O seu realismo “frio”, construído a partir de uma potência de primeiro plano, mas diminuída depois dos conflitos napoleônicos (clausewitzianos) e sobretudo com a ascensão da Alemanha, oferece um contraponto necessário à bipolaridade da era nuclear capitaneada pelos EUA e pela União Soviética. Nesse contexto bipolar, a França foi a nação que escolheu ter uma defesa própria, independente do campo ocidental, e com isso representa um tipo de soberanismo geopolítico talvez adequado a um país como o Brasil, também cioso de sua autonomia em relação aos blocos então existentes.

VIII.      Ainda no campo dos estudos das relações internacionais, Aron alinha-se à tradição dos pensadores realistas. Poderíamos vislumbrar afinidades eletivas entre o pensamento reinante no Itamaraty, cuja origem remete a Paulino Soares de Sousa, o Visconde de Uruguai - leitor sistemático de Tocqueville, e as posições liberais que Aron sustentou ao longo do século XX?

PRA: Aron era o que eu chamo de “realista flexível”, ou seja, consciente de que o equilíbrio entre grandes potências e potências médias, ainda que fortes (como a França), não poderia ser estudado e considerado apenas com base em premissas teóricas, mas sobretudo com base num itinerário específico no plano das experiências concretas. Essa era, também, a perspectiva de Tocqueville, que estudou os Estados Unidos em sua dimensão própria, ainda que contrapondo suas estruturas políticas e sociais às de sua França e Europa aristocráticas – ainda que transformadas, ambas, pelas grandes rupturas da revolução e da era napoleônica – e podia assim fazer uma análise original da formação política e social americana, apontando-a como o futuro da Europa igualmente (no que estava enganado). Aron tinha plena consciência do quantum de liberdade que os homens e as sociedades dispõem para determinar o seu futuro, e não alimentava nenhum determinismo fatalístico quanto a isso. Sua compreensão da doutrina marxista, e também da weberiana, o habilitava a distinguir os imponderáveis da história.
Nisso, ele foi totalmente distinto dos demais intelectuais franceses (ou de quaisquer outros países) de gabinete, pois temperava suas leituras dos clássicos e contemporâneos com uma reflexão original sobre os itinerários concretos das sociedades. Importante nessa originalidade teórico-prática foi a sua estada na Alemanha no início dos anos 1930, quando assistiu à ascensão do nazismo, constatando a deriva de algumas sociedades para o populismo, a demagogia, o autoritarismo e outras falácias e tragédias, o que o colocou à frente de todos os demais intelectuais puramente acadêmicos. Sua estada em Londres, durante a guerra, também foi importante ao dar uma dimensão eclética ao seu pensamento, absolutamente original no contexto francês. 
Não estou habilitado a avaliar, por não conhecer, essa influência de Tocqueville nas concepções do grande diplomata que foi Paulino Soares de Souza, certamente um dos maiores diplomatas do Império, junto com Miguel da Silva Paranhos, o Visconde do Rio Branco. Todos eles foram realistas flexíveis, podendo ser considerados, nesse sentido, “aronianos avant la lettre”, como também o foi o filho do Visconde, o Barão do Rio Branco, menos doutrinário do que Rui Barbosa, por exemplo. Nenhum deles têm sucessores claros no século XX, a não ser parcialmente: Oswaldo Aranha, um realista sem qualquer elaboração doutrinal (a não ser um estrategista instintivo), San Tiago Dantas, um pensador original, infelizmente desaparecido precocemente, e talvez Roberto Campos, um realista da tecnocracia planejadora antes de se converter em um liberal pragmático; pode-se agregar o nome de José Guilherme Merquior, mas este bem mais no terreno teórico do que prático. Todos eles passaram a integrar plenamente minhas reflexões de natureza política, econômica e geopolítica, e meus escritos.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 18 de fevereiro de 2018



quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Um companion book ao pensamento de Raymond Aron, por mais de 100 dolares!!??

Books and Culture

Daniel DiSalvo
The Savior of French Liberalism
Raymond Aron’s work holds lessons for the future of Islam and the West.
February 3, 2016
Photo by Keystone/Hulton Archive/Getty Images
The Companion to Raymond Aron, edited by José Cohen and Elisabeth Dutartre-Michaut (Palgrave Macmillan, 304 pp., $110)

Liberalism—defined broadly as a democratically elected regime with a limited government and a market economy that protects individual rights—remains a hotly contested political persuasion in France. Today, libéralisme is associated with “savage capitalism” and the “Anglo-Saxon model.” If someone calls you a liberal in a Left Bank café, he likely means it as an insult.
Such attitudes have deep roots. Over the course of the twentieth century, liberalism had few defenders in Paris and was overshadowed by seductive varieties of nationalism, existentialism, structuralism, surrealism, and Marxism. It wasn’t until the end of the century that the non-liberal alternatives were spent and interest in liberalism was renewed—at least among scholars.
It would be nearly impossible to speak about French liberalism today if Raymond Aron had not kept the flame alight while other philosophical fashions tried to blow it out. Therefore, The Companion to Raymond Aron, edited by José Cohen and Elisabeth Dutartre-Michaut, is a welcome new addition to the work on Aron available in English. It brings to light Aron’s characteristic mode of political reflection, which remained close to political actors’ realistic options and the concerns of citizens—rather than elaborating the sort of high-minded theoretical schemas that often typify French thinking.
Aron’s life tracked the “short” twentieth century. He was born in 1905 just prior to the Great War and the Bolshevik Revolution. He died in 1983 just prior to the fall of the Berlin Wall and the collapse of the Soviet Union. In between, his political judgment was extraordinary. Calling him the “Thucydides of the twentieth century” isn’t an overstatement.
After studying in Germany just prior to the rise of Hitler, Aron adopted the position that Nazism had to be unequivocally opposed. After Paris fell to the Wehrmacht, Aron went into exile in London to join General Charles de Gaulle and the French Resistance. After the war, he consistently championed Western democracy over Soviet totalitarianism. He endorsed the Cold War strategy of undermining and outlasting the Soviet Union. He favored decolonization of French North Africa. During the events of May 1968, he rejected the students’ fantastical utopianism. Throughout his career he championed the basic liberal values of Western civilization. Compared with Jean-Paul Sartre, who got almost all of these questions wrong, Aron looks prophetic.
Of course, no good deed goes unpunished. Aron paid for his good judgment with isolation from French intellectual circles. The Left regularly derided him as a “Cold Warrior,” especially after his most famous book, The Opium of the Intellectuals (1955), exploded the cherished myths of the Left, the proletariat, and the revolution. Soon thereafter, the French Right abandoned him because he favored Algerian independence. Aron’s caustic analysis of the “psychodrama” of May 1968 once again placed him firmly outside the fashionable trends of his time.
Sartre—a former schoolmate and friend, whom he had introduced to German existentialism—quipped that Aron was “unworthy to teach.” Others censured Aron for the “icy clarity” of his analyses, which supposedly lacked compassion. It became a commonplace in French intellectual circles that “it is better to be wrong with Sartre than to be right with Aron.” In that light, Aron’s intellectual fortitude and independent-mindedness were truly remarkable. It was only near the end of his life, in the late 1970s, with publication of Alexander Solzhenitsyn’s work on the Soviet gulag and the revelation of the horrors of Communism in Cambodia and Vietnam, that French opinion shifted in Aron’s favor. He now appeared to have been right all along about the nature of Communism—and much else. Claude Lévi-Strauss called Aron a “teacher of intellectual hygiene.”
The Companion to Raymond Aron is an excellent introduction to the main events of his life and the core themes of his work. The various authors reveal how and why Aron became recognized as one of the world’s most thoughtful analysts of the moral, political, economic, military, and sociological dimensions of modern democracy. His interests ranged from nuclear strategy to Tocqueville.
Primarily known outside France as an analyst of international relations, Aron was one of the first to develop the idea of totalitarianism. He argued that the Nazi and Stalinist regimes were without precedent in human history because they were based on “secular religions.” Each expressed a notion of providential destiny: for the Nazis, the victory of a race; for the Soviets, the victory of a class. These totalizing ideologies were what made these regimes so dangerous. Aron concluded that Marxist-Leninism “as an ideology is the root of all (in the Soviet regime), the source of falsehood, the principle of evil.” Ultimately, the Soviet regime’s attempt to make man into an angel in fact “create a beast,” while the Nazi’s experience showed that “man should not try to resemble a beast of prey because, when he does so, he is only too successful.”
The lessons that Aron drew from the twentieth century were that history is tragic, human freedom fragile, and theories of historical determinism pernicious. In his defense of liberal principles, Aron described himself as an adherent of “democratic conservatism.” Compared with the totalitarian regimes, “we are all the more conservatives because we are liberals who want to preserve something of personal dignity and autonomy.”
Aron sought to distinguish politics as a prosaic activity from the quest for salvation. “Modern society is a democratic society that must be observed without transports of enthusiasm or indignation,” he once remarked. “It is not the ultimate fulfillment of human destiny.” Aron’s outlook was characterized by modesty about what politics could achieve and what one should thereby expect from it. His liberalism fits into the French historical tradition more than the classical liberalism of England or the United States. For instance, Aron did not stress ideas of natural rights, which are the root of American liberal principals.
The recent terrorist attacks in Paris raise profound questions for both France and the Western democracies. How can the West develop a foreign policy that addresses the threats of Islamic terrorism and the reality of evil in the world but doesn’t get trapped trying to transform other regimes through nation-building and social engineering? Aron’s hostility to philosophies of history—such as recent claims about the “end of history” and the democratization of the world—is a powerful reminder that a hard-headed realism about what needs to be done can be combined with a balanced notion of how much can be achieved through political action. The presence in Europe of large numbers of Muslims citizens along with immigrants from the Middle East and Africa means that domestic and foreign policy are closely intertwined. How can France, which has the largest Muslim population in Europe, simultaneously preserve its own traditions and values and address increasing cultural and religious diversity? How can France integrate its Muslim population while simultaneously taking military action in the very regions from which its immigrant population hails?
These are enormous questions, but Aron provides some helpful guideposts. His skepticism about historical determinism casts doubt on the reigning “secularization” thesis—or dogma. This thesis holds that, as society modernizes, citizens will slowly lose their religious convictions, and those that cling to them will agree to do so exclusively in private. Reading Aron helps to break such spells. A broad understanding of his work would temper optimism about what laïcité (or secularism) can do to transform Europe’s Muslims. Europeans in general—and the French in particular—need to come to terms with the fact that Islam is not likely to follow Christianity’s historical trajectory in Europe. Only then can realistic approaches to religious diversity begin to be developed.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Morte de um homem decente: André Glucksmann - Guy Sorman

Eye on the News

Guy Sorman
Death of a Righteous Man
André Glucksmann, RIP
The City Journal, November 10, 2015
My generation of French writers has a powerful image, dated June 1979, etched forever in our memories: that of an exhausted Jean-Paul Sartre climbing the steps of the Élysée Palace alongside Raymond Aron, his former friend and longtime intellectual opponent, both escorted by a tall, long-haired young philosopher named André Glucksmann. French president Valéry Giscard d’Estaing waited for them at the top. He had heard their demands and was ready to open the French borders to more than 100,000 refugees fleeing the Communist regime in Vietnam in makeshift rafts, much like the Syrians of today.
This essential moment in French intellectual history, and in European public life—inspired by Glucksmann—came to represent the end of extreme ideological conflicts and recognition of their absurdity when immediate and real evils confronted the conscience. Symbolically, it marked the end of Marxism, a worldview that had helped forge the young Glucksmann, and which Sartre had supported his entire life. Glucksmann was a leading voice of an emerging generation of thinkers, the New Philosophers. His writings not only renounced Marxism but also accused it of providing a theoretical foundation for some of the large-scale massacres of the twentieth century. Aron had always made this charge, though less forcefully. French classical liberals, alongside Aron, tended to be pessimistic, worried about the likelihood of the USSR’s eventual victory over democracy. But Glucksmann—similar to neoconservative Americans in this regard—believed Communism could be beaten with human rights, pitting morals against suffering.
André Glucksmann, Jean-Paul Sartre, and Raymond Aron in 1979
From then on, across a range of essays (including for City Journal, to which he regularly contributed) and books (including The Master Thinkers, on the roots of totalitarianism in German thought, and his autobiography, Une rage d’enfant), Glucksmann became the voice of all victims of every totalitarian ideology, up to and including Islamism, which he identified as a form of fascism in the aftermath of the September 11 attacks in New York. But another opponent of human rights also reared its head, one that Glucksmann had not predicted: cultural relativism. The West chose not to intervene in support of the Chechens while the Russians were crushing them because, well, the Russians aren’t like us, you see. We could never impose our humanist ideals upon them. Glucksmann found himself at a loss before this hypocrisy, which, more often than not, served as a mask for realpolitik. He refused ever to accept realpolitik or moral evasions. The West, he lamented, tended to rally to the cause of human rights when faced with weak regimes but stood idly by when confronted with powerful governments, such as those of the Russians or the Chinese.
Glucksmann was a historical exemplar of public morality—and also of the relative inefficiency of this morality. A quote from French poet Charles Péguy comes to mind: Moralists, he said, “have clean hands but, in a manner of speaking, actually no hands.” Glucksmann kept his hands clean until the end, yet without indulging in self-deception. He was a righteous, pure man—a rare man.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Raymond Aron: penseur de l'Europe et de la nation - Giulio De Ligio (ed.)

De Ligio, Giulio (dir.)

Raymond Aron, penseur de l'Europe et de la nation


Series: Euroclio - Volume 66
Year of Publication: 2012
Bruxelles, Bern, Berlin, Frankfurt am Main, New York, Oxford, Wien, 2012. 160 p.
ISBN 978-90-5201-826-3 br.  (Softcover)
ISBN 978-3-0352-6178-3 (eBook)
Weight: 0.240 kg, 0.529 lbs
available Softcover / PDF
  • Softcover:
  • SFR 39.00
  • €* 32.10
  • €** 33.00
  • € 30.00
  • £ 27.00
  • US$ 41.95
  • Softcover
» Currency of invoice * includes VAT – valid for Germany and EU customers without VAT Reg No
** includes VAT - only valid for Austria

Book synopsis

À mesure que le temps passe, la pertinence des démarches et des analyses de Raymond Aron se confirme au lieu de s'estomper. Parce qu'il a été le commentateur inlassable des événements, parce que ses livres ont souvent répondu à des situations bien différentes de la nôtre, on a pu penser que son oeuvre, à l'exception bien sûr des grands ouvrages théoriques, perdrait de son actualité en raison de l'éloignement des circonstances qui lui avaient donné naissance. C'est le contraire qui se produit. C'est de nous et donc à nous qu'Aron parle encore.
À travers la forme politique propre à l'Europe, la journée d'études du 7 juin 2011, dont est issu cet ouvrage, s'était proposée de dégager la science politique que Raymond Aron nous lègue pour mieux comprendre la condition humaine et la situation présente des pays européens.

Contents

Contenu : Pierre Manent : Avant-propos. Permanence de Raymond Aron - Giulio De Ligio : Présentation. La politique digne de l'Europe : l'actualité de la leçon aronienne - Giulio De Ligio : Nature et destin des nations : Aron et la forme politique de l'Europe - Danny Trom : L'État d'Israël, objet de pensée et d'expérience chez Raymond Aron - Agnès Bayrou : L'Europe comme corps politique ? L'analyse aronienne de la construction européenne - Joël Mouric : Raymond Aron, citoyen français et intellectuel européen - Nicolas Baverez : L'Europe à l'âge de l'histoire universelle - Olivier de Lapparent : La crise de la conscience europèenne : L'Europe entre décadence et vitalité historique - Matthias Oppermann : Raymond Aron et la défense de l'Europe : Questions militaires et politiques - Raymond Aron : Universalité de l'idée de nation et contestation - Raymond Aron : Europe, avenir d'un mythe.

About the author(s)/editor(s)

Giulio De Ligio est docteur de recherche en histoire de la pensée politique de l'université de Bologne, il enseigne actuellement à l'Università per stranieri di Perugia et poursuit parallèlement ses recherches au Centre d'études sociologiques et politiques Raymond Aron de l'École des hautes études en sciences sociales (Paris). Il est membre du comité de rédaction de la Rivista di politica (Rome) et secrétaire général de l'Istituto di politica (Rome-Pérouse). Il a reçu en 2007 le prix Raymond Aron.

Series

Euroclio. Études et Documents. Vol. 66
Directeurs de collection : Éric Bussière, Michel Dumoulin et Antonio Varsori

terça-feira, 31 de maio de 2011

Raymond Aron: meu pensador preferido - coloquio em Paris

Helas, não vou poder estar...
Meu livro: Os Primeiros Anos do Século XX: o Brasil e as relações internacionais contemporâneas (São Paulo: Paz e Terra, 2001)
é apropriadamente aroniano.
Paulo Roberto de Almeida

COLLOQUE
Raymond Aron, penseur de l'Europe et de la nation
Paris, 7 juin 2011

Raymond Aron, penseur de l’Europe et de la nation, journée d’études, mardi 7 juin 2011, EHESS - Amphithéâtre François-Furet, 105 Bd Raspail, 75006 Paris
-Centre d’études sociologiques et politiques Raymond Aron (CESPRA)
- Société des Amis de Raymond Aron
Il s’agira d’éclairer, à partir de différents points de vue, la question de la nature et du destin à la fois de la nation et de la « construction européenne » telle qu’elle a été présentée par la pensée aronienne. À travers le problème de la forme politique propre à l’Europe, la journée d’études se propose plus généralement de dégager la science politique qu’Aron nous lègue pour mieux comprendre la condition humaine et la situation présente des pays européens.

9h00 – Ouverture de la journée d’études par Philippe Urfalino, directeur d’études à l’EHESS, directeur du CESPRA et Pierre Manent, directeur d’études à l’EHESS, membre du CESPRA, responsable de la formation doctorale « Études politiques ».
9h15 – Présentation de la journée d’études par Giulio De Ligio (Université pour étrangers de Pérouse).
9h30-11h - Qu’est-ce qu’une nation ?
Présidente de séance : Dominique Schnapper (EHESS/CESPRA)
Giulio De Ligio (Université pour étrangers de Pérouse) : Nature et destin des nations : Aron et la forme politique de l’Europe.
Danny Trom (EHESS/GSPM) : L'État d'Israël comme objet de pensée et d'expérience chez Raymond Aron.
Pause café (salle 1)
11h30-13h – Penser politiquement l’Europe
Président de séance : Philippe Raynaud (Université Paris II)
Joël Mouric (Université de Bretagne occidentale) : Raymond Aron, citoyen français et intellectuel européen.
Agnès Bayrou (Sciences po-Paris) : L’Europe comme corps politique ? La science politique aronienne de la construction européenne.

Pause déjeuner
15h-17h – Les nations européennes à l’aube de l’histoire universelle : situation et dimensions
Président de séance : Pierre Manent (EHESS/CESPRA)
Matthias Oppermann (Université de Potsdam) : Raymond Aron et la défense de l’Europe. Questions militaires et politiques.
Olivier de Lapparent (Université Paris I) : La crise de la conscience européenne : l'Europe entre décadence et vitalité historique.
Nicolas Baverez (Cabinet Gibson Dunn) : L'Europe, tiers continent dans la mondialisation.

17h-17h30 – Débat général
Conclusion de la journée d’études par Jean-Claude Casanova, président de la Société des Amis de R. Aron et de la Fondation nationale des sciences politiques, directeur de la revue Commentaire.
Pot de l’amitié (salle 8)

Contacts :
Giulio De Ligio : giulio.de@libero.it
Elisabeth Dutartre-Michaut : dutartre@ehess.fr