Itamaraty: a animosidade
pessoal se transfere ao plano institucional
Paulo Roberto de Almeida
[Objetivo: relato sobre eventos
cancelados; finalidade: informação
aos interessados]
Em janeiro deste ano, a
pedido da seção cultural da embaixada da França em Brasília, e no quadro da “Semaine
de la Francophonie”, eu havia sido convidado a participar de um evento e
consultado sobre a possibilidade de ajudar a organizar um outro, ambos no mesmo
dia em 19 de março. Esses dois eventos estavam relacionados à visita ao Brasil
da professora Laurence Badel, historiadora da Universidade de Paris-1
(Sorbonne), que faria no Itamaraty duas conferências, seguidas de debates.
Esses eventos seriam,
respectivamente, uma conferência sobre os diplomatas escritores, já objeto de
um colóquio, na França, quase dez anos atrás, e objeto de uma obra coletiva, da
qual a professora Badel foi uma das editoras, e uma outra conferência sobre o centenário
da conferência de paz de Paris em 1919. Fiz uma postagem sobre o livro resultante
do colóquio desde que o recebi de uma encomenda na França, em 21 de maio de
2018, neste link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/05/ecrivains-et-diplomates-livre-francais.html.
O que se previa, no
primeiro evento, seria suscitar, após a conferência da profa. Badel, um debate
sobre experiências talvez similares no caso brasileiro, para o qual eu fui
convidado a título pessoal, não como diretor do IPRI, a partir de minha
iniciativa de preparar uma 3ª. edição da obra O Itamaraty na Cultura Brasileira, cuja primeira edição, organizada
pelo embaixador Alberto da Costa e Silva, havia sido publicada em 2001, sob os
auspícios do então chanceler, e intelectual, Celso Lafer. Para ilustrar minha
participação nesse primeiro evento, e informar a visitante francesa, eu cheguei
a compor um pequeno ensaio, em francês, sobre os diplomatas escritores do
Brasil, que coloquei à disposição dos interessados em meu blog e numa
plataforma acadêmica: “Diplomates brésiliens dans
les lettres et les humanités” (blog Diplomatizzando, link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/02/diplomates-bresiliens-dans-les-lettres.html; Academia.edu, link: https://www.academia.edu/s/d1a565519e/diplomates-bresiliens-dans-les-lettres-et-les-humanites-2019).
Para o segundo evento, eu
estava compondo um outro ensaio sobre os famosos 14 pontos de Woodrow Wilson,
relidos a cem anos de distância, que não cheguei a terminar pelo simples fato
de ter sido exonerado do cargo de diretor do IPRI em plena segunda-feira de
Carnaval, o que atrapalhou o meu lazer laborioso, quando deveria estar me dedicando
à sua redação, exatamente. De toda forma, pretendo terminar esse ensaio, pois
ele deveria, em princípio, integrar um livro resultante de três seminários
centrados sobre o Brasil e a Grande Guerra, dois já realizados e um terceiro
previsto para meados deste ano, se é que ele será organizado e realizado. Os três
diplomatas engajados na organização dos seminários e na composição do livro estão
sendo igualmente afastados do IPRI, e pode ser que eu tenha de compor o livro
solitariamente.
Ao aproximar-se a data de
realização dos dois eventos, para os quais eu já tinha preparado os convites e
a informação de base (transcritos in fine), fui informado de que a alta chefia
do Itamaraty tinha decidido alterar completamente a organização desses dois
eventos, presumivelmente com a intenção de afastar-me de qualquer participação
num e noutro, mas de uma forma lamentável, pois retira dos demais interessados,
como da própria conferencista, a possibilidade de assistir, em evento aberto,
duas palestras e debates sobre temas de alta relevância histórica e cultural. Segundo
me foi transmitido, as duas conferências da profa. Badel não mais estariam
abertas ao público diplomático e acadêmico de Brasília, encerrando-as no âmbito
de uma sala de aula, unicamente abertas a duas dúzias de alunos do próprio Instituto
Rio Branco.
A medida me parece
absurdamente mesquinha, vingativa, castradora, pois impede a visitante
francesa, historiadora distinguida da Sorbonne, de se expressar em favor de um
público mais amplo, apenas porque a intenção não declarada, mas clara em sua
evidência cristalina, foi afastar-me de ambos eventos e impedir não só a minha
participação, como a simples assistência na qualidade de membro da audiência
geral de cada um deles. Uma tal atitude abjetamente retaliatória contra mim
atinge em primeiro lugar a professora francesa, agora impedida de se dirigir ao
público natural da Semana da Francofonia – os representantes dos países francófonos
e os demais interessados na agenda cultural desse ciclo – e condenada a ficar
restrita exclusivamente aos próprios alunos do Instituto Rio Branco.
Posso, sem hesitação,
classificar tal atitude de censória no mais alto grau, como também vergonhosa,
indigna das mais altas tradições culturais do Itamaraty. Tampouco hesito em
acusar o chanceler atual como o responsável por essa decisão totalmente desrespeitosa
para com nossos amigos da embaixada da França, como para todos os demais
membros da comunidade francófona de Brasília, brasileiros e estrangeiros,
diplomatas ou não. Suponho que as respectivas embaixadas se sentirão afetadas
pela mudança de uma programação já preparada com antecipação de vários meses, e
que fazia parte de uma iniciativa cultural tradicional no ambiente da capital
federal desde muitos anos. Elas se sentem logradas por um gesto tão desrespeitoso.
Em meu nome, e acredito
que assumindo a voz de muitos colegas, diplomatas e acadêmicos, apresento as
mais sinceras desculpas por um gesto indigno de figurar no calendário de realizações
deste ano de 2019; ao contrário, tal censura mesquinha, tomada no âmbito puramente
pessoal, mas que reverbera no plano institucional, diminui o rol de realizações
da Semana da Francofonia de 2019.
Excusez-nous,
Français et francophones, on en fera d’autres…
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 14 de março de 2019
Convites
preparados para os dois eventos programados
(não
expedidos)
1)
L’Ambassade de France
à Brasília
Instituto Rio
Branco (IRBr)
Instituto de
Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI-Funag)
L'écrivain en diplomatie : identités et pratiques
Laurence Badel
Historienne, professeur
à la Sorbonne ;
Commentaires :
Paulo Roberto de
Almeida, sociologue, directeur de l’IPRI.
Auditório João Augusto de Araújo Castro, Instituto Rio
Branco
19 Mars, 10h30
La professeure
Laurence Badel est historienne, directrice du Centre d’histoire des relations
internationales contemporaines (Institut Pierre Renouvin) et du Master en Études
européennes et relations internationales à la Sorbonne (Paris-1), membre du
conseil scientifique de son École doctorale en Histoire, Secrétaire générale du
Prix Jean-Baptiste Duroselle, et membre de plusieurs revues scientifiques,
françaises et étrangères. Auteur et éditeur de nombreuses ouvrages dans les
domaines des relations internationales, mondialisations et régionalisations,
diplomatie économique, et acteurs non-étatiques et pratiques diplomatiques,
dont l’ouvrage collectif Écrivains et
diplomates : l’invention d’une tradition, XIXe-XXIe siècles (Armand
Colin, 2012).
2)
L’Ambassade de France à Brasília
Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais
(IPRI-Funag)
La Conférence de la Paix de
Paris de 1919, premier sommet mondial ?
Laurence Badel
Historienne, professeur à la Sorbonne
Auditório João Augusto de Araújo Castro, Instituto Rio Branco
19 Mars, 15h00
La professeure
Laurence Badel est historienne, directrice du Centre d’histoire des relations internationales
contemporaines (Institut Pierre Renouvin) et du Master en Etudes européennes et
relations internationales à la Sorbonne (Paris-1), membre du conseil
scientifique de son École doctorale en Histoire, Secrétaire générale du Prix
Jean-Baptiste Duroselle, et membre de plusieurs revues scientifiques,
françaises et étrangères. Auteur et éditeur de nombreuses ouvrages dans les
domaines des relations internationales, mondialisations et régionalisations,
diplomatie économique, et acteurs non-étatiques et pratiques diplomatiques,
dont plusieurs ouvrages sur l’histoire contemporaine de l’Europe et de ses
rapports mondiaux, spécialement avec l’Asie.