País dos privilégios
Brasil tira dos mais pobres para dar aos mais ricos
Faz sentido o Brasil gastar com a Presidência da República R$ 564 milhões por ano, 60% a mais do que o Reino Unido desembolsa com a monarquia? Certamente não, e o problema não para por aí. O Congresso custa hoje, incluindo todos os assessores, as verbas de gabinete e os diversos auxílios, R$ 29 milhões por dia.
Na magistratura, 71% dos juízes recebem acima do teto constitucional de R$ 33 mil. Dos mais de 16 mil juízes e desembargadores dos Tribunais de Justiça, 11,6 mil ultrapassaram o teto. A remuneração média desse grupo foi de R$ 42,5 mil.
O Brasil não aguenta mais arcar com esse Estado de bem-estar para uma minoria privilegiada, enquanto o restante da população trabalha 153 dias para sustentá-lo. É auxílio para quem menos precisa, privilégios para quem menos merece e impostos para quem mais trabalha.
O Estado brasileiro virou um Robin Hood às avessas: tira dos mais pobres para dar aos mais ricos. Faz isso quando remunera mal o FGTS do trabalhador e empresta a taxas baixas para grandes empresas, quando provê uma aposentadoria média de R$ 1.200 para o empregado do setor privado enquanto o do setor público recebe R$ 7.500 e quando retira recursos da saúde e da educação para emprestar para partidos políticos fazerem propaganda eleitoral.
Abriu-se um abismo entre a classe privilegiada e a classe desacreditada. O último Índice de Confiança na Justiça produzido pela Fundação Getulio Vargas em 2017 mostrou queda de confiança em todas as instituições públicas. Na lanterna da credibilidade ficaram o Poder Executivo, com 7% de confiança, os partidos políticos (7%) e o Congresso Nacional (6%). Até o Poder Judiciário caiu dez pontos nos últimos quatro anos, passando dos 34%, em 2013, para 24%, em 2017.
O povo está correto em desconfiar da classe política. Afinal, os discursos que ouvem estão desconectados da prática que enxergam. Ninguém aguenta mais ver a máquina pública e o dinheiro dos nossos impostos sendo utilizados para oferecer tratamento VIP à classe governante.
A responsabilidade da mudança está em nossas mãos. A única forma, democrática e republicana, que temos para reverter este quadro é renovar a classe política. E a ferramenta para a mudança é o nosso voto.
Aqueles que de fato querem o bem da nação, que colocam o bem público à frente do interesse particular, devem começar dando exemplo. A próxima geração de parlamentares deve se comprometer a cortar suas verbas pela metade, aprovar o fim do foro privilegiado e, se indicados a um cargo no Executivo, renunciar ao próprio mandato. O próximo presidente da República deve enxugar ministérios e secretarias e cortar pela metade os gastos da Presidência.
Não vamos derrotar as benesses sem uma ampla renovação política. Precisamos fazer escolhas não só pelos discursos, mas pelas práticas e pelo respeito ao dinheiro do pagador de impostos. Precisamos lembrar que elegeremos funcionários públicos, e não uma casta de privilegiados.
João Dionísio Amoedo é pré-candidato à Presidência pelo Partido Novo