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quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Sobre politicas de governo e politicas de Estado: distincoes necessarias - Paulo Roberto de Almeida

De repente, o Google Scholar vem nos lembrar de algum texto antigo, quando já tínhamos esquecido dele, mas uma citação recente, em trabalho de terceiros, o fazem emergir de repente, confirmando também que algumas URLs são mais permanentes, ou consistentes, do que pareceria.
Este trabalho, por exemplo, que pode ser encontrado neste link: http://www.imil.org.br/artigos/sobre-politicas-de-governo-e-politicas-de-estado-distincoes-necessarias/
Preciso ler, para saber se tem alguma consistência com os tempos que correm...
Paulo Roberto de Almeida

Sobre políticas de governo e políticas de Estado: distinções necessárias

O que são políticas de Estado e o que são políticas de governo? Seriam os dois termos intercambiáveis, como preferem alguns? Ou são elas necessariamente distintas e próprias de cada situação, de cada arranjo de poder, correspondendo cada uma a uma forma específica de elaboração e de aprovação? Esta não é uma questão trivial, pois dependendo da resposta que se dá a estas questões pode-se estar sancionando meras políticas do governo como se fossem políticas de Estado ou travestindo as primeiras com a aura indevida do processo decisório articulado e responsável, como devem ser todas as políticas que aspiram à chancela “de Estado”.
Com efeito, determinadas políticas, seguidas por um governo específico, num dado momento da trajetória política de um país, podem corresponder à expressão da chamada “vontade nacional”, dado que contêm certo número de elementos objetivos que podem entrar na categoria dos sistêmicos ou estruturais, respondendo, portanto, ao que normalmente se designa como política de Estado. Alternativamente, porém, ela pode expressar tão somente a vontade passageira de um governo ocasional, numa conjuntura precisa, geralmente limitada no tempo, da vida política desse mesmo país, o que a coloca na classe das orientações passageiras ou circunstanciais.
Muitos pretendem que toda e qualquer política de governo é uma política de Estado, já que um governo, que ocupa o poder num Estado democrático – isto é, emergindo de eleições competitivas num ambiente aberto aos talentos políticos – é sempre a expressão da vontade nacional, expressa na escolha regular daqueles que serão os encarregados de formular essas políticas setoriais. Os que assim pensam consideram bizantina a distinção, mas estes são geralmente pessoalmente do próprio governo, eventualmente até funcionários do Estado que pretendem se identificar com o governo de passagem. O que se argumenta é que, na medida em que suas propostas políticas já foram “aprovadas” previamente no escrutínio eleitoral, elas correspondem, portanto, aos desejos da maioria da população, sendo em conseqüência “nacionais”, ou “de Estado”.
Não é bem assim, pois raramente, numa competição eleitoral, o debate pré-votação desce aos detalhes e minudências das políticas setoriais e a todos os contornos e implicações dos problemas que podem surgir na administração corrente do Estado após a posse do grupo vencedor. Campanhas eleitorais são sempre superficiais, por mais debates que se possam fazer, e os candidatos procuram simplificar ainda mais os problemas em confronto, adotando slogans redutores, e fazendo outras tantas simplificações em relação às posições dos seus adversários. Por outro lado, as promessas são sempre genéricas, sem muita quantificação – diretamente quanto às metas ou sua expressão orçamentária – e sobretudo sem precisão quanto aos meios e seus efeitos no cenário econômico ou social. Todos prometem empregos, distribuição de renda, crescimento e desenvolvimento, defesa dos interesses nacionais, resgate da dignidade e da cidadania e outras maravilhas do gênero.  Em outros termos, raramente a eleição de um movimento ou partido político ao poder executivo lhe dá plena legitimidade para implementar políticas de governo como se fossem políticas de Estado, que por sua própria definição possuem um caráter mais permanente, ou sistêmico, do que escolhas de ocasião ou medidas conjunturais para responder a desafios do momento.
Quando alguém disser que está seguindo políticas de Estado, pare um pouco e examine os procedimentos, a cadeia decisória, as implicações para o país e constate se isso é verdade
Políticas de governo são aquelas que o Executivo decide num processo bem mais elementar de formulação e implementação de determinadas medidas para responder às demandas colocadas na própria agenda política interna – pela dinâmica econômica ou política-parlamentar, por exemplo – ou vindos de fora, como resultado de eventos internacionais com impacto doméstico. Elas podem até envolver escolhas complexas, mas pode-se dizer que o caminho entre a apresentação do problema e a definição de uma política determinada (de governo) é bem mais curto e simples, ficando geralmente no plano administrativo, ou na competência dos próprios ministérios setoriais.
Políticas de Estado, por sua vez, são aquelas que envolvem as burocracias de mais de uma agência do Estado, justamente, e acabam passando pelo Parlamento ou por instâncias diversas de discussão, depois que sua tramitação dentro de uma esfera (ou mais de uma) da máquina do Estado envolveu estudos técnicos, simulações, análises de impacto horizontal e vertical, efeitos econômicos ou orçamentários, quando não um cálculo de custo-benefício levando em conta a trajetória completa da política que se pretende implementar. O trabalho da burocracia pode levar meses, bem como o eventual exame e discussão no Parlamento, pois políticas de Estado, que respondem efetivamente a essa designação, geralmente envolvem mudanças de outras normas ou disposições pré-existentes, com incidência em setores mais amplos da sociedade.
Se quisermos ficar apenas com um exemplo, no âmbito da diplomacia, pode-se utilizar esta distinção. Política de Estado é a decisão de engajar um processo de integração regional, a assinatura de um tratado de livre comércio, a conclusão de um acordo de cooperação científica e tecnológica numa determinada área e coisas do gênero. Política de governo seria a definição de alíquotas tarifárias para um setor determinado, a exclusão de produtos ou ramos econômicos do alcance do tratado de livre comércio, ou a assinatura de um protocolo complementar definindo modalidades para a cooperação científica e tecnológica na área já contemplada no acordo. Creio que tanto o escopo das políticas, como os procedimentos observados em cada caso podem ser facilmente distinguidos quando se considera cada um dos conjuntos de medidas em função das características definidas nos dois parágrafos precedentes.
Por isso, não se pode pretender que as políticas de Estado possam ser adotadas apenas pelo ministro da área, ou mesmo pelo presidente, ao sabor de uma sugestão de um assessor, pois raramente o trabalho técnico terá sido exaustivo ou aprofundado o suficiente para justificar legitimamente essa designação. Isso se reflete, aliás, na própria estrutura do Estado, quando se pensa em como são formuladas e implementadas essas políticas de Estado.
Pense-se, por exemplo, em políticas de defesa, de relações exteriores, de economia e finanças – em seus aspectos mais conceituais do que operacionais – de meio ambiente ou de educação e tecnologia: elas geralmente envolvem um corpo de funcionários especializados, dedicados profissionalmente ao estudo, acompanhamento e formulação das grandes orientações das políticas vinculadas às suas respectivas áreas. Ou considere-se, então, medidas de natureza conjuntural, ou voltadas para uma clientela mais restrita, quando não ações de caráter mais reativo ou operacional do que propriamente sistêmicas ou estruturais: estas podem ser ditas de governo, aquelas não.
Portanto, quando alguém disser que está seguindo políticas de Estado, pare um pouco e examine os procedimentos, a cadeia decisória, as implicações para o país e constate se isso é verdade, ou se a tal política corresponde apenas e tão somente a uma iniciativa individual do chefe de Estado ou do ministro que assim se expressou. Nem todo presidente se dedica apenas a políticas de Estado, e nem toda política de Estado é necessariamente formulada pelo presidente ou decidida apenas no âmbito do Executivo.
Como dizem os americanos: think again, ou seja, espere um pouco e reconsidere o problema…

Sobre Paulo Roberto de Almeida

Paulo Roberto de Almeida
Diplomata, mestre em planejamento econômico pelo Colégio dos Países em Desenvolvimento da Universidade de Estado de Antuérpia, doutor em ciências sociais pela Universidade de Bruxelas. Trabalhou como assessor especial no Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. É autor dos livros: “O Mercosul no contexto regional e internacional” (Aduaneiras, 1993), “ O Brasil e o multilateralismo econômico” (Livraria do Advogado, 1999), “ Relações internacionais e política externa do Brasil: história e sociologia da diplomacia brasileira (UFRGS, 1998)” e “O moderno príncipe – Maquiavel revisitado” (2007)

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Conheca o keynesiano de botequim que esta' afundando as contas publicas

Contas públicas

Contabilidade criativa de Augustin no Sul deu origem a rombo de R$ 7 bi

Secretário do Tesouro institucionalizou o uso de manobra contábil na administração gaúcha quando foi secretário da Fazenda, entre 1999 e 2002

Arno Augustin, secretário do Tesouro
Arno Augustin, secretário do Tesouro (José Cruz/ABr)
O uso de subterfúgios para maquiar as contas públicas e deixar transparecer um resultado fiscal melhor do que ele é — a chamada contabilidade criativa — não é prática exclusiva do governo federal, mais especificamente da Secretaria do Tesouro Nacional, comandada pelo petista Arno Augustin.
O secretário, encarado com 'pai' das manobras usadas para ajudar no cumprimento do superávit primário (a economia do governo para pagar os juros da dívida), constantemente lançava mão do expediente quando chefiava a Secretaria da Fazenda do Rio Grande do Sul, entre o final da década de 1990 e o início de 2000. 
Por isso que as atípicas operações praticadas na esfera federal não surpreenderam pessoas como o economista gaúcho Darcy Francisco Carvalho dos Santos. Em parceria com outros colegas, Santos produziu vários textos em que trata sobre o que chama de desacertos na política fiscal gaúcha no período em que Augustin foi secretário estadual de Fazenda.
Segundo os autores, Augustin recorreu a vários expedientes para melhorar a gestão e a imagem das contas públicas locais. Houve a utilização de recursos do chamada caixa único (que reúne as contas públicas) para financiar o déficit estadual, sem que os saques fossem efetivamente repostos. Em 2002, faltavam 1,7 bilhão de reais no caixa. A prática passou a ser copiada pelos governos seguintes e hoje o buraco beira os 7 bilhões de reais. Recursos liberados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento para a pavimentação de estradas cobriram despesas correntes e o organismo por pouco não cancelou o contrato no governo seguinte. Numa operação triangular, valores em dinheiro que deveriam ir para a Agência de Fomento cobriram gastos do Estado e foram repostos com créditos a receber do Banrisul, mas no longo prazo.
A gestão e a contabilização do caixa único foi questionada pelo economista Roberto Calazans no final da passagem de Augustin pelo Estado e rendeu muita discussão na Assembleia Legislativa gaúcha. O Tribunal de Contas do Estado também estranhou algumas das operações e as chamou na época de "anomalias fiscais". "O que víamos no Estado naquele tempo é o que hoje chamam de contabilidade criativa na esfera nacional", diz Santos. "Para nós, a impressão que ficou é que o Estado precisava de recursos para cumprir a agenda de governo e coube a Arno a tarefa de melhorar a imagem dos resultados."
O problema é que as manobras produzem efeitos colaterais. "A política financeira de Arno Augustin é baseada no abandono da responsabilidade fiscal adotada em 1999 e causa incerteza", diz o economista Felipe Salto, da Tendências Consultoria, que se dedica a destrinchar a contabilidade pública. "Se você perguntar hoje para cinco especialistas qual é a política fiscal do governo, terá cinco respostas diferentes, e todas vão divergir da resposta do ministro da Fazenda."
Augustin garante que não é assim: "Não houve operações que mascaram o resultado, nem no governo gaúcho, nem agora. Eu respeito a interpretação de Darcy, mas ela é feita a partir de um determinado viés. E o Brasil segue a estatística internacional feita pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) em todos os seus elementos", diz ele. "Eu respeito que esse e aquele setor façam críticas: às vezes mesmo quando as coisas vão bem - e felizmente vão bem no Brasil - surge quem diga que não está tão bem assim, mas o fato é que hoje o Brasil tem fundamentos muito mais sólidos quando se olha para trás."
Confiança - Apesar das polêmicas contábeis, Augustin segue firme como o mais longevo secretário do Tesouro. Está há seis anos e meio no posto, bem longe do segundo colocado, Murilo Portugal, que ficou quatro. Também não há lembrança entre os especialistas de política econômica de outro secretário do Tesouro que tenha tido a mesma influência. "Arno é tão respeitado no governo que só sairá se pedir, porque cansou ou sentiu que pode prejudicar o PT ou a presidente", diz um técnico do alto escalão do governo que prefere ficar no anonimato. Segundo pessoas que conhecem sua trajetória, a posição é fruto da dedicação à carreira técnica e à política no PT.
Augustin é capaz de ficar horas sem arredar o pé do gabinete movido a doses de café. Relaxa praticando corrida, um de seus raros lazeres. Vive sem férias - uma das poucas que tirou foi por ordem de Dilma, quando começou a ter problemas para dormir e se atrasar a reuniões matinais. E controla a saudade que sente da família. Neste ano, sinalizou que pode se ausentar das festas no Sul pois há trabalho em Brasília.

sábado, 13 de julho de 2013

Petrobras adere 'a "contabilidade criativa" do governo, a maquiagem dos numeros - Eduardo Tavares

Mercado deve reagir mal à “contabilidade criativa” da Petrobras, diz Itaú

 Eduardo Tavares | Arena do Pavini12/07/2013
Petrobras anunciou ontem mudanças em sua estrutura contábil para mitigar os efeitos da valorização do dólar frente ao real. Segundo a analista do Itaú Unibanco Paula Kovarsky, “apesar de essa contabilidade criativa aumentar dividendos para detentores de ações ordinárias (ON, com voto)”, o mercado deve reagir negativamente às mudanças.
Segundo comunicado enviado ao mercado ontem, a estatal passará a adotar um procedimento contábil conhecido como CPC38, que permite reduzir os efeitos da variação cambial sobre as dívidas em dólar no seu balanço. A medida ajudará a Petrobras a melhorar seu resultado no segundo trimestre, já que boa parte da dívida da estatal é em dólar.
A aplicação dessa regra contábil diminui a exposição líquida da Petrobras ao dólar em 70%, passando de R$ 100 bilhões para R$ 30 bilhões. Segundo Paula, com a nova regra, o impacto negativo da variação monetária no segundo trimestre deve diminuir de R$ 10 bilhões para R$ 3 bilhões. “Em outras palavras, o lucro líquido do segundo trimestre, que provavelmente ficaria próximo de zero antes da adoção da CPC38, agora deve ficar ao redor de R$ 4,5 bilhões”, diz, em relatório enviado a clientes.
Mesmo com esse efeito positivo no balanço da Petrobras, a analista do Itaú Unibanco acredita que osinvestidores reagirão de forma negativa. “Duvidamos que os investidores receberão bem mudanças na contabilidade que criam números”, afirma. “Isso limita a transparência, o que não é bom.”
A mão do governo federal
A analista lembra que a mudança pode ter sido motivada pela necessidade de aumentar os dividendos pagos pelas empresas estatais, a fim de elevar o saldo primário do orçamento público. O resultado fraco, esperado caso as mudanças não fossem feitas, diminuiria os dividendos a serem pagos ao governo, que detém principalmente ações ON (estas ações não são protegidas pelas mesmas regras de dividendo mínimo que se aplicam às da classe PN).
O banco mantém a recomendação de “market perform” (desempenho na média do mercado, ou “manter”) para as ações da Petrobras, e estima um preço justo de R$ 24,2 por ação preferencial (PN, sem voto). “Esperamos estreitamento na razão entre as duas classes de ação, uma vez que essa mudança contábil mitiga o efeito negativo da depreciação do real sobre os dividendos pagos aos detentores de ações ON”, observa Paula.
No pregão de hoje, por volta das 15h, as ações ON da Petrobras caíam 1,01%, negociadas a R$ 15,15, e os papéis PN caíam 1,46%, chegando a R$ 15,92. O Índice Bovespa caía 1,69%, chegando a 46.624 pontos.

Paulo Maffioletti ·  Quem mais comentou · Jaboatão
Para os grandes acionistas o que interessa é o fundamento econômico da empresa, que ao empregar recursos modernos de contabilidade para apresentar lucro virtual, demonstra cada vez mais sua fragilidade global diante de mandos & desmandos de um autoritário e despreparado governo.como o investidor se liga em tendência e credibilidade, que estão em baixa, o valor das ações baixará e flutuará, apresentando repiques e volatilidade. assim como o valor de uma empresa é dado pelo valor de suas ações x quantidade (governo+ particulares), podemos dizer que o valor de mercado da PETROBRAS hoje vale 1/3 do que valia há 5 anos, apesar de todos os investimentos. desprovida de fundamento econômico e sem poder pagar dividendos (sem lucro REAL não há dividendos e nem juros sobre capital próprio) as ações deixam de ser estratégicas para assumirem o papel de especulativas: tabaratim , comprei, subiu, vendi. com a bolsa em baixa e a SELIC em alta, a caderneta de poupança vai aumentar a captação.resumindo: LUCRO CONTÁBIL não funciona para investidores porque como não há lucro real , não há dividendos. VAMOS PARA A POUPANÇA. até o colchão é mais seguro.
Mário Moises Borges ·  Quem mais comentou · Gerente Geral na empresa Banco do estado da bahia s/a
O nome da empresa deve mudar para. PTXBRAS.
Antonio Souza · Stanford University
Com o tempo a tendência é acontecer o mesmo que com a Eletrobras; tomar dinheiro emprestado ao BNDES para pagar dividendos. Está tudo errado isso aí. Um mundo de fantasias.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Crimes economicos do governo contra o Brasil; existe essa categoria?

Deveria existir, assim como existem crimes de colarinho branco, designando crimes financeiros, no mercado acionário, fraudes contábeis, etc.
O que o governo vem fazendo é fraude contábil.
Deveria ser condenado por crime econômico...
Paulo Roberto de Almeida

A quem se destina essa 'contabilidade criativa'?

11 de julho de 2013 | 2h 06
Editorial O Estado de S.Paulo
Em junho, a Eletrobrás tomou emprestado R$ 2,5 bilhões do BNDES e pagou dividendos atrasados aos acionistas - o maior deles é a União -, mas entre eles está também o BNDES. É o exemplo mais recente da chamada "contabilidade criativa" - expressão que já mereceria inclusão nos dicionários de economia brasileira, num capítulo relativo às práticas fiscais, no mínimo, condenáveis.
Imagine-se que operação semelhante fosse realizada numa hipotética holding privada do grupo Y, que controlasse bancos e empresas abertas. A controladora, também aberta, precisa de caixa. E manda uma controlada tomar empréstimo num banco do grupo para lhe transferir os recursos que estão faltando. Sem contar gastos adicionais (tributos, pagamento de serviços, etc.), o resultado para o grupo Y é um arranjo contábil em que se tirou dinheiro de um caixa para pôr em outro caixa - mas todos os caixas são da holding. As operações são lícitas, mas o objetivo é maquiar as contas. Se você é acionista da holding, vai querer saber que vantagem levou. Se ficou desconfiado, vai procurar o auditor e o órgão regulador para que a operação seja esclarecida.
No caso, a holding envolvida é o Tesouro Nacional. Os contribuintes podem ser equiparados a acionistas minoritários. E a Eletrobrás tomou dinheiro do BNDES para transferir ao Tesouro, com a agravante de que teve de pagar juros "acima do esperado em operações com garantia da União", segundo o Tesouro. A operação (de capital de giro), descrita em reportagem de Eduardo Campos na edição de ontem do jornal Valor, foi autorizada pelo ministro da Fazenda.
A "contabilidade criativa" já atinge proporções que uma gestão fiscal minimamente responsável não admitiria. Mas essa operação Eletrobrás/BNDES não é só um artifício para iludir analistas de contas públicas. É um expediente contábil cujo propósito é permitir que o governo gaste além do que arrecada. Não fosse por essa "criatividade", o resultado primário de junho seria pior do que aquele que será apresentado pelo Tesouro no final deste mês.
Para gastar mais, o governo não pode ignorar o custo da grave deterioração das contas das empresas estatais, seja por conta do reajuste populista de preços de bens e serviços (derivados de petróleo, na Petrobrás, e energia elétrica, na Eletrobrás), seja pelo uso do BNDES como fonte de caixa, à semelhança do que se fazia, no passado, com a "conta movimento" do Banco do Brasil.