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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Comedia de erros (na verdade uma tragedia): a base de Alcantara sabotada pelos petistas - Rubens Barbosa

Comédia de erros
RUBENS BARBOSA
O Estado de S. Paulo, 10/11/2015

A Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional do Senado Federal está organizando uma série de audiências públicas sobre defesa nacional e a situação da indústria brasileira no setor. Nesse contexto, juntamente com Eduardo Bonini, presidente da empresa Visiona, participei na semana passada de audiência sobre o programa espacial, com ênfase na construção de satélites e na operacionalização da Base de Lançamento de Satélites de Alcântara, no Maranhão.

O programa espacial, corretamente, é uma das prioridades da Estratégia Nacional de Defesa, aprovada pelo atual governo brasileiro.

Os esforços da Aeronáutica para desenvolver um veículo lançador de satélites nacional não dispõem de recursos suficientes para as pesquisas e construção de equipamento simples para cargas de baixo peso. A indústria nacional, com os cortes orçamentários, está perdendo técnicos que poderiam construir satélites com porcentual importante de participação da indústria no produto final. A Base de Alcântara, localizada em posição privilegiada, próxima da linha do Equador, tem competitividade para concorrer no mercado global de lançamento de satélites comerciais de meteorologia e de comunicações. Há interesse de empresas europeias, norte-americanas, chinesas e russas em participar com empresas brasileiras desse significativo mercado internacional. A Visiona, empresa formada pela Embraer e pela Telebrás, seria a coordenadora da integração de todos os interessados.

Nos últimos 13 anos, contudo, por um viés ideológico, o programa registra um atraso considerável.

A razão dessa lamentável situação foi a decisão do PT, então oposição e depois governo, de se opor ao Acordo de Salvaguarda Tecnológica assinado com os Estados Unidos em 2001. A negociação com esse país é importante pelo fato de as empresas norte-americanas serem responsáveis por cerca de 85%-90% dos lançamentos desse tipo de satélite no mundo e porque permitiria que todos os países que lançam satélites de pequeno porte pudessem utilizar a base de forma mais econômica. A Rússia e a China assinaram acordos desse tipo com os Estados Unidos.

O Brasil preferiu assinar um acordo com a Ucrânia para desenvolver o projeto Cyclone, que previa a construção de um veículo lançador para pôr em órbita o satélite brasileiro. O irônico em todo esse episódio é que para lançar o satélite da Base de Alcântara seria necessário que o Brasil assinasse o acordo de salvaguarda com os Estados Unidos, porque o veículo lançador ucraniano tem componentes norte-americanos. Segundo telegrama da Embaixada dos Estados Unidos em Brasília, de 2009, revelado pelo WikiLeaks, até uma gestão diplomática foi feita pelos ucranianos para os norte-americanos concluírem o acordo com o Brasil. O desfecho de todo o imbróglio foi o cancelamento do acordo com a Ucrânia, depois de um custo declarado de R$ 500 milhões, sem nenhum resultado.

A descoordenação e a incompetência não terminam aí. Em 2003, o então ministro das Relações Exteriores anunciou na Câmara dos Deputados, onde o acordo estava sendo examinado, que, juntamente com os ministros da Defesa e da Ciência e Tecnologia, tinha sido decidido que o acordo de salvaguarda tecnológica ia ser retirado oficialmente por não ser de interesse do governo brasileiro. Em 2013, em audiência pública conjunta das Comissões de Relações Exteriores da Câmara e do Senado, essa decisão foi confirmada por outro chanceler brasileiro.

Para surpresa geral, ao examinar a documentação atual dessa matéria no Congresso Nacional, verifiquei que o governo brasileiro não havia retirado o acordo e ele ainda está em tramitação.

O acordo, que poderá tornar viável o uso da Base da Alcântara, gerar recursos (cada lançamento de satélite custa cerca de US$ 50 milhões, que iriam para o Tesouro Nacional) e criar empregos altamente qualificados, há 14 anos segue sua via-crúcis pelas comissões do Congresso; 13 anos na Comissão de Constituição e Justiça, controlada pelo partido do governo, com a perspectiva de ser declarado inconstitucional. Enquanto isso, o acordo com a Ucrânia, cópia do negociado com os Estados Unidos e finalizado a toque de caixa, teve tramitação rapidíssima e foi aprovado pelo Congresso sob a liderança do PT.

O que fazer para resolver essa situação, em que o interesse nacional é posto num distante segundo plano por considerações político-partidárias?

A renegociação do acordo com os Estados Unidos, se o atual governo se dispuser a fazê-la, encontrará forte resistência da burocracia norte-americana, visto que a decisão de 2001 foi política, graças a entendimentos diretos entre os presidentes dos dois países.

A solução mais pragmática, em vista de toda essa comédia de erros, seria o Congresso Nacional superar o viés ideológico e aprovar o acordo com as ressalvas que decidir recomendar ao governo brasileiro. Os entendimentos poderiam ser retomados com o governo de Washington, como previa o comunicado final da visita do presidente Barack Obama ao Brasil, em março de 2011. Estranhamente (ou não seria de estranhar), na recente visita da presidente Dilma aos Estados Unidos, em julho passado, o assunto deixou de ser incluído entre as prioridades do governo brasileiro e não há registro de que o tema tenha sido tratado com as autoridades norte-americanas em qualquer nível.

Caso o assunto não seja reaberto pelo governo brasileiro de maneira positiva e pragmática, o programa espacial, tanto o desenvolvimento do veículo lançador quanto a utilização comercial da Base de Alcântara, continuará em ponto morto. Será mais uma política de Estado vítima da plataforma partidária sobreposta aos reais interesses do País.

Nunca antes na História deste país se sacrificaram tanto as prioridades nacionais no altar da ideologia.

* RUBENS BARBOSA É PRESIDENTE DO CONSELHO DE COMÉRCIO EXTERIOR DA FIESP

domingo, 19 de julho de 2015

Meu tratado geral da mafia complementado pela realidade - Nelson Motta

Algum tempo atrás escrevi um "Tratado Geral da Máfia", disponível neste mesmo espaço.
A realidade veio dar nomes aos bois.
O Brasil enfrenta uma máfia. Vai deixar por isso mesmo?
Ao final artigo, transcrevo novamente meu mini-tratado de uma organização criminosa.
Paulo Roberto de Almeida 


NELSON MOTTA

Princípios, fins e meios

Em nome da ‘causa popular’ vale tudo, extorsão, suborno, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, agir como uma máfia para destruir os adversários e se eternizar no poder

Posso até acreditar que João Vaccari não ficou com um tostão dos pixulécos milionários que arrecadou para o PT na Petrobras. Mas isso não faz dele um guerreiro do povo brasileiro e nem é atenuante para seus crimes; é agravante.
Em países civilizados, de maior tradição jurídica do que o Brasil, como a Itália, a Alemanha e a Inglaterra, a motivação política é um agravante dos crimes, aumenta a pena. Porque o produto do roubo servirá para fraudar processos legais, para atentar contra as instituições democráticas, para prejudicar adversários políticos, e terá consequências na vida de todos os cidadãos que tiveram seus direitos lesados em favor de um plano de poder de um partido.
O ladrão em causa própria dá prejuízos pontuais a pessoas físicas ou jurídicas. O que usa o dinheiro sujo para fraudar o processo eleitoral e manipular a vontade popular, para corromper parlamentares e juízes, para impor o seu projeto político, causa irreparáveis prejuízos a todos porque desmoraliza a democracia, institucionaliza a impunidade e interfere — sejam lá quais forem as suas intenções — de forma decisiva e abusiva nos direitos e na vida dos cidadãos que sustentam o Estado.
Uma das mais nefastas heranças do PT no poder foi a institucionalização — e absolvição — do roubo com motivações políticas, com mensaleiros e tesoureiros corruptos ovacionados como guerreiros e heróis pela militância cega, surda e bem empregada. Por essa ética peculiar, em nome da “causa popular" vale tudo, extorsão, suborno, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, agir como uma máfia para destruir os adversários e se eternizar no poder. Em nome do povo, é claro...
É claro que na maioria desses “roubos políticos", chamados de “expropriação” no tempo da luta armada de Dilma e Dirceu, os guerreiros, diante de tanto dinheiro e tão fácil, não resistem a cobrar seu próprio pixuléco, como registram as históricas imagens de Waldomiro Diniz, braço direito de José Dirceu, pedindo a sua comissão de uma “doação” do bicheiro Carlinhos Cachoeira ao partido, no início da era Lula.
Esse tempo acabou, lugar de ladrão é na cadeia.
Nelson Motta é jornalista

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treze rápidos registros sobre um fenômeno persistente

Paulo Roberto de Almeida

1. A Máfia é uma associação entre iguais, sendo que alguns desses iguais são mais iguais que os demais.

2. Os mais iguais da Máfia são inimputáveis e, nessa condição, não reconhecem leis ou regras de não membros, ou de quaisquer outras origens, que pretendam torná-los imputáveis, o que retiraria, na visão deles, o prefixo deste último conceito. Os mais iguais ficam particularmente irritáveis com as limitações legais que os comuns tentam implementar e que possam contrariar os objetivos gerais da Máfia.

3. A Máfia é uma associação voltada exclusivamente para o seu interesse próprio. O interesse próprio da Máfia e dos mafiosos é o poder, de preferência absoluto, sua conquista e sua manutenção. Eventualmente, eles contam com aliados subordinados, contra quaisquer outras forças ou fatores que possam resistir aos seus objetivos.

4. A defesa do interesse próprio da Máfia é o dever principal e primordial dos iguais e dos mais iguais, sobre quaisquer outros objetivos gerais ou particulares de todos e cada um. Os mais iguais é que dispõem sobre o interesse da Máfia; os demais têm o direito e o dever de segui-los, mais o segundo do que o primeiro.

5. O objetivo geral da Máfia prima sobre os interesses individuais dos mafiosos, que, em nome da obediência estrita a esse objetivo primordial, a ele sacrificarão seus interesses pessoais em favor desse objetivo geral. Tal código de disciplina não é exclusivo da Máfia, sendo comum a determinadas associações corporativas, mas é nela implementado de maneira particularmente eficaz (por vezes hedionda, mas não destinada a ser do conhecimento de almas sensíveis ou de menores de idade).

6. Em contrapartida à fidelidade absoluta e obediência cega às suas principais regras, os membros da Máfia dela recebem total solidariedade, em quaisquer circunstâncias, mesmo quando temporariamente ausentes – geralmente contra a sua vontade – das atividades concebidas e implementadas em favor do objetivo geral da corporação.

7. Os mais iguais constituem uma família original ou forjam laços similares aos de uma família, havendo solidariedade implícita entre os seus membros, que respondem pelo comportamento de qualquer um dos demais integrantes da família. Os menos iguais terão de ter seu estatuto aprovado por alguma família, antes de poderem ser reconhecidos como membros não originais da família maior, mas a ela deverão solidariedade e obediência, como igualmente exigido de qualquer membro original. Uma vez consolidado esse vínculo, ele se torna indelével e indestrutível.

8. Como em outras corporações da espécie, os membros da Máfia devem observar as normas de silêncio obsequioso e de estrito cumprimento às ordens dos mais iguais, observadas as regras de disciplina e de hierarquia que costumam imperar nesses meios. A não observância dessas regras pode submeter o inadimplente às sanções habituais em vigor na Máfia, eventualmente de forma definitiva.

9. A Máfia não professa qualquer religião que não a sua própria, que é estritamente confessional e baseada nas regras gerais e nos princípios da Máfia. Os mais iguais são os altos sacerdotes dessa religião laica, que não possui textos sagrados nem ritos particulares, apenas aqueles que são fixados aleatoriamente pelos mais iguais. A Máfia só deve obediência a um deus: o seu próprio interesse totalitário de manter, ampliar, preservar e eternizar o seu poder. Esse deus é particularmente vingativo.

10. A Máfia tampouco adere a um culto humano qualquer, a não ser ao da seleção determinista dos mais iguais, que devem ser preservados a despeito de quaisquer acidentes naturais e contra quaisquer imponderáveis da fortuna e da sorte. Os demais iguais, como formigas ou abelhas da comunidade, estão ali para preservar o poder dos mais iguais, e assegurar que a espécie tenha continuidade e expansão.

11. A Máfia não se vincula a qualquer ideologia política, a não ser a do seu interesse próprio, que pode conviver com diversas orientações no campo dos regimes políticos e dos sistemas econômicos. Numa analogia superficial, a Máfia se coaduna bem mais com regimes corporativos, fascistas, autoritários, ou mesmo totalitários, e menos com sistemas abertos e transparentes. A Máfia e os mais iguais não pretendem prestar contas de suas atividades e iniciativas a qualquer autoridade que não a dela.

12. Os membros da Máfia têm o dever de contribuir para o fortalecimento, sobretudo financeiro, da corporação, que assume várias formas associativas e identidades. Se algum membro da Máfia enfrentar dificuldades no mundo dos comuns, a corporação lhe presta total solidariedade em quaisquer circunstâncias, determinação ainda mais enfática no caso dos mais iguais, que podem contar com todos os recursos da Máfia. A contrapartida, seguida invariavelmente por todos os membros, é o silêncio e a proteção dos interesses da corporação, de seus negócios e de suas atividades.

13. A Máfia sempre tem razão, e essa razão é exclusivamente aquela expressa pelos mais iguais. Eventuais opiniões em contrário devem ser confrontadas, e seus emissores devem ser convencidos de que a verdade da Máfia é sempre a melhor, independentemente de quaisquer fatos contrários ou provas circunstanciais. Na ausência de convencimento, ou de reconhecimento explícito, a corporação e seus membros têm o dever de corrigir os recalcitrantes e os obstrutores da verdade da Máfia. Perdas colaterais, por vezes até internas, são admitidas nesse processo, que é estritamente controlado pelos mais iguais. A decisão última sobre a verdade da Máfia pertence aos mais iguais, mas, em última instância, quem decide sobre a melhor verdade é o mais igual dentre os mais iguais.


Pela exegese da organização:
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 2542: 7 de Dezembro de 2013


segunda-feira, 22 de setembro de 2014

O que está em jogo nestas eleições: alternância ou barbarie?


O que está em jogo nestas eleições:
Reflexões de circunstância e de alguma constância

Paulo Roberto de Almeida

Eleições, todas elas, são, majoritariamente, um retrato instantâneo da realidade em que se vive, e, num segundo plano, mas de forma inconsciente ou minimizada, uma projeção utópica do futuro que se deseja. Ou seja, se espera que políticos – mandatários ou representantes do povo – possam fazer pelos seus eleitores aquilo que gostaríamos que eles fizessem por nós, todos nós. Trata-se, portanto, de um reflexo da conjuntura em que se vive e de uma esperança depositada num cenário prospectivo, que se imagina ser melhor do que o atual.
Os militantes da causa, e os true believers (existe certa identidade entre as duas categorias), votam pelos chefes, pelas palavras de ordem que lhes são passadas e que eles incutem como obrigação pessoal, quaisquer que sejam a dita conjuntura e os cenários prospectivos que eles possam traçar individualmente: eles são obedientes e determinados, mas também são poucos, no conjunto dos eleitores e sozinhos não poderiam determinar um resultado eleitoral, a não ser marginalmente, ou em circunstâncias excepcionais. Na maior parte das vezes, eleições são o resultado da expressão majoritária de eleitores comuns, cidadãos trabalhadores, pessoas simples, que sempre fazem algum tipo de cálculo quanto à melhor representação de seus interesses.
Eleitores, em geral, mesmo os mais ignorantes e deseducados politicamente, votam de acordo com os seus interesses materiais, não de acordo com crenças abstratas, salvo aquela minoria de militantes disciplinados e de true believers, já mencionados.
A massa dos eleitores brasileiros é constituída por pessoas da baixa classe média e dos chamados estratos populares, ou seja, pessoas e famílias com renda não superior a 2,5 salários mínimos, que compram quase tudo pelo famoso sistema dos “dez vezes sem juros”, e que possuem uma educação elementar, talvez rústica, para empregar uma palavra neutra. Muitos integram aqueles analfabetos funcionais de que falam algumas pesquisas sobre a capacidade de leitura e compreensão (mínimas) de grande parte da população adulta (talvez mais de um terço). Mesmo os que completaram mais de um ciclo de estudos, não internalizaram de verdade sua educação formal, e retiram a maior parte de sua percepção do mundo dos meios audiovisuais de comunicação e de informação, que são os canais abertos de massa, rádios populares e, crescentemente, a internet. Todos eles possuem celulares, mesmo camponeses e garis de rua, e todos eles possuem uma compreensão razoável do que seja um político: um sujeito que está ali para tirar vantagens pessoais a cada quatro anos, mas que pode, eventualmente, trazer algum benefício ao eleitor e à sua família, geralmente um emprego no Estado, o asfalto, a iluminação pública, a saúde, a segurança.
Eleições são momentos de acordos tácitos entre os candidatos e os eleitores, os primeiros mentindo desbragadamente, os segundos fingindo que acreditam, mas esperando tirar mais vantagens do candidato A do que do candidato B.
As eleições brasileiras de 2014 não serão diferentes na forma e nas modalidades de suas predecessoras, com a distinção atual de que o partido hegemônico construiu uma formidável máquina eleitoral – graças ao uso indiscriminado e inescrupuloso de recursos públicos, legal e ilegalmente – e faz absoluta questão de continuar mantendo controle sobre o poder, de uma forma ou de outra (e provavelmente mais de outra do que de uma). Sendo um partido true believer, mas especificamente neobolchevique e não religioso – ou religioso à sua maneira –, ele acha que encarna os interesses populares, e que é o único capaz de transformar o Brasil à sua imagem e semelhança. O que seria isso?: idealmente, uma sociedade igualitária, voltada para a promoção social e a inclusão dos mais pobres na sociedade de consumo, junto com a limitação do que ele percebe serem as perversidades econômicas e as iniquidades sociais naturalmente vinculadas ao capitalismo. Eles acreditam sinceramente nisso, mas apenas os militantes da causa, e esta é a sua legitimação política aos olhos de seus eleitores potenciais.
Na prática, e de forma muito diferente da imagem idealizada, os oligarcas que dominam o partido, com a ajuda de apparatchiks profissionais – exatamente segundo o modelo bolchevique – constituem uma associação voltada exclusivamente aos seus interesses pessoais, e que não hesitam, e sobretudo não hesitarão, em usar quaisquer meios disponíveis para preservar e aumentar esse poder de que dispõem atualmente. Nesse sentido, eles correspondem etimologicamente ao que se poderia chamar de máfia, ou seja, uma entidade inescrupulosa voltada para a defesa exclusiva dos interesses dos oligarcas que a compõem, e para a expansão de sua riqueza e poder, de todos os tipos.
De fato, seu comportamento é o de uma máfia, mas que atua não exclusivamente pelo segredo e na clandestinidade, escondendo os seus crimes (o que eles também fazem, sem nenhuma hesitação). Como partido político, que é sua face mais visível, eles também atuam de forma aberta – embora não desprezem os meios ilegais quando necessário, e em outras circunstâncias também – e têm a missão de conquistar seus devotos mais fiéis, como uma igreja de true believers, enfim. Aparentemente, ele foram bem sucedidos, pois conseguiram criar um formidável curral eleitoral que responde pelo nome de Bolsa Família. É isso que torna estas eleições diferentes das precedentes.
O que está em jogo, portanto, nestas eleições, é a continuidade da máfia no poder, ou uma alternância eleitoral, o que se afigura difícil. A pequena educação política da população brasileira parece indicar que a máfia será bem sucedida em seu projeto de continuidade do poder. É isto que está em jogo em outubro de 2014.

Paulo Roberto de Almeida
Toronto, 21 de setembro de 2014

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Obama ensina para a mafia do Planalto como devem ser feitas as falcatruas na internet - Elio Gaspari

De fato, a máfia da Wikipedia (e de muitas outras coisas mais) abrigada no cerrado central, e em vários outros milhares de lugares clandestinos (mas pagos com o nosso dinheiro), vai passar a tomar mais cuidado daqui para a frente: eles vão só preparar as informações durante o expediente, mas levar para casa num pendrive, e depois contratar um desses hackers russos para fazer o trabalho tão direitinho que nem a NSA vai conseguir localizá-los.
Máfia é isso minha gente: sempre um passo à frente da polícia, e sempre com o nosso dinheiro...
Paulo Roberto de Almeida

De obama@edu para dilma@gov 
Elio Gaspari
O Globo e Folha de S. Paulo, 13/08/2014

Estimada presidente,

No ano passado a senhora zangou-se porque a minha National Security Agency monitorava comunicações do seu governo. Fez muito bem. Agora fiquei sabendo que alguém, usando o serviço da rede do Palácio do Planalto, alterou os perfís de dois jornalistas e a senhora mandou abrir uma sindicância, dizendo que isso é "inadmissivel". Contudo, uma nota do seu governo informou que, por razões técnicas, "é impossível" identificar os responsáveis.
Eu tenho mais horror a jornalistas que a senhora e sou viciado em Blackberry. Outro dia, durante um jantar, Hillary e Bill Clinton ficaram passados porque eu checava meu aparelho enquanto ele falava. (O casal decidiu me acertar, mas essa é outra história.) Vivendo na Casa Branca, tenho sempre que vigiar os aloprados que me cercam. Um deles inventou que o ataque à nossa embaixada em Benghazi não era um ato terrorista, mas consequencia espontânea de uma charge anti-islâmica. Caí no conto e pago por ele. O paranoico do Richard Nixon deixou-se encantar por eles e acabou posto para fora da Presidência. Nossas dificuldades são até parecidas. Eu só lhe escrevo porque a nota dizendo que é "impossível" identificar os aloprados é mais aloprada que eles e ameaça a segurança do seu país.
Um sujeito usa a rede do Planalto e não deixa a impressão digital? Admitamos que uma pessoa resolva fazer isso para transmitir dados confidenciais, segredos de Estado. A Chelsea Manning e o Edward Snowden contrabandearam segredos, mas não usaram a rede do Estado para passá-los adiante. Se um não fosse falastrão, talvez tivesse sido impossível achá-lo. O outro veio a público. O que seu governo diz é que não rastreia permanentemente as comunicações de sua rede. Esses dados precisam ficar armazenados pela eternidade, não por seis meses.
Senhora, a segurança de suas comunicações está bichada. Além da necessidade do rastreamento e do arquivo, nenhum servidor público pode tratar de assuntos oficiais com endereços eletrônicos privados. Faço-lhe uma confidência, há funcionários do seu palácio que, além de manterem endereços privados, armazenam assuntos de Estado na memória de seus computadores pessoais, sem passá-los aos arquivos oficiais. Acham que estão seguros porque podem apagá-los. São tolos. Apagar disco é tarefa complexa e demorada. Se por acaso o computador vai para a oficina, um curioso esperto pode extricar do disco quase tudo o que foi apagado. Ademais, arquivando em computadores pessoais informações do Estado, cometem uma infração.
Procurei informar-me e soube que existem no Brasil servidores civis e militares que conhecem esse assunto. Há até uma entidade privada, o Instituto Brasileiro de Peritos, capaz de ensinar a quem quiser aprender. Recorra a eles, presidente, ou chegará o dia em que seu neto Gabriel encontrará na rede boa parte dos assuntos secretos que passam por sua mesa. E não serão maledicências de Wikipedia, serão coisas muito mais sérias.
A rede de comunicações do governo brasileiro é vossa, cuide dela, pois os outros não haverão de fazer isso.
Michelle manda-lhe lembranças e Sasha espera voltar ao seu Palácio da Alvorada. Ela diz que é o lugar mais bonito em que esteve.

Atenciosamente,
Barack Obama

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Eleicoes 2014: a mafia do PT e seu trabalho sujo, sempre mais - Carlos Brickmann


O valor do poder.
Carlos Brickmann para o Observatório da Imprensa
(*) Especial - Observatório da Imprensa - (www.observatoriodaimprensa.com.br), Circo da Notícia, 12 de agosto de 2014

O general Carl von Clausewitz que nos perdoe, mas no Brasil a guerra não é, como ele dizia, a continuação da política por outros meios. No Brasil, a política é uma das mais cruéis modalidades de guerra, e não é por outros meios: o objetivo é matar no mínimo a reputação de quem não concorda com o político-guerreiro.

É surpreendente que os meios de comunicação estejam assistindo quase em silêncio a duas iniciativas político-partidárias extremamente nefastas: o organizado trabalho de distorção da Wikipédia, para incluir em biografias de pessoas odiadas pelos bem-pensantes seus preconceitos e idiossincrasias (pelo menos em dois casos, os alvos são jornalistas de prestígio, competentes, de elevado conceito profissional, ambos das organizações Globo: Míriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg). Em outro caso, também de interferência na Wikipédia, a fonte das distorções foi identificada pelo IP dos computadores; é gente do Governo, funcionários públicos pagos pelo cidadão para trabalhar e não para fuxicar e fazer campanha usando bens adquiridos, pagos e mantidos pelos impostos de todos.

O Governo se defende com um argumento extremamente frágil: o de que o IP identificado se refere à Internet sem fio do Palácio do Planalto, o que torna impossível identificar exatamente qual o computador de onde partem as distorções insultuosas. Se o Governo está dizendo, deve ser verdade. Mas, seja quem for, o próprio Governo admite que está sendo usada a rede sem fio do Palácio do Planalto. É uma rede protegida, e só consegue usá-la quem tiver a senha. E é uma rede paga com dinheiro público. Não pode ser utilizada exceto para os fins a que se destina - e que não são difamar adversários nem louvar aliados.

Não é o único caso: este colunista já recebeu e-mails insultuosos provenientes de uma empresa estatal; e, quase todos os dias, recebe alguns e-mails de propaganda do partido preferido do remetente ou contendo insultos e acusações contra adversários desse partido, enviados de uma fundação beneficente não governamental - mas que busca arrecadar fundos na sociedade para cumprir seus objetivos específicos, não para fazer propaganda político-partidária de quem quer que seja.
Se este colunista recebe o material, imagine os grandes veículos de comunicação e seus articulistas - que, no entanto, se calam. E não deveriam calar-se, venha o abuso do lado que vier, do Governo ou da oposição (que, em muitos Estados, é Governo). Não se pode aceitar como normal que pessoas pagas por toda a população usem dinheiro público, instalações públicas, equipamento público, ou recursos de doações para fins beneficentes, para atacar adversários ou louvar aliados.

Alguns milhares de pessoas, contratadas publicamente por pelo menos duas coligações partidárias, têm como função atacar adversários nas redes sociais. É feio; mas, sendo feito com recursos privados, dentro de limites precisos, previstos em lei (nada de calúnia ou difamação, por exemplo), vá lá.

Mas nem isso justifica certas grosserias como as que estão ocorrendo na Internet. O blogueiro responsável pelo perfil Dilma Bolada, oficialmente contratado para a época de campanha, não precisaria abusar do preconceito, do machismo e da baixaria como nesse post, atribuído a Dilma Bolada, endereço @dilmabr:

"Marina Silva de biquíni é a cena mais aterrorizante que já vi na minha vida. Agora entendo porque ela defende tanto a Amazônia".

Tira o sofá daí
As modificações feitas com uso de computador do Planalto na Wikipédia não são novidade: só durante o mandato de Dilma, houve 170 intervenções na Wikipédia, para criticar adversários, elogiar aliados e dar mais visibilidade ao trabalho dos ministérios. Neste caso, as modificações classificam as análises econômicas de Míriam Leitão como desastrosas, acusam-na de ser ligada a banqueiros controvertidos; e atribuem a Sardenberg posição contrária ao corte nas taxas de juros (que foi feito na época e revertido a seguir, estando hoje no mesmo nível de antes do corte) para defender interesses de uma federação em que seu irmão é alto funcionário. A circunstância de que Beto Sardenberg tem mais de 40 anos de carreira jornalística, sempre como profissional de primeira linha, nos mais diversos veículos, das mais diversas tendências, é convenientemente omitida.

O mais curioso é a reação do Governo, diante dos fatos revelados por O Globo: proibiu o acesso dos computadores oficiais à Wikipédia. E, ao que se saiba, parou por aí. Procurar os responsáveis pela lambança é cansativo, difícil. E, eventualmente, pode ser danoso à carreira profissional de quem os descobrir.

Uma curtição

Ainda na questão da guerra internética: este colunista descobriu, por acaso, que tinha "curtido" no Facebook a página da ex-ministra Gleisi Hoffmann, candidata do PT ao Governo do Paraná. Acontece que:

1 - Este colunista escreve sobre política e acompanha o setor há muitos e muitos anos. Não vai "curtir" página de candidato nenhum, menos ainda uma página que nem sabia que existia;

2 - Na improvável hipótese de que fosse "curtir" um candidato no Paraná, não seria Gleisi Hoffmann. Por duas vezes, ela escolheu coordenadores de campanha de conduta pouco ortodoxa. Um está preso no Paraná sob acusação de pedofilia. Outro é o deputado André Vargas. Quem faz essas escolhas tem problemas de critério.

3 - A hipótese de "curtir" um candidato no Paraná, seja tucano, pedetista, petista, não existe. Aliás, nos demais Estados da Federação, também não. Na disputa presidencial, também não. É lamentável, mas nenhum dos candidatos à Presidência é entusiasmante. No segundo turno, vota-se contra alguém e, portanto, a favor do adversário. Nada mais do que isso.

Mas fez-se uma pequena investigação sobre pessoas apontadas como tendo "curtido" a página de Gleisi Hoffmann. Pois é: tem gente lá que nem sabia de quem se tratava, ou jamais tinha visto a tal página, ou prefere, no Estado, outro candidato - e mesmo assim aparece como avalizador da candidata.

Não espere que esses fatos apareçam nos meios de comunicação. Todos estão preocupados com temas bem mais próximos de nossa realidade - como a manta Louis Vuitton do cachorrinho do milionário, que teve de ser substituída porque foi lavada na máquina e que mereceu amplo e nobre espaço jornalístico. E pensar que árvores foram sacrificadas para que soubéssemos tudo sobre o cobertorzinho chique do totó de luxo!