Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
quarta-feira, 11 de novembro de 2015
Comedia de erros (na verdade uma tragedia): a base de Alcantara sabotada pelos petistas - Rubens Barbosa
RUBENS BARBOSA
O Estado de S. Paulo, 10/11/2015
A Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional do Senado Federal está organizando uma série de audiências públicas sobre defesa nacional e a situação da indústria brasileira no setor. Nesse contexto, juntamente com Eduardo Bonini, presidente da empresa Visiona, participei na semana passada de audiência sobre o programa espacial, com ênfase na construção de satélites e na operacionalização da Base de Lançamento de Satélites de Alcântara, no Maranhão.
O programa espacial, corretamente, é uma das prioridades da Estratégia Nacional de Defesa, aprovada pelo atual governo brasileiro.
Os esforços da Aeronáutica para desenvolver um veículo lançador de satélites nacional não dispõem de recursos suficientes para as pesquisas e construção de equipamento simples para cargas de baixo peso. A indústria nacional, com os cortes orçamentários, está perdendo técnicos que poderiam construir satélites com porcentual importante de participação da indústria no produto final. A Base de Alcântara, localizada em posição privilegiada, próxima da linha do Equador, tem competitividade para concorrer no mercado global de lançamento de satélites comerciais de meteorologia e de comunicações. Há interesse de empresas europeias, norte-americanas, chinesas e russas em participar com empresas brasileiras desse significativo mercado internacional. A Visiona, empresa formada pela Embraer e pela Telebrás, seria a coordenadora da integração de todos os interessados.
Nos últimos 13 anos, contudo, por um viés ideológico, o programa registra um atraso considerável.
A razão dessa lamentável situação foi a decisão do PT, então oposição e depois governo, de se opor ao Acordo de Salvaguarda Tecnológica assinado com os Estados Unidos em 2001. A negociação com esse país é importante pelo fato de as empresas norte-americanas serem responsáveis por cerca de 85%-90% dos lançamentos desse tipo de satélite no mundo e porque permitiria que todos os países que lançam satélites de pequeno porte pudessem utilizar a base de forma mais econômica. A Rússia e a China assinaram acordos desse tipo com os Estados Unidos.
O Brasil preferiu assinar um acordo com a Ucrânia para desenvolver o projeto Cyclone, que previa a construção de um veículo lançador para pôr em órbita o satélite brasileiro. O irônico em todo esse episódio é que para lançar o satélite da Base de Alcântara seria necessário que o Brasil assinasse o acordo de salvaguarda com os Estados Unidos, porque o veículo lançador ucraniano tem componentes norte-americanos. Segundo telegrama da Embaixada dos Estados Unidos em Brasília, de 2009, revelado pelo WikiLeaks, até uma gestão diplomática foi feita pelos ucranianos para os norte-americanos concluírem o acordo com o Brasil. O desfecho de todo o imbróglio foi o cancelamento do acordo com a Ucrânia, depois de um custo declarado de R$ 500 milhões, sem nenhum resultado.
A descoordenação e a incompetência não terminam aí. Em 2003, o então ministro das Relações Exteriores anunciou na Câmara dos Deputados, onde o acordo estava sendo examinado, que, juntamente com os ministros da Defesa e da Ciência e Tecnologia, tinha sido decidido que o acordo de salvaguarda tecnológica ia ser retirado oficialmente por não ser de interesse do governo brasileiro. Em 2013, em audiência pública conjunta das Comissões de Relações Exteriores da Câmara e do Senado, essa decisão foi confirmada por outro chanceler brasileiro.
Para surpresa geral, ao examinar a documentação atual dessa matéria no Congresso Nacional, verifiquei que o governo brasileiro não havia retirado o acordo e ele ainda está em tramitação.
O acordo, que poderá tornar viável o uso da Base da Alcântara, gerar recursos (cada lançamento de satélite custa cerca de US$ 50 milhões, que iriam para o Tesouro Nacional) e criar empregos altamente qualificados, há 14 anos segue sua via-crúcis pelas comissões do Congresso; 13 anos na Comissão de Constituição e Justiça, controlada pelo partido do governo, com a perspectiva de ser declarado inconstitucional. Enquanto isso, o acordo com a Ucrânia, cópia do negociado com os Estados Unidos e finalizado a toque de caixa, teve tramitação rapidíssima e foi aprovado pelo Congresso sob a liderança do PT.
O que fazer para resolver essa situação, em que o interesse nacional é posto num distante segundo plano por considerações político-partidárias?
A renegociação do acordo com os Estados Unidos, se o atual governo se dispuser a fazê-la, encontrará forte resistência da burocracia norte-americana, visto que a decisão de 2001 foi política, graças a entendimentos diretos entre os presidentes dos dois países.
A solução mais pragmática, em vista de toda essa comédia de erros, seria o Congresso Nacional superar o viés ideológico e aprovar o acordo com as ressalvas que decidir recomendar ao governo brasileiro. Os entendimentos poderiam ser retomados com o governo de Washington, como previa o comunicado final da visita do presidente Barack Obama ao Brasil, em março de 2011. Estranhamente (ou não seria de estranhar), na recente visita da presidente Dilma aos Estados Unidos, em julho passado, o assunto deixou de ser incluído entre as prioridades do governo brasileiro e não há registro de que o tema tenha sido tratado com as autoridades norte-americanas em qualquer nível.
Caso o assunto não seja reaberto pelo governo brasileiro de maneira positiva e pragmática, o programa espacial, tanto o desenvolvimento do veículo lançador quanto a utilização comercial da Base de Alcântara, continuará em ponto morto. Será mais uma política de Estado vítima da plataforma partidária sobreposta aos reais interesses do País.
Nunca antes na História deste país se sacrificaram tanto as prioridades nacionais no altar da ideologia.
* RUBENS BARBOSA É PRESIDENTE DO CONSELHO DE COMÉRCIO EXTERIOR DA FIESP
domingo, 19 de julho de 2015
Meu tratado geral da mafia complementado pela realidade - Nelson Motta
Princípios, fins e meios
segunda-feira, 22 de setembro de 2014
O que está em jogo nestas eleições: alternância ou barbarie?
quinta-feira, 14 de agosto de 2014
Obama ensina para a mafia do Planalto como devem ser feitas as falcatruas na internet - Elio Gaspari
Máfia é isso minha gente: sempre um passo à frente da polícia, e sempre com o nosso dinheiro...
Paulo Roberto de Almeida
De obama@edu para dilma@gov
Elio Gaspari
O Globo e Folha de S. Paulo, 13/08/2014
Estimada presidente,
No ano passado a senhora zangou-se porque a minha National Security Agency monitorava comunicações do seu governo. Fez muito bem. Agora fiquei sabendo que alguém, usando o serviço da rede do Palácio do Planalto, alterou os perfís de dois jornalistas e a senhora mandou abrir uma sindicância, dizendo que isso é "inadmissivel". Contudo, uma nota do seu governo informou que, por razões técnicas, "é impossível" identificar os responsáveis.
Eu tenho mais horror a jornalistas que a senhora e sou viciado em Blackberry. Outro dia, durante um jantar, Hillary e Bill Clinton ficaram passados porque eu checava meu aparelho enquanto ele falava. (O casal decidiu me acertar, mas essa é outra história.) Vivendo na Casa Branca, tenho sempre que vigiar os aloprados que me cercam. Um deles inventou que o ataque à nossa embaixada em Benghazi não era um ato terrorista, mas consequencia espontânea de uma charge anti-islâmica. Caí no conto e pago por ele. O paranoico do Richard Nixon deixou-se encantar por eles e acabou posto para fora da Presidência. Nossas dificuldades são até parecidas. Eu só lhe escrevo porque a nota dizendo que é "impossível" identificar os aloprados é mais aloprada que eles e ameaça a segurança do seu país.
Um sujeito usa a rede do Planalto e não deixa a impressão digital? Admitamos que uma pessoa resolva fazer isso para transmitir dados confidenciais, segredos de Estado. A Chelsea Manning e o Edward Snowden contrabandearam segredos, mas não usaram a rede do Estado para passá-los adiante. Se um não fosse falastrão, talvez tivesse sido impossível achá-lo. O outro veio a público. O que seu governo diz é que não rastreia permanentemente as comunicações de sua rede. Esses dados precisam ficar armazenados pela eternidade, não por seis meses.
Senhora, a segurança de suas comunicações está bichada. Além da necessidade do rastreamento e do arquivo, nenhum servidor público pode tratar de assuntos oficiais com endereços eletrônicos privados. Faço-lhe uma confidência, há funcionários do seu palácio que, além de manterem endereços privados, armazenam assuntos de Estado na memória de seus computadores pessoais, sem passá-los aos arquivos oficiais. Acham que estão seguros porque podem apagá-los. São tolos. Apagar disco é tarefa complexa e demorada. Se por acaso o computador vai para a oficina, um curioso esperto pode extricar do disco quase tudo o que foi apagado. Ademais, arquivando em computadores pessoais informações do Estado, cometem uma infração.
Procurei informar-me e soube que existem no Brasil servidores civis e militares que conhecem esse assunto. Há até uma entidade privada, o Instituto Brasileiro de Peritos, capaz de ensinar a quem quiser aprender. Recorra a eles, presidente, ou chegará o dia em que seu neto Gabriel encontrará na rede boa parte dos assuntos secretos que passam por sua mesa. E não serão maledicências de Wikipedia, serão coisas muito mais sérias.
A rede de comunicações do governo brasileiro é vossa, cuide dela, pois os outros não haverão de fazer isso.
Michelle manda-lhe lembranças e Sasha espera voltar ao seu Palácio da Alvorada. Ela diz que é o lugar mais bonito em que esteve.
Atenciosamente,
Barack Obama
quarta-feira, 13 de agosto de 2014
Eleicoes 2014: a mafia do PT e seu trabalho sujo, sempre mais - Carlos Brickmann
É surpreendente que os meios de comunicação estejam assistindo quase em silêncio a duas iniciativas político-partidárias extremamente nefastas: o organizado trabalho de distorção da Wikipédia, para incluir em biografias de pessoas odiadas pelos bem-pensantes seus preconceitos e idiossincrasias (pelo menos em dois casos, os alvos são jornalistas de prestígio, competentes, de elevado conceito profissional, ambos das organizações Globo: Míriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg). Em outro caso, também de interferência na Wikipédia, a fonte das distorções foi identificada pelo IP dos computadores; é gente do Governo, funcionários públicos pagos pelo cidadão para trabalhar e não para fuxicar e fazer campanha usando bens adquiridos, pagos e mantidos pelos impostos de todos.
O Governo se defende com um argumento extremamente frágil: o de que o IP identificado se refere à Internet sem fio do Palácio do Planalto, o que torna impossível identificar exatamente qual o computador de onde partem as distorções insultuosas. Se o Governo está dizendo, deve ser verdade. Mas, seja quem for, o próprio Governo admite que está sendo usada a rede sem fio do Palácio do Planalto. É uma rede protegida, e só consegue usá-la quem tiver a senha. E é uma rede paga com dinheiro público. Não pode ser utilizada exceto para os fins a que se destina - e que não são difamar adversários nem louvar aliados.
Não é o único caso: este colunista já recebeu e-mails insultuosos provenientes de uma empresa estatal; e, quase todos os dias, recebe alguns e-mails de propaganda do partido preferido do remetente ou contendo insultos e acusações contra adversários desse partido, enviados de uma fundação beneficente não governamental - mas que busca arrecadar fundos na sociedade para cumprir seus objetivos específicos, não para fazer propaganda político-partidária de quem quer que seja.
Se este colunista recebe o material, imagine os grandes veículos de comunicação e seus articulistas - que, no entanto, se calam. E não deveriam calar-se, venha o abuso do lado que vier, do Governo ou da oposição (que, em muitos Estados, é Governo). Não se pode aceitar como normal que pessoas pagas por toda a população usem dinheiro público, instalações públicas, equipamento público, ou recursos de doações para fins beneficentes, para atacar adversários ou louvar aliados.
Alguns milhares de pessoas, contratadas publicamente por pelo menos duas coligações partidárias, têm como função atacar adversários nas redes sociais. É feio; mas, sendo feito com recursos privados, dentro de limites precisos, previstos em lei (nada de calúnia ou difamação, por exemplo), vá lá.
Mas nem isso justifica certas grosserias como as que estão ocorrendo na Internet. O blogueiro responsável pelo perfil Dilma Bolada, oficialmente contratado para a época de campanha, não precisaria abusar do preconceito, do machismo e da baixaria como nesse post, atribuído a Dilma Bolada, endereço @dilmabr:
"Marina Silva de biquíni é a cena mais aterrorizante que já vi na minha vida. Agora entendo porque ela defende tanto a Amazônia".
O mais curioso é a reação do Governo, diante dos fatos revelados por O Globo: proibiu o acesso dos computadores oficiais à Wikipédia. E, ao que se saiba, parou por aí. Procurar os responsáveis pela lambança é cansativo, difícil. E, eventualmente, pode ser danoso à carreira profissional de quem os descobrir.
Uma curtição
Ainda na questão da guerra internética: este colunista descobriu, por acaso, que tinha "curtido" no Facebook a página da ex-ministra Gleisi Hoffmann, candidata do PT ao Governo do Paraná. Acontece que:
1 - Este colunista escreve sobre política e acompanha o setor há muitos e muitos anos. Não vai "curtir" página de candidato nenhum, menos ainda uma página que nem sabia que existia;
2 - Na improvável hipótese de que fosse "curtir" um candidato no Paraná, não seria Gleisi Hoffmann. Por duas vezes, ela escolheu coordenadores de campanha de conduta pouco ortodoxa. Um está preso no Paraná sob acusação de pedofilia. Outro é o deputado André Vargas. Quem faz essas escolhas tem problemas de critério.
3 - A hipótese de "curtir" um candidato no Paraná, seja tucano, pedetista, petista, não existe. Aliás, nos demais Estados da Federação, também não. Na disputa presidencial, também não. É lamentável, mas nenhum dos candidatos à Presidência é entusiasmante. No segundo turno, vota-se contra alguém e, portanto, a favor do adversário. Nada mais do que isso.
Mas fez-se uma pequena investigação sobre pessoas apontadas como tendo "curtido" a página de Gleisi Hoffmann. Pois é: tem gente lá que nem sabia de quem se tratava, ou jamais tinha visto a tal página, ou prefere, no Estado, outro candidato - e mesmo assim aparece como avalizador da candidata.
Não espere que esses fatos apareçam nos meios de comunicação. Todos estão preocupados com temas bem mais próximos de nossa realidade - como a manta Louis Vuitton do cachorrinho do milionário, que teve de ser substituída porque foi lavada na máquina e que mereceu amplo e nobre espaço jornalístico. E pensar que árvores foram sacrificadas para que soubéssemos tudo sobre o cobertorzinho chique do totó de luxo!