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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Coronel do Exército diz sentir nojo de Bolsonaro - Marcelo Pimentel Jorge de Souza (Revista Forum); toda a minha solidariedade, Paulo Roberto de Almeida

 É preciso ter uma boa disposição em defender sua própria honestidade intelectual para vir a público denunciar claramente as autoridades que desmantelam a própria dignidade do cargo que ocupam, ao atuar CONCRETAMENTE contra os interesses do país, de suas instituições, da honra da sociedade.

Toda a minha solidariedade ao militar da reserva Marcelo Pimentel Jorge de Souza, que ousa contrapor-se à passividade da maior parte dos seus colegas, ao empreender uma ofensiva contra os desmandos a que assiste no país. Eu não poderia concordar menos com sua atitude, e ele conta não apenas com meu apoio, mas também com minha companhia na denúncia dos desmandos a que assisto em minha própria instituição.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 22/12/2020


Coronel do Exército diz sentir nojo de Bolsonaro

“Sinto melancolia em ver boa parte dos oficiais de minha geração e ex-comandantes participando de um governo chefiado por uma pessoa política e intelectualmente despreparada”, afirmou Marcelo Pimentel Jorge de Souza, militar da reserva

 Revista Fórum, 

Marcelo Pimentel Jorge de Souza, coronel da reserva do Exército, postou, em sua página no Facebook, um texto contundente contra o presidente brasileiro. O militar afirma sentir nojo de Jair Bolsonaro e vergonha por ter se formado na mesma Academia Militar que ele.

O coronel diz, ainda, que Bolsonaro e seus ministros militares desmoralizam as Forças Armadas. “Sinto melancolia em ver boa parte dos oficiais de minha geração e ex-comandantes participando de um governo chefiado por uma pessoa política e intelectualmente despreparada”.

Leia a íntegra do texto:

Como oficial da reserva do Exército e de acordo c/o direito que me é assegurado pela Lei 7.524/86, declaro ter/sentir:

– NOJO da pessoa que preside meu país;

– DESPREZO por quem participa de seu governo;

– REPÚDIO por quem ainda hoje o apoia;

– ASCO em escutar sua voz ou a pronúncia de seu nome;

– VERGONHA de que tenha um dia passado pela mesma Academia Militar que me formou oficial do EXÉRCITO BRASILEIRO;

– CONTRARIEDADE com quem, minimamente informado, votou nessa pessoa pra ser PRESIDENTE DO BRASIL;

– MELANCOLIA em ver boa parte dos oficiais de minha geração e ex-comandantes participando de um governo chefiado por uma pessoa política e intelectualmente despreparada, inepta e incompetente, além de desumana e extremamente grosseira e mal-educada;

– DESESPERANÇA em perceber que grande parte dos oficiais e praças das novas gerações está seguindo o MAU exemplo de alguns chefes e ex-chefes insensatos, ambiciosos, tolos ou idênticos ao capitão manobrado por generais;

– MEDO que o Exército, por intermédio da maioria de seus integrantes, seja transformado numa instituição à imagem e semelhança de seu atual ‘comandante supremo’, que continua sendo tratado como ‘MITO’ nos quartéis em que comparece, SEMPRE acompanhado por generais-ministros políticos que COMANDAVAM, CHEFIAVAM e GUIAVAM as forças armadas brasileiras… até outro dia; e

– DESCONFIANÇA de que alguns generais que se apresentam hoje como ‘dissidentes do governo’ e críticos (exclusivos) ao presidente, mesmo sendo, antes das eleições, as pessoas que mais o conheciam na face da Terra exceto a própria família (dele), sejam apenas aproveitadores de nova ocasião para manutenção do ‘PARTIDO MILITAR’ no centro do poder e do cenário político nacional, agravando o processo de POLITIZAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS e seu reverso – MILITARIZAÇÃO DA POLÍTICA e da SOCIEDADE -, ambos nocivos para as Forças Armadas (DEFESA) e o BRASIL (ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO)…hoje, amanhã e SEMPRE.

(a) Marcelo Pimentel J. de Souza, cel R-1 EB.

Observações:

1) indico posto hierárquico na manifestação de meu pensamento político (coronel), em contrariedade ao estabelecido na Lei 6.880/80 (Estatuto dos Militares), Art 28, inciso XVIII (determina q o oficial da reserva se abstenha de usar seu posto qdo ocupar cargo público ou ‘discutir política’ publicamente), SIMPLES e EXCLUSIVAMENTE para demonstrar o poder do ‘MAU EXEMPLO’ de inúmeros generais (veja o perfil pessoal de rede social do gen villas boas ou heleno, pra citar apenas dois) que descumprem os preceitos ÉTICOS (é disso que trata o Art 28 do Estatuto dos Militares) mais elementares, traduzido num raciocínio bem simples: “SE UM GENERAL FAZ, QUALQUER OUTRO MILITAR PODE FAZER TAMBÉM” – eu fiz tão somente para mostrar a impropriedade dessa conduta;

2) é o mesmo que dizer… ‘SE UM GENERAL DA ATIVA FAZ POLÍTICA’ (é/era o que fazem/faziam – os generais Pazuello, Ramos, Braga Netto, Rego Barros, respectivamente ministros da saúde, secretaria de governo, casa civil e ‘porta-voz’) ‘QUALQUER MILITAR, DE CORONEL A SOLDADO, PODE FAZER TAMBÉM’;

3) o marechal Osório, comandante da força terrestre na Guerra da Tríplice Aliança, já dizia: “É FÁCIL A MISSÃO DE COMANDAR HOMENS LIVRES; BASTA MOSTRAR-LHES O CAMINHO DO DEVER”;

4) o dever do militar das forças armadas NÃO é governar (independentemente de sua visão político-ideológica, e é livre para tê-la) nem, muito menos, tutelar o poder político civil;

5) lugar de militares e de forças armadas é no ‘fundo do palco’, não protagonizando as lutas políticas normais e legítimas de uma sociedade;

6) pra ajudar a resolver ‘polarizações’ não se deve aderir a um dos polos, muito menos estimular, apoiar ou criar um;

7) ISENÇÃO funcional, NEUTRALIDADE política, IMPARCIALIDADE ideológica, APARTIDARISMO absoluto, PROFISSIONALISMO estrito e CONSTITUCIONALIDADE são os ‘ingredientes’ da argamassa que sustenta o MURO que deve (deveria) separar forças armadas da política. Quem é ou foi chefe e comandante, que ‘PRECEDE, GUIA e LIDERA’ seus subordinados, DEVERIA ser o primeiro a PRATICAR esses 6 princípios, posto que o ‘EXEMPLO ARRASTA’ – ‘ARRASTA’ para a trilha do DEVER profissional ou para as profundezas do ABISMO institucional.

8) eu e muitos oficiais de minha geração formada na AMAN/1987 ajudamos a reerguer aquele MURO nos 30 anos que se seguiram à Constituição que fundou o Estado Democrático de Direito. Ajudamos a reconstruir a IMAGEM POSITIVA de credibilidade, confiança e respeito da sociedade em seu Exército, após 21 anos de autoritarismo inaugurados e protagonizados por chefes militares que se formaram no ‘Estado de Indisciplina Crônico’ dos quartéis nos anos 1920-60 e que, percebendo ou não, transformaram-se em generais ‘DITADORES’ nos anos 1960-70;

9) falo porque é necessário reparar, URGENTEMENTE, as muitas avarias no ‘MURO’, antes que desmorone por completo e tenhamos risco de retroceder institucionalmente àquele ‘Estado de Indisciplina Crônico’ anos pré-64 ou, por outro lado, que se transformem as forças armadas num monolito político-ideológico de sustentação a desvarios autoritários como no período 1964-68-77-85. Como dizia o General Peri Bevilacqua, Ministro do STM cassado pelo AI-5: ‘QUANDO A POLÍTICA ENTRA NO QUARTEL POR UMA PORTA, A DISCIPLINA SAI PELA OUTRA’);

10) falo porque tive (e tenho) a ‘melhor profissão do mundo’ – a de oficial do Exército Brasileiro e, por isso, tenho consciência plena que aquele MURO só será reparado se contar com a participação mutuamente cooperativa das chefias militares das forças armadas e das lideranças políticas da sociedade civil.

Como fazer isso? É resposta ao mesmo tempo SIMPLES e COMPLEXA. Apresentarei somente a parte SIMPLES e IMEDIATA:

– a saída, mais breve possível, de todos (TODOS) os militares da ATIVA que exercem cargos de natureza política e/ou que não tenham claríssima relação com as atividades essencialmente militares (o que inclui atividades administrativas);

– a saída gradual de todos (ou quase todos) militares da RESERVA dos cargos para os quais foram nomeados no governo, estatais, autarquias, fundações, fundos de pensões, embaixadas, tribunais etc., nas mesmas condições dos da ativa; e

– o mais SIMPLES de tudo –> Basta os GENERAIS darem o EXEMPLO. Dar EXEMPLO é fazer primeiro ou junto!

A HISTÓRIA grita aos nossos ouvidos!

Ouçamo-la!

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Lucas Vasques

Jornalista e redator da Revista Fórum.




quarta-feira, 14 de abril de 2010

2099) O asco e nojo das elites: para que nao se perca numa nota de rodape...

A propósito de meu post:

terça-feira, 13 de abril de 2010
2096) Efeitos nefastos do Bolsa Familia sobre o mercado de trabalho,

recebi este comentário de um Anônimo leitor (que não se perca pelo nome) e que transcrevo aqui novamente (apesar de já ter incorporado no post correspondente, para que não se perca sem leitura, posto que poucos são os leitores que vão às notas e comentários, perdidos nas dobras cibernéticas dos blogs), com o único objetivo de oferecer eu mesmo o meu comentário (aliás já iniciado no post acima):

"Quarta-feira, Abril 14, 2010 12:40:00 AM
Anônimo disse...

O PRECONCEITO da elite no Brasil consegue se superar a cada dia.

A cada dia eu tenho mais nojo da elite brasileira que ao qual o Senhor é um dos representantes no campo da Diplomacia. Tenho asco as coisas que escreve que NO FUNDO mascaram UM PRECONCEITO puro e simples contra as tentativas de ascensão social dos mais humildes que o atual governo vem tentando realizar.

O que indigna-me é o modo desrespeitoso como refere-se à Universidade pública brasileira. É MENTIRA afirmar que ela é dominada por um bando de marxistas. A extrema esquerda é minoria entre os professores (é forte sim nos sindicatos dos professores e dos funcionários).

Mas do jeito que o Senhor escreve, parece que os professores e alunos ficam pensando em fazer a revolução o tempo inteiro. É triste ver que um Diplomata escreva coisas do tipo. Um homem que é encarregado de representar o país no exterior e que volta e meia dá en\trevistas no exterior.
(Inclusive o Senhor adora meter a língua na França mas não dispensa uma aparição na Radio France, como ocorreu em 2009).

Talvez Senhor Paulo Roberto de Almeida, seja necessário conhecer mais o país e não ficar somente jogando o seu preconceito (disfarçado de liberalismo) contra os pobres.

Por que não vai a uma Universidade no interior do Estado de MG ou do Nordeste e veja como as coisas acontecem de fato?

Os jovens querem ter uma boa formação seja nas ciências exatas, nas ciências da vida ou nas humanidades. É ISSO que o ATUAL GOVERNO vem realizando.
Estes jovens estudam e não ficam pensando em fazer a revolução."

=============

Já escrevi algo a respeito dos Anônimos, mas eles continuam anônimos, mesmo quando eu garanto a eles que não vou morder, não vou processá-los, não vou xingá-los, nada. A única coisa que eu possa fazer em relação a um Anônimo é passar uma lição de moral, para eles deixarem de ser covardes e dizer que pessoas que assumem suas próprias ideias não deve temer expor-se em público.

Pois bem, o meu Anônimo diz que tem nojo e asco de pessoas como eu, que representariam as chamadas elites brasileiras. Como ele não estipulou sua faixa de renda, eu fico sem saber se ele também pertence a uma elite; de certo modo, sim, pois que escreve mensagens em computador, o que não é dado a todos os brasileiros, apenas os incluídos digitalmente, que segundo certos militantes da causa são uma elite no Brasil.
Sim, de certo modo eu hoje "pertenço" à elite, mas não me sinto parte da elite, tanto porque não venho da elite e sim de uma faixa muito pobre da população, talvez até mais pobre do que o nosso Anônimo, e que se fez pelo trabalho e pelo empenho individual, sempre estudou em escolas públicas e chegou na elite, não por "culpa" minha, por certo, mas pelas circunstâncias...

Meu caro Anônimo,
Você deve ser muito jovem, e avalia positivamente tudo o que o governo vem fazendo em favor do que você chama de "mais humildes", como se o governo estivesse fazendo um imenso favor a esses humildes ao abrir as portas das universidades a eles.
O que deveria ser um direito normal, lhe aparece como um favor, uma concessão, o que denota certa incompreensão de como as coisas deveriam funcionar num país normal, sem as desigualdades brasileiras.

Vou passar por cima das suas ofensas, pois acredito que você tem necessidade de reagir epidermicamente, em lugar de alinhar fatos e argumentos com alguma base na realidade, como aliás transcrito no post que você comenta.
O direito que eu tenho, e que você também tem, de expor fatos, e daí tirar conclusões, você toma como ofensa pessoal, o que revela certo despreparo para o diálogo democrático, para o debate ponderado, para a troca de ideias, sem precisar recorrer a ofensas. Mas, vamos adiante.

Eu não disse que os alunos querem fazer revolução, e se eu disse, gostaria que você me dissesse exatamente onde. Eu ataquei apenas professores incompetente, ignorantes e desonestos. Mas esse não é o problema. Esses professores vão ficar por aí fazendo sua obra nefasta pelos proximos 30 ou 40 anos, com o que mais jovens aguerridos como você vão se formar, incapazes de debater com base em evidências e mais propensos a ofender quem pensa diferente de você (ou deles).

Nao consigo encontrar nenhum argumento factual para rebater todas as suas ofensas, simplesmente não existe. Sim, acusa-me de não conhecer o país, sem saber, o que é o que se chama de pré-julgamento. Provavelmente eu conheço mais o Brasil do que você, inclusive porque tenho mais quilometros rodados, no Brasil e no mundo. Mas esse ainda não é o problema.

Eles me parecem dois: o Bolsa Familia e o Pro-Uni, que você mal toca, e apenas intuo que você defende como duas grandes realizações deste governo.
Sua única outra afirmação, sem provas, é a de que este governo vem oferecendo uma boa formação nas universidades públicas, do que me permito discordar.
Creio conhecer melhor do que você a situação das universidades brasileiras, tanto porque sou convidado a bancas de mestrado e doutorado em vários estados (você pode conferir o meu Lattes se desejar) e dou regularmente palestras em universidades das mais humildes, apenas atendendo a pedidos de alunos. Também respondo a muitas consultas pelo meu site, o que não aparece, e algumas outras por este blog, como a sua (verdade que bem menos ofensivas).

Acredito que você não tenha instrumentos de comparação para aferir quanto a universidade brasileira, pública e privada, é medíocre, e quanto ela vem se mediocrizando cada vez mais, infelizmente.
Digo isso com muita tristeza, mas é o que constato sem a mínima intenção de ofender ninguém. As pessoas saem sem saber escrever do secundário e continuam sem saber escrever até o Mestrado, que virou um remendo para uma graduação mal feita, e isso justamente nas Faculdades de Humanidades (não estou criticando todas as Faculdades, mas especialmente as de Humanidades).
Você deve saber tão bem quanto eu que a tal de dedicação exclusiva é uma fraude, não é nem dedicação, nem muito menos exclusiva.

Mas, meu caro Anônimo, eu lhe ofereço este espaço para você escrever, sem ofensas, e defender seus pontos de vista, com base em argumentos, evidências, provas.

Pode ser sobre o Bolsa Família, pode ser sobre o Pro-Uni, pode ser sobre a economia brasileira.
Aceito debater de forma aberta e respeitosa.
Escreva, quando quiser.

Paulo Roberto de Almeida
(14.04.2010)