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quarta-feira, 14 de abril de 2010

2099) O asco e nojo das elites: para que nao se perca numa nota de rodape...

A propósito de meu post:

terça-feira, 13 de abril de 2010
2096) Efeitos nefastos do Bolsa Familia sobre o mercado de trabalho,

recebi este comentário de um Anônimo leitor (que não se perca pelo nome) e que transcrevo aqui novamente (apesar de já ter incorporado no post correspondente, para que não se perca sem leitura, posto que poucos são os leitores que vão às notas e comentários, perdidos nas dobras cibernéticas dos blogs), com o único objetivo de oferecer eu mesmo o meu comentário (aliás já iniciado no post acima):

"Quarta-feira, Abril 14, 2010 12:40:00 AM
Anônimo disse...

O PRECONCEITO da elite no Brasil consegue se superar a cada dia.

A cada dia eu tenho mais nojo da elite brasileira que ao qual o Senhor é um dos representantes no campo da Diplomacia. Tenho asco as coisas que escreve que NO FUNDO mascaram UM PRECONCEITO puro e simples contra as tentativas de ascensão social dos mais humildes que o atual governo vem tentando realizar.

O que indigna-me é o modo desrespeitoso como refere-se à Universidade pública brasileira. É MENTIRA afirmar que ela é dominada por um bando de marxistas. A extrema esquerda é minoria entre os professores (é forte sim nos sindicatos dos professores e dos funcionários).

Mas do jeito que o Senhor escreve, parece que os professores e alunos ficam pensando em fazer a revolução o tempo inteiro. É triste ver que um Diplomata escreva coisas do tipo. Um homem que é encarregado de representar o país no exterior e que volta e meia dá en\trevistas no exterior.
(Inclusive o Senhor adora meter a língua na França mas não dispensa uma aparição na Radio France, como ocorreu em 2009).

Talvez Senhor Paulo Roberto de Almeida, seja necessário conhecer mais o país e não ficar somente jogando o seu preconceito (disfarçado de liberalismo) contra os pobres.

Por que não vai a uma Universidade no interior do Estado de MG ou do Nordeste e veja como as coisas acontecem de fato?

Os jovens querem ter uma boa formação seja nas ciências exatas, nas ciências da vida ou nas humanidades. É ISSO que o ATUAL GOVERNO vem realizando.
Estes jovens estudam e não ficam pensando em fazer a revolução."

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Já escrevi algo a respeito dos Anônimos, mas eles continuam anônimos, mesmo quando eu garanto a eles que não vou morder, não vou processá-los, não vou xingá-los, nada. A única coisa que eu possa fazer em relação a um Anônimo é passar uma lição de moral, para eles deixarem de ser covardes e dizer que pessoas que assumem suas próprias ideias não deve temer expor-se em público.

Pois bem, o meu Anônimo diz que tem nojo e asco de pessoas como eu, que representariam as chamadas elites brasileiras. Como ele não estipulou sua faixa de renda, eu fico sem saber se ele também pertence a uma elite; de certo modo, sim, pois que escreve mensagens em computador, o que não é dado a todos os brasileiros, apenas os incluídos digitalmente, que segundo certos militantes da causa são uma elite no Brasil.
Sim, de certo modo eu hoje "pertenço" à elite, mas não me sinto parte da elite, tanto porque não venho da elite e sim de uma faixa muito pobre da população, talvez até mais pobre do que o nosso Anônimo, e que se fez pelo trabalho e pelo empenho individual, sempre estudou em escolas públicas e chegou na elite, não por "culpa" minha, por certo, mas pelas circunstâncias...

Meu caro Anônimo,
Você deve ser muito jovem, e avalia positivamente tudo o que o governo vem fazendo em favor do que você chama de "mais humildes", como se o governo estivesse fazendo um imenso favor a esses humildes ao abrir as portas das universidades a eles.
O que deveria ser um direito normal, lhe aparece como um favor, uma concessão, o que denota certa incompreensão de como as coisas deveriam funcionar num país normal, sem as desigualdades brasileiras.

Vou passar por cima das suas ofensas, pois acredito que você tem necessidade de reagir epidermicamente, em lugar de alinhar fatos e argumentos com alguma base na realidade, como aliás transcrito no post que você comenta.
O direito que eu tenho, e que você também tem, de expor fatos, e daí tirar conclusões, você toma como ofensa pessoal, o que revela certo despreparo para o diálogo democrático, para o debate ponderado, para a troca de ideias, sem precisar recorrer a ofensas. Mas, vamos adiante.

Eu não disse que os alunos querem fazer revolução, e se eu disse, gostaria que você me dissesse exatamente onde. Eu ataquei apenas professores incompetente, ignorantes e desonestos. Mas esse não é o problema. Esses professores vão ficar por aí fazendo sua obra nefasta pelos proximos 30 ou 40 anos, com o que mais jovens aguerridos como você vão se formar, incapazes de debater com base em evidências e mais propensos a ofender quem pensa diferente de você (ou deles).

Nao consigo encontrar nenhum argumento factual para rebater todas as suas ofensas, simplesmente não existe. Sim, acusa-me de não conhecer o país, sem saber, o que é o que se chama de pré-julgamento. Provavelmente eu conheço mais o Brasil do que você, inclusive porque tenho mais quilometros rodados, no Brasil e no mundo. Mas esse ainda não é o problema.

Eles me parecem dois: o Bolsa Familia e o Pro-Uni, que você mal toca, e apenas intuo que você defende como duas grandes realizações deste governo.
Sua única outra afirmação, sem provas, é a de que este governo vem oferecendo uma boa formação nas universidades públicas, do que me permito discordar.
Creio conhecer melhor do que você a situação das universidades brasileiras, tanto porque sou convidado a bancas de mestrado e doutorado em vários estados (você pode conferir o meu Lattes se desejar) e dou regularmente palestras em universidades das mais humildes, apenas atendendo a pedidos de alunos. Também respondo a muitas consultas pelo meu site, o que não aparece, e algumas outras por este blog, como a sua (verdade que bem menos ofensivas).

Acredito que você não tenha instrumentos de comparação para aferir quanto a universidade brasileira, pública e privada, é medíocre, e quanto ela vem se mediocrizando cada vez mais, infelizmente.
Digo isso com muita tristeza, mas é o que constato sem a mínima intenção de ofender ninguém. As pessoas saem sem saber escrever do secundário e continuam sem saber escrever até o Mestrado, que virou um remendo para uma graduação mal feita, e isso justamente nas Faculdades de Humanidades (não estou criticando todas as Faculdades, mas especialmente as de Humanidades).
Você deve saber tão bem quanto eu que a tal de dedicação exclusiva é uma fraude, não é nem dedicação, nem muito menos exclusiva.

Mas, meu caro Anônimo, eu lhe ofereço este espaço para você escrever, sem ofensas, e defender seus pontos de vista, com base em argumentos, evidências, provas.

Pode ser sobre o Bolsa Família, pode ser sobre o Pro-Uni, pode ser sobre a economia brasileira.
Aceito debater de forma aberta e respeitosa.
Escreva, quando quiser.

Paulo Roberto de Almeida
(14.04.2010)

4 comentários:

Anônimo disse...

Voltaire não faria melhor, ao defender o direito alheio de discordar!

Vale!

Carlota Vasconcelos disse...

Professor, esta é a primeira vez que comento em seu blog. A alteridade é parceira da sensatez e quem melhor do que o senhor para demonstrar isso? Bom, sua postura quanto ao governo é de fato lúcida. Quem acompanha os números favoráveis certamente não conhece o sistema de perto, muito menos os resultados reais que ele gera a partir das brechas (nesse contexto cabem o Pro-Uni, as Universidades Federais, o Bolsa Família). Por exemplo, pagar para manter alunos na escola tem seu aspecto de benesse, mas aparentemente ignora aqueles que se aproveitam da circunstância (há quem gere filhos em função do benefício, há quem frequente EJA para patrocinar o uso de drogas ilícitas, há alunos que ameaçam professores que não asseguram o registro de presença nas aulas - o que resultaria na perda do "salário", há professores sobrecarregados enfrentando salas superlotadas e enésimas jornadas diárias para assegurar um salário decente no fim do mês). Existem aspectos que só quem tem oportunidade de acompanhar a rotina de escolas constata. As Universidades Federais por exemplo apregoam democracia e exercitam uma espécie de absolutismo hipócrita (posto que em muitas ocasiões não existem alunos e sim autodidatas graduandos; em muitos casos, particularmente em cursos de Saúde, os laboratório estão sucateados e fazem os estudantes enfrentarem verdadeiras jornadas épicas para concluirem projetos de monografia; esses são apenas alguns exemplos que declaro por testemunho). Enfim, a situação do país não é cor de rosa como pintam e o trabalho a ser feito para mudanças efetivas exige um compromisso latente e particularmente difícil, e uma logística especialmente rígida. Mas não é fácil governar. O fato, é que todos gostaríamos que transformações mais significativas acontecessem para beneficiar a todos com certa igualdade. Parabéns pelo blog, professor e bom trabalho!

Paulo Roberto de Almeida disse...

Grato pelo comentario Carlota.
O Brasil está construindo um sistema de benesses institucionalizadas que é simplesmente inviavel economicamente (e a sociedade produtiva vai pagar caro, muito caro por isso, no médio e no longo prazo), está criando uma cultura da assistencia pública que é absolutamente deletéria em termos morais e sobretudo está criando comportamentos politicos absolutamente irresponsáveis em todos os planos que se possam imaginar: para se perpetuar no poder, as mafias politicas e sindicais criam esses beneficios setoriais, para pobres, ignorantes ou oportunistas (inclusive os raciais) e passam a conta para o povo trabalhador.
Insustentavel e moralmente abjeto...
Paulo R Almeida

Rodrigo L. disse...

Bela resposta, parabéns.