O site Mundo RI pediu-me permissão, no ano passado, para reproduzir uma antiga "entrevista" minha (de 2006) sobre a "profissão" do "internacionalista", o que sempre me deixa um pouco desconfortável pois todos sabemos que realidades dinâmicas como mercado de trabalho, perfis profissionais e o próprio mundo das relações internacionais estão constantemente mudando.
Eu não tinha tempo, porém, para responder novamente uma bateria de perguntas sobre esses temas, e por isso acedi, depois de uma leitura ultra-rápida, em diagonal, da matéria divulgada seis ou sete anos atrás. Não tenho certeza de ter revisto adequadamente esse texto, o que tampouco fiz agora.
O fato é que alguém me contatou, falando novamente dessa entrevista de setembro de 2012 (sic), da qual nunca tomei conhecimento, o que fiz agora.
Talvez ainda sirva para alguma coisa, e por isso me permito postá-la novamente aqui, sem as garantias de controle de qualidade e data de validade (existe algum controle externo sobre isso, que não seja o da Anvisa e outros órgãos do mesmo gênero?).
Em todo caso, não respondo pela atualidade da matéria, apenas pelo bom humor, que parece não ter ainda data final...
Paulo Roberto de Almeida
As relações internacionais como oportunidade profissional / Paulo Roberto de Almeida
14/9/2012
Originalmente
publicado em 2006 no próprio site do Diplomata Paulo Roberto de
Almeida, estas resposta às questões mais colocadas pelos jovens que se
voltam para a carreiras de relações internacionais, ainda são atuais,
somente temos que abrir uma ressalva feita pelo próprio autor, que a
realidade melhorou um pouco, junto com as oportunidades de mercado, com
tendência de melhoria continua. Espera-se que o texto sirva para como
mesmo diz o autor, para as pessoas "arregaçarem as mangas",deixarem de
serem passivos. (Redação, Portal MundoRI.com)
1. Com quais expectativas o jovem ingressa no curso de relações internacionais?PRA:
Provavelmente, na maior parte dos casos, com a expectativa de tornar-se
diplomata ou funcionário internacional, ou então animado pelo vago
desejo (ou mesmo vontade concreta) de sair do Brasil, passar sua vida
entre capitais européias e da América do Norte, fazer-se no mundo,
enfim. Deve-se observar desde logo que o ingresso na diplomacia, na
verdade, acaba ocorrendo para uma fração mínima dos ingressados nesses
cursos, uma parte também relativamente pequena voltando-se para as
próprias atividades acadêmicas ligadas às relações internacionais e a
maior parte devendo inserir-se, de algum modo, no mercado de trabalho
"normal", isto é, do setor privado, altamente competitivo.
Aqueles
muito jovens – digamos entre os 18 e 20 anos – ostentam uma visão
relativamente romântica do que seja o mundo ou a projeção internacional
do Brasil, não estando aqui excluídas motivações essencialmente
idealísticas, no sentido da atuação em causas humanitárias, ecológicas,
imbuídos que são do desejo de mudar o mundo ou de ajudar aqueles que são
percebidos como "vítimas da globalização" ou de misérias ancestrais. Os
mais "velhos" – que podem eventualmente ter iniciado o terceiro ciclo
por algum outro curso e efetuado o desvio para relações internacionais
no meio da rota – possuem expectativas mais concretas e realistas,
eventualmente construídas a partir do exercício de alguma atividade
profissional paralela aos estudos de terceiro ciclo, mas eles também
podem estar imaginando ou aspirando por uma "vida diferente" da mesmice
cotidiana em âmbito puramente nacional, algum relevante papel de
"negociador", de "funcionário" ou de "executivo internacional". Ou seja,
todos eles possuem altas expectativas em relação aos cursos e as
oportunidades profissionais dele resultantes, sem talvez medir muito bem
a distância que ainda separa o universo relativamente teórico do
universo "mental" desses cursos e a realidade do mundo profissional,
feita de muito esforço individual, salários nem sempre elevados como
esperado e uma indefinição geral quanto ao exercício concreto das
"generalidades" aprendidas nos bancos universitários.
2. Em quais as áreas o bacharel em RI sai preparado para atuar?PRA:
Como ele é um generalista em especialidades "internacionais" ele
poderá, supostamente, atuar em todas as áreas nas quais alguma
competência vinculada ao seu terreno é requerida, seja no campo da
análise e processamento de informações relativas aos diferentes cenários
regionais e internacionais, seja na pesquisa e ensino acadêmico, nas
áreas de relações internacionais das burocracias públicas – o que inclui
a diplomacia tradicional, novas "diplomacias" em ministérios setoriais,
assessorias internacionais de diversos órgãos etc. – e, provavelmente
em maior "volume", nas empresas privadas e nas chamadas ONGs que possuem
ou aspiram possuir qualquer tipo de interface com o mundo exterior. O
problema, aqui, é que as empresas requerem, em geral, uma competência
mais específica e provavelmente mais especializada do que o conhecimento
sintético das relações internacionais, a qualquer título. As empresas
não estão minimamente preocupadas com a teoria institucionalista ou
neo-realista das relações internacionais, tampouco com o funcionamento
do Conselho de Segurança da ONU: elas desejam simplesmente vender ou
fazer negócios com parceiros externos e por isso elas são mais
suscetíveis de apelarem para profissionais especializados como
economistas, advogados ou algumas outras profissionais mais
"tradicionais". Afinal de contas, trata-se de fazer uma prospecção de
mercado ou de elaborar um contrato de cessão ou compra de direitos e
outros ativos entre dois agentes privados, que devem rentabilizar seu
tempo e seus recursos humanos e materiais, não havendo muito lugar para
teorizações indevidas ou abstrações fora do campo essencialmente
pragmático no qual atuam essas empresas.
Em outros termos, o
bacharel de RI seria extremamente consciencioso se ele procurasse, de
imediato, suprir suas carências em competências específicas buscando uma
especialização dentro de seu campo de estudo, procurando estágios desde
cedo ou mesmo fazendo algum outro curso paralelamente. Como para as
demais especializações disciplinares, uma pós-graduação seria altamente
recomendável, ou então uma outra via, mais racional, a formação de base
numa profissão "normal" ou "tradicional" e uma pós ou estudos
especializados em relações internacionais, eventualmente com orientação
já definida para a área na qual o candidato a um bom emprego pretende
atuar.
3. Qual o nome dado ao profissional depois de formado?PRA:
Não tenho certeza se o termo está consagrado, mas, aparentemente, seria
"internacionalista" (uma expressão ainda não oficializada, diga-se de
passagem, como a própria "profissão", que não corre nenhum "risco" de
ser regulamentada no futuro previsível). Em todo caso, melhor assim, do
que algo estranho como "internacionalóide" ou "internacionaleiro".
4.
Existe a discussão sobre a relevância do curso para quem quer seguir
carreira diplomática. É mesmo o melhor caminho ou o primeiro passo para o
Instituto Rio Branco e o Itamaraty?PRA:
Não tenho certeza de que este seja o melhor caminho para os indivíduos
que aspiram a ter alguma atividade já consagrada no circuito
profissional, pois se trata de uma área relativamente nova, ainda não
suficientemente "testada" nos mercados de trabalho. O que ocorreu, nos
últimos anos, levado pelos ventos da globalização e da regionalização,
foi um fenômeno "anormal" de expansão "geométrica" dos cursos de
relações internacionais, provavelmente sem qualquer relação com a
demanda efetiva do mercado. Havia uma demanda da parte dos jovens,
atraídos pelo que parece ser um campo novo e talvez vasto – mas
provavelmente não suficientemente "elástico" como o desejado pelos
jovens – e as instituições privadas de ensino se encarregaram de
satisfazer essa demanda por cursos de "aspecto" internacional.
Quanto
à carreira diplomática, estrito senso, o recrutamento é altamente
seletivo e a formação deveria ser, portanto, focada nas humanidades em
geral, com um domínio igualmente satisfatório de ciências sociais
aplicadas como economia e direito. Não é seguro que um curso de relações
internacionais consiga dar todas as competências requeridas, mas ele é
provavelmente o que mais estaria dentro do "campo" da diplomacia
profissional. Acontece, porém – e isso precisa ficar muito claro aos
jovens aspirantes à carreira – que, sendo o recrutamento caracterizado
pela "hecatombe" de 90% dos candidatos, os "não-entrantes" precisam
"sobreviver", de alguma forma, nas profissões normais, requeridas pelo
mercado, e aqui o nicho das relações internacionais ainda é
relativamente difícil.
Pode-se dizer, de uma maneira geral, que o
curso, in abstracto, é relevante, mas os cursos, tomados concretamente,
diferem muito entre si pela qualidade das matérias oferecidas, pela
competência dos professores contratados, pela disponibilidade de
recursos didáticos e materiais, etc.
Parece ocorrer, atualmente,
com os cursos de relações internacionais, algo semelhante ao que se
passou, em outras épocas, com os cursos de ciências sociais, de
psicologia, de jornalismo, que passaram a atrair multidões de jovens sem
um perfil muito definido quanto à carreira desejada ou suas aspirações
concretas. O modismo, como tudo a cada época, um dia vem abaixo… Mas é
também possível que os patamares de demanda sejam mantidos ou até
ampliados, pois há certas "modas" que não passam, seja por uma demanda
regular – como ocorre hoje com os cursos de jornalismo – seja porque a
globalização é mesmo irrefreável e contínua, um "universo em
expansão"...
5. O que diferencia o curso de RI dos cursos de comércio exterior e de direito e economia internacionais?PRA:
Não existem cursos de "economia internacional", apenas de economia,
tout court, assim como no direito, embora os egressos desses cursos
possam buscar, nos últimos semestres, algum tipo de especialização
informal dentro desses campos em suas respectivas áreas. Comércio
exterior se apresenta hoje como uma orientação relativamente técnica,
algo assim como "contador", embora seja uma área que requeira e deva
contar com estudos aperfeiçoados, que aliás podem estar dentro de alguns
cursos de relações internacionais – que assim exibiriam especializações
mais para "ciência política" ou mais para economia internacional,
segundo o gosto do cliente.
Acredito mesmo que no decurso da
sedimentação necessária e natural dos cursos de relações internacionais
nas diferentes regiões do país, essas orientações geográfico-espaciais
ou essas inclinações temáticas acabarão emergindo progressivamente. Ou
seja, pode-se conceber cursos de relações internacionais voltados para o
agronegócio nas principais regiões produtoras de commodities demandadas
pelo mercado mundial, cursos voltados para a diplomacia e a pesquisa
nas ciências sociais em algumas grandes capitais, outros cursos voltados
para o comércio exterior e a integração regional nas regiões mais
"expostas" aos processos sub-regionais de integração e assim por diante.
6.
O aumento de ofertas para o curso de RI em diversas faculdades públicas
e particulares poderia significar que a procura é alta para a carreira?PRA:
A procura ainda é alta por uma espécie de ilusão dos jovens quanto ao
"charme" e a oferta de empregos nessa área, pelo efeito do já mencionado
"modismo", ou porque o Brasil está mesmo deslumbrado com a
globalização, ingressante tardio – e incompleto – que foi nos grandes
circuitos da interdependência global. Não imagino que a demanda venha a
se manter nos próximos anos, seja porque haverá um "plafonnement" e
queda ulterior, seja porque o ritmo de crescimento tenderá a diminuir,
ao descobrirem, muitos egressos, que os cursos não são assim tão
"funcionais" para as necessidades de uma carreira concreta, seja porque a
oferta, como sempre ocorre, supera a demanda efetiva. Não deve ocorrer,
aqui, nenhum "keynesianismo" avant la lettre, pois o governo não parece
estar em condições de garantir demanda efetiva numa área que não
aparece como prioritária em termos de recursos humanos.
Resumindo:
a procura, a jusante, não é alta, mas sim está ocorrendo um crescimento
da oferta de cursos para atender uma demanda pré-existente, a montante,
portanto. O mercado deverá ajustar oferta e procura dentro em breve. De
toda forma, não existe UMA carreira de relações internacionais, e sim
diferentes "carreiras" – ou melhor, oportunidades de emprego – que vão
se ajustando aos nichos existentes, muito diversos entre si. Como a
profissão não é regulamentada, nem tem chances de sê-lo muito em breve,
persistirá essa relativa indefinição do que é "carreira" ou
"especialização" em relações internacionais.
7. O jovem passou a se interessar mais por assuntos relacionados ao mundo?PRA:
Certamente. O bebê já nasce ouvindo teclado de computador, e a
internet, como as demais tecnologias de informação, permeia a vida das
pessoas desde tenra idade. Não há como escapar, hoje, dos apelos do
mundo. Mesmo que algum jovem não tenha o mínimo interesse por "coisas"
do mundo, o mundo vem inevitavelmente até ele, pelos mais diferentes
caminhos e meios. Ninguém escapa…
8. Os
atentados de 11 de Setembro e as subseqüentes guerras no Afeganistão e
no Iraque podem ter tido alguma influência no aumento de interesse por
Relações Internacionais?PRA:
Provavelmente, mas não mais do que MP3, celular, internet de modo geral.
Há hoje uma crescente interpenetração entre o nacional e o mundial,
todo dia franquias estrangeiras vêem se estabelecer no Brasil, as
viagens internacionais são cada vez mais freqüentes e acessíveis, o
inglês tornou-se obrigatório para o simples exercício (e vício)
preguiçoso do "cut and paste" para os trabalhos escolares, enfim, o
mundo vem até nós, aos borbotões. É natural que cresçam e apareçam as
profissões e especializações ligadas às relações internacionais, mas os
interesses e as oportunidades são ainda muito difusos.
9.
Certos cursos, como direito e administração, são opções de vestibular
para muitos adolescentes que não sabem exatamente o que querem fazer da
vida. Por abranger muitas áreas, a carreira de RI não acaba atraindo
mais jovens indecisos?PRA: Exatamente:
direito e administração oferecem amplas possibilidades para todos os
tipos de vocações, por vezes sequer diretamente relacionadas com os
campos temáticos dessas duas áreas. As RI podem, também, oferecer muitas
possibilidades, mas, à diferença das duas primeiras, elas não
constituem uma profissão reconhecida, "testada" no mercado e
expressamente demandadas pelos mercados ou pelas empresas. Essa pequena
diferença pode ser decisiva na inserção profissional dos jovens: entre o
certo de uma profissão tradicional e o incerto de um campo novo, talvez
seja o caso de ficar com o certo. O problema é que o Brasil é um país
dotado de muito pouco empreendedorismo, a despeito da tremenda
flexibilidade de sua mão-de-obra, revelada na grande capacidade
adaptativa e nos esquemas informais que permeiam os mercados de trabalho
(existem vários, do mais inserido ao totalmente informal). Uma pesquisa
na escola média revelaria, provavelmente, que poucos jovens aspiram
lançar o seu próprio negócio, a maior parte deles estando voltada para
cursinho ou estudo para algum concurso, qualquer um, em carreira dotada
de estabilidade.
Esse problema da "indecisão" dos jovens pode
hoje estar levando muito deles para as RI, assim como no passado os
jovens "revolucionários" eram atraídos pela sociologia – segundo Mário
de Andrade, a "arte de salvar rapidamente o Brasil" – e as jovens
casadoiras eram levadas a fazer psicologia, esperando marido… Hoje se
faz RI, porque protestar contra a "globalização perversa" virou esporte
quase obrigatório entre os jovens…
10. Com tanta oferta de cursos, há espaço suficiente para o profissional em RI no mercado?PRA:
Certamente tem ocorrido certa "inflação" de cursos, mas nisso os
próprios demandantes levam a culpa: eles "pediram" e os empresários da
educação correram para atender essa demanda do mercado de estudantes.
Esses "industriais da educação" não estão minimamente preocupados com o
espaço do "profissional" de RI – se é possível chamá-lo assim – no
mercado de trabalho, esse não é o "departamento" deles. Sua função é a
de apenas "fornecer" aquilo que lhes é pedido: um curso e um canudo,
depois cada um que se vire como puder num mercado indefinido. Ou seja,
não estamos num "supply side economics of international relations", mas
essencialmente num mercado demandante por cursos e canudos, o resto fica
ao sabor do próprio mercado…
11. O mercado e as empresas estão preparados para entender o que é profissional de RI?PRA:
A pergunta deve ser completamente invertida: nem os mercados, nem a
fortiori as empresas precisam estar "preparados para entender o que é
profissional de RI". Essa não é função deles. Sua única função é
recrutar competências para o exercício de atividades profissionais
específicas e os requerimentos são estritos: ou o profissional se adapta
e atende ao que lhe é demandado, ou então ele pode procurar outro
emprego. Por isso, volto a insistir: as empresas, na maior parte das
vezes, não querem intelectuais brilhantes que sabem discorrer sobre o
Conselho de Segurança da ONU ou o último livro do Keohane, elas querem
alguém que saiba redigir um contrato, negociar um acordo com parceiro de
outro país, fazer uma boa prospecção de mercado, trazer negócios,
lucros e resultados, ponto. Este é o mercado, que deve ocupar pelo menos
80% dos egressos dos cursos de RI, qualquer que seja o seu número (o
resto indo para os governos e as academias).
Quem deve entender as
(e de) empresas e o (de) mercado são esses profissionais, que se não
souberem lidar com essas realidades, se auto-excluem dos melhores
empregos nesses mercados. Não é uma questão de preferência, é assim,
ponto. As empresas não vão à cata de jovens egressos dos cursos de RI,
eles é que devem tentar se oferecer para elas.
Os jovens
precisam, desde o início, tomar consciência de que, ao receber o canudo,
ao saírem das faculdades, não vai haver uma fileira de "head hunters"
esperando por eles na calçada, não haverá sequer um mísero recrutador
esperando por eles para dizer: "Venha, meu jovem, tenho um emprego
esperando por você!". Isso simplesmente não vai acontecer. Ou eles se
preparam, desde o segundo ou terceiro ano, fazendo estágios, montando
empresas juniores com seus colegas, pesquisando por conta própria novos
nichos de mercado, ou eles vão ficar de canudo na mão reclamando da
vida.
Se eu fosse um jovem, hoje, e não um diplomata com 28 anos
de carreira, mas ainda disposto a diversificar no privado (ensino e
pesquisa, eventualmente consultoria), eu me perguntaria: "qual é o meu
nicho no mercado futuro, o que o Brasil ou o mundo me reserva, dentro de
dois ou três anos?" Uma breve pesquisa de internet me daria a resposta
em 5 minutos, ou a minha própria vontade e vocação determinariam o meu
destino imediato. Abstraindo-se a própria carreira diplomática –
excessivamente restrita para servir de "colocação" para um grande número
de jovens – e algumas outras carreiras no serviço público – analistas
de comércio exterior ou de inteligência – e nas academias, o que sobra,
obviamente, como "opção" são as empresas, grandes e pequenas. Eu até
diria que o "profissional" de RI poderia montar a sua própria, mas o
empreendedorismo individual ainda é muito pouco desenvolvido no Brasil.
Nessa
perspectiva, é óbvio que um jovem paulistano precisa ter uma visão
"global business", é evidente que um jovem do "cerrado central" precisa
pensar no Brasil como o grande fornecedor mundial – o que ele já é, mas
será cada vez mais – de produtos do agronegócio, é evidente que aqueles
que amam praia, sol, florestas e montanhas encontrarão excelentes
oportunidades no turismo de massa ou especializado, está mais do que
claro que o Brasil tem um imenso campo em todas as áreas nas novas
energias renováveis, na exploração dos recursos naturais, na conformação
de um espaço integrado na América do Sul. Se eu fosse jovem e quisesse
ganhar muito dinheiro, eu já estaria estudando todas essas
oportunidades. Tudo isso É relações internacionais, tudo isso é
interdependência global, tudo isso é globalização. Quanto antes o jovem
se preparar, e não ficar passivamente esperando o fim do curso para
depois pensar no que vai fazer, será melhor para ele e para suas
famílias.
Desse ponto de vista, acho, particularmente, que os
cursos, atuais, das faculdades voltadas para esse campo, e seus
respectivos professores, estão muito pouco preparados para atender essa
demanda. Trata-se de uma demanda real, não daqueles requisitos prosaicos
de uma grade curricular tradicional, que copia passivamente a inércia
"humanistóide" dos cursos tradicionais das universidades públicas – em
ciências sociais em geral, mas fazendo uma combinação de direito,
história, economia e ciência política – que, elas, parecem não ter
nenhum compromisso com os mercados reais. Talvez os jovens não encontrem
o curso ideal nem nas faculdades privadas nem nas públicas. O melhor,
então, seria que eles "construam", sozinhos, e de maneira absolutamente
auto-didática (se possível com os colegas), os seus próprios "cursos".
Talvez eles não sejam melhores, em qualidade imediata, do que aqueles
oferecidos oficialmente pelas instituições de ensino, mas eles
certamente serão mais adaptados e estarão mais conformes às aspirações e
necessidades dos próprios jovens.
Acho que é hora de deixar de ser passivos: arregacem as mangas, jovens, mãos à obra, construam suas próprias vidas!
Paulo Roberto de Almeida é Doutor em Ciências Sociais, mestre em Planejamento Econômico, diplomata. E-mail:
pralmeida@mac.com
Fonte:
www.pralmeida.org