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sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Comercio exterior, noticias ruins em todas as frentes...

Argentina y Brasil aislados en acuerdo contra protecionismo
El Observador (Uruguai), 2/07/2013

Rechazan extender hasta 2016 compromiso del G-20 para de no afectar comercio e inversiones

Brasil y Argentina están aislados en el G-20, grupo de las economías desarrolladas y emergentes, en su rechazo de extender hasta 2016 un compromiso para que los países no adopten medidas que afecten el comercio y las inversiones.

Desde 2008, en cada cumbre de líderes del G-20, el grupo de naciones que representan el 90% de la producción mundial se compromete a rechazar el proteccionismo. Ese pacto se renovó en Los Cabos (México), el año pasado, hasta final de 2014, incluyendo la promesa de retroceder en caso de cualquier nueva medida proteccionista adoptada con anterioridad.

Para la cumbre de septiembre en San Petersburgo, Rusia, en la mesa de negociaciones está la propuesta de extender el compromiso por otros dos años, en medio del reconocimiento de que la economía global no salió de la crisis, continúa debilitada y el comercio internacional se expande lentamente.

El compromiso es importante desde el punto de vista político, a pesar de que siempre fue un fracaso. La Organización Mundial de Comercio (OMC) muestra que en los países del G-20 se implementaron más de cien medidas restrictivas al comercio en los últimos siete meses. Brasil siempre resistió al compromiso de “standstill”, conforme el vocabulario de la OMC. Esta vez la posición brasileño sorprendió a los negociadores al menos por dos razones. Por un lado, Brasil se aísla con Argentina en una situación que se ve como desnecesaria y que alimenta fricciones, cuando el propio ministro de Economía brasileño, Guido Mantega, anunció recientemente que ahora, con el real desvalorizándose, planea reducir algunos aranceles de importación para aliviar el costo de sectores industriales.

Además, el brasileño Roberto Azevedo, nuevo director general de la OMC, deberá ser uno de los mayores defensores del entendimiento anti-proteccionismo. Azevedo participará en San Petersburgo de su primer G-20 con el mismo discurso de cualquier jefe de la OMC, de que el comercio puede ser un motor de crecimiento y una fuente de fuerza para la economía global, y no ser visto como una fuente de inestabilidad y tensión.

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Argentina cai no ranking de exportadores para o Brasil
Clarín (Argentina), 2/07/2013

Segundo os dados de julho, a Argentina foi superada pela Nigéria entre os principais exportadores para o mercado brasileiro. Agora, a Argentina está no quarto posto. Em julho, o País registrou déficit com o vizinho, apesar das barreiras comerciais que afetam também produtos brasileiros.

O ranking dos principais vendedores para o Brasil agora é assim: China, Estados Unidos, Nigéria e Argentina.

Em julho, enquanto a China e os Estados Unidos exportaram mais de US$ 3 bilhões para o Brasil, a Nigéria marcou US$ 1,8 bilhões e a Argentina quase US$ 1,5 bilhões. 

O aumento da compra de petróleo nigeriano, por parte do Brasil, foi um dos principais motivos para este novo quadro.

As exportações argentinas para o Brasil representaram, em julho, 6,5% do total importado pelo Brasil - principal sócio comercial argentino.

São dados da consultoria Abeceb, de Buenos Aires, com base nos números do Ministério brasileiro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, de primeiro de agosto.

Por sua vez, o déficit comercial argentino, de quase US$ 400 milhões com o Brasil corresponde a seu já histórico resultado na relação bilateral, de acordo com análise da Abeceb.

Em termos gerais, o comércio bilateral registrou aumento de 18,7% em julho em relação ao mesmo mês de 2012, com um total de US$ 3.3 bilhões.

O resultado foi, porém, deficitário para a Argentina porque as importações feitas pelo País, do Brasil, aumentaram, mas suas exportações para o mercado brasileiro não responderam o mesmo ritmo.

De acordo com o estudo da Abeceb, o déficit de julho corresponde a uma questão “estrutural do comércio”.

Vale recordar que a moeda brasileira, o real, está valorizada na comparação com o peso argentino - o que tradicionalmente foi preocupação do setor industrial argentino que temia e teme que um real desvalorizado tire a competitividae dos produtos nacionais.

Em julho, as compras argentinas do Brasil subiram 25,2% em relação ao mesmo mês de 2012 – sendo de cerca de US$ 1,8 bilhões.

Já as exportações argentinas para o mercado vizinho foram de pouco mais de US$ 1,4 bilhões –  11,3% acima do que foi registrado em julho de 2012.  As duas economias estão em processo de menor crescimento, segundo dados oficiais do Brasil e de acordo com previsões do setor privado argentino.

Entre os principais produtos desta balança comercial destacam-se os que compõem o setor automotivo.

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Brésil : Le commerce extérieur se dégrade, baisse des exportations
Les Échos (França), 2/07/2013

Le Brésil a accusé en juillet un déficit commercial pour le quatrième mois depuis le début de l'année, selon des statistiques publiées jeudi qui laissent craindre un solde négatif pour l'ensemble de 2013 - une situation que le pays n'a plus connue depuis plus d'une décennie.

Le déficit des échanges extérieurs s'est monté à 1,897 milliard de dollars (1,44 milliard d'euros) le mois dernier, alors que huit économistes interrogés par Reuters tablaient en moyenne sur un excédent de 480 millions.

Le Brésil, gros exportateur de matières premières comme le soja ou minerai de fer, avait enregistré un excédent de 2,39 milliards en juin.

Depuis le début de l'année, le pays a accumulé un déficit commercial de 4,989 milliards de dollars, à comparer à un excédent de 9,9 milliards sur les sept premiers mois de 2012.


Les exportations pâtissent à la fois de la baisse de valeur des produits brésiliens et d'une demande plus faible à l'étranger. Les importations, à l'inverse, sont restées robustes malgré la dépréciation de la monnaie brésilienne face au dollar.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Los Hermanos voltam aos velhos vicios (nos os seguiremos, conforme o costume...)

Argentina perde reservas e vai retomar protecionismo

Valor Econômico, 10/07/2013
Pressionada pela queda contínua de reservas cambiais, a Argentina deve retomar barreiras protecionistas, encerrando a trégua que marcou o comércio exterior do país nos últimos meses. A reversão de política, que vai começar ainda neste mês, segundo previsões de consultores, deve ser tema da reunião de cúpula do Mercosul em Montevidéu, na sexta-feira, com presença da presidente Dilma Rousseff e dos presidentes da Argentina, Uruguai, Venezuela e Bolívia.
A Argentina flexibilizou neste ano o comércio em função da perspectiva do aumento de 20% na safra de soja e do reaquecimento do mercado de automóveis no Brasil. Mas as vendas ao exterior subiram muito menos que as importações. De janeiro a maio, as exportações cresceram 4%, atingindo US$ 33,2 bilhões; e as importações alcançaram US$ 29,5 bilhões, com aumento de 12,8%. Os dados de junho não foram divulgados, mas a presidente Cristiana Kirchner estimou ontem um superávit de US$ 4,9 bilhões no semestre.
Para tentar conter a queda das reservas, o governo argentino lançou programa de anistia para quem repatriar recursos de origem não declarada. Na primeira semana em vigor os resultados foram modestos: US$ 1,06 milhão ingressaram. A expectativa é trazer de US$ 2 bilhões a US$ 6 bilhões em três meses.As reservas, em queda, somam US$ 37,2 bilhões, suficientes para pagar apenas 5 meses de importações. Há um ano, quando eram US$ 48 bilhões, cobriam 6,5 meses. (No Brasil, reservas de US$ 370 bilhões cobrem 19 meses).
"O problema é que o setor mais dinâmico das exportações argentinas é o de industrializados para o Brasil, sobretudo automóveis, que demandam muitas importações", comenta Jorge Vasconcelos, economista da Fundação Ieral. Cálculos do governo indicam que 80% das empresas industriais importam insumos.
Em 2012, as barreiras comerciais foram generalizadas: criou-se uma declaração sem a qual nenhuma importação podia ser concretizada. Mesmo sendo do Mercosul, o Brasil foi o país mais atingido. "Se o mesmo modelo for adotado neste ano, o Brasil novamente será o país mais afetado", prevê Ricardo Delgado, da consultoria Analytica.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

O "custo Argentina" se acrescenta ao "custo Brasil" - Editorial O Globo


Editorial O Globo, 6/06/2013

De “aliada estratégica”, a Argentina de Cristina Kirchner se converte em fonte imprevisível de problemas para o Brasil. Depois de tornar impossível a permanência da Vale no país, à frente de um projeto de potássio ─ apesar da opinião em contrário do companheiro Marco Aurélio Garcia, jejuno em minérios e negócios ─, a Casa Rosada acaba de estatizar ferrovias exploradas pela brasileira América Latina Logística (ALL). Mesmo que se confirme a má prestação de serviço, por certo há formas menos beligerantes de se enfrentar a questão.
O contencioso entre Buenos Aires e Brasília não para de crescer, e sempre por iniciativa do kirchnerismo. Vale e ALL são apenas os fatos mais recentes. Já existe um extenso histórico de medidas protecionistas arbitrárias, em desrespeito a normas do Mercosul, baixadas pela Casa Rosada contra os interesses brasileiros. E virão mais problemas, pois o governo de Cristina K. é acometido de um ativismo compulsivo, à medida que a crise econômica, política e institucional avança no país.
Não se sabe até quando Brasília ficará passiva, em nome de um projeto ideológico de montagem de uma barreira na América Latina contra o “imperialismo ianque”, um delírio. Afinal, Juan Domingo Perón e Getúlio Vargas tentaram, na década de 50, e já não deu certo. Com a globalização da economia mundial, aí que se tornou mesmo impossível o projeto. Mesmo porque os líderes nesta trincheira, Venezuela e a Argentina recém-convertida ao chavismo, precisam primeiro resolver os grandes problemas internos antes de atacar o “Império”: inflação, desabastecimento (falta de papel higiênico), recessão, crise cambial.
A passividade do governo Dilma pelo menos parece ter levado a indústria de São Paulo a agir, a mais prejudicada pelo protecionismo argentino e, por tabela, pela crise do Mercosul. Segundo o jornal O Estado de S.Paulo, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a Fiesp e a própria Confederação Nacional da Indústria formalizarão ao governo a preocupação com a camisa de força que passou a representar o Mercosul. Impedido de fazer acordos bilaterais com outros países e blocos, o Brasil, tolhido pela ideologia, afunda abraçado à Argentina. No período de 2008 a 2011, o Brasil deixou de exportar US$ 5,4 bilhões para Argentina, México, Peru, Colômbia, Chile, Equador, Venezuela, Paraguai e Bolívia. O dinheiro foi redistribuído entre China, Estados Unidos, União Europeia e México.
Isso porque o Brasil está ficando para trás no rearranjo do comércio mundial. Exemplo é a criação recente da Aliança do Pacífico (Colômbia, Chile, Peru e México), mais aberta que o Mercosul para acordos com o mundo. Se Roberto Carvalho de Azevedo conseguir, na OMC, fechar com êxito a Rodada de Doha, muito bem. Mas até lá o Brasil precisa agir, se livrar do “custo Argentina”, para deixar de perder espaço no comércio global. O que passa pela conversão do Mercosul, de uma união aduaneira, numa área de livre comércio, mais flexível. Esta mudança já está atrasada.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Mercosul paralisado; Argentina continua a impor barreiras ilegais contra o Brasil - FIESP dixit...

Uma matéria antiga, mas cada vez mais válida: o último encontro presidencial, aparentemente, não resolveu nenhum desses problemas...Paulo Roberto de Almeida 

Brazilian industry claims Mercosur is ‘paralyzed’ and blasts Argentina’s ‘illegal barriers’ on trade

MercoPress, Thursday, January 24th 2013 - 01:14 UTC

Brazil’s powerful manufacturers’ lobby openly criticized the “illegal barriers” imposed by the government of President Cristina Fernandez on Brazilian produce, and also lashed at President Dilma Rousseff for her administration’s “permissive attitude” towards Buenos Aires, a position that has “paralyzed Mercosur”.
“Argentina continues to impose illegal barriers to trade with its Mercosur partners”, claimed the head of Sao Paulo Federation of Industries (FIESP) Foreign Trade Council, Rubens Barbosa.
 The former Brazilian ambassador in Washington also made the criticism extensive to President Rousseff for her administration’s “permissive attitude towards Buenos Aires” in what he described as a “strategic patience” from Brasilia to avoid diplomatic tensions with a very important trade partner.
 In an article under the heading of “The state of the world 2013” the FIESP top official besides retaking the repeated questionings of the Argentine government position regarding foreign trade, including with its Mercosur partners, again underlines the difficulties and ‘illegal barriers’ faced by Brazilian businesspeople.
 Barbosa insists that Mercosur remains ‘paralyzed’ and has shown no advances towards and understanding on trade liberalization and the opening of the Argentine market for Brazilian produce.
 Next March Cristina Fernandez and Dilma Rousseff are scheduled to hold their next bilateral meetings, this time in the Patagonian city of El Calafate where the Argentine leader has her summer home.
 Argentina and Brazil hold top level meetings twice a year to address bilateral issues such as trade, investments and regional politics.
 Argentine ambassador in Brasilia Luis Maria Kreckler said that a preparatory meeting will be held at the end of February with an ‘open agenda’, which will be followed by the summit, ‘most probably March 4 in El Calafate, Santa Cruz province. The last bilateral top level meeting took place in Brasilia last December.

sábado, 20 de abril de 2013

Los Hermanos; fazendo seu trabalho habitual...


Argentina e combustíveis derrubam exportações da indústria em 8,2%

Queda é fruto das barreiras comerciais e baixo crescimento da Argentina, do recuo de quase 45% na exportação de combustível e da falta de competitividade da indústria brasileira

19 de abril de 2013 | 21h 55
Luiz Guilherme Gerbelli, de O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - A exportação de produtos manufaturados caiu 8,2% no primeiro trimestre deste ano na comparação com o mesmo período de 2012. O levantamento da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) - com base nos dados do Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e Comércio Exterior - também mostra uma queda de 5,2% no acumulado em 12 meses.
A venda dos produtos dessa classe está sendo prejudicada pelas barreiras comerciais e baixo crescimento da Argentina, pelo recuo de quase 45% na exportação de combustível e pela já conhecida falta de competitividade da indústria brasileira. A fatia histórica da Argentina na importação de produtos manufaturados brasileiros é de cerca de 20%. No primeiro trimestre, as exportações ao país caíram 10,4%.
O saldo da balança comercial até março está negativo em US$ 5,2 bilhões. No ano, as exportações totais caíram 7,7%, enquanto as importações subiram 6,3%.
"Estamos um pouco mais pessimistas do que nós estávamos no fim de 2012, quando notamos um crescimento para os nossos mercados. Mas, agora, houve uma mudança bastante forte com a queda nos manufaturados", afirma Rodrigo Branco, economista da Funcex.
Parte do resultado ruim da balança também pode ser atribuído ao recuo de 8,4% na venda de produtos básicos, prejudicada pelo atraso do embarque da soja e do milho. O resultado dos produtos básicos deve melhorar conforme a supersafra começar a ser escoada. "Se a soja já tivesse entrado na balança comercial, o déficit atual seria muito pequeno ou não existiria", diz Branco.
A queda na exportação dos produtos manufaturados deve fazer do Brasil um país ainda mais "agrodependente". No acumulado de 12 meses encerrados em março, a exportação de básicos correspondeu a 46,7% de toda a pauta de exportação, enquanto os manufaturados representaram 37,3%. Os semimanufaturados ficaram com 13,8%.
"A nossa balança comercial está cada vez mais dependente do agronegócio. Os produtos agrícolas têm tido uma demanda maior por causa do alto consumo dos países asiáticos", afirma Fabio Martins Faria, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
A última estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) prevê a safra de grãos deste ano 12% maior que a do ano passado. Serão 181,3 milhões de toneladas.
Saldo comercial. Essa supersafra, porém, não vai ser suficiente para elevar o superávit comercial do Brasil neste ano. Em 2012, o saldo foi de US$ 19,43 bilhões, o mais baixo em dez anos.
Para este ano, a previsão da Funcex é de um superávit de US$ 13 bilhões. A AEB projeta um saldo positivo de US$ 14,6 bilhões. Este número foi projetado no fim de 2012, mas deve ser revisto no meio do ano.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Hermanos enemigos, e a decadencia argentina - OESP

O Mercosul a caminho do brejo, depois da Argentina, claro...
Como escreve o ex-ministro Lampreia: "A cada dia que passa fico mais convencido de que a Argentina está em marcha batida para o abismo."
So be it...
Paulo Roberto de Almeida

O alvo do governo Kirchner

19 de março de 2013 | 2h 13
Editorial O Estado de S.Paulo
 
A redução de 73% registrada em 2012 no saldo do Brasil no comércio com a Argentina - num período em que superávits dos principais parceiros comerciais dos argentinos aumentaram até 52% - não deixa dúvidas de que a política protecionista cada vez mais agressiva do governo da presidente Cristina Kirchner tem um alvo específico. Medidas administrativas que retardam ou impedem a entrada de produtos importados na Argentina têm sido contestadas por diversos países exportadores, mas toleradas pelo governo brasileiro. Como a escarnecer da atitude brasileira e das reiteradas promessas de amizade indestrutível da presidente Dilma Rousseff, feitas a sua colega argentina, o protecionismo de Buenos Aires prejudica direta e duramente o Brasil e preserva os demais países.
Os números da balança comercial entre os dois países não deixam dúvidas de que a condescendência com que o governo Dilma reage às restrições comerciais da Argentina estimula a ação dos funcionários do governo Kirchner notoriamente contrários à entrada de produtos brasileiros em seu país. Ruins para o Brasil já em meados do ano passado, os resultados do comércio bilateral ficaram ainda piores no acumulado de 2012.
Em julho do ano passado, as importações argentinas de produtos brasileiros tinham sido 67% menores do que as registradas em julho de 2011 e o superávit comercial acumulado pelo Brasil nos sete primeiros meses do ano tinha diminuído 52% em relação ao período janeiro-julho do ano anterior.
Em todo o ano passado, as exportações brasileiras para a Argentina somaram US$ 18 bilhões, 21% menos do que os US$ 22,7 bilhões exportados em 2011. As importações brasileiras de produtos argentinos, de sua parte, de US$ 16,8 bilhões, mantiveram-se praticamente no mesmo nível de 2011, de US$ 16,4 bilhões. Com isso, o saldo caiu de US$ 5,9 bilhões para US$ 1,6 bilhão, uma redução de 73% (algumas consultorias privadas, como a Abeceb.com, calculam a queda em 65%).
Atribui-se a queda das importações de produtos brasileiros à redução do ritmo da economia argentina no ano passado, quando deve ter crescido menos de 2%. Essa é uma explicação parcialmente verdadeira. Mas, no momento em que as exportações brasileiras caíam, as dos outros principais países fornecedores da Argentina cresciam, e em ritmo intenso. As da Holanda aumentaram 160%; as dos Estados Unidos, 9%; as do Japão, 7%; e as da Alemanha, 2%, como noticiou o jornal Valor (18/3). O superávit, que no caso do Brasil teve fortíssima contração, aumentou 52% para a Alemanha, 29% para os Estados Unidos e 14% para a China.
Brasil e Argentina são os principais integrantes do Mercosul, o bloco do Cone Sul que, teoricamente, é uma união aduaneira, na qual é livre a circulação de bens e serviços. Desde meados da década passada, no entanto, a Argentina vem restringindo a entrada de produtos estrangeiros, mesmo os originários de outros países do Mercosul.
No ano passado, o governo Kirchner instituiu um sistema de controle administrativo de importações que vem retendo mercadorias nos postos alfandegários até a emissão de uma autorização especial para a entrada no mercado argentino. Essa autorização está condicionada à apresentação prévia de uma declaração juramentada, cuja aceitação depende do juízo de setores do governo responsáveis pelas medidas protecionistas.
O objetivo dessas medidas é estimular a produção argentina, mas as ações do governo Kirchner no campo econômico vêm assustando os empresários, nacionais e estrangeiros, o que inibe os investimentos produtivos.
As presidentes dos dois países deveriam discutir, entre outras, a questão da deterioração do comércio bilateral por causa do crescente protecionismo argentino, numa reunião que estava marcada para o início de março. O encontro teve de ser adiado em razão da morte do presidente venezuelano Hugo Chávez. O tema, porém, não pode mais ser adiado, como deixam claro os dados recentes sobre o comércio bilateral. Se o governo Dilma não mudar sua atitude em relação à Argentina, o governo Kirchner se sentirá ainda mais livre para prejudicar o Brasil.
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Em marcha batida para o abismo

19 de março de 2013 | 2h 10
Luiz Felipe Lampreia *
 
A Argentina, segundo o comentário venenoso de um diplomata americano que conheço, é um ex-país desenvolvido. A despeito de sua acidez, a frase revela uma certa verdade: nosso vizinho do sul já foi um país rico. Hoje, porém, está sem crédito internacional por não pagar suas dívidas, praticamente sem investimentos estrangeiros por falta de segurança jurídica. Seu crescimento econômico está alavancado em subsídios ao consumo sob forma de tarifas artificialmente baratas de gás, eletricidade e transportes. Em outras palavras, o modelo não é sustentável. Para completar o quadro de arrepios às regras internacionais existe uma proteção ilegal à sua indústria, como acaba de ser evidenciado pela ação que vários dos países mais importantes do comércio mundial movem contra a Argentina na OMC. Essa proteção é danosa ao Brasil, que por causa dela perdeu muitos bilhões de dólares em exportações no ano passado. Este quadro econômico aponta implacavelmente para o retrocesso do país.

Escrevi faz algum tempo o seguinte comentário: "Há mais de vinte anos, um importante ministro argentino ensinou a um surpreso embaixador brasileiro recém-chegado a Buenos Aires que a 'Argentina é pródiga em três coisas: carne, trigo e gestos tresloucados'. A decisão de expropriar a participação majoritária da Repsol na YPF foi um desses gestos. Somada à inadimplência de dez anos da dívida externa, que representa uma grave violação da ordem jurídica internacional, e ao crescente e arbitrário protecionismo que viola todas as regras do Mercosul e da OMC, a decisão coloca a Argentina à margem da legalidade global. Como me escreveu um grande amigo argentino recentemente, o governo argentino 'busca la maximización del presente. Eso fue el peronismo de los 50, el menemismo - aunque con algunas reformas para nada despreciables - y el kirchnerismo'. E na mesma correspondência acrescentou: 'Existe también entre nosotros un desequilibrio político muy pernicioso, que agudiza el mal anterior. Entre Cristina y su segundo, Binner, hubo 37 puntos de diferencia. Lo mismo sucedió con Perón en el 51. Hoy el gobierno controla 23 distritos sobre 24, además de las dos cámaras. En Brasil, la oposición gobierna los grandes estados y eso genera una dinámica virtuosa en muchas dimensiones'.

Gestos dessa gravidade têm sempre consequências sérias, mesmo que no imediato pareçam benéficos e sejam saudados pelo povo com orgulho e alegria. A longo prazo, essas ações terminam por pôr o país à margem das principais correntes de crédito, investimentos e comércio, ou seja, de todas as atividades que geram prosperidade e oportunidades econômicas para uma nação. O mau governo orienta-se pelo valor imediato de popularidade que obtém com seus atos impulsivos e não pensa nas consequências de seus atos no futuro". A cada dia que passa fico mais convencido de que a Argentina está em marcha batida para o abismo.

Se não bastasse, a sra. Cristina Fernandez de Kirchner está aprofundando sua ofensiva contra instituições básicas como a imprensa livre e o Poder Judiciário, que são ambas os últimos bastiões da resistência democrática. A deputada Elisa Carrió, que já foi candidata à Presidência, comentou, com agudeza, que "a única coisa que Cristina deseja é sua impunidade (...) se o povo não se defender rápido nos resta pouco tempo de uma Argentina republicana". Citações assim poderiam ser apresentadas fartamente e se contrapõem a outra, desta vez de autoria da procuradora-geral da República, Alejandra Gils Carbó, que afirmou: "A Justiça atual é ilegítima, corporativa, obscurantista e lobista". Um procurador de Benito Mussolini na década de 30 subscreveria a esse fraseado com especial prazer. As manobras contra a grande imprensa são também bem conhecidas. Canais de rádio e televisão têm sido comprados por empresários cuja reputação duvidosa é ressaltada em Buenos Aires e que coincidentemente são ligados à presidente. Como disse um importante jornalista do La Nación, José Crettaz, "a Casa Rosada (sede da Presidência) aprovou uma compra de meios (de comunicação) que violou a lei e depois permitiu que um empresário que cometeu essa irregularidade saísse incólume". A guerra da sra. Kirchner contra os Grupos Clarín e La Nación prossegue e visa a calar ou pelo menos cercear as duas maiores colunas mestras da liberdade de imprensa argentina.

Como se vê, a Argentina envereda velozmente para um modelo de partido e poder únicos. O populismo desenfreado já garantiu à presidente uma votação maciça nas últimas eleições. O peronismo detém, pela mesma razão, maioria esmagadora no Congresso e em quase todos os governos provinciais. Para completar o modelo de Estado autoritário e onipotente só falta controlar o Judiciário e a imprensa livre. Quando isso ocorrer, o governo poderá tudo e as instituições democráticas e republicanas estarão subjugadas. A perspectiva de alternância no poder, que já é tênue, estará acabada. Esse filme já foi visto em diversas épocas e muitos países do mundo. E acaba mal.

E o Brasil nisso? Perdemos muito espaço em nosso principal mercado de produtos manufaturados por efeito do protecionismo arbitrário argentino, como já mencionado. Nossas empresas investidoras na Argentina padecem muitas vezes sob a interferência excessiva dos governantes e são levadas à decisão de vender e sair do país, como é o caso da Petrobrás, que desempenhava papel importante na indústria de combustíveis. Ninguém pode, entretanto, derivar daí uma postura confrontacionista de nossa parte ou subestimar a relevância de nossas relações com nosso maior vizinho. Houve muitas vezes tempos melhores, mas com a Argentina temos um casamento indissolúvel, seja como for. É por isso mesmo que devemos lamentar a destruição sistemática dos fundamentos da democracia argentina e esperar que dias melhores permitam restaurar o vigor de nossa relação econômica. É por isso também que considero que não devemos abundar em gestos e palavras de solidariedade. Os ditadores adoram afagos, mas os democratas devem abster-se de fazê-los.

* Luiz Felipe Lampreia foi ministro das Relações Exteriores no governo FHC.

terça-feira, 12 de março de 2013

Crescente irrelevancia do Mercosul - Editorial Estadao

Nao foi por falta de aviso, inclusive por parte deste escriba, aliás desde antes de 2003.
De fato, desde 1995, ou seja, desde que foi "consolidado" enquanto União Aduaneira, que o Mercosul só recua, tanto na integração interna, quanto na externa, onde se tornou cada vez mais introvertido e protecionista.
A partir de 2003, a esses fatores de "protecionismo natural", digamos assim, se somaram os fatores ideológicos, de dois governos dotados de economias esquizofrênicas que pretendiam (e conseguiram) fazer rodar para trás a roda da História. Pior: o Brasil conseguiu ajudar a Argentina a desmantelar o Mercosul, com sua política caolha, míope, cega, enviesada, nebulosa (tem mais adjetivos e sinônimos disso tudo?) de apoio a tudo o que os hermanos decidiam, uma política decidida pessoalmente pelo ex-SG do MRE, depois Alto (ou auto?) Representante do Mercosul e ainda hoje influente no setor.
Deu no que tinha de dar: desastre comercial, recuo econômico, mediocridade comercial.
Paulo Roberto de Almeida 

O mundo gira sem o Mercosul

12 de março de 2013 | 2h 13
Editori O Estado de S.Paulo
 
O governo argentino pretende arrancar mais vantagens do Brasil, em mais uma revisão do acordo automotivo assinado em 2000 para acabar em 2005, mas a partir daí prorrogado várias vezes. Em toda prorrogação foram fixados novos benefícios para o lado argentino, por meio de fórmulas calculadas para dispensar aquele sócio de se tornar competitivo. A nova esperteza argentina é mais uma comprovação do erro cometido pelo governo petista, há dez anos, quando optou por um regionalismo ingênuo inspirado em bandeiras terceiro-mundistas.
Na última negociação, o acordo foi estendido até 2013. A partir daí valeriam normas de livre comércio, mas a presidente Cristina Kirchner decidiu mudar o jogo mais uma vez. Comércio aberto está fora da agenda da Casa Rosada. O assunto estava na pauta do encontro bilateral marcado para a semana passada e suspenso por causa da morte do presidente Hugo Chávez.
Desta vez, o governo argentino quer, além da extensão do pacto bilateral, a fabricação, em seu país, de parte dos produtos incluídos no programa brasileiro Inovar-Auto. Em outras palavras, a indústria instalada na Argentina deve ganhar, se Brasília estiver de acordo, uma carona em um programa custeado pelo contribuinte brasileiro. Será uma surpresa se, no fim da história, a presidente Dilma Rousseff recusar mais esse mimo à companheira Cristina Kirchner.
Há vários anos o governo brasileiro vem moldando boa parte de suas decisões estratégicas de acordo com os interesses definidos em Buenos Aires. Foi assim no episódio da suspensão do Paraguai e da admissão da Venezuela como quinto membro do Mercosul. Nas negociações com a União Europeia sempre prevaleceram as restrições argentinas, mesmo quando o Itamaraty se mostrou disposto ao entendimento com os europeus.
Na adiada reunião bilateral com a companheira Cristina Kirchner, a presidente Dilma Rousseff havia se preparado para anunciar novas concessões, como a participação do BNDES no financiamento de obras de infraestrutura e a abertura de uma cota para importação de camarões argentinos. A pauta deveria incluir também assuntos menos agradáveis, como as dificuldades da Vale para executar um projeto de exploração de potássio. Sem um acordo para compensar a alta de custos causada pela inflação e outros problemas de relacionamento com o setor público, a companhia poderá suspender o investimento.
Crescentemente atolado no difícil relacionamento com a Argentina, o governo brasileiro tem espaço cada vez menor para se ajustar às novas condições do mercado internacional. Formalmente, o Mercosul é uma união aduaneira, embora nem chegue a funcionar de modo satisfatório como área de livre comércio. Como sócios de uma união aduaneira, os países-membros devem respeitar a regra da tarifa externa comum. Por isso, podem negociar acordos comerciais apenas em bloco. Toda concessão tarifária a qualquer parceiro de fora depende da aprovação dos demais.
Até agora, o Mercosul negociou poucos acordos de livre comércio, sempre com parceiros em desenvolvimento e, em alguns casos, sem relevância econômica para o Brasil. Enquanto isso, acordos bilaterais e inter-regionais multiplicam-se em todo o mundo, sem a participação do Brasil. Ou seja, o Brasil está cada vez mais fora do jogo relevante para o comércio internacional. Os EUA empenham-se em concluir um acordo com parceiros do Pacífico. O entendimento inclui vários países em desenvolvimento da Ásia e da América Latina e em breve poderá incluir também Japão e Coreia do Sul. Ao mesmo tempo, autoridades americanas e europeias dão os primeiros passos para um acordo de comércio e investimentos entre os dois lados do Atlântico Norte. Para Jeffrey Schott, do Peterson Institute for International Economics, o Brasil errou tanto na Rodada Doha, ao se aliar à Índia e à China, como na agenda bilateral, amarrada ao Mercosul. Os fatos, até agora, confirmam esse diagnóstico.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Argentina: desmantelando o Mercosul, alegremente...

Argentina rejeita livre mercado para veículos
Valor, 11/03/2013

O governo argentino decidiu rever o acordo automotivo com o Brasil para eliminar o dispositivo que prevê o livre comércio de carros, partes e peças a partir do segundo semestre. Além disso, quer obrigar as montadoras instaladas no Brasil a localizar parte de seu processo produtivo na Argentina. Esse é um dos pontos de atrito entre os dois países que seria tratado na reunião da semana passada entre as presidentes Dilma Rousseff e Cristina Kirchner, cancelada com a morte do presidente Hugo Chávez.

A possível paralisação dos investimentos da Vale na Argentina é outro ponto de atrito entre os dois países, elevado pelo governo Kirchner a assunto de Estado. A Vale deve decidir hoje, em reunião do conselho de administração, se mantém o projeto que prevê investimentos de US$ 6 bilhões em uma mina de potássio na Argentina. A tendência da diretoria é paralisar o projeto. Os argentinos ameaçam retaliar desapropriando a mina, onde a empresa já investiu US$ 1 bilhão aproximadamente. Tanto no caso da Vale como na discussão do regime automotivo, chama atenção a falta de uma proposta clara do governo argentino.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O atroz encanto de ser protecionista argentino

Argentina, comercio internacional, Freud, Potemkin y otros personajes
InfoLatam, 30/01/2013
Claudio Loser

La clase media argentina, en la medida que se lo puede permitir, es usuaria devota de la psicología para ayudar a resolver sus conflictos personales y familiares. Más aun, la Argentina es uno de los pocos lugares donde se mantiene vigente el psicoanálisis como escuela central para resolver complejos conflictos internos. El mundo aprendió muchísimo de Freud, pero la práctica ha avanzado hacia métodos más pragmáticos, enfocados en encontrar soluciones operativas, y que no llevan a la permanente dependencia del paciente con el analista.
Lamentablemente, esto es un reflejo de que los argentinos viven aferrados a un culto al pasado difícilmente existente en el resto de America Latina, aun incluyendo la magnífica celebración del día de los muertos en México. Así se habla como si estuvieran presentes Rosas y Sarmiento, Carlos Gardel, el mismo Freud, sin entrar a mencionar los personajes de los últimos sesenta años en la política nacional.
La actitud del gobierno argentino en el reciente encuentro entre America Latina y Europa en Santiago de Chile ilustra ese punto. En circunstancias en que el mundo busca expandir el comercio internacional, tal como lo ilustra el esfuerzo de Chile, Colombia, México y Perú para consolidar su alianza del Pacífico, la Argentina se encierra en una discusión proteccionista incluso dentro del MERCOSUR. Para ello, el discurso oficial utiliza viejos argumentos, esgrimidos en algún momento por la CEPAL, aunque el mismo Prebisch y la institución subsecuentemente los abandonaron.
Ciertamente, importantes países utilizan descaradamente técnicas proteccionistas a nivel de comercio, inversión e incluso de financiamiento. Los EEUU, la Unión Europea, Japón, Rusia, China, India y Brasil son claros y tristes ejemplos de irracionalidad de uno u otro tipo. Pero aun así, no alcanzan el grado de desordenado y arbitrario encierro comercial que la Argentina aplica hoy, con altos costos para sus habitantes, especialmente los menos favorecidos. Tal como en el pasado, la Argentina castiga así a sus pocas áreas innovadoras y dinámicas, como el sector exportador agrícola, y el sector energético.
Un sistema cambiario distorsionado y una moneda sobrevaluada completan una realidad repetida muchas veces en el pasado, como si fuese una continua sesión psicoanalítica preocupada de revisitar presuntos procesos internos y sin ver la realidad que la rodea. (El autor de esta nota debe aclarar aquí que su tesis doctoral, completada hace más de cuarenta años, analizaba los tóxicosefectos adversos de una protección arbitraria aplicada a la industria entre las décadas del 30 y del 60. Nada nuevo bajo el sol.)
A esto se agrega la más alta inflación en la región, también una repetición histórica, solamente que encubierta ya desde hace cinco años. Utiliza así la Argentina la metodología de otro personaje del pasado, el príncipe Grigori Potemkin, ministro de Catalina la Grande de Rusia que, dice la leyenda, construía pueblos ficticios para impresionar a su jefa y hacer creer que había progreso en el país.
Quizás el elemento más nuevo en la situación actual es el proceso de cesación de pagos y subsiguiente resolución unilateral de la deuda, aunque allí también hay antecedentes. Se trata de Felipe II de España, que hace 550 años inventó el default, aunque entonces se llegó a una solución consensuada.
La inspiración de las medidas es histórica, pero el daño es presente y con serias implicaciones para un país que cada vez más se pierde en la gloria de su pasado. Quizás por todas estas contradicciones internas se buscan soluciones en un permanente auto-análisis psicoanalítico, elegante pero inefectivo. Los jóvenes podrían mirar hacia adelante, a través del cristal de Facebook y el Tweeter. Pero el país político se encierra en sí mismo y los insta a analizar antiguos e irrelevantes conflictos bajo la tutela intelectual de personajes ya fallecidos y de ideas que, aunque fascinantes, no son operativas.
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Addendum:
Argentina: el FMI informa de que última revisión economía fue hace 62 meses
30/01/2013 - Infolatam
El Fondo Monetario Internacional (FMI) informó de que la última revisión de la economía de Argentina data de hace 62 meses, y señaló que forma parte junto con Venezuela, Ecuador, Somalia y Madagascar del grupo de países con retrasos de más de 18 meses en presentar los datos.
En un breve comunicado, el Fondo explicó que su Directorio Ejecutivo fue informado informalmente “por el personal técnico sobre la situación económica de Argentina, cuya última consulta bajo el artículo IV tuvo lugar hace 62 meses”.
El artículo IV es como se conoce formalmente a las revisiones anuales de la economía de cada país que realiza el Fondo, y que luego comparte con el resto de países miembros.
El anuncio no tiene efectos prácticos ni conlleva sanciones y forma parte del compromiso del Fondo de informar al Directorio “sobre los países miembros cuya Consulta del Artículo IV se encuentra demorada por más de 18 meses”.
La última revisión oficial de la economía argentina por técnicos del Fondo se produjo en 2006 y la siguiente estaba prevista para junio de 2007.
La notificación se produce al margen del proceso formal actualmente en marcha en el Fondo de verificación de la calidad de las estadísticas suministradas por Argentina, y que se espera sea comunicado el 1 de febrero.
Los otros países que se encuentran en esta situación son Ecuador (desde enero de 2009), Venezuela (desde septiembre de 2005), Madagascar (junio de 2009) y Somalia (desde 1990).
La demora de Ecuador, Venezuela y Argentina se debe a la falta de acuerdo en las modalidades de la misión o porque las autoridades no han facilitado los datos, mientras que en el caso de Somalia y Madagascar se debe a la situación política y de seguridad.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Mercosul?? Ah, o mercosul..., esse pobre coitado... - Rubens Barbosa

Por causa da Argentina, por um lado, e por causa do Brasil, por outro. Um tango meio sem graça, aliás totalmente insosso, cansativo, aborrecido, de matar de tédio, ou então morrer de raiva...
Esses hermanos são do balacobaco, e os irmãos daqui, então, já nem sei o que são.
Paulo Roberto de Almeida
 
MercoPress, Thursday, January 24th 2013 - 01:14 UTC

Brazilian industry claims Mercosur is ‘paralyzed’ and blasts Argentina’s ‘illegal barriers’ on trade

Brazil’s powerful manufacturers’ lobby openly criticized the “illegal barriers” imposed by the government of President Cristina Fernandez on Brazilian produce, and also lashed at President Dilma Rousseff for her administration’s “permissive attitude” towards Buenos Aires, a position that has “paralyzed Mercosur”.
Former ambassador Barbosa criticized Brazilian diplomacy “strategic patience” with Argentina  
 
 
 “Argentina continues to impose illegal barriers to trade with its Mercosur partners”, claimed the head of Sao Paulo Federation of Industries (FIESP) Foreign Trade Council, Rubens Barbosa.  The former Brazilian ambassador in Washington also made the criticism extensive to President Rousseff for her administration’s “permissive attitude towards Buenos Aires” in what he described as a “strategic patience” from Brasilia to avoid diplomatic tensions with a very important trade partner.
 In an article under the heading of “The state of the world 2013” the FIESP top official besides retaking the repeated questionings of the Argentine government position regarding foreign trade, including with its Mercosur partners, again underlines the difficulties and ‘illegal barriers’ faced by Brazilian businesspeople.
 Barbosa insists that Mercosur remains ‘paralyzed’ and has shown no advances towards and understanding on trade liberalization and the opening of the Argentine market for Brazilian produce.
 Next March Cristina Fernandez and Dilma Rousseff are scheduled to hold their next bilateral meetings, this time in the Patagonian city of El Calafate where the Argentine leader has her summer home.
 Argentina and Brazil hold top level meetings twice a year to address bilateral issues such as trade, investments and regional politics.
 Argentine ambassador in Brasilia Luis Maria Kreckler said that a preparatory meeting will be held at the end of February with an ‘open agenda’, which will be followed by the summit, ‘most probably March 4 in El Calafate, Santa Cruz province. The last bilateral top level meeting took place in Brasilia last December.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Los Hermanos: causando problemas a ellos mismos...

O real problema da Argentina

Editorial O Estado de S.Paulo, 6/09/2012
Decerto altos funcionários do governo argentino estão comemorando os resultados do comércio de seu país com o Brasil. Como insistentemente vêm buscando esses funcionários - com medidas que ferem acordos e tratados firmados pelos dois países e regras do comércio internacional, mas têm sido toleradas pelo governo brasileiro -, o déficit comercial com o Brasil caiu 67% em julho, na comparação com igual mês de 2011, e 53% no acumulado dos sete primeiros meses de 2012, em relação ao ano passado.
O agressivo protecionismo argentino resulta da obsessão do governo de Cristina Kirchner com assegurar mercado para a indústria local e gerar empregos e riqueza para os argentinos. Embora, por razões políticas, isso não seja muito lembrado, a obsessão tem a ver também com a necessidade do país de gerar recursos para honrar os compromissos com sua dívida externa.
Era de esperar que o protecionismo de Kirchner preservasse o comércio com os países do Mercosul, bloco do qual a Argentina faz parte. Mas os resultados mais notáveis das restrições impostas pelo governo argentino estão surgindo justamente no comércio com os sócios do Mercosul, especialmente o Brasil. No primeiro semestre, elas caíram 16% em relação aos primeiros seis meses de 2011 e o comércio bilateral com o Brasil diminuiu 13%.
É pouco provável, porém, que os resultados do comércio com os demais países estejam sendo comemorados pelo governo Kirchner. As importações argentinas da União Europeia cresceram 15%, as do Nafta (Estados Unidos, Canadá e México) aumentaram 5% e as dos países da Aladi, 71%, mas as exportações argentinas não cresceram nessa velocidade.
Em resumo, o protecionismo da Argentina não resolve seus problemas, pois o déficit contido de um lado cresce de outro, mas afeta duramente o comércio com seu principal parceiro.
Tem razão, por isso, o embaixador brasileiro em Buenos Aires, Enio Cordeiro, quando diz que o déficit da Argentina com o Brasil é "mais psicológico do que econômico". Isso porque, no seu entender, a economia argentina tem problemas estruturais que reduzem sua capacidade de competir com os produtos importados, inclusive do Brasil, e não podem ser superados por medidas que classifica de "voluntaristas", como as que caracterizam a política protecionista do país.
"O Brasil compra praticamente todo o excedente industrial argentino, e a Argentina importa insumos industriais que exigiriam investimentos para serem substituídos" pela produção local, disse o embaixador, durante encontro com empresários realizado no auditório da embaixada. O problema, em outras palavras, não é do Brasil, mas da Argentina. Se ela não souber ou não tiver condições de resolvê-los, o protecionismo do governo Kirchner - defendido de maneira às vezes truculenta pelo secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, e pelo seu braço direito, a secretária de Comércio Exterior, Beatriz Paglieri - apenas continuará a criar conflitos com seus parceiros comerciais.
Há dias, o México denunciou a Argentina na OMC por restringir a importação de mercadorias e discriminar entre produtos estrangeiros e locais. Pouco antes, Estados Unidos e Japão haviam denunciado a Argentina na OMC pelas mesmas razões.
O governo Dilma tem sido tolerante com as restrições que a Argentina vem impondo à entrada de produtos brasileiros no país. Somente em situações extremas o Brasil reage às provocações argentinas. No primeiro semestre, o governo brasileiro exigiu autorização de importação, que pode demorar 60 dias, para a entrada de cerca de dez produtos com peso significativo na pauta de exportações da Argentina. Também impôs, temporariamente, controle rigoroso para a entrada de veículos argentinos. Só depois disso o governo Kirchner concordou em reduzir algumas das restrições que impusera a produtos brasileiros.
Para evitar que o governo Kirchner continue a prejudicar o Brasil, o governo Dilma precisa apontar com clareza os problemas da Argentina, como fez o embaixador Enio Cordeiro, e reagir prontamente às medidas danosas ao País.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Afundando no protecionismo, e preparando a crise futura...

Brasil e Argentina eram, segundo meus critérios, apenas países reticentes em abrir-se à economia mundial, vagarosos nas reformas e sobretudo temerosos da concorrência estrangeira.
Não mais. Eles estão plenamente engajados em retroceder no tempo, fazendo girar para trás a roda da história, em pelo menos cinquenta anos, enquanto ativos promotores, defensores, estimuladores, entusiastas do protecionismo, como se isso fosse solução para qualquer um dos problemas que suas economias enfrentam.
Parece inacreditável que, depois de todos os ensinamentos da história, dirigentes políticos e responsáveis econômicos ainda acreditem que fechamento econômico e protecionismo comercial ainda sejam respostas para o que quer que seja.
Bem, vamos aguardar os efeitos dessa medida. Aliás, elas já se manifestam rapidamente no plano individual: vamos sentir em nossos bolsos imediatamente, ao ter de pagar mais caro por produtos de menor qualidade. Depois, no plano setorial, as indústrias afetadas (que na verdade demandaram esse insulamento da economia mundial) vão ficar atrasadas, incapazes de competir, em qualquer mercado que se considere. Em terceiro lugar, a "folga" comercial que se obtem no balanço de pagamentos, virá com déficits em outras áreas.
Ou seja, no final, vamos ficar pior do que antes.
É a isso que nos levam as medidas dos dois governos...
Paulo Roberto de Almeida 

Brasil e Argentina vão ampliar protecionismo

Mercosul lança na semana que vem lista de mercadorias que terão alíquota de importação elevada; Brasil fala em 200 produtos, Argentina pede o dobro

Renata Veríssimo
Agência Estado, 18 de junho de 2012
BRASÍLIA - O Mercosul deve aprovar na próxima semana mais uma medida para proteger os mercados locais da concorrência dos importados. Os técnicos do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai discutem a ampliação do número de produtos que terão o Imposto de Importação elevado.
O Brasil defende uma relação com 200 itens, segundo informou ao Estado a secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Tatiana Prazeres. A Argentina quer uma lista com 400 produtos.
No segundo semestre do ano passado, em meio ao agravamento da crise internacional, o bloco anunciou a implementação de uma lista com até 100 itens para cada País que teriam aumento do Imposto de Importação para produtos provenientes de mercados fora do bloco. Nestes casos, o imposto que, em média, é de 12% a 13%, pode chegar a 35%, a alíquota máxima permitida pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
Tatiana acredita que a ampliação da lista será aprovada durante a reunião de cúpula do Mercosul, que será realizada entre os dias 26 e 28 de junho na província de Mendoza. Segundo ela, o Brasil concorda chegar a 200 itens, conforme já tinha defendido no passado, quando a criação da lista foi aprovada.
Critério. Outro ponto de discordância com a Argentina é sobre o critério de definição dos produtos. O Brasil defende que cada país tenha autonomia para fazer a própria lista. O governo argentino quer uma lista única, com os mesmos produtos e alíquotas para os sócios do Mercosul.
A medida dá mais fôlego aos setores afetados pela concorrência dos importados, mas é menos radical que a proposta apresentada pela Argentina no mês passado. Buenos Aires defendeu uma elevação generalizada da Tarifa Externa Comum (TEC) até o limite permitido pela OMC. O Brasil foi contra.
A ideia da lista com até 100 produtos foi anunciada em agosto do ano passado, como uma das medidas do Plano Brasil Maior. A ação, no entanto, não foi colocada em prática até hoje. Paraguai e Uruguai ainda não incluíram (internalizaram, no jargão técnico) na legislação local o novo mecanismo, embora o protocolo assinado pelo Mercosul estipulasse um prazo de 60 dias.
Emprego. O coordenador geral de Imigração do Ministério do Trabalho, Paulo Sérgio de Almeida, disse ontem que as barreiras impostas pela Argentina ao comércio bilateral não só prejudicam as exportações, mas também têm reflexo no mercado brasileiro de trabalho.
Segundo ele, que participou de audiência pública no Senado, a indústria de calçados, abate de suínos, fabricação de tratores, caminhões, autopeças, motocicletas e de equipamentos de transportes ampliaram em 29.682 os postos de trabalho de janeiro a maio de 2011.
Em cinco meses, estes setores fecharam 3.892 vagas, sendo que o País continua gerando novos empregos formais. "De maneira geral, todos os setores estão gerando emprego. A indústria também e estes setores têm sofrido prejuízo no emprego", disse.


domingo, 10 de junho de 2012

O nao-estado da nao-relacao de nao-integracao Brasil-Argentina (ufa, duas palavras sem nao...)

Ainda bem que se trata de uma relação estratégica. Imaginem se não fosse.
Ainda bem que o Mercosul é de alta prioridade para o Brasil. Imaginem se não fosse.
Ainda bem que as relações Brasil-Argentina são excelentes. Imaginem se não fosse.
Se não fosse por todas essas coisas boas, as relações poderiam até desandar, o comércio patinar, o Mercosul retroceder. Ainda bem que não é assim.
Imaginem se tudo fossem barreiras, denegações, impedimentos.
Imaginem se o nosso governo fosse conivente com o arbítrio comercial.
Ainda bem que estamos a salvo de tudo isso...
Paulo Roberto de Almeida

Problemas contínuos

Editorial O Estado de S.Paulo, 10 de junho de 2012 
Só agora, 11 anos depois de aceita com relutância pelos demais países do Mercosul como medida "excepcional e temporária", está sendo eliminada a isenção tarifária que a Argentina concedia às importações de bens de capital. Na quarta-feira (6/6), o governo de Cristina Kirchner anunciou que, doravante, as importações desses bens produzidos fora do Mercosul serão taxadas com alíquota de 14% quando não houver similar nacional, como ocorre nos outros países do bloco econômico do Cone Sul.
É uma medida que reforça a Tarifa Externa Comum (TEC), que, com o princípio da livre circulação de mercadorias entre os membros do bloco, constitui a base da união aduaneira em que formalmente se transformou o Mercosul. Mas é uma medida claramente insuficiente para que o bloco possa ser, de fato, considerado uma união aduaneira, pois são muitas as exceções à TEC e as restrições que o governo Kirchner vem impondo à entrada na Argentina de produtos originários de outros membros do Mercosul, sobretudo do Brasil.
Conivente com boa parte das barreiras administrativas e tarifárias que - em flagrante desacordo com as normas que regem uma união aduaneira - o governo Kirchner (desde o de Néstor, marido, já falecido, e antecessor de Cristina) vem impondo sucessivamente à importação de produtos brasileiros, o governo do PT, quando reage aos excessos argentinos, o faz de maneira espasmódica.
A cada dificuldade, marcam-se reuniões entre representantes dos dois governos, ora em Brasília, ora em Buenos Aires. Esses encontros sempre são encerrados com a reafirmação de que os problemas foram resolvidos, o que nunca aconteceu.
São muitas as marcas concretas dos conflitos comerciais entre Brasil e Argentina. Eles se intensificaram depois que a Argentina passou a incluir mais e mais produtos na lista daqueles que não têm mais licença automática de importação.
Desde fevereiro o governo argentino exige a apresentação prévia, pelo importador, de uma declaração juramentada, que é examinada por diferentes órgãos federais, a começar pelo equivalente argentino da Receita Federal. Isso retarda o processo. Em muitos casos, a manifestação oficial do governo, autorizando ou não a importação, demora mais de 60 dias, prazo máximo permitido pela Organização Mundial do Comércio.
Filas de caminhões com produtos acabados formam-se dos dois lados da fronteira entre a Argentina e o Brasil, pois o governo brasileiro também decidiu controlar a entrada no País de alguns produtos argentinos. Há veículos acabados produzidos nos dois lados da fronteira, maçãs argentinas das Províncias de Río Negro e Neuquén e produtos industriais variados.
A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) informou que há 1,7 milhão de pares já vendidos para comerciantes argentinos que aguardam licença para entrar no país. Cerca de 12 mil pares estão estocados no Rio Grande do Sul aguardando essa licença desde junho de 2011, quando foram vendidos.
O impacto dessas medidas sobre o volume do comércio entre os dois países é muito forte. As exportações de calçados brasileiros para a Argentina nos cinco primeiros meses deste ano foram 55% menores do que no período janeiro-maio de 2011.
Mesmo quando a Argentina anuncia a liberação rápida de determinados produtos, os resultados práticos demoram. Há cerca de duas semanas, o poderoso secretário de Comércio Interior da Argentina, Guillermo Moreno - que, apesar do título de seu cargo, é o principal inspirador das medidas protecionistas do governo Kirchner na área de comércio exterior -, anunciou que, "num gesto de boa vontade" em relação ao Brasil, reabriria o comércio de suínos sem limites. Apesar do anúncio, a liberação passou a ser concedida a conta-gotas, como se queixaram há dias os exportadores brasileiros.
Os sinais cada vez mais claros de que a economia argentina se aproxima da recessão devem levar o governo Kirchner a proteger ainda mais a produção local, criando mais dificuldades para as exportações brasileiras.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Argentina: protecionismo crescente desde 2002

Um artigo objetivo, e também opinativo, sobre um dos grandes dilemas das relações comerciais externas do Brasil: responder ou não responder ao protecionismo unilateral argentino?
Os dois últimos governos brasileiros escolheram não apenas deixar de responder, como também ser complacente com as medidas ilegais, arbitrárias, unilaterais, totalmente contrárias ao espírito e a letra do Tratado de Assunção e dos protocolos que regem as salvaguardas no sistema multilateral de comércio. Pior do que isso: o governo brasileiro, orientado por um conselheiro que colocava o projeto de integração sul-americana acima dos interesses nacionais, escolheu colaborar com os argentinos na contenção voluntária das exportações brasileiras, mesmo quando isso significava prejuízo para os empresários nacionais. De vez em quando, para não parecer conivente, se contentava de alguns arreganhos de machismo comercial, logo suspendidos, em favor de um diálogo que nunca resolveu nada.
Paulo Roberto de Almeida

Barreiras Argentinas ao Comércio Internacional – Repercussões no Brasil

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* Luis Renato Rua e Fabrizio Sardelli PanziniO início dos anos 2000 na Argentina foi marcado por uma depressão em sua economia que culminou com o encolhimento do Link no Glossário PIB do país em quase 20%. Os anos posteriores à grave crise vêm sendo marcados, no campo das relações comerciais argentinas, pelo ininterrupto uso de medidas com o intuito de restringir as importações, que atingem frontalmente os interesses de parcela da indústria e da agroindústria brasileira.As restrições do país vizinho contam com uma variedade grande de instrumentos. A disseminação de licenças não automáticas (que excedem o prazo limite da OMC), o estabelecimento de preços de referência para determinados bens e, ainda, a aplicação de direitos antidumpings sem fundamentação técnica são os mecanismos mais relatados por empresas do Brasil. Somam-se a estes obstáculos barreiras técnicas e administrativas cuja característica central é a baixa transparência.No início de 2012 tais barreiras foram estendidas com a adoção – pela Administración Federal de Ingressos Publicos (AFIP) – da Resolução 3525 / 2012, que prevê ao importador argentino a necessidade de declarar seus planos futuros de compras do exterior.

A
 nova regra aumenta o controle sobre os bens importados e, diferentemente das medidas anteriores – como as licenças não automáticas que alcançavam quase 1.000 linhas tarifárias, concentradas em bens intensivos em mão de obra e máquinas agrícolas – a Declaração Jurada Antecipada de Importação (DJAI), atinge potencialmente todas as compras de produtos do exterior. Nos primeiros meses de 2012, por exemplo, a nova barreira tem impedido ou reduzido a entrada de bens intermediários, como produtos químicos e petroquímicos, autopeças e outros bens de consumo, como eletrônicos e até carne suína.Para o caso da carne suína especificamente, o fluxo de comércio entre Brasil e Argentina está completamente interrompido desde meados de fevereiro e as notícias circuladas nos últimos dias apontavam para uma reabertura parcial das importações, fato não concretizado até o presente momento. Mesmo um acordo para uma cota específica de aproximadamente três mil toneladas de suínos, que por si só já viola as obrigações do acordo do Mercosul, e que tem sido alardeado como uma solução para o impasse, é prejudicial aos exportadores brasileiros por dois motivos centrais (i) limitariam as exportações gerais destes bens; (ii) contemplaria supostamente apenas produtos de baixo valor agregado (matéria-prima, recortes, etc.), excluindo definitivamente da pauta produtos de alto valor agregado nas exportações de carne suína para a Argentina, como é o caso de presuntos e salames.É preciso ter em conta que a razão nuclear por detrás do controle das importações é impedir a saída de dólares da economia. Este fator se agrava com o canal mais importante de entrada de dólares no país, as vendas de Link no Glossário commodities, dando sinais de desaceleração do aumento de preços nos próximos anos. Ademais, o país tem atraído volume mais reduzido de Investimentos Estrangeiros Diretos – IEDs e a tendência é que este afluxo diminua ainda mais. Vale ressaltar, ainda, estimativas de consultorias privadas¹ que atentam para o fato de que o déficit na balança energética argentina em 2012 poderia atingir US$ 7 bilhões, tornando o cenário de perda de reservas ainda mais grave.As barreiras às importações impostas pela Argentina não constituem um fato novo. Nem mesmo os impactos negativos sobre os planos de produção e investimento para as empresas do Brasil podem ser encarados, no geral, com surpresa.Mesmo assim, é interessante pensarmos em dois cenários acerca destas medidas e das relações comerciais entre os dois vizinhos.O primeiro cenário é de enfraquecimento da política de restrições no segundo semestre de 2012, fruto de superávit comercial próximo da meta informal pretendida pelo Ministério da Economia da Argentina (US$ 10 bilhões) e de tensões internas crescentes entre governo e setor privado. Contribuiria ainda para a redução das barreiras, as pressões em nível regional e mundial, como, por exemplo, a iniciativa europeia na OMC. A maior entrada de produtos brasileiros, neste caso, reduziria também a pressão interna dos industriais brasileiros sobre seu governo. Este alívio aconteceria pelo menos até a próxima onda cambial-protecionista argentina, que ocorrerá provavelmente no ano próximo, em especial no caso de a recuperação da demanda mundial não se efetivar.Já o cenário de manutenção, ou mesmo recrudescimento dos impedimentos ao comércio, ampliaria a insatisfação mundial com a Argentina ao mesmo tempo em que aprofundaria os já manifestos desequilíbrios em sua economia doméstica. Em relação à primeira variável, a insatisfação pública de europeus e norte-americanos se cristalizaria em um painel na OMC, de difícil defesa e argumentação por parte dos argentinos. Resta saber se o constrangimento seria suficiente para provocar alguma alteração nos rumos da política comercial do país, fato não visto nos últimos cinco anos de intenso uso de barreiras. Em adição, o desabastecimento interno se intensificaria, em função de um descasamento entre maturação dos investimentos, produção e demanda interna que deixaria de ser satisfeita por importações, cenário muito crítico para a indústria que consome Link no Glossário insumos importados e que destes depende grande parte de sua produção. Os custos de produção, em especial de mão de obra, continuariam a trajetória ascendente atualmente verificada e empurraria o problema inflacionário para o centro da política econômica argentina e seu combate reduziria o crescimento da riqueza gerada internamente.Este segundo cenário afastaria muitas iniciativas da agenda positiva em andamento entre Brasil e Argentina e demandaria do governo brasileiro atitude mais enérgica.¹ ABECEB.com* Luis Renato Rua – Pós-Graduado em Agronegócio ESALQ-USP e Fabrizio Sardelli Panzini – Mestre em Economia Política PUC-SP.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Comercio exterior: governo criticado por exportadores

O que era evidente desde 2003 -- a incapacidade do governo defender os interesses dos exportadores brasileiros no quadro do Mercosul -- vem sendo agora reconhecido por empresários e líderes do setor. Existem outros motivos, que não os políticos, para justificar a ausência de reação, a completa passividade?
Paulo Roberto de Almeida 

Reabertura do mercado argentino expõe fragilidade da política externa

MARCOS A. BEDIN
NetMarinha,  24/5/2012

MÁRIO LANZNASTER



A reabertura do mercado argentino para a carne suína brasileira trouxe algum otimismo para o setor, mas revelou que a indústria da carne e os criadores estão duplamente irritados: com o governo brasileiro (pela falta de vigor na política externa) e com o governo argentino (pela deslealdade na gestão comercial dentro do bloco Mercosul).
O principal porta-voz dessa insatisfação é o presidente da Coopercentral Aurora Alimentos e vice-presidente de assuntos estratégicos do agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), Mário Lanznaster. O dirigente reclama que o governo brasileiro tolera o comportamento desleal do parceiro (Argentina) e não adota medidas recíprocas legitimamente aceitas no comércio bilateral.
Lanznaster proclama que “o governo age assim porque não valoriza o agronegócio”. Lembra que quando ocorre qualquer problema mercadológico em outros setores, como automóveis ou eletrodomésticos, o governo adota imediatamente medidas de apoio.
Realça que a agropecuária brasileira até abril exportou 26 bilhões de dólares, gerando superávit de 20,8 bilhões de dólares somente neste ano. Afirma não compreender porque isso não acontece com o agronegócio, “que esta salvando a balança comercial externa, garantindo repetidos superávits”.
O presidente deseja que os Ministérios das Relações Exteriores e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior tenham o mesmo comprometimento que o Ministério da Agricultura. E justifica: a política comercial externa é fraca, tímida, não reage no mesmo nível e não defende os interesses dos produtores e das indústrias nacionais.
Nesta semana foi anunciada a reabertura do mercado argentino para a carne suína brasileira. A decisão ainda não teve efeito prático, pois será necessário mais de um mês para a retomada dos negócios e o efetivo embarque das mercadorias.
PREJUÌZOS
A Argentina embargou a carne suína brasileira em fevereiro suspendendo a liberação das licenças de importação. Em consequência, o Brasil deixou de exportar para aquele mercado em torno de 15.000 toneladas nesse período (3,6 mil toneladas mensais). Somente a Coopercentral Aurora Alimentos deixou de exportar, quase 2 mil toneladas. “Isso representa cerca de 45 milhões de dólares que deixaram de entrar no Brasil e que não serão mais recuperados”, expõe.
Lanznaster observa que a Argentina não quer produtos industrializados, mas apenas matéria-prima para processar em seus frigoríficos. Essa medida – somente agora revogada – penalizou as exportações brasileiras de carne suína em momento de oferta elevada no mercado brasileiro.
A não-exportação para a Argentina impactou na elevação dos estoques internos daquele país, que precisou buscar alternativas para não parar suas fábricas de produtos cárneos.
FOTO- MÁRIO LANZNASTER - presidente da Coopercentral Aurora Alimentos e vice-presidente de assuntos estratégicos do agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc)