O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Livro "Brasileiros" - Jose Roberto de Castro Neves (org.)

Recebo, de um amigo comum, o anúncio do próximo lançamento do livro:
Brasileiros
organizado por José Roberto de Castro Neves
O lançamento vai ocorrer no dia 31/03/2020, uma terça-feira, às 18 hs, na Livraria da Travessa do Leblon.

Sumário

Ancelmo Góes – Luiz Gonzaga
Beth Ramos – Graciliano Ramos
Cacá Diegues – Glauber Rocha
Cândido Mendes – Golbery do Couto e Silva
Celia Arns – Zilda Arns
Celina Vargas – Getúlio Vargas
Chiquinho Brandão – Zózimo
David Zylbersztajn – Di Cavalcanti
Eleazar de Carvalho Filho – Eleazar de Carvalho
Euclides Penedo Borges – Euclides da Cunha
Fabio Altman – João do Pulo
Fernanda Montenegro – Irmã Dulce
Fernando Henrique Cardoso – Tancredo Neves
George Vidor – Machado de Assis
Gustavo Franco – Roberto Campos
Iza Salles – Dom Pedro I
Jaime Lerner – Oscar Niemeyer 
Joaquim Falcão – Gilberto Freyre
José Luiz Alquéres – Barão de Mauá
José Roberto de Castro Neves – Sobral Pinto
Liana Leão – Barbara Heliodora
Luís Roberto Barroso – Rui Barbosa
Luiz Cesar Faro – Eliezer Batista
Marcelo Madureira – Monteiro Lobato
Marcílio Marques Moreira – Santiago Dantas
Marcos Pereira – José Olympio
Mary Del Priore – Barão de Guaraciaba
Merval Pereira – Castelinho
Miguel Reale Júnior – Ulysses Guimarães
Nelson Motta – Vinícius de Moraes
Paulo Niemeyer Filho – Paulo Niemeyer
Paulo Ricardo – Cazuza
Pedro Bial – Marechal Rondon
Pedro Malan – Ruth Cardoso
Pedro Corrêa do Lago – Oswaldo Aranha
Pedro Henrique Mariani – Visconde de Cairú
Renato Aragão – Oscarito
Roberto Feith – Niomar Moniz Sodré Bittencourt
Sergio Abramoff – Carlos Chagas
Sonia Nolasco Heilborn – Paulo Francis
Vanda Klabin – Lygia Clark

Universidades federais reclamam de Weintraub e de Guedes

Concordo em que o Weintraub é um desqualificado para o cargo que ocupa, e que o Guedes poderia ficar calado, quando não está tramando novas artimanhas para garantir o equilíbrio das contas públicas – que precisa ocorrer, independentemente do que pensem os universitários –, e também concordo em que as universidades estão asfixiadas, ou seja, cada vez com menos recursos para garantir o seu funcionamento adequado (sem falar de investimentos em novos projetos).
Mas, também acho que os universitários são todos alfabetizados, grandiosos, inclusive com matemáticos, administradores, físicos, economistas, engenheiros, enfim, gente absolutamente preparada para administrar de maneira racional o orçamento universitário e programas de captação de novas fontes de recursos. Sou pela autonomia TOTAL das universidades, inclusive para resolver sobre salários, cargos, disciplinas, programas e todos os demais aspectos, em benefício de seus ALUNOS e da SOCIEDADE. O Estado deveria assegurar o B ÁSICO, para o funcionamento das universidades – mas também acho que os alunos dos dois primeiros graus merecem ganhar mais do Estado – e todos os demais aspectos deveriam ser resolvidos por administradores competentes.
Paulo Roberto de Almeida

UFRJ se manifesta contra os últimos atos do Governo Federal

Na última quinta-feira, 13/2, o Conselho Universitário (Consuni), órgão máximo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), manifestou-se publicamente contra os últimos atos do Governo Federal.
O Conselho Universitário da Universidade Federal do Rio de Janeiro, reunido em sessão de 13 de fevereiro de 2020, manifesta seu repúdio aos últimos atos do governo que tentam controlar e cercear a produção do conhecimento e a autonomia universitária. Desde dezembro, os ataques dos ministros Weintraub e Paulo Guedes se intensificaram, com a edição de medidas que, por um lado, asfixiam o orçamento da universidade, e por outro, atacam a liberdade da produção de conhecimento. No conjunto, são medidas que sacrificam o princípio constitucional, previsto no artigo 207, da autonomia universitária, tema tão caro para a comunidade acadêmica da UFRJ.  
A Medida Provisória 914, por exemplo, editada na véspera do Natal, altera as regras da eleição para reitor e evidencia o caráter intervencionista do Ministério da Educação. Outra medida draconiana veio com a Portaria 2.227 que tentava aumentar o controle sobre as missões técnicocientíficas de pesquisadores e técnicos vinculados ao MEC. Após intensa mobilização da comunidade científica de todo o país, conquistamos algum recuo, mas ainda insuficiente. Em todo o Brasil, nossas condições de trabalho estão ameaçadas pelo corte orçamentário, com efeitos imediatos sobre técnicos e professores concursados e substitutos.
 
A proposta orçamentária do Governo Federal, aprovada pelo Congresso Nacional esse ano, não assegura o funcionamento das universidades. Ao contrário, deixa sob risco o pagamento de despesas obrigatórias, como o salário de docentes e técnico-administrativos, reduz o orçamento da assistência estudantil, compromete os serviços realizados pelos trabalhadores terceirizados, impede a reposição das vagas de servidores aposentados, exonerados ou falecidos, paralisa obras inadiáveis de infraestrutura para o ensino, a pesquisa e a extensão. Como está colocada contradiz até mesmo a Lei de Responsabilidade Fiscal, que preserva a educação, a saúde e a segurança dessas limitações. O Governo Federal, através de um orçamento reduzido, asfixia a universidade pública e impede a continuidade da excelência acadêmica e relevância social dos serviços prestados.
 
 Na UFRJ, há centenas de servidores efetivos e temporários que ainda não tomaram posse, quase 30 professores substitutos da Educação Básica do Colégio de Aplicação aguardando assinatura de contrato, ocasionando um grande número de estudantes da educação infantil, do Ensino Fundamental e do Ensino Médio sem aulas de diferentes disciplinas, inclusive as crianças portadoras de deficiência.
 
Nesse primeiro Conselho Universitário de 2020, conclamamos toda a comunidade acadêmica a somar esforços para garantir a universidade que sonhamos e construímos com muita luta, a partir da redemocratização do país. A autonomia, a gratuidade, a liberdade de cátedra, as carreiras, a democracia interna, a avaliação por pares, o grande sistema de apoio e fomento à pesquisa, a democratização do acesso, com o sistema de cotas e o SISU foram fruto do trabalho de muitas gerações. Não podemos perder todo esse patrimônio para a truculência de governantes que sistematicamente nos atacam, nos desrespeitam e tentam impor uma era de regressão e ignorância. Não somos parasitas, somos servidores públicos concursados que dedicam a vida à construção de uma nação mais justa, mais republicana, mais igualitária e mais fraterna.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Nestor Forster, o homem de Bolsonaro em Washington - Henrique Gomes Batista (Epoca)

Nestor Forster, o homem de Bolsonaro em Washington 

Diplomata ligado a Olavo de Carvalho é indicado como embaixador nos Estados Unidos — e promete muito mais que uma agenda conservadora 
Henrique Gomes Batista
REvista Época, 14/02/2020 - 03:00 
O gaúcho Nestor Forster não tinha nenhuma experiência como embaixador antes de chegar a Washington. Foto: Arte sobre reprodução

O gaúcho Nestor Forster não tinha nenhuma experiência como embaixador antes de chegar a Washington. Foto: Arte sobre reprodução 

A Comissão de Relações Exteriores do Senado aprovou, por 12 votos a 0, o nome de Nestor Forster como embaixador brasileiro em Washington na quinta-feira 13, cargo que ele já exercia interinamente desde setembro. A confirmação só depende de aprovação do plenário da casa. A escolha descartou — pelo menos, por ora — o plano do presidente Jair Bolsonaro de colocar nesse posto seu terceiro filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), com pouca experiência no exterior para além do tempo em que trabalhou numa lanchonete no estado do Maine.
Já Forster, de 56 anos, é o que se poderia chamar de um “diplomata das Américas”. Durante toda a sua carreira no Itamaraty, teve três passagens pelos Estados Unidos em diferentes cargos, além de temporadas no Canadá e Costa Rica. É verdade que sua chegada ao cargo de embaixador em Washington é um caso de quebra de tradição. Pela lógica do Itamaraty, um recém-promovido a embaixador — sua promoção foi em junho — teria de passar por vários países antes de chegar ao comando da embaixada mais importante. Mas Forster não é o primeiro a pegar um atalho para Washington. Antonio Patriota fez o mesmo em 2007.
Se, por um lado, Forster peca por não ter no currículo nenhuma experiência como titular de embaixada, por outro, esbanja proximidade com Olavo de Carvalho, o ideólogo de extrema-direita que faz o papel de guru da família Bolsonaro. Muito antes da eleição presidencial de 2018, Forster fazia visitas à área rural de Richmond, capital do estado da Virgínia, onde Carvalho mora. Inclusive, foi o diplomata quem apresentou o hoje chanceler Ernesto Araújo ao pensador do bolsonarismo. Embora Forster rejeite o título de “olavista”, os dois são amigos há cerca de 20 anos. Segundo pessoas próximas, a definição é considerada por Forster uma simplificação com cheiro de preconceito.
O embaixador pode não gostar do adjetivo, mas, no dia 31 de agosto rasgou ao amigo elogios dignos de um fiel seguidor. Na sede da embaixada em Washington, Forster entregou a Carvalho a medalha da Ordem do Rio Branco, concedida por Bolsonaro. “Não se trata de uma homenagem do presidente da República, do chanceler, de todo o Itamaraty ou de seus milhares de alunos no Brasil e no exterior. Mas é uma homenagem de todos os brasileiros de bem que, cansados de ver a pátria ser aviltada e assaltada por criminosos, saíram às ruas em protesto com cartazes onde se proclamava: ‘Olavo tem razão’”, afirmou Forster. “E Olavo certamente tem razão no diagnóstico da patológica decadência cultural de nosso país”, sentenciou, chamando-o de sábio, generoso e bondoso.
Forster está no grupo que tenta comungar de duas fontes incompatíveis. Bate palmas para Carvalho, que se destaca por suas ideias extremadas e pela intransigência, e diz ser admirador do pensador irlandês Edmund Burke, um liberal clássico que viveu no século XVIII e se opunha politicamente a qualquer radicalismo, de esquerda ou direita. “Não é possível seguir a Olavo e Burke ao mesmo tempo. Burke é conservador e Olavo é reacionário. O conservador é um liberal que quer combinar inovação com tradição, e o reacionário é um visionário que odeia a modernidade e acredita poder restaurar os valores perdidos da Idade Média”, disse Christian Edward Cyril Lynch, professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Iesp-Uerj) e um dos maiores especialistas no Brasil em Burke. Forster pensa diferente. Uma semana depois de homenagear Carvalho, o diplomata fez um discurso, no dia 7 de Setembro, na sede da Organização dos Estados Americanos (OEA), em que constava uma longa citação de Burke sobre a pátria.
Assim como o chanceler Araújo, Forster é gaúcho e torcedor do Internacional. Católico fervoroso, tem duas filhas, uma delas freira, irmã dominicana, nos EUA. Aos amigos, costuma dizer ser fã do romancista carioca José Geraldo Vieira, morto em 1977, e do poeta Bruno Tolentino, outra coincidência com Carvalho. Forster se diz um apaixonado por música, uma herança do avô, trompetista de orquestra louco por Louis Armstrong, que o ensinou a gostar de Bach. Além de música clássica, Forster escuta o gaúcho Renato Borghetti e o violonista paulista Marco Pereira. Na juventude, em Porto Alegre, nos anos 1980, chegou a tocar chorinho com os futuros integrantes da banda Engenheiros do Hawaii.
Mesmo pessoas que torcem o nariz para a agenda conservadora do novo embaixador o descrevem como um habilidoso negociador. Quem trabalhou próximo a ele tem a mesma opinião. “Você não vai ver, em nenhuma ocasião, Forster sendo a voz da insensatez. Ele sempre busca o razoável, o acordo, a composição”, disse o engenheiro Rubens Sakay, que dividiu com Forster a transição entre os governos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. “A capacidade dele de análise é excepcional”, completou.
Desde setembro até a sabatina, Forster mostrou algumas de suas qualidades mesmo na condição de embaixador interino. Apesar de todo o barulho da família Bolsonaro em favor de Donald Trump, o diplomata optou pela prudência e tentou ampliar, o máximo possível, contatos com políticos americanos de ambos os campos. Durante a interinidade, Forster obteve algumas vitórias: a classificação do Brasil como “aliado preferencial extra-Otan” pela Casa Branca e também a decisão americana de apoiar o Brasil em sua tentativa de conseguir uma vaga na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), uma espécie de clube formado majoritariamente por países desenvolvidos. Se essa busca por resultados acima das ideologias for mantida, o Brasil tende a ganhar. Caso a ideologia fale mais alto, os riscos aumentam, principalmente na área do meio ambiente. Nesse tema, o discurso bolsonarista em favor da exploração da floresta cria atritos com ambientalistas e pode acabar em boicotes contra o agronegócio brasileiro.
Forster se orgulha de ter deixado uma marca em todos os postos por onde passou. Um dos exemplos comumente citados por ele é a elaboração do Manual da Presidência da República, feito em parceria com Gilmar Mendes, quando o atual ministro do Supremo Tribunal Federal era consultor jurídico da Secretaria-Geral da Presidência. “Nestor é um dos profissionais mais qualificados, um dos melhores quadros da administração pública brasileira”, afirmou Mendes quando perguntado por ÉPOCA. Entre 2000 e 2002, Forster foi chefe de gabinete do ministro na Advocacia-Geral da União (AGU). Um ano depois, estava no gabinete de transição entre os governos FHC e Lula.
Na cadeira de embaixador, o diplomata não esconde que pretende aproveitar a proximidade ideológica entre Trump e Bolsonaro. Em seus planos está iniciar uma grande negociação comercial entre os dois países e avançar na agenda de defesa e espaço. Se conseguir um novo acordo para a troca de bens entre os dois países, fará história. Depois do entusiasmo mostrado durante período eleitoral em 2018, a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, tem evitado falar em abertura da economia brasileira. Nos Estados Unidos, o livre-comércio também virou palavrão em alguns círculos.
Para atingir seus objetivos, o gaúcho terá de abrir a agenda que acumulou ao longo da carreira. A inspiração é o tempo em que Paulo Tarso Flecha de Lima era embaixador em Washington. Forster estava na capital americana nos anos 1990, quando Lúcia, mulher do embaixador, era próxima de Lady Di. Naquela época, a Villa McCormick, suntuoso prédio de 1931 que serve como residência oficial do representante brasileiro nos Estados Unidos, passou a atrair diplomatas de todas as partes interessados na então princesa de Gales. Para Forster, ficou a lição que bons contatos são quase tudo na diplomacia. E, em Washington, o novo embaixador conhece muita gente.
No ano passado, ao bater na porta de deputados republicanos e democratas para tentar diminuir a pressão do Congresso americano sobre as queimadas da Amazônia, Forster se lembrou dos encontros que tinha com o pai de um congressista e, entre sorrisos, acredita ter amainado um eventual crítico do governo Bolsonaro. Conhecer os caminhos também o levaram a defender a gestão do presidente em diversos veículos americanos, inclusive na “esquerdista” NPR.
Como um mantra, diplomatas brasileiros em postos de comando em Washington muitas vezes falam da “relação especial” entre Brasil e Estados Unidos. Citam a geografia, a composição da população e o tamanho. Mas, ao longo das décadas, muito pouco dessa suposta proximidade tem se traduzido em um diferencial para o Brasil. Forster não foge à regra. Fala em aproximação com os Estados Unidos, mas não há, pelo menos, por enquanto, nada que indique que vá melhorar a relação com os americanos. “O Brasil sumiu, não está no radar de Washington e não voltará tão cedo, a despeito de declarações de apoio incondicional do governo brasileiro às políticas americanas”, afirmou Paulo Sotero, presidente do Brazil Institute do think tank Wilson Center, na capital americana.
Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas, lembra que Forster, apesar de próximo do chanceler e do próprio Eduardo Bolsonaro, terá um desafio extra. Com sua ascensão meteórica, enfrentará uma certa resistência dentro da estrutura do Itamaraty. “Ele não pode ser considerado um diplomata normal. Seu crescimento se deu por seus posicionamentos, em um momento em que muitos diplomatas experientes estão sendo escanteados também por questões ideológicas”, lembrou Stuenkel.
Além de tentar despertar o interesse americano pelo Brasil, Forster corre contra o relógio. Com as eleições presidenciais americanas em novembro, a janela de oportunidades para novas grandes decisões se estreita no Congresso. Conhecedores apontam para abril, ou mais tardar maio, como o prazo para iniciar novas grandes frentes na relação bilateral.

O Brasil a caminho da decadência - Monica de Bolle

Mônica de Boelle Foto: ÉPOCA

Monica de Bolle

Decadência 

Sociedades que não mais reconhecem no conhecimento e na sabedoria as qualidades para seus líderes podem, sim, estar decadentes 
Época, 14/02/2020 - 03:00 
E aí, o título evocou os sete pecados capitais? Não é desse tipo de decadência que se trata. A decadência sobre a qual escrevo é a definida pelo historiador e crítico cultural Jacques Barzun, falecido em 2012. Sua obra magna — Da alvorada à decadência: a história da cultura ocidental de 1500 aos nossos dias — foi publicada em 2000, quando o autor tinha 93 anos. Lembrei-me dela ao ler, no domingo passado, o ensaio de Ross Douthat no New York Times sobre seu novo livro, intitulado The decadent society (A sociedade decadente). Tanto Barzun quanto Douthat apresentam contraposições bem elaboradas à obra de Steven Pinker, O novo Iluminismo, publicada em 2018. Nesse livro, o argumento central de Pinker é que os intelectuais tendem ao pessimismo como uma espécie de atrator cognitivo — prefiro atrator ao termo mais comum, viés —, o que os leva a ignorar os progressos conquistados em diversas áreas nas últimas décadas. Tenho inúmeras críticas a essa obra específica de Pinker, mas as deixarei para outro artigo.
Voltando a Barzun. Sua definição de decadência não é moral ou estética. Sobre o termo, ele explica: “As artes como expressão da vida parecem ter sido exauridas, os estágios de desenvolvimento já foram ultrapassados. Instituições funcionam dolorosamente. A repetição e a frustração são o resultado intolerável dessa situação (...) Quando as pessoas aceitam a futilidade e o absurdo como estados normais, a cultura está decadente”. Douthat elabora: sociedades lideradas por gente mesquinha e arrogante não estão necessariamente em decadência, mas sociedades que não mais reconhecem no conhecimento e na sabedoria as qualidades para seus líderes podem, sim, estar decadentes. A decadência nem sempre leva à catástrofe, pois sociedades decadentes definidas no sentido que Barzun empresta ao termo podem perdurar por anos a fio, como revelam diversos casos históricos. Nesse sentido, a decadência é perfeitamente compatível com alguma noção de “progresso” — a tecnologia que permite maior conforto e uma sensação de ganho de eficiência é a mesma tecnologia por meio da qual nos engalfinhamos em moção perpétua nas redes sociais. Ou seja, a decadência é mais entropia do que ruptura, mais o café que esfria na mesa do que o leite derramado.
Na ciência social, campo em que incluo a economia em todas as suas vertentes, inclusive a tecnicista, há sinais de decadência. Quem são os grandes pensadores da atualidade que nos apresentam maneiras novas de refletir sobre nossos problemas? Não digo que eles não existam, mas, quando procuro referências para compreender o ressurgimento do nacionalismo, a normalização do polo mais extremado da extrema-direita, a aceitação de injustiças sociais sem a turbulência que marcou o século XX, esbarro nas mesmas pessoas extraordinárias. Hannah Arendt, Albert Hirschman, o próprio Barzun, além de tantos outros que viveram profundamente o século passado, não o atual. O caso das injustiças sociais é especialmente interessante: nos anos 1960, os movimentos pelos direitos civis se espalharam, tomando as ruas mundo afora. Hoje o que se vê é uma mobilização virtual, descontente, sim, mas, ao mesmo tempo, agressiva e desalentada, espantosamente conivente com as estruturas sociais que reproduzem a desigualdade e que não haverão de mudar sem que se desgrude da incandescência da telinha.
Entendo que se deva lançar mão deles, também. Como escrevi em um artigo para este espaço na semana passada, linhas foram cruzadas, a porteira foi aberta e a boiada já passou. A presunção de que as coisas cedo ou tarde voltarão a seu lugar e a ordem se restabelecerá é, em si, uma atitude decadente.
A decadência, como definida por Barzun, é confortável para uns e bastante penosa para outros. Para os que dependem dos minguantes programas sociais, para os que estão parados no túnel de Hirschman esperando por uma mobilidade social que desapareceu, para os jovens que precisam de mais do que a proficiência mínima em áreas fundamentais da educação, para os que vivem nas comunidades onde reinam as milícias e os crimes cometidos pela polícia, para todos os diretamente afetados por ciclos climáticos alterados pelo descaso ela certamente é penosa. Esses grupos influenciam e são influenciados pelo que chamamos de economia. Ignorar essa realidade é irresponsável e de uma profunda decadência intelectual, decadência que apenas haverá de prolongar a convergência para a entropia que hoje ocorre no Brasil e no mundo. Café em temperatura ambiente, afinal, é absolutamente insuportável.
Monica de Bolle é Pesquisadora Sênior do Peterson Institute for International Economics e professora da Universidade Johns Hopkins

A direita reacionária brasileira no abismo de abjeção - Flavio Quintela (Gazeta do Povo)

A direita reacionária brasileira no abismo de abjeção

Flavio Quintela

Colunista da Gazeta do Povo, 18/02/2020

Eu sempre me considerei um conservador e continuo me considerando. Nesse sentido, nunca gostei nas ideias revolucionárias, que formam a base das ideologias de esquerda. Da mesma forma, nunca tive simpatia por ideias reacionárias, que formam a base de algumas vertentes da direita. Poderia dizer que sou aristotélico no tocante à ideologia política: a virtude está entre dois vícios, e os vícios são personificados pelo revolucionário e pelo reacionário. Em outras palavras, meu entendimento político da realidade tem migrado do eixo esquerda-direita para o eixo revolução-reação, e cada vez mais me recolho ao conservadorismo, deixando os outros rótulos para trás.
O Brasil é governado hoje por um político representante da direita, não há dúvidas disso. Infelizmente, é da direita reacionária e retrógrada. O conservadorismo brasileiro nunca chegou ao poder e, provavelmente, jamais chegará. Nosso povo, como bem se viu e se vê, gosta mesmo é de extremos, de paternalismo, de Estado forte, de soluções mágicas, de pensar no curto prazo, de jeitinho, de levar vantagem, de ser “mandado”. E nenhuma dessas coisas tem a mais remota conexão com o conservadorismo.
Dito isso, e constatada a triste realidade, não poderia me livrar de opinar sobre algo que aconteceu na semana que passou; algo que, para mim, ultrapassou o ponto de não retorno. Depois dessa semana, posso dizer com confortável convicção que a direita reacionária brasileira conseguiu se provar moralmente inferior à esquerda, que há tempos vem descendo o abismo de abjeção e falta de princípios. Minha convicção vem de um ponto único: a esquerda revolucionária é, por natureza, anticristã, e por isso age em total sincronia com seus princípios quando promove a destruição dos pilares morais pelos quais nós, conservadores, tanto prezamos. A direita reacionária, ao contrário, se declara cristã e moralmente superior, e justamente por isso sua derrocada moral é tão mais terrível que a da esquerda. Se ainda restar dúvida do que é pior, basta nos lembrarmos do tratamento que Jesus Cristo deu a pecadores comuns e a fariseus, os pecadores religiosos.
Jamais pensei que os bolsonaristas pudessem ser tão baixos
Mas, enfim, qual foi o acontecimento terrível que me fez escrever este texto? Foi o conjunto de desdobramentos do depoimento de Hans River na CPMI das Fake News. Para quem não sabe, o referido depoente disse que Patrícia Campos Mello, jornalista da Folha de S.Paulo, ofereceu-se sexualmente em troca de informações para uma matéria investigativa. Patrícia, assim que soube do depoimento, apressou-se em apresentar todas as trocas de mensagens de texto e áudio com Hans, desmentindo-o. O próprio presidente da CPMI, senador Angelo Coronel (PSD-BA), declarou que o depoente mentiu, deixando claro que considera a versão da jornalista verdadeira. Note-se que Hans nada apresentou para corroborar sua história, reforçando ainda mais a névoa de desconfiança em torno de seu depoimento.
Embora Hans pareça ser o mentiroso desse caso, não foi ele que cruzou os limites da razoabilidade. Hans não transita nas redes sociais empunhando a espada justiceira da direita true-templária-terrivelmente-cristã. Quem faz isso são os influenciadores mais fiéis de Bolsonaro, além do próprio presidente e seus filhos. E foram justamente esses, e mais uma miríade de apoiadores que fazem coro com eles, que não pensaram duas vezes antes de inundar as redes sociais com memes, vídeos e textos abjetos sobre a jornalista da Folha. Allan dos Santos, por exemplo, tuitou uma imagem de uma prostituta abordando um motorista, com o título “FODA DE SÃO PAULO”, e retuitou diversas ofensas veladas à jornalista, sempre na mesma linha da prostituição. O canal Hipócritas foi além e gravou vídeo em que um homem pede um furo a uma prostituta, confundindo-a com uma jornalista. O deputado Eduardo Bolsonaro disse que não duvidava que a jornalista tivesse se oferecido sexualmente em troca de informações. E a cereja do bolo foi Jair Bolsonaro que, poucos minutos antes de eu concluir este texto, falou em público (e em tom de deboche) sobre Patrícia Campos Mello: “Ela queria um furo. Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim”.
Preciso confessar que jamais pensei que essa turma fosse tão baixa. Acostumado à baixeza dos petistas que nos governaram por tanto tempo, e à de seus militantes – impossível esquecer de Marco Aurélio “Top Top” Garcia, de Lula e as mulheres de grelo duro, dos crucifixos enfiados nas vaginas, da defesa apaixonada do aborto etc. –, nunca concebi que o pessoal do outro lado pudesse se comportar exatamente da mesma maneira, e de quebra usar uma pele de cordeiro pendurada na “bio” do Twitter. “Conservador, cristão, pai e pela família”, “Deus acima de todos, justiça e honra”, “Direita de verdade, sem frescura, por Deus e por minha pátria” – essas descrições são apenas alguns exemplos do que se pode encontrar nos perfis de apoiadores do governo que despejaram todo tipo de ofensas à jornalista e a qualquer um que discorde de sua visão tacanha de mundo em que Bolsonaro reina na Terra e um deus que inventaram reina nos céus. O farisaísmo da direita reacionária brasileira é inédito, superior ao original, da época de Cristo. Quando confrontados com sua hipocrisia, refugiam-se na única passagem bíblica onde Jesus se mostra irado, aquela dos mercadores no Templo. Ignoram todo o restante da trajetória de mansidão, humildade e gentileza do Filho de Deus. Ignoram que Jesus comeu com os pecadores e condenou os que se achavam justos. Ignoram que Ele salvou a prostituta e condenou a turma que tentava apedrejá-la.
Sinceramente, não sei o que será do Brasil. Quando as opções que temos são revolucionários que odeiam a moral judaico-cristã de um lado e reacionários que usam essa mesma moral para justificar sua torpeza do outro, a verdade é que estamos sem opções. No território do meio alinham-se os tucanos e sua covardia, os emedebistas e seu fisiologismo, os novistas e sua insipidez, e mais um monte de figuras batidas da política nacional. Não há líderes; não há nem a visão longínqua de um estadista. Chegamos ao deserto da moral e acabamos de descobrir que o oásis que muitos acharam ver não passava de miragem. É desolador. É triste demais.

Os direitos "verdadeiramente" humanos dos governos Trump e Bolsonaro - Jamil Chade

EUA discutem redefinir direitos humanos no mundo; Brasil vê processo "útil"

Jamil Chade
UOL notícias, 18/02/2020
03.jan.2020 - Os ministros Henrique Mandetta (Saúde) e Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) durante apresentação da Campanha de Prevenção à Gravidez na Adolescência - Pedro Ladeira/Folhapress
03.jan.2020 - Os ministros Henrique Mandetta (Saúde) e Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) durante apresentação da Campanha de Prevenção à Gravidez na Adolescência Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress
O governo dos EUA prepara uma redefinição do que são os direitos humanos, num processo que pode ter um impacto global. Longe dos holofotes, a Casa Branca costura um esforço inédito para colocar limites às novas reivindicações dos direitos humanos e realizar a maior revisão do termo desde a assinatura em 1948 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, uma espécie de bússola da humanidade depois dos horrores da Segunda Guerra Mundial.
Em meados do ano passado, a Casa Branca criou a Comissão sobre Direitos Inalienáveis e seus dez membros ganharam o mandato de redefini-los.

Para os críticos e especialistas, o esforço de focar os trabalhos em "direitos inalienáveis" é, na realidade, uma tentativa de restringir os direitos que o governo tem a obrigação de proteger. Poderiam ser afetados direitos sexuais e a proteção de minorias, entre elas a comunidade LGBTQ e imigrantes.

A coluna apurou que o processo passou a ser acompanhado com grande interesse pelo Itamaraty e pelo Ministério dos Direitos Humanos. O governo brasileiro chegou a enviar representantes às reuniões do grupo, em Washington.
Procurado pela reportagem, o Itamaraty indicou que "as audiências são abertas ao público, inclusive para a participação de representações diplomáticas estrangeiras. Como diversos outros países, o Brasil recebeu convite para acompanhar as discussões".
Em dezembro do ano passado, o país enviou delegação à sessão que tratou de temas da pauta internacional. "O governo brasileiro entende que a comissão foi estabelecida para responder a questionamentos específicos dos EUA. Isso não obstante, considera que os trabalhos da comissão poderão ser úteis para o Brasil", confirmou o governo.
O Itamaraty fez questão de ressaltar que, conforme estabelecido na Declaração de Viena, o governo brasileiro "reitera o entendimento de que os direitos humanos são universais, indivisíveis, interdependentes e inter-relacionados".

Mulher-forte do governo Bolsonaro

A representante do Brasil no evento foi a secretária nacional da Família do governo, Angela Gandra Martins, que viajou até a capital americana para acompanhar as reuniões.
Ela é considerada dentro da diplomacia brasileira como a pessoa que, de fato, determina e conduz a agenda de costumes e valores no governo, além de transitar com facilidade nos meios conservadores americanos. Damares Alves, a ministra, seria apenas uma figura popular para encabeçar essa agenda.
"O governo brasileiro acompanha com interesse os trabalhos da Comissão de Direitos Inalienáveis do Departamento de Estado dos EUA", declarou o ministério dos Direitos Humanos, numa nota enviada à reportagem." Os trabalhos da Comissão, contudo, visam subsidiar o secretário de Estado Mike Pompeo na condução da política externa dos EUA. Trata-se, portanto, de uma iniciativa interna do governo norte-americano, cujos resultados ainda são desconhecidos", insistem.
A pasta indica que, por se tratar de uma iniciativa interna do governo dos EUA, o ministério "não foi chamado a apoiar os trabalhos da Comissão". Mas deixa claro que está alinhado com o esforço.
"O governo brasileiro tem um compromisso fundamental com a defesa dos direitos humanos, entendidos como universais, indivisíveis, interdependentes e interrelacionados, e vê oportuna a necessidade de aprofundar neles para melhor compreensão diante de variadas mudanças, maior respeito a soberania dos Estados e melhor integração e solidariedade internacional em sua defesa", declarou. Angela Gandra Martins se reuniu em um jantar com Mary Ann Glendon, a pessoa escolhida pela Casa Branca para liderar o processo. O governo apenas explicou que a secretaria, por também ser professora de Filosofia do Direito, "conhecia já a presidente da Comissão devido a estudos em sua Universidade e jantou com ela".
Glendon é a ex-embaixadora do governo de George W. Bush junto ao Vaticano. Conservadora, ela causou polêmica no meio acadêmico ao recusar um título da Universidade de Notre Dame no ano em que o presidente Barack Obama faria um discurso sobre direitos reprodutivos.
Nos anos 90, ela teceu duras críticas às Nações Unidas. "Precisamos levantar a questão se essas organizações defendem as famílias ou se as famílias precisam ser defendidas contra elas", disse.
Uma década depois, ela apoiou a tentativa de Bush de aprovar uma emenda à Constituição americana para definir o casamento como um ato entre um homem e uma mulher. Num artigo, ela sugeriu que quem defende o casamento homossexual usa os "direitos civis" como forma de obter "preferências especiais".
Segundo ela, ao aceitar o casamento gay, a sociedade estaria criando uma discriminação contra todos aqueles que participam de uma religião que é contrário ao ato. Nos últimos anos, a professora de Harvard também causou indignação de ativistas ao sugerir a flexibilização dos direitos universais para acomodar tradições locais.

"Prioridades políticas questionáveis"

Ao lançar o projeto, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, alerta que "nas últimas décadas, temos ficado confusos sobre direitos". "Apelos por direitos têm moldado nossos debates políticos. Mas não é sempre claro se estamos falando de direitos fundamentais e universais, ou de prioridades políticas questionáveis, ou apenas preferências pessoais", disse.
Segundo ele, a reivindicação por direitos "explodiu" nos últimos anos. Ele aponta que, entre a ONU e o Conselho da Europa, existem 64 acordos relacionados aos direitos humanos, com 1.300 itens.
"Órgãos internacionais designados a proteger os direitos humanos tem saído do caminho de suas missões ou foram corrompidos", criticou.
Sua visão e da Casa Branca é de que as escolas deixaram de ensinar os princípios sobre os quais os EUA foram fundados, um apelo ao passado. "Chegou a hora de fazer algumas perguntas", declarou.
Mas a Casa Branca não espera que o trabalho da comissão determine apenas o que existe dentro das fronteiras americanas. "Esperamos que ela (a comissão) gere um debate sério sobre direitos humanos que se estenda além das posições dos partidos e fronteiras nacionais", disse Pompeo, que aposta no trabalho dos especialistas para marcar o "legado americano" pelo mundo.
A coluna apurou que um dos focos do lobby americano é o governo brasileiro de Jair Bolsonaro, que acaba de ser eleito para mais dois anos no Conselho de Direitos Humanos da ONU. Por uma questão de defesa de Israel, a administração Trump decidiu se retirar do órgão. Mas deixou dentro da sala alguns de seus maiores aliados, entre eles o Brasil, Polônia e República Tcheca. Nos últimos meses, a Casa Branca já garantiu a presença do Brasil em declarações conjuntas que visavam questionar a reivindicação de "novos direitos", principalmente na área de saúde.
São governos que assumem uma postura sobre costumes e valores próximas às ideias da administração conservadora de Trump. Entre os pontos defendidos está o combate a qualquer brecha que se permita falar de "igualdade de gênero", direitos reprodutivos e mesmo educação sexual completa.

Processo não tem supervisão, dizem democratas

A iniciativa americana, porém, tem gerado duras críticas por parte de organizações que formam o pilar internacional dos direitos humanos. O temor é de que a nova comissão e as novas alianças internacionais caminhem para o estabelecimento do direito natural como base de uma ofensiva conservadora.
Numa recente audiência diante da comissão, o diretor-executivo da Human Rights Watch, Kenneth Roth, afirmou estar preocupado com o destino do trabalho encomendado pelo governo americano. Sua avaliação era de que o fracasso dos direitos humanos estava relacionado à incapacidade de governos de cumprir o que já estava estabelecido como tal. E não por conta da criação de novos direitos, como sugeria Pompeo.
Ele ainda alertou que o que saísse daquela comissão teria o potencial de ter um impacto global, principalmente depois que o Departamento de Estado deixou claro que as conclusões dos trabalhos ajudariam a nortear a diplomacia americana.
Num recente artigo escrito para o Washington Post, a escritora Katherine Marino alertou que a iniciativa era uma ameaça à igualdade sexual, direitos LGBTQ e saúde reprodutiva. Ela lembra que, para Glendon, nem todos os direitos das mulheres deve ser considerado como um direito universal.
Marino ainda advertia que tais posturas, uma vez assimiladas à política externa americana, legitimaria o corte de verbas do governo para programas no exterior que pudessem ser entendidos como pró-aborto.
Já a Anistia Internacional insistiu que simplesmente não existe motivo para rever o arcabouço dos direitos humanos. "Este governo tem trabalhado ativamente para negar e retirar as proteções de direitos humanos", disse Joanne Lin, representante da Anistia.
Dentro dos EUA, a iniciativa também gerou críticas. Senadores democratas enviaram uma carta atacando o fato de que o processo está ocorrendo sem a supervisão do Congresso. De acordo com o documento, uma parcela dos membros "tem opiniões hostis aos direitos das mulheres ou apoiam posições contrárias às obrigações do tratado dos EUA".
Ainda assim, o governo americano vai adiante com a ideia que tem o potencial de redefinir o conceito de direitos humanos no mundo.

Aldo Rebelo castiga a política externa bolsonarista

Resumo do seu recado:
"O manual de erros da atual política externa vem sendo preenchido sem falhas ou lacunas:
1. A política externa divide o País quando deveria buscar a coesão social e a unidade nacional em torno dela como requisito para fazê-la forte internamente e respeitada externamente.
2. A política externa fabrica e multiplica conflitos com os vizinhos quando deveria buscar a mediação para administrar nossas próprias contradições com eles e as diferenças entre eles.
3. Desprovida da coesão nacional e fragilizada pelos conflitos e desconfiança dos vizinhos, a diplomacia brasileira tornou-se importadora das rivalidades geopolíticas das grandes potências no mundo e aliada incondicional de um dos polos do conflito, arrastando assim as nefastas consequências antinacionais produzidas por essa orientação."

A lição do rei Creso e a errática diplomacia do atual governo

Aldo Rebelo usa a analogia com Creso, rei da Lídia, para mostrar como o Governo Bolsonaro está afundando sua própria política externa, fragilizando a diplomacia brasileira

Conta o historiador grego Heródoto, em seu livro História, que depois da conquista da Lídia pelos persas, os soldados do imperador Ciro promoviam o saque de Sardis, capital do reino conquistado, quando Creso, o rei derrotado e prisioneiro censurou Ciro por permitir o roubo na cidade ocupada.
Creso fez ver a Ciro que não eram os bens de Creso que estavam sendo assaltados, pois a capital de seu país não mais lhe pertencia depois da derrota; mas as propriedades do próprio Ciro é que estavam sendo roubadas, uma vez que este acabara de conquistar a cidade. Creso, rei da Lídia, censurou Ciro da Pérsia pelo saque da cidade de Sardis depois de conquistada.
Impressionado pela inteligente observação de Creso, Ciro ordenou que todos os bens saqueados fossem confiscados a pretexto de separar a parte destinada para a oferenda aos deuses.
Os ex-presidentes Collor, Sarney, Lula, Dilma e Fernando Henrique
A diplomacia brasileira vem sendo saqueada pelo atual governo em sua história, memória e tradições. Mas o assalto não atinge as realizações diplomáticas de um José Bonifácio ou de um Floriano Peixoto, para falar da diplomacia do passado; nem mesmo as realizações diplomáticas de Geisel, Figueiredo, ou dos governos civis de Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique, Lula, Dilma Rousseff e Michel Temer. O rei persa Ciro acolheu o sábio conselho de Creso e confiscou os bens saqueados por seus soldados.
O rei persa Creso
A diplomacia de Bolsonaro assalta o próprio governo Bolsonaro ao subtrair dele prestígio, autoridade e reserva de poder nas complexas negociações internacionais. O acúmulo de erros, gafes e vexames do Itamaraty expõem o governo brasileiro na conturbada arena internacional.
O manual de erros da atual política externa vem sendo preenchido sem falhas ou lacunas:
1. A política externa divide o País quando deveria buscar a coesão social e a unidade nacional em torno dela como requisito para fazê-la forte internamente e respeitada externamente.
2. A política externa fabrica e multiplica conflitos com os vizinhos quando deveria buscar a mediação para administrar nossas próprias contradições com eles e as diferenças entre eles.
3. Desprovida da coesão nacional e fragilizada pelos conflitos e desconfiança dos vizinhos, a diplomacia brasileira tornou-se importadora das rivalidades geopolíticas das grandes potências no mundo e aliada incondicional de um dos polos do conflito, arrastando assim as nefastas consequências antinacionais produzidas por essa orientação.
A diplomacia de Bolsonaro assalta o prestígio de seu próprio governo e fragiliza suas ações na arena internacional.

Maquiavel era maquiavélico? - Livro de Patrick Boucheron (traduzido do francês)

A New Book Asks: Just How Machiavellian Was Machiavelli?

The term “Orwellian” has always struck me as curiously Orwellian — a mild example of doublespeak that ties an author’s good name to the dystopia he so memorably depicted. (See also “Dickensian” and “Kafkaesque.”) Instead of referring to George Orwell’s crisp prose or moral clarity, “Orwellian” is like the doctor’s name that ends up anointing the terrible disease he discovered, forever yoked to the affliction he abhorred.
“Machiavellian” is another shorthand that inverts its namesake, even if the Renaissance statesman and writer Niccolò Machiavelli still gets cast in the popular imagination as a cynical proponent of ruthless power politics. In “Machiavelli: The Art of Teaching People What to Fear,” the French historian Patrick Boucheron joins an estimable list of scholars who have been trying to debunk the crude stereotype of Machiavelli as a fascist enabler and tyrant whisperer.
This energetic little book started out as a series of talks for French public radio in 2016, and it offers a knowing guide to Machiavelli’s life and work. The tone, in Willard Wood’s translation, is playfully conspiratorial. Boucheron invites us to think through how Machiavelli became synonymous with unscrupulous despotism when the real man suffered for his republican allegiances.
Boucheron’s breezy use of the first-person plural keeps his argument humming amiably along, though some English-language readers might feel buffeted by the occasional gusts of cultural presumption. “We are familiar with Guy Debord’s prophetic 1967 work ‘The Society of the Spectacle,’” Boucheron declares in passing. (We are?) “We have therefore been warned about the pernicious effects of commodity fetishism and the frenzied acclamation it generates.”
What Boucheron is talking about is the Florence of Machiavelli’s birth in 1469 — a republic in name only, “swollen with pride” and “gradually settling into oligarchy,” where officials were elected to office every two months, thereby ensuring the de facto rule of wealthy families like the Medicis. In 1498, after a coup and a strange, four-year reign by the Dominican friar Savonarola, the 29-year-old Machiavelli ascended to a government post that put him in charge of Florence’s foreign affairs.
Over the next 14 years, Machiavelli gained political experience, observing up close how power worked. As the envoy from a tiny state who met with both adversaries and allies, he was sometimes subject to contempt and humiliation, and accordingly learned certain lessons. Boucheron makes a clever case that travel was “an exercise in disorientation,” allowing Machiavelli to see Florence and its position in the world anew: “Is this not what the painters of the Renaissance called perspective?”
When the Medicis returned in 1512, due not to popular demand but to foreign support, they had Machiavelli arrested and imprisoned, stringing him up by a pulley to force him to scream out a confession of wrongdoing, which he didn’t do. A year later, Machiavelli was living in exile on his farm, writing “Of Principalities,” the book that would become better known as “The Prince.”
Never officially published in his lifetime, “The Prince” would become his most popular work, and the one most likely to be misread. It’s an irony that wouldn’t have been lost on Machiavelli, whom Boucheron deems an inveterate dramatist and irrepressible trickster. The standard reading of “The Prince” views it as Machiavelli’s attempt to ingratiate himself to the returning Medicis by offering them what amounted to a book-length job application: a treatise filled with underhanded tactics for seizing and maintaining power.
“It is much safer to be feared than loved”; “people should either be caressed or crushed”; “the new ruler must determine all the injuries that he will need to inflict,” and “must inflict them once and for all.” This is the Machiavellian Machiavelli: amoral, conniving and cruel, responding to whatever the situation demands. A 16th-century Catholic cardinal was so horrified by “The Prince” that he said it was written by “the finger of Satan.”
But it has always been hard to square such a literal reading with the facts of Machiavelli’s life, and with the republican theories he developed in books like “Discourses.” Some critics have insisted that Machiavelli’s advice was so brutal and outlandish that the depraved ruler who actually dared to put his precepts into practice would make his people hate him and inevitably bring about his own ruin; this was “The Prince” as Trojan horse or poison pill, crafted by a former political prisoner intent on bringing down the Medici clan. Still others decided Machiavelli was a satirist, while Rousseau read “The Prince” as a warning: Machiavelli, by dissecting the mechanics of power, was telling people what they ought to fear.
“Machiavelli is the master of disillusioning,” Boucheron writes. “That’s why, all through history, he’s been a trusted ally in evil times.” It’s not so much the content of “The Prince” as its approach, with its “theatrical energy” and “sure and rapid pace,” that offers a way to think about politics not as static and immutable but as stubbornly contingent. Cultivating republican institutions and the rule of law requires certain techniques; sheer political survival requires others. In a capricious world, Boucheron writes, intentions only count for so much: “He lets us see how the social energy of political configurations always spills out of the neat constructs in which it’s meant to stay put.”

Boucheron thinks the United States is currently grappling with what the historian J.G.A. Pocock called the “Machiavellian moment,” when instability puts the future of a republic at stake. A resurgence of Machiavelli suggests something has gone awfully awry. “If we’re reading him today,” Boucheron writes, “it means we should be worried.”
But just as his subject had a “taste for paradox,” Boucheron refuses to leave it at that. If we’re reading Machiavelli today, we might also learn something from his “lucidity, the weapon of the despairing.” In other words, there’s still some hope.

Ascensão e queda dos grandes impérios - Paul Strathern

Rise and Fall

A History of the World in Ten Empires

Paul Strathern

Rise and Fall: A History of the World in Ten Empires
US$21.99

Histoire Culturelle du Brésil - ARBRE et IHEAL-CREDA

L'Association pour la Recherche sur le Brésil en Europe (Arbre) et les éditions de l'Iheal-Creda vous convient l25 février 2020 à 19h, à la Maison de l'Amérique Latine pour une discussion autour de l'ouvrage:
Présentation par Laura de Mello e Souza, professeur d’histoire du Brésil, Sorbonne Université
Débat avec les auteurs: 
Silvia Capanema (Université Sorbonne Paris Nord), 
Olivier Compagnon (IHEAL), Jacques Leenhardt (EHESS)

En présence des coordinatrices de l’ouvrage : 
Juliette Dumont (IHEAL) et Anaïs Fléchet (Paris-Saclay, UVSQ)
Des rythmes du candomblé aux avant-gardes esthétiques les plus radicales, la culture joue un rôle central dans l’émergence du Brésil contemporain. Issu du dialogue entre historiens français et brésiliens, cet ouvrage parcourt des domaines variés, de la littérature romantique à la musique populaire en passant par le théâtre et le cinéma, la mise en scène des corps, la mémoire et la fabrique de héros culturels. Les constructions identitaires, les politiques culturelles, les phénomènes d’emprunts et de métissage sont au coeur de la réflexion. Quatre décennies après l’émergence de l’histoire culturelle, cet ouvrage dresse un bilan d’étape et pointe les tendances actuelles de la recherche. Au fil des treize essais qui le composent, il donne à voir, à lire et à entendre la diversité brésilienne dans la perspective d’une histoire culturelle transnationale, loin de toute tentation exotique. 

Histoire culturelle du Brésil (XIXe - XXIe siècles), Sous la direction de: Juliette Dumont, Anaïs Fléchet et Mônica Pimenta Velloso. Ont également collaboré à cet ouvrage : Silvia Capanema, Olivier Compagnon, Diogo Cunha, Jacques Leenhardt, Isabel Lustosa, Marco Morel, Marcos Napolitano, Pascal Ory, Rosangela Patriota, Sébastien Rozeaux, Mariana Villaça.

L’ouvrage est consultable en ligne sur OpenEdition Books  https://books.openedition.org/iheal/8606 et disponible sur le Comptoir des Presses d'Universités: http://www.lcdpu.fr/livre/?GCOI=27000100349610 
Agenda de la Maison de l'Amérique latine: http://www.mal217.org/fr/agenda/histoire-culturelle-du-bresil


Préface, introduction générale et bibliographie au lien suivant

Éditions de l'IHEAL-Creda
Campus Condorcet
bureau 5019 - 5e étage
5, cours des Humanités
93322 Aubervilliers cedex
Tél.: +331 88 12 01 45 - +33 6 86 45 43 82


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