O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Novos inimigos da liberdade na America Latina

Retrocessos são visíveis na evolução política (para pior) em diversos países da América Latina, onde diversos candidatos a ditadores (eleitos democraticamente) tentam se perpetuar no poder, constranger a oposição, domar e manietar a imprensa, colocar o setor privado a seu serviço.
Não preciso apontar os países: eles se mostram claramente. O editorial do Globo trata de alguns desses aspectos.

Cerco à liberdade
Editorial
O Globo, 21/06/2010

Assim como viveu um ciclo de ditaduras militares entre meados da década de 60 e a primeira metade dos anos 80, a América Latina respiraria a redemocratização. Não se previa, porém, que os ares das liberdades democráticas seriam intoxicados pelo ressurgimento do populismo salvacionista e autoritário que já havia contaminado a região na primeira metade do século XX.

Se, na Argentina de Perón e no Brasil de Vargas, o populismo trazia um DNA fascista, na sua reencarnação no século XXI, embora com táticas e cacoetes também mussolinescos — a própria CLT varguista foi inspirada na ditadura de Mussolini —, ele traja vestes de esquerda e brada slogans cubanos. Dos tempos de Perón e Vargas preserva o discurso nacional-estatista, ponto de contato entre direitistas e esquerdistas, entrelaçados em defesa de um “projeto nacional”.

Uma característica dessa onda populista é a busca de mecanismos de “democracia direta”, com a finalidade de contornar e tornar inócuos os pesos e contrapesos clássicos dos regimes republicanos de democracia representativa, caracterizados pela alternância no poder de políticos e partidos, assim como Justiça soberana, em condições de fazer mediações de quaisquer conflitos na sociedade.

O modelo chavista, em que plebiscitos servem para manipular massas e com elas dar um lustro de “democracia” num regime criado para ser crescentemente ditatorial, foi o mais exitoso em estabelecer esses canais diretos entre o salvador da pátria e o povo. Com a ajuda da oposição, que resolveu não concorrer às eleições legislativas de 2005, o coronel Hugo Chávez passou a ter o controle total do país. Lá o Estado é ele.

Faz parte deste receituário a realização de conferências nacionais, em que, supostamente, a sociedade se expressa por meio de reivindicações posteriormente remetidas para aprovação pelo Executivo e Legislativo. Na realidade, são reuniões controladas por grupos organizados da área sindical e dos chamados “movimentos sociais”, uma espécie de jogo de cartas marcadas. Na fase de organização da 1aConferência Nacional de Comunicação, as entidades Abert (rádio e TV) e ANJ (jornais) exigiram que fosse atendida uma premissa: nada flagrantemente inconstitucional deveria receber o aval da Confecom. Sintomaticamente, não foi aceita, o que, por si só, denunciou o sentido daquela conferência. As frações que se movimentam nesses espaços desejam ultrapassar os limites do estado de direito. Das 6 mil propostas encaminhas à Confecom, foram aprovadas 641. Mas há muita superposição. Além disso, parte ponderável do que foi chancelado na reunião plenária da conferência — 40% do total de 63 propostas — já é contemplado em projetos que tramitam no Congresso. Esta redundância reflete um aspecto positivo: existem os projetos, mas não tramitam por ser tratar de aberrações. É sinal que o Congresso cumpre o papel de barreira contra tentativas de se atropelar a Constituição por meio de, por exemplo, propostas para o “controle social” da mídia, neologismo que designa censura à imprensa, revogação do direito constitucional à livre manifestação de pensamento.

Onde há instituições republicanas funcionando, o artifício da “conferência nacional”, como se fosse um fórum de toda a sociedade, ideia falsa, é barrado. Na Argentina foi instituída a Lei de Meios, para quebrar a imprensa independente, a fim de subordiná-la ao Estado.

Mas a Justiça revogou parte dela. No Brasil, é o Congresso que age contra este cerco ao estado de direito, deve-se reconhecer.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Inflacao de alimentos: o culpado é sempre o mordomo (quero dizer, o governo)

Toda inflação é sempre culpa dos governos, ou quase toda, pois são as políticas públicas que impedem os mercados de se ajustarem naturalmente ao equilíbrio que é dado pela livre confrontação da oferta e da procura em função da disponibilidade de fatores de produção e dos produtos ofertados.
Da mesma forma, a produção na área agrícola é diretamente afetada pelas políticas agrícolas do governo, quando este decide, por exemplo, transferir mais recursos para produtores ineficientes da chamada "agricultura familiar" -- um disfarce para os aliados do MST por gentil favor do seus amigos do MDA, uma fachada para a Via Campesina -- em lugar de subsidiar a defesa agrícola (defensivos, pesticidas, etc) ou apoiar o seguro agrícola para produção comercial.
Observando-se os orçamentos paralelos dos dois ministérios da agricultura existentes no Brasil, um para a agricultura "normal", outro para os amigos da Via Campesina -- só países anormais possuem dois ministérios para o mesmo setor econômico, sendo que no Brasil, as politicas de cada um são diametralmente opostas -- constata-se que os recursos que vão para os companheiros ineficientes aumentam continuamente, ao passo que aqueles que deveriam ir para o agronegócio capitalista diminui sensivelmente.
Isto significa premiar a ineficiência e produzir inflação.
Vejamos o artigo abaixo do professor Kleber Cristofen Pires.
Paulo Roberto de Almeida

PGPM: a inflação por decreto
Por Klauber Cristofen Pires
Blog Libertatum, 17 de junho de 2010

Você quer saber por que os preços nas feiras ou nos supermercados não têm baixado? Quer saber porque há inflação sobre os alimentos no país que mais e melhor os produz no mundo? Agradeça ao Lula, à Dilma e à equipe da estrela vermelha.

Lógico, a propaganda lulo-dilmo-petista não se exibe com estas tintas. Isto porque ela não é voltada para você, cidadão consumidor, mas sim para o benefício de grupos de interesses particulares. O nome do dragão inflacionário com que o governo se exibe agora se chama "Programa de Garantia de Preços Mínimos", e consiste na aquisição pelo governo de vários tipos de alimentos - especialmente cereais - com o propósito de formar estoques reguladores. Mas espere, que volto ao assunto.


Não há muito tempo escrevi um artigo comentando sobre o revolucionário progresso na agricultura cubana. Pois eis que, depois de dez mil anos, os antilhanos dos Castro, enfim, descobriram as vantagens...da roça! Se o texto proporcionou ao leitor boas risadas, é hora de se preocupar: o nosso governo anda admiradíssimo com os resultados. Logo logo, se Lula e Dilma quiserem, estaremos trocando a nossa vexaminosa produção de arroz, cuja produtividade mal passa de 7000 kg/hectare para estonteantes...1200 kg/hectare! E assim tanto quanto com os demais tipos de culturas...

Não por menos, decidiu o governo aumentar os investimentos no que chama de "Pronaf - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar", desta vez com aumentos nos recursos reservados para financiamentos que desta vez ultrapassarão, pasmem, quinze bilhões de reais!

O termo "agricultor familiar", por sua vez, nada mais é que um posto de promoção ao antigo "assentado" do MST. Como se vê, gente que na maioria da vida nunca soube o que era uma enxada, até à hora de descobrir que serve para destruir cercas e benfeitorias. Mas é para indivíduos assim que o dito programa pretende emprestar até cerca de oitenta mil reais, a juros camaradíssimos. Bem conveniente, para estes tempos em que os milionários repasses de verbas ao MST via ONG's de fachada andam sendo questionados. O PT sempre tem um plano B, C, D...

Agora, os dois fatos se encontram. Não bastante as terras esbulhadas de algum pobre agricultor de verdade - deste que produz cinco a sete vezes mais do que a nossa metrópole caribenha; não obstante as infindas cestas básicas pagas com dinheiro suado de quem não recebe nada de graça, ainda mais para não fazer nada; não obstante tal gorda linha de crédito a fundo perdido; vem o estado garantir um preço mínimo ao novos "produtores". É a tal da manutenção do equilíbrio econômico-financeiro em sua forma rural.

Recorrendo a Henri Hazzlittt, o que podemos esperar de tudo isto? Primeiro, os cidadãos urbanos vão pagar por isto. Ao trocar o agricultor autêntico - aquele que produz muito e se sujeita às regras do mercado - pelo assentado metido a besta, vai pagar mais caro por menos e pior produto. Do dinheiro que escorrer do consumidor urbano, muitos e muitos investimentos serão drenados de oportunidades de negócios mais eficientes para a incipiente e nada promissora produção enxadista. O Brasil como um todo vai empobrecer.
Mas há mais para se lamentar: banqueiros privados cedem empréstimos com base em estimativas econômicas baseadas em complexas variáveis acompanhadas diariamente por anos e anos. Servidores públicos cedem empréstimos com base nos conceitos de justiça social que decoraram nos tempos em que eram concurseiros. O resultado para tais operações destituídas de garantias reais é um tremendo e inexorável calote, que todos nós pagaremos, mais uma vez. De Quanto? Eu falei 15 bi? É pouco ou querem mais?

Pois bem: desde quando estocar é uma atividade graciosa? Sem contarmos a rede de corrupção que se formará em torno da construção e manutenção destes silos - quem já não soube pelos noticiários de tantos golpes assim? - o custo normal da armazenagem e da fiscalização do sistema se somará ao preço dito "normal", aumentando mais ainda o dito "preço "mínimo". E quem pagará? Adivinhe...

Como a cereja no bolo, agora vem o pior: com tal política de regularização de preços, o que o governo pretende alcançar terá como resultado justamente o inverso, pois fatalmente estará dando o disparo para uma onda especulativa em tempo presente para uma grande crise futura em que milhões de toneladas de alimentos terão de virar combustível ou adubo. Senão, vejamos como se expressa Hazzlitt (Economia numa única lição, p.52-53):

Quando o governo intervém, o celeiro sempre normal torna-se, de fato, um celeiro sempre político. Encoraja-se o fazendeiro, com o dinheiro dos contribuintes, a reter excessivamente sua produção. Como desejam assegurar-se do voto dos fazendeiros, os políticos que iniciam essa política, ou os burocratas que a executam, sempre colocam o denominado preço justo para o produto do fazendeiro acima do preço, que as condições da oferta e da procura justificam na ocasião. Isso reduz o número de compradores. O celeiro sempre normal tende, portanto, a tornar-se um celeiro sempre anormal.

Estoques excessivos ficam afastados do mercado. O efeito é assegurar, temporariamente, um preço mais alto do que poderia existir de outro modo, mas fazê-lo será provocar mais tarde um preço muito mais baixo, pois a falta artificial que se cria nesse ano, ao retirar-se do mercado parte de uma colheita, implica um excesso artificial para o ano seguinte.

O mercado pode sozinho arcar com a tarefa de regulação dos estoques, assumindo todos os riscos e submetendo-se à aprovação pelos consumidores. Mesmo importar é economicamente mais recomendável do que armazenar. A prosperidade de um país não advém da acumulação de ouro, conforme prega a teoria mercantilista, mas, em termos gerais, em realizar a ação humana com o máximo de eficiência, e isto inclui aproveitar as vantagens comparativas da importação a preços baixos.

Sabendo que a Terra é redonda, e que o verão em um hemisfério é contrabaleanceado pelo inverno no outro, as nações podem se beneficiar trocando a preços baratos as grandes produções umas das outras e alternando-se conforme suas safras, e isto traz a vantagem de oferecer ao público consumidor comida fresca, ao contrário da política de reserva de estoques.

Como visto, é necessario que todos denunciemos este esquema e o repudiemos ao extremo. Mostrar a verdade de suas intenções e as suas reais consequências é o primeiro passo para a compreensão por todos e uma mudança de paradigmas.

Nunca se fica na mao, quando se tem bons amigos...

Lembram-se daquela história dos 300 mísseis russos que iriam ser vendidos para os iranianos e que os russos disseram que renunciavam a vender, por causa das sanções do CSNU?
Pois é, parece que Putin vai vender agora ao Hugo Chávez, que aparentemente já tem destino certo para esses brinquedos sofisticados...

Hugo Chavez picks up Iran's S-300 missiles
Foreign Policy, June 18, 2010

Just days after it agreed not to sell advanced anti-aircraft weaponry to Iran, Russia turned around and sealed a deal on the S-300 surface-to-air missile with Venezuela's Hugo Chavez. The arms sale is part of a $2.2 billion military loan package provided by Moscow, and it has at least one observer worried that the missiles will mysteriously wind up in Iranian hands:

If this system is delivered, it is an indirect provocation against the US as a proliferation of advanced weapons in this hemisphere. Another concern is that Venezuela might be a party to a tripartite arrangement with Iran and Russia whereby the S-300 in some form ends up in Iran despite the sanctions, after passing through Venezuela.

Bringing Chavez into play is cause for some concern, but considering how many other countries are allegedly in posession of the S-300, Venezuela's acquisition of the weapon seems like a drop in the risk bucket. The larger issue at stake ought to be Russia's rapidly expanding involvement in the global arms trade.

Insolvencia, bancarrota, calote: velhos problemas latino-americanos, agora nas capitais do Imperio

Pois é, quem diria: a irresponsabilidade dos políticos latino-americanos, proverbial ao longo de quase 200 anos de história, parece ter se deslocado um pouco mais ao norte.
Agora são dezenas de cidades americanas, e alguns estados -- o caso da Califórnia já é conhecido -- a entrarem em insolvência e serem obrigados a declarar bancarrota.
Tudo bem quando o processo é negociado com os credores, mas por vezes o calote se manifesta de forma mais insidiosa.

Harrisburg, Pa., other cities overwhelmed by economic downturn and debt
By Michael A. Fletcher
Washington Post Staff Writer
Monday, June 21, 2010; A01

HARRISBURG, PA. -- This city has a $68 million bill coming due before year's end, an impossible sum that is larger than its annual budget. It's a predicament caused by extravagant borrowing and spending, and now there are only unpleasant fixes: steep tax increases, severe layoffs and crippling service cuts, even bankruptcy.

It's a story that could be repeated across the country as cities and towns deal with the lingering consequences of the economic downturn and mounting debt.

The obligations of state and local governments have doubled in the past decade, to $2.4 trillion, according to a recent Federal Reserve report, a figure that excludes more than $1 trillion in unfunded pension and retiree health-care liabilities.

Generally, economists are not alarmed by increasing government debt during recessions because it stokes much-needed economic activity. But this time, concerns are deepening that the debt burden is too large for some municipalities to handle, forcing them into draconian service cuts or large tax increases, both of which would be a drag on the sputtering recovery. Beyond Harrisburg, other cities might have to default on their loans because most states are too strapped to bail them out.

Harrisburg's crisis has been precipitated by a malfunctioning municipal incinerator, whose ill-fated expansion was promoted as a potential moneymaker. But after seven years of cost overruns, construction delays, design problems, financings, refinancings and more refinancings, the city is on the hook. The $68 million bill is part of $288 million in outstanding debt related to the project.

The debacle is pushing the 150-year-old state capital toward default. The fiscal crisis has shaken the city, which over the past decade has spruced up its riverfront downtown and created tourist attractions in large part through low-cost financing afforded by municipal bond sales. In one notorious example, former mayor Stephen R. Reed spent nearly $8 million from the public authority that owns the incinerator to buy wagon wheels, rifles and other memorabilia for a Wild West museum that never opened. And like a homeowner who binged on cheap financing, this city is underwater financially.

"The truth is, we are already insolvent," City Controller Dan Miller said.

Harrisburg is among an increasing number of municipalities showing signs of extreme fiscal stress. Squeezed by rising unemployment, plummeting tax revenue and growing employee costs, Vallejo, Calif., filed for bankruptcy two years ago. Jefferson County, Alabama's largest county, teeters on the edge of bankruptcy after a complex interest rate swap on a $3 billion sewer project went awry.

Last month, Central Falls, R.I., an impoverished city not far from Providence, put its finances in the hands of a receiver, who might have to rewrite contracts, cut pensions and restructure debt. Meanwhile, the nation's leading debt-rating agencies have relegated seven cities -- including Detroit, Harvey, Ill., and Woonsocket, R.I. -- to junk bond status, vastly increasing their borrowing costs.

A 'terrible problem'
Citing the growing amount of money owed by local governments, noted investor Warren E. Buffett (a director of The Washington Post Co.) this month told a federal commission examining the roots of the financial crisis that coming years will bring a "terrible problem" for municipal debt.

"Clearly, there are budget issues, and they are probably worse now than they were six months ago. And they will get worse," said Matt Fabian, managing director of Municipal Market Advisors, a Massachusetts firm tracking the municipal bond market. "To this point, cities and states have gone after other stakeholders for relief -- employees, taxpayers, contractors -- and they have not moved to take assets away from investors."

Just a small number of defaults could shake confidence in the municipal bond market, which is considered a safe harbor for investors because it is assumed that the cities and towns that sell bonds can always raise taxes to pay them off. But with total debt growing rapidly, and taxpayers and politicians showing greater resistance to new levies, those old assumptions are being tested. Local governments rely on municipal bonds to raise money for major construction projects. Roads, bridges, dams, senior citizen homes, mass transit lines, schools and playgrounds are paid for through the municipal bond market, which offers governments access to low-cost financing just as mortgages allow people to buy homes.

In the past, the bond market's importance motivated officials to do all they could -- including raising taxes and cutting services and personnel -- to make payments. If cities miss payments or show severe fiscal stress, their bond ratings are cut, significantly increasing borrowing costs and making it more difficult to emerge from debt. Even when municipalities file for bankruptcy, "the tradition is that bondholders get paid in full," said James E. Spiotto, a Chicago lawyer specializing in public financing. "The reason is that without access to the bond market, cities can't function."

When municipalities couldn't help themselves, their states usually stepped in. Cleveland defaulted on more than $15 million in bonds in 1978 but was able to refinance them not long after. Also in the 1970s, New York was lifted from a financial hole with state help. More than a decade later, Pennsylvania bailed out Philadelphia.

Since 1980, just 245 municipal entities have filed for bankruptcy, the majority special districts and other entities, such as housing developments and subdivision infrastructure projects, that were unable to raise taxes on their own. "We'll undoubtedly see a few more cities than usual consider defaulting, but it is by no means the norm," said Chris Hoene, director of research at the National League of Cities, which represents the interests of the nation's 19,000 municipalities. "For the most part, these are going to be rare instances."

Bleak forecast
But local and state governments face bleak revenue prospects as the lagging effects of the recession cut into tax receipts and increase pension-fund losses, making it harder for them to keep pace with their debt.

With Pennsylvania facing a deep deficit, few people expect it to offer a bailout to Harrisburg. The city's crushing incinerator debt comes atop a $9 million deficit in the current budget, creating an unprecedented fiscal crunch that has left the new mayor and other leaders of this 50,000-resident city weighing unsavory options.

Harrisburg's 1972-vintage incinerator required repeated repairs -- and refinancings -- that put the project $94 million in debt before the federal government ordered the incinerator shut in 2003 because it was spewing toxic dioxin. Faced with eating that debt or refurbishing the plant, former mayor Reed led a push to invest $125 million in incinerator expansion and upgrades. The idea was to create a facility that would draw trash -- and revenue -- from nearby counties and produce steam and electricity that could be sold to local utilities.

But construction delays and design problems surfaced, causing the city to borrow even more millions. The city eventually brought in a new operator, who required more money to get the incinerator going. When the plant was finally operational, it never attracted the envisioned business. Now its steam line is broken, as is one of the turbine blades, eliminating steam sales and reducing its electricity production. The result is that the city has missed several debt payments, which have been made by other bond guarantors.

"Basically, the construction project was a failure," said William J. Cluck, a lawyer who served on the incinerator board.

Not only is the city contemplating layoffs in its 537-employee workforce, it is asking for contract rebates, considering the sale or long-term lease of revenue-producing assets, including parking garages and water and wastewater systems, and asking creditors to restructure and forgive debt.

"We all need to take some hits. I'm not going to let the city sink. I'm not going to let the city auction off all its assets and have nothing while everyone walks away with a sweeter deal just by renegotiating and restructuring and taking us further and further out, and you still get every dime you had in the beginning of the deal," said Mayor Linda D. Thompson, who added that she wants to avoid bankruptcy. "I'm not willing to do that."

Miller, the controller, said the city's least painful path would be bankruptcy -- a once unthinkable option. "When you say the word 'bankruptcy' people conjure up all kinds of images," Miller said. "Bankruptcy is merely a tool to turn things around and get us on stable financial ground."

Drogas: ONU quer transferir mais lucros do comércio ilegal para paises produtores

Opa!: vai ter dinheiro para nós também. Atenção Afeganistão, alerta Birmânia (ou Mianmar, como quiserem), preparem-se Colômbia, Bolívia e outros produtores de drogas, opiáceos e outros alucinógenos:
a ONU quer vir em ajuda de vocês, e garantir que uma parte maior dos enormes lucros obtidos com o comércio ilegal de drogas possam vir em ajuda dos seus projetos de desenvolvimento.
Desculpem se estou fazendo uma intepretação capciosa, mas é isso que eu entendo desta matéria: a ONU não quer que todo o lucro fique apenas com os países consumidores (ricos, obviamente), e pretende que uma parte disso seja repartida com os produtores (todos pobres, mas apenas por enquanto, pois quando os planos da ONU derem certo, eles vão ficar um pouco mais ricos).
Já estou imaginando os protestos dos países intermediários, como Venezuela, Brasil, México e outros: "Nós também queremos nossa parte desse bolo. Não é justo que só os produtores ganhem um pouco mais. Nós que também participamos desse lucrativo negócio, que corrompemos nossos soldados e policiais, que compramos políticos e mantemos redes sofisticadas de embarque disfarçado, queremos pelo menos 15 ou 20% do que a ONU for distribuir."
Voilà, com os conselheiros econômicos da ONU, tudo fica melhor no mundo das drogas.
Nova ordem econômica internacional das drogas, agora. Uma questão de justiça...
Paulo Roberto de Almeida

Países ricos retienen las mayores ganancias del narcotráfico: ONU
Notimex, 17/06/2010

Los países que cultivan la mayor parte de las drogas ilícitas reciben mayores críticasm pero los mayores ingresos se quedan en los países de destino, afirma.

Nueva York - En Estados Unidos, Canadá y Europa se queda la mayor parte de las ganancias de la venta de droga en el mundo, que en el caso de la cocaína representa un 70 por ciento de los 72 mil millones de dólares traficados al año, informó hoy la ONU.
“Los países que cultivan la mayor parte de las drogas ilícitas en el mundo, como Afganistán en el caso del opio y Colombia en el caso de la coca, son los que reciben mayor atención y críticas”, indicó la Organización de Naciones Unidas (ONU) en un estudio.
“Sin embargo, la mayor parte de las ganancias se quedan en los países ricos de destino”, afirmó el organismo en su análisis titulado “La globalización del delito: evaluación de la amenaza del crimen organizado trasnacional”.
El reporte, elaborado por la Oficina de la ONU contra las drogas y el delito, señaló que en el caso de la cocaína, las ganancias se quedan en su mayoría en manos de los proveedores de enervantes de los países consumidores.
Indicó que el mercado de la cocaína está en declive, debido a una menor demanda y a un incremento en el cumplimiento de la ley, lo que “ha generado una guerra por territorios y nuevas rutas entre bandas de traficantes, particularmente en México”.
Mientras, sólo 5.0 por ciento de los 55 mil millones de dólares de las ganancias del tráfico de heroína en el mundo se queda en manos de los traficantes, insurgentes y agricultores afganos.
El informe, presentado en el Consejo de Relaciones Exteriores de Nueva York, incluye análisis sobre tráfico de cocaína y heroína, armas de fuego, productos falsificados, recursos naturales robados, personas vendidas por sexo o para ser forzadas a trabajar, piratería y delitos informáticos.
“El crimen organizado se ha globalizado y se ha convertido en uno de los mayores poderes en el mundo, tanto en términos económicos como de armamento”, dijo el director ejecutivo de la Oficina de la ONU contra las drogas y el delito, Antonio María Costa.
El estudio también concluyó que entre 2.5 y tres millones de inmigrantes son introducidos de manera ilegal de América Latina a Estados Unidos, lo que genera ingresos de seis mil 600 millones de dólares para los traficantes.
Estimó que existen 140 mil víctimas de tráfico humano con el propósito explotarlos sexualmente tan sólo en Europa, lo que genera un ingreso anual de tres mil millones de dólares para los traficantes.
Calculó que el mercado ilícito de armas de fuego es de entre 170 millones y 320 millones de dólares por año, lo que representa entre 20 y 30 por ciento del mercado legal.
Además estimó que el número de ataques de piratas en el llamado Cuerno de África se duplicó en 2009, para alcanzar los 217 incidentes, de los 111 registrados en 2008.

Mais miseria da educacao: cotas raciais validas, diz ministro

O relator do projeto, Senador Demóstenes Torres, pensava que tinha eliminado a possibilidade de cotas racistas nos processos de seleção, e agora o ministro da (Des)Igualdade Racial diz que não, que o estatuto garante a aplicação de cotas pelas universidades públicas.
Creio que temos mesmo de passar pela completa decadência do ensino, pelo acirramento das relações raciais no Brasil para que as pessoas tenham consciência do monstro político que está sendo criado com essa famigerada lei, o Estatuto da (Des)Igualdade Racial, na verdade um instrumento racista que implanta oficialmente o racialismo no Brasil.
Adeus Brasil nação, bem-vindo Apartheid.
Paulo Roberto de Almeida

Para ministro da Igualdade Racial, estatuto é "extraordinário" e garante política de cotas
Gilberto Costa
Agência Brasil, 18/6/2010

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem 15 dias para sancionar o Estatuto da Igualdade Racial, aprovado esta semana

O sociólogo Wilson Carlos Duarte Araújo já era aluno veterano de graduação quando a Universidade de Brasília (UnB) iniciou o regime de cotas para ingresso de negros no curso superior (2004). Ele avalia que a universidade mudou desde então e deu condições para a construção de uma nova imagem para os negros.

"As cotas abriram a possibilidade de que os negros fizessem parte da elite. Você já percebe na sociedade mudanças na forma como uma pessoa negra como eu pode ser representada. Começam a mudar as expectativas com relação a mim: hoje em dia eu não sou mais aquele cara que deve ser o servente. Eu posso ser um aluno da universidade, eu posso ser um professor ou qualquer outra coisa", contou à Agência Brasil.

Para o ministro da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Eloi Ferreira de Araújo, o Estatuto da Igualdade Racial, aprovado na quarta-feira (16/6) pelo Senado Federal, criou base legal para as políticas de cotas nas universidades e outras políticas afirmativas.

"A lei não trabalhou com proibição, a lei trabalhou com inclusão", disse, afirmando que a partir da nova lei "o poder público adotará ações de política afirmativa no sistema de cotas para educação".

Em sua avaliação, os questionamentos que a política de cotas sofre na Justiça, como a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 186 movida no Supremo Tribunal Federal (STF) pelo partido Democratas (DEM), caducarão. "Quando o presidente sancionar a lei, a arguição vai ficar muito enfraquecida. Agora nós temos a legislação", salientou ao dizer que a ação no STF é "impertinente" e "inoportuna": "a sociedade já havia reconhecido a política de cotas como uma realidade".

Na opinião do ministro, o Estatuto da Igualdade Racial estabelece em lei o conceito de ação afirmativa que servirá como "guarda-chuva" para criação de incentivos fiscais a empresas que contratem negros, para o acesso à terra, para a valorização da cultura, para realização de pesquisas e para outros direitos.

"O avanço é muito substantivo. Não há nenhuma legislação desde 1888 [Abolição da Escravatura] que reúna tantas possibilidades. Essas possibilidades se colocam como ponto de partida: é daqui para frente", comemorou.

Para o ministro da Igualdade Racial, a lei aprovada pelo Senado é "extraordinária" e uma "vitória fantástica". "Com esse estatuto nós colocamos uma argamassa poderosa na consolidação e sedimentação da nossa democracia. Fora do ambiente democrático, nós não teríamos condições de discutir esse tipo de matéria sobre a inclusão de negros e negras. Com a inclusão de negros e negras damos um passo definitivo na consolidação da democracia", avaliou.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem 15 dias para sancionar o estatuto.

Miseria da educacao no Brasil: perdas agora e para a frente

Leiam a matéria abaixo. Estarrecedora.
O Brasil, como já disse Roberto Campos, é um país que não perde a oportunidade de perder oportunidades.
Tudo isso era previsível e esperado. Há pelo menos 15 anos ouço falar da carência de professores de ciências (física, química) e de matemática para os cursos médios.
Os alunos simplesmente saem despreparados, razão da enorme evasão nesses cursos: eles não conseguem acompanhar.
E o pior é que estamos caminhando para o pior, justamente.
Com bobagens obrigatórias como as que foram introduzidas pelos companheiros -- espanhol e estudos afrobrasileiros no primário, filosofia e sociologia no curso médio -- a previsão é que continuemos a formar perfeitos analfabetos nas ciências elementares e nas matemáticas.
O Brasil perde, todos perdemos.
Acho que isso não se corrige facilmente. Daí meu enorme pessimismo educacional.
Paulo Roberto de Almeida

País perde US$ 15 bi com má formação de engenheiro
Agnaldo Brito
Folha de S. Paulo, 21.06.2010

De 150 mil que entram em engenharia, 30 mil se formam

A baixa qualidade do ensino médio, sobretudo em disciplinas como física, química e matemática, tornou-se obstáculo para a formação de engenheiros no Brasil. Essa falha, agravada pela alta demanda gerada com o crescimento do país, tem custo -e não é pequeno.
Cálculos de entidades de engenharia mostram que o país perde US$ 15 bilhões (R$ 26,5 bilhões) por ano com falhas nos projetos das obras públicas. A cifra, equivalente a 1% do PIB, foi apresentada em encontro nacional de engenheiros, em Curitiba, na semana passada.
A reunião levou à capital do Paraná 850 engenheiros de todo o país com o único propósito: buscar meios de frear a crise sem precedentes da engenharia nacional.

GUERRA
A CNI (Confederação Nacional da Indústria) calcula que 150 mil vagas de engenheiros não terão como ser preenchidas até 2012. Tamanha demanda diante da falta de profissionais criou uma guerra por engenheiros.
Em 2003, a formação de um engenheiro custava US$ 25 mil. Hoje, US$ 40 mil, diz a IBM, uma das empresas que mais contrataram engenheiros e técnicos de computação desde quando o Brasil tornou-se base mundial para oferta de serviços.
Essa escassez já atinge a competitividade brasileira. Em 2009, exportamos US$ 1,5 bilhão em serviços. Só a IBM respondeu por US$ 500 milhões. A Índia exportou US$ 25 bilhões, disse Paulo Portela, vice-presidente de Serviços da IBM, em seminário promovido pela Amcham, em São Paulo.
Essa disputa por engenheiros não ajuda. Vamos perder se entrarmos numa guerra e ampliar a inflação dos custos da mão de obra. O salário inicial, de R$ 1.500 em 2006, já atinge R$ 4.500.

EVASÃO
O diagnóstico da realidade nos 1.374 cursos no país mostra que a evasão nos cursos de engenharia é de 80%; dos 150 mil que ingressam no primeiro ano, 30 mil se formam.
Só um 1 em cada 4 possui formação adequada. O Brasil forma menos de 10 mil engenheiros com competência e esses são disputados pelas empresas, diz José Roberto Cardoso, diretor da Escola Politécnica da USP, uma das mais importantes faculdades de engenharia do país.
A Amcham (Câmara Americana de Comércio) quer o tema na campanha eleitoral. O documento com o diagnóstico e as propostas compiladas por Jacques Marcovitch, professor da USP e conselheiro do Fórum Econômico Mundial, será entregue ao governo e aos candidatos.
É certo que ficará para o próximo governo a busca da resposta para a pergunta: Por que o jovem quer ser médico e advogado e não quer ser engenheiro e professor de matemática?.
Exemplo de baixa procura pela área ocorreu em concurso para professor de física em São Paulo. De 931 vagas, só 304 foram preenchidas.

7 a 0: minha recomendacao a certo time...

Bem, se fosse eu, e conhecendo os precedentes, trataria de pedir asilo coletivo.
A alternativa é o Gulag, de retorno ao lar (se o termo se aplica, claro).
Mas, isso deve ser feito agora, se possível ainda com a roupa molhada de suor.
Se esperarem muito, os gorilas habituais vão controlar todos os seus movimentos.
Sorry, boys, não dava mesmo para vencer essa.
Mas, a vergonha do score pode induzir um baixinho invocado a gestos inesperados (ou esperados e previsíveis...).
A escolha é de vocês...

The BRICs: The trillion-dollar club - The Economist

The BRICs
The trillion-dollar club
The Economist, April 15th 2010

Brazil, Russia, India and China matter individually. But does it make sense to treat the BRICs—or any other combination of emerging powers—as a block?

IN ANY global gathering, the American president is usually seen, at a minimum, as primus inter pares: the one who can make or break the final bargain and select his favoured interlocutors. So in Copenhagen last December, as negotiations for a new climate-change treaty were entering their final hours, a hastily convened meeting between Barack Obama and China’s prime minister, Wen Jiabao, looked as if it would be the critical moment when a deal might be struck. But when the president turned up, he found not only Mr Wen but the heads of government of Brazil, South Africa and India. This was unexpected. The Americans even thought the Indians had already left the summit. What was conceived as a bilateral talk turned instead into a negotiation with an emerging-market block. As an additional sign that things were changing in the world, the president got a finger-wagging from one of Mr Wen’s hangers-on. But at least Mr Obama was in the room; Europeans were shut out while the emerging powers and America put the final touches to their deal.

This week the same developing countries are meeting again, in Brasília. On April 15th Brazil, India and South Africa—rising powers that are also democracies—put their heads together. The next day South Africa will drop out and Russia and China will join the party, to create a meeting of the so-called BRICs.

For this group, it is a second summit; last June their leaders met in Yekaterinburg, in Russia. That inaugural summit, which produced almost nothing concrete, appeared to be a one-off event and could be ignored. But the foursome is starting to establish a record. BRIC foreign ministers have met annually since 2006. Finance ministers and central bank heads meet frequently. This week, in addition to the leaders’ summit, there are gatherings in Brazil of BRIC commercial banks, BRIC development banks, and even BRIC think-tanks.

The term itself was coined by Jim O’Neill of Goldman Sachs, a Wall Street bank, and is sometimes written off as just a gimmick aimed at tempting punters. But is it now the case that life, in a serious way, is imitating investment analysis? Are the BRICs developing a momentum of their own? If so, what difference might that make to the rest of the world?

Life imitates Goldman Sachs

The BRICs matter because of their economic weight. They are the four largest economies outside the OECD (Organisation for Economic Co-operation and Development, the rich man’s club). They are the only developing economies with annual GDPs of over $1 trillion (Indonesia’s is only half that). With the exception of Russia, they sustained better growth than most during the great recession and, but for them, world output would have fallen by even more than it did. China also became, by a fraction, the world’s largest exporter. Meanwhile, the BRICs are also increasing their trade with one another: Chinese-Indian trade has soared and is likely to reach $60 billion this year. China has also become the largest market for the fast-industrialising countries of East Asia. Less happily, China has become the largest spewer-forth of carbon dioxide, emitting 6.5 billion tonnes of CO2 in 2008, or 22% of the world’s total. Russia is third and India fourth on this particular roll of shame.

The most striking sign of the BRICs’ significance to the world economy, though, is probably their share of foreign-exchange reserves. All four are among the ten largest accumulators of reserves, accounting for 40% of the world’s total. China is easily the largest, with a staggering $2.4 trillion, enough to buy two-thirds of all the NASDAQ-quoted companies. It is the world’s second-largest net creditor after Japan (the net credit position takes account of equities as well as debt). Russia’s foreign-exchange reserves were virtually zero when it began market reform in 1992; now they stand at $420 billion. If the BRICs were to set aside one-sixth of their reserves, they could create a fund the size of the IMF.

Foreign assets provided cushions against the great recession and helped turn the BRICs into financial powers as well as economic ones. Even as most Western countries struggle to rein in record budget deficits and soaring debts, the BRICs’ public-debt levels are mostly modest and stable (India is a partial exception). Most investment banks offer BRIC funds. The world’s top two banks are Chinese.

This macro performance is being translated into different sorts of influence. Perhaps the most important is an intangible one: that of reputation. In some respects, the BRICs share a distinctive view of the world. They have large domestic markets with substantial numbers of poor people, so growth and anti-poverty programmes are higher up their list of concerns than in Western countries (this is even true in Russia, though to a lesser extent). They are trying to diversify their economies. They are innovating (though Russia is much better at producing guns than civilian goods) and challenging received notions about globalisation (see our special report). All have become far more entwined with the world economy. But the BRICs have opened up without the full market liberalisation championed by the “Washington consensus”. In the aftermath of the great recession, this mongrel position commands respect in other developing countries, which want to know how the BRICs did it. “The BRICs aren’t exactly an alternative to the Washington consensus,” says Mathias Spektor of the Getúlio Vargas foundation in Brazil, “but they provide other models to emulate and are effective at expressing something distinctive in economic affairs.”

An acronym in search of a role
Wealth may produce market power and even soft power. But it does not necessarily generate geopolitical heft. Rich Japan and Germany deliberately adopted a “big Switzerland” policy of hiding their light under a bushel for decades. Even now, they throw their weight about reluctantly.

But there are several reasons for thinking that the BRICs might be different. Germany and Japan had a golf-sized American security umbrella for shelter. But international institutions are now in flux. Robert Hormats, America’s under-secretary of state for economic affairs, compares the 2010s to the late 1940s: “The post-war period was so different from the pre-war one that it needed new institutions. The turn of the 21st century is similar, especially after the financial crisis.” He argues that “you can’t go back to having the system run by a few rich economies. Our big challenge is to work out how large emerging economies integral to the financial and trading system take some responsibility for maintaining it.”

One reason the BRICs matter is that the world’s most important country thinks they do, and is willing to rope them into decision-making. America’s means of doing this is the G20. It pushed for the group’s expansion to include the BRICs and declared the club the chief forum for dealing with international economic issues. The BRICs and the original group of seven rich countries (G7) form natural blocks within the G20. So far, the clearest expression of a coherent BRIC agenda—for reform of the international financial system and more domestic stimulus programmes—came on the eve of a G20 meeting in 2008.

A second reason why the BRICs matter is that all four giants have reasons for creating a new club of their own. China’s leaders know their time has come. They want to enhance their own influence and reduce America’s. But at the same time their leaders hew to Deng Xiaoping’s dictum that “China should adopt a low profile and never take the lead.”

The BRICs, which the Chinese calls jinzhuan siguo, or four golden brick nations, are a way to square that circle. By teaming up with others (which are anyway attractive as raw-materials suppliers), China can hide its national demands behind a multilateral façade. And a meeting of the BRICs looks slightly more like a collection of equals than do most gatherings involving China (though China’s economy is still larger than those of the other three combined). China sees climate-change diplomacy as a way of boosting its soft power, and as part of its bilateral relationship with America (its stubborn behaviour in Copenhagen notwithstanding). But it does not want to break with the rest of the developing world on climate issues. Co-ordination with other “emerging” polluters helps it to succeed on all these fronts.

This balancing act applies to the other BRICs. All want to soften the impact of China’s rise. The BRIC forum is an alternative to what they all (perhaps even China itself) regard as a nightmare: a G2 of America and China. They all also want, in the words of Brazil’s foreign minister, “to increase, if only at the margin, the degree of multipolarity in the world”.

India has been profoundly disappointed by traditional multilateral diplomacy. Years of pushing for a permanent seat on the UN Security Council have got it nowhere. The BRICs can hardly be worse. President Luiz Inácio Lula da Silva has been trying to expand Brazil’s diplomatic influence beyond Latin America. The BRICs help him fulfil these geopolitical ambitions. (Whether Lula’s successors will share his taste for the world stage is an open question: at the moment, both likely successors seem more concerned about domestic matters.) As for Russia, association with some of the most dynamic economies in the world may perhaps divert some attention away from its own decline. More important for Russia, as for all the others, the BRICs are a way of telling America that the largest developing countries have their own options and that not all roads lead to Washington.

Because of this, some members of America’s Congress look on the BRICs with trepidation. The main focus of their concern is China’s currency. But there are other reasons why the BRICs might damage the global economic system, rather than buttress it. They might, for example, undermine the role of the IMF and World Bank, abandon attempts to expand free trade or even just ride roughshod over aid conditions in poor countries. But Mr Hormats thinks they will not. “They understand,” he argues, “that the openness and smooth functioning of the system is vital to them and so far there has been very little evidence that they want to change it dramatically.” When world output was plummeting last year, the BRICs’ economic stimulus programmes did a lot to stabilise it. And on the question of reforming the international financial institutions, America and the BRICs find themselves on the same side.

Without straw
A more compelling reason for doubting the BRICs’ chances of changing anything fundamental is that they are not capable of it. They lack coherence. They compete as much among themselves as they do with America or Europe—and hence the BRICs as a club seem unlikely to match the force of their individual ambitions.

Two are authoritarian; two are noisy democracies. Three are nuclear powers. Brazil is not, though it had a nuclear-weapons programme which it abandoned in the 1980s; in 2009 the vice-president said he personally thought Brazil should build its own bomb and the country plans a nuclear-powered submarine to patrol offshore oilfields. Two have permanent seats on the UN Security Council; two (to their immense frustration) do not.

When Mr O’Neill first coined his term, people wondered why Brazil was in the group but not Mexico. Now Russia looks like the odd man out. Its population is falling. Its fertility rate is catastrophically low, at around 1.35, compared with 1.8-2.8 for the others (the fertility rate measures the number of children an average woman can expect to have during her lifetime). The working-age populations of India, China and Brazil will all rise between now and 2030 (enormously in India and Brazil, marginally in China). Russia’s working-age population will fall by 17m. In general, uncertainty about who belongs in the group casts doubt on its coherence. Should South Africa join? Mexico? Indonesia? If they did, what would happen to the group?

A more important obstacle to coherence is strategic rivalry. True, BRIC countries co-operate on a bilateral basis. There have been joint military exercises between Russia and China, Russia and India, and China and India in recent years. Russia and China also have a mutual-security body, called the Shanghai Co-operation Organisation, which includes Central Asian countries. The big problem, though, is India’s rivalry with China.

China and India fought a war in 1962. China has taken control of a slice of Kashmir which India says was ceded illegally by Pakistan. China also disputes India’s title to the state of Arunachal Pradesh. In 2009 it tried to stop the Asian Development Bank from lending money to India because the loans would have financed a flood-control project there. India has been trying to limit the numbers of skilled Chinese workers. Some Indians fear that China wants to strangle their country with a “string of pearls”: the imagined necklace consists of Pakistan, India’s longtime rival; Nepal, where China backs the Maoist opposition; and Sri Lanka, where it is financing the country’s big post-civil-war reconstruction projects.
(Flash on groups)
The BRICs have also stepped up competition between one another in third countries. Although the flow of aid and investment from rich countries to poor has been faltering, China promised $10 billion of cheap credit to Africa in 2009-12 and Brazil has invested $10 billion in the continent since 2003. The BRICs have also dramatically increased their purchases of exports from poor countries. Rather as America and the Soviet Union vied for influence through economic and military aid, the BRICs do now (though their competition is less fierce than the cold-war version).

Even where BRIC countries agree in general, they often disagree in detail. Climate change is a good example. The emerging giants all argue that Western industrialised nations should take the largest share of the burden of cutting greenhouse-gas emissions. They criticise absolute emission caps for developing countries and argue for limits based on population or intensity of use. They all want to keep questions of trade and climate change separate, opposing things like carbon duties.

However, for the purposes of climate change, the BRICs are actually BASICs (Brazil, South Africa, India, China): Russia is an industrialised country under the Kyoto accords, with obligations the others do not have. Even on a specific matter such as forestry, their records differ. Brazil is the world’s biggest deforester, albeit one committed to slowing the pace; China is the world’s biggest afforester (now planting 4m hectares of forest a year)—though some complain that its trading partners’ trees are being felled to stoke its economic growth.

Lastly, the BRICs differ economically. Obviously, their incomes range widely, from Russia’s $15,000 per head per year to India’s $3,000 (these are IMF figures using purchasing-power parities). Brazil and India define themselves as non-aligned developing economies. Russia does not. China sometimes does, and sometimes thinks of itself as sui generis. China and Russia have more open economies, with exports accounting for around a third of GDP. India and Brazil are more closed, with exports less than a fifth of GDP. Perhaps most important, China and Russia are both running huge current-account surpluses; Brazil and India, small current-account deficits. That reflects fundamentally different approaches to economic management. China is suppressing domestic demand and encouraging jobs in export industries. India and Brazil look askance at this form of mercantilism and suffer from China’s resulting currency undervaluation.

Marriages of inconvenience
The BRICs’ divisions do not paralyse the group. The countries got together to propose reforming the IMF, for instance. But they do limit the block’s effectiveness. There is no sign of military co-operation within the organisation, and nothing much on trade. As Mr Spektor puts it, the BRICs merely have to be something, not do anything.

Paradoxically, this makes it easier for the group to flourish since co-operation within the BRICs is in essence free: no one need sacrifice anything, so, however tiny the potential gains, they are worth pursuing. Emerging giants are able to criticise the management of the world economy without having to do anything about it (for example, deploring the failure to complete the Doha round of world trade talks without offering to break the logjam). As Agata Antkiewicz of the Centre for International Governance Innovation puts it, “even though the BRICs group has always been incoherent, the tag seems to have permeated the public domain and become synonymous with change, emerging markets and growth.” But this could end if ever BRIC membership required trade-offs.

Meanwhile, the BRICs face rivals. East Asian countries are cobbling together something that might one day become a coherent emerging-market group. In January a free-trade agreement linking China and the Association of South-East Asian Nations (ASEAN) came into force. In March ASEAN nations, China, Japan and South Korea set up a pool of foreign-exchange reserves giving them a small element of monetary-policy co-ordination. Such a group leaves out Brazil, Russia and India. But Fred Bergsten of the Peterson Institute for International Economics, a think-tank in Washington, DC, reckons the West ought to be thinking about how to respond to this regional group, rather than the global club of BRICs.

Eswar Prasad of Cornell University points out that as an organisation (as opposed to a clever acronym), the BRICs are a product of the great recession. They are noticed because of the recessionary debate about rebalancing the world economy. As that debate evolves, so will ideas about the BRICs. But that is no reason for writing them off. There have also been endless numbers of Gs: starting in the 1960s with a G10, then G5, G6, G7, G8 — and now G20.

The BRICs cannot claim legal, historical or geographical coherence, in the way the European Union can. They are not facing a common security threat, as NATO originally did. But events in Copenhagen, messy as they were, are surely proof that new and improbable combinations of large, emerging countries can play a role on the world stage. The BRICs’ begetter, Mr O’Neill, does not regret his creation: his “overriding conclusion is that [they] are a good mechanism for pressing rich countries to change their role in managing the global economy more radically.”

Biblioteca Digital Mundial - www.wdl.org

BIBLIOTECA DIGITAL MUNDIAL UNESCO
site www.wdl.org

Reúne mapas, textos, fotos, gravações e filmes de todos os tempos e explica em sete idiomas as jóias e relíquias culturais de todas as bibliotecas do planeta.

A BDM não oferecerá documentos atuais, apenas aqueles com valor patrimonial, que permitam apreciar e conhecer melhor as culturas do mundo em nos seguintes idiomas: árabe, chinês, inglês, francês, russo, espanhol e português.
Há documentos online em mais de 50 idiomas.
Entre os documentos mais antigos, há alguns manuscritos pré-colombianos, graças a contribuição do México, e os primeiros mapas da América, desenhados por Diego Gutiérrez para o rei da Espanha em 1562,
Os tesouros incluem o Hyrakumanto darani, um documento japonês publicado no ano de 764, considerado o primeiro texto impresso da história; trabalhos de árabes científicos desvendando o mistério da álgebra; ossos utilizados como oráculos e estelas chinesas; a Bíblia de Gutenberg; antigas fotos latino-americanas da Biblioteca Nacional do Brasil e da célebre Bíblia do Diabo, do século XIII, da Biblioteca Nacional da Suécia.
Cada jóia cultura universal aparece acompanhada de uma breve explicação de seu conteúdo e significado. Os documentos foram escaneados e incorporados em seu idioma original, mas as explicações aparecem em sete línguas, entre elas o Português.

A biblioteca começa com 1200 documentos, mas foi desenvolvida para receber um número ilimitado de textos, gravuras, mapas, fotografias e ilustrações.
A BDM permite ao internauta orientar sua busca por épocas, lugares geográficos, tipos de documentos e instituições. Como os documentos foram escaneados em seu idioma original é possível, por exemplo, estudar em detalhe o Evangelho de São Mateus traduzido em aleutiano pelo missionário russo Loann Veniamiov, em 1840.
Com um simples clique, podem-se folhear as páginas de um livro, aproximar e distanciar o texto e movê-lo em todos os sentidos. A excelente qualidade das imagens permite uma leitura cômoda e minuciosa.

Entre as jóias contidas na BDM, está a Declaração da Independência dos Estados Unidos, assim como as Constituições de vários países; o diário de um estudioso de Veneza que acompanhou Fernando de Magalhães em sua viagem ao redor do mundo; o original das Fábulas de La Fontaine, o primeiro livro em espanhol e tagalog, publicado nas Filipinas, a Bíblia de Gutenberg, e umas pinturas rupestres africanas, datadas de 8.000 A.C.

Duas regiões do mundo estão particularmente bem representadas:
America Latina e Oriente Médio: Isso se deve à participação ativa da Biblioteca Nacional do Brasil, da Biblioteca Alexandrina do Egito e da Universidade Rei Abdala da Arábia Saudita.
A estrutura da BDM foi calcada no projeto de digitalização da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, que começou em 1991 e atualmente contém 11 milhões de documentos online.

Criticas à politica externa brasileira - Celso Lafer

Diplomacia brasileira, novas variações críticas
Celso Lafer
O Estado de S.Paulo
, domingo, 20 de junho de 2010

A política externa do governo Lula tem sido objeto de crescentes críticas. São muitos os rumos que vêm sendo questionados. No plano mais geral, aponta-se que o Itamaraty não tem escolhido os campos de atuação que oferecem ao nosso país, que alcançou um novo patamar internacional em função das transformações internas iniciadas com a redemocratização, as melhores oportunidades para se beneficiar da nova multipolaridade do cenário mundial.

É o caso da prioridade dada à busca de um reconhecimento protagônico na esfera da alta política da paz e da guerra no Oriente Médio (Irã), em detrimento da ênfase em resultados mais significativos em áreas mais próximas da influência real do Brasil. As tensões do contexto da nossa vizinhança (a animosidade Colômbia-Venezuela) e as que afetam nossas fronteiras e a vida nacional (trânsito de drogas da Bolívia) são minimizadas no dia a dia da condução diplomática. Interesses específicos do País e os seus interesses gerais, na boa dinâmica de funcionamento da ordem mundial, em síntese, não vêm sendo articulados de maneira eficiente em razão da obsessiva prevalência atribuída à paixão pelo prestígio.

Em contraste com as paixões, interesses são aspirações que levam em conta uma raciocinada avaliação do como efetivá-las. O como é fundamental, pois a realidade oferece resistência a aspirações que são apenas desejos. Daí a importância do bom juízo diplomático, que conjuga, com criatividade, o que se quer com o que se pode. É precisamente um exemplificativo rol de inadequados juízos diplomáticos do governo Lula o que listo a seguir.

As difíceis negociações na OMC não foram acompanhadas por concomitante interesse em buscar acordos comerciais regionais ou bilaterais propiciadores de acesso a mercados para os produtos brasileiros que carecem de preferências no continente e no mundo. A diluição crescente do significado econômico e político do projeto Mercosul não só está sendo passivamente aceita, mas viu-se agravada pelo empenho governamental em incorporar a Venezuela de Hugo Chávez, cuja visão de integração é apenas a de juntar forças para se opor aos EUA.

Sólidas iniciativas do governo FHC, como a Irsa, direcionadas para projetos de integração de infraestrutura regional sul-americana, ficam na penumbra e destaque é dado à criação de inócuos foros novos, como a União Sul Americana de Nações (Unasul). O Tratado de Cooperação da Amazônia, que reúne todos os países da Bacia Amazônica e poderia impulsionar a cooperação regional voltada para a preservação sustentável do bioma amazônico e, assim, contribuir para o encaminhamento de um dos grandes itens da agenda ambiental, dorme nos escaninhos do Itamaraty.

O benevolente endosso à violência e à fraude do processo eleitoral no Irã contrapõe-se à "birra" (na terminologia do presidente) na intransigente defesa de Zelaya, dificultando o equacionamento da questão democrática em Honduras. É patente a incoerência com que se invoca o princípio da não-intervenção para favorecer a omissão quanto aos riscos para a democracia e os direitos humanos provenientes da atuação do presidente Chávez na Venezuela e o seu ostensivo desrespeito para benefício eleitoral do presidente Evo Morales na Bolívia.

É lamentável a insensibilidade em relação a valores com que a repressão do governo cubano a dissidentes em greve de fome foi desqualificada pelo presidente como uma ação de criminosos comuns. É um desrespeito ao princípio constitucional da prevalência dos direitos humanos nas relações internacionais do Brasil a omissão perante o genocídio em Darfur.

É altamente discutível se o princípio constitucional da eficiência da administração pública se vê atendido seja pela indiscriminada abertura de novas embaixadas e de consulados-gerais (mais de 40), seja pela exagerada ampliação das vagas de ingresso na carreira, que compromete o padrão de qualidade da formação profissional dos quadros diplomáticos.

O princípio constitucional da impessoalidade da administração pública é continuamente posto em questão pela sofreguidão com que os responsáveis pela diplomacia brasileira se dedicam a glorificar o impacto da presença do chefe de Estado no cenário mundial. Essa celebração do prestígio do presidente aponta para um personalismo populista que impede a construção de um consenso mínimo em torno da política externa como uma política pública de interesse nacional.

A partidarização da política externa, com seu viés ideológico, tem sido um caminho para obscurecer e colocar em segundo plano a sua dimensão de política de Estado que, levando em conta os fatores da persistência da inserção internacional do Brasil, contribui para assegurar a previsibilidade e a confiabilidade externa do País. Observo que para a contundência crítica à política externa do atual governo muito tem cooperado a postura partidária dos seus responsáveis, que, sem base histórica, configuram a presidência Lula como o marco zero da diplomacia brasileira. Quem semeia os ventos da desqualificação colhe as tempestades do dissenso.

Em síntese, o que os críticos da política externa do governo Lula apontam é que a diplomacia brasileira está optando pelo inefável do prestígio em detrimento da realidade dos resultados. Por isso não vem traduzindo apropriadamente necessidades internas em possibilidades externas; não identifica corretamente as prioridades nacionais a serem defendidas no plano internacional; não escolhe com discernimento nem os campos de atuação nos quais o Brasil pode colher os melhores frutos para a efetiva defesa dos seus reais interesses nem os parceiros mais compatíveis com o progresso democrático interno; desconsidera valores e, deste modo, descapitaliza o legado do soft power do nosso país.

É a expressão intransitiva da "glória de mandar", "desta vaidade a quem chamamos Fama", para concluir com Camões.

Professor titular da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Brasileira de Letras, foi Ministro das Relações Exteriores (governo FHC).

Coreia do Norte no Mundial: ah, esses atores chineses

Confesso que eu também fiquei surpreso ao ver o "enorme" número de norte-coreanos torcendo pelo seu time na partida contra o Brasil: por "enorme" eu quero dizer mais de vinte, talvez uns 50, quem sabe até um pouco mais, na focalização rápida da câmera não deu para contar...
Mas, eu bem que pensei: turistas eles não são, pois isso não existe na Coréia do Norte, pelo menos não para outra parte do mundo que não a própria Coreia do Norte (de preferência para a aldeia de nascimento do grandioso líder, pai da pátria, Kim Il-Sung, para a escola em que ele estudou, para a cabana na qual ele se escondeu para fugir dos japoneses, quando aos 10 anos já estava manifestando contra os colonialistas nipônicos, enfim, para o seu mausoléu grandioso, no coração da vibrante capital Pyongyang).
Realmente não sabia precisar, até que está matéria do The Huffington Post esclareceu tudo.
O caro líder, filho do amado líder, pagou para uma tropa de atores chineses falsificarem uma tropa de torcedores da Coréia do Norte. Acho que se trata de um bom arranjo: os chineses assistem aos jogos da Copa tudo pago, e ainda aproveitam para conhecer um pouco outro país. Não sei se eles aprenderam coreano, o que eu duvido, mas isso o resto do mundo talvez nem perceba....
Paulo Roberto de Almeida

North Korean Fans Are Chinese Actors PAID To Cheer World Cup Team (VIDEO)
Hunter Stuart
The Huffington Post, June 16, 2010

If you watched North Korea play a hard-fought game against Brazil in the World Cup on Tuesday, you may have wondered how all those North Korean fans were able to attend the game given the nation's dire economic condition and dictator Kim Jong Il's strict prohibitions on leaving the country.

Commentator Martin Tyler (in the video) answered your question:

We are told that the supporters of North Korea aren't North Koreans--they're handpicked actors from China who have been sent here to act out the part of North Korean fans. I haven't found one I can speak to, who can speak back to me to tell me whether that's the case--I doubt he'd tell me the truth if that is the case.

Although the news has been circling the Internet for a month, AOL's Fanhouse brought to our attention yesterday that North Korea provided 1,000 tickets to a group of Chinese fans, including actors and musicians, to fly to South Africa for the game.

China, who is one of North Korea's closest allies in the world, failed to qualify for this year's World Cup. North Korea hasn't played in the tournament since 1966.

Turquia islamista: nossos novos aliados no apoio ao Iran

O artigo abaixo, do conhecido articulista e "free columnist" do NYTimes, Tom Friedman, deve ser lido na imediata sequencia de sua primeira carta de Istambul, que reproduzi aqui neste post:

A Turquia se coloca fora da UE, voluntariamente

O jornalista examina o distanciamento turco das agendas europeia e americana, em direção de uma agenda mais islamista, o que pode até parecer "normal", sendo ela um país majoritariamente islâmico -- mas um Estado laico -- e dirigida por um partido islamista, embora relativamente moderado, o que pode ter sido uma posição tática, até aqui, para impulsionar lentamente a sua causa.
Pode até fazer sentido, para um país islâmico da região, se aproximar do Irã. Não sei se faz, no caso brasileiro. Em todo caso, somos íntimos amigos dos turcos agora, e não sei, sinceramente, quão íntimos dos iranianos.
Paulo Roberto de Almeida

Op-Ed Columnist
Letter From Istanbul, Part 2
By Thomas L. Friedman
The New York Times, June 18, 2010

I leave Istanbul with four questions that Turks asked me echoing in my head. Forget the answers, just these questions will tell you all you need to understand the situation here. The four questions, which were asked of me by different Turkish journalists, academics or businessmen, can be summarized as follows:

One: Do you think we are seeing the death of the West and the rise of new world powers in the East? Two: Tom, it was great talking to you this morning, but would you mind not quoting me by name? I’m afraid the government will retaliate against me, my newspaper or my business if you do. Three: Is it true, as Prime Minister Erdogan believes, that Israel is behind the attacks by the Kurdish terrorist group P.K.K. on Turkey? Four: Do you really think Obama can punish Turkey for voting against the U.S. at the U.N. on Iran sanctions? After all, America needs Turkey more than Turkey needs America.

The question about the death of the West is really about the rise of Turkey, which is actually a wonderful story. The Turks wanted to get into the European Union and were rebuffed, but I’m not sure Turkish businessmen even care today. The E.U. feels dead next to Turkey, which last year was right behind India and China among the fastest-growing economies in the world — just under 7 percent — and was the fastest-growing economy in Europe.

Americans have tended to look at Turkey as a bridge or a base — either a cultural bridge that connects the West and the Muslim world, or as our base (Incirlik Air Base) that serves as the main U.S. supply hub for the wars in Iraq and Afghanistan. Turks see themselves differently.

“Turkey is not a bridge. It’s a center,” explained Muzaffer Senel, an international relations researcher at Istanbul Sehir University.

Since the collapse of the Soviet Union, Turkey has become the center of its own economic space, stretching from southern Russia, all through the Balkans, the Caucasus and Central Asia, and down through Iraq, Syria, Iran and the Middle East. All you have to do is stand in the Istanbul airport and look at the departures board for Turkish Airlines, which flies to cities half of which I cannot even pronounce, to appreciate what a pulsating economic center this has become for Central Asia. I met Turkish businessmen who were running hotel chains in Moscow, banks in Bosnia and Greece, road-building projects in Iraq and huge trading operations with Iran and Syria. In 1980, Turkey’s total exports were worth $3 billion. In 2008, they were $132 billion. There are now 250 industrial zones throughout Anatolia. Turkey’s cellphone users have gone from virtually none in the 1990s to 64 million in 2008.

So Prime Minister Recep Tayyip Erdogan sees himself as the leader of a rising economic powerhouse of 70 million people who is entitled to play an independent geopolitical role — hence his U.N. vote against sanctioning Iran. But how Turkey rises really matters — and Erdogan definitely has some troubling Hugo Chávez-Vladimir Putin tendencies. I’ve never visited a democracy where more people whom I interviewed asked me not to quote them by name for fear of retribution by Erdogan’s circle — in the form of lawsuits, tax investigations or being shut out of government contracts. The media here is rampantly self-censored.

Moreover, Erdogan has evolved from just railing against Israel’s attacks on Hamas in Gaza to spouting conspiracy theories — like the insane notion that Israel is backing the P.K.K. terrorists — as a way of consolidating his political base among conservative Muslims in Turkey and abroad.

Is there anything the U.S. can do? My advice: Avoid a public confrontation that Erdogan can exploit to build more support, draw U.S. redlines in private and let Turkish democrats take the lead. Turkey is full of energy and hormones, and is trying to figure out its new identity. There is an inner struggle over that identity, between those who would like to see Turkey more aligned with the Islamic world and values and those who want it to remain more secular, Western and pluralistic. Who defines Turkey will determine a lot about whether we end up in a war of civilizations. We need to be involved but proceed delicately.

This struggle is for Turks, and they are on it. Only two weeks before the Gaza flotilla incident, a leading poll showed Mr. Erdogan’s Justice and Development Party, known as the A.K.P., trailing his main opposition — the secularist Republican People’s Party — for the first time since the A.K.P. came to office in 2002.

That is surely one reason Erdogan openly took sides with one of the most radical forces in the region, Hamas — to re-energize his political base. But did he overplay his hand? Up to now, Erdogan has been very cunning, treating his opponents like frogs in a pail, always just gradually turning up the heat so they never quite knew they were boiling. But now they know. The secular and moderate Muslim forces in Turkey are alarmed; the moderate Arab regimes are alarmed; the Americans are alarmed. The fight for Turkey’s soul is about to be joined in a much more vigorous way.

A version of this op-ed appeared in print on June 20, 2010, on page WK8 of the New York edition.

Identidades culturais: de volta a um debate importante

O debate que tinha sido aqui iniciado em relação ao Estatuto da (Des)Igualdade Racial -- de fato, um manifesto racialista da pior espécie, que cria um movimento em favor de um novo Apartheid no Brasil, ou seja, uma desgraça política, social e cultural -- continuou em novas vertentes do pertencimento geográfico ou cultural dos povos "africanos" e dos escravos trazidos ao Brasil.
Um de meus interlocutores habituais questiona algumas de minhas expressões, neste post

Sobre as "identidades" culturais brasileiras

e o uso que faço delas, o que me obriga a explicar-me mais uma vez. Eu o faço não apenas por respeito ao meu interlocutor -- e aos leitores deste blog em geral -- mas também em um novo post, depois de ter incorporado esse comentário como nota de rodapé, o que permite destacar devidamente os argumentos substantivos, em benefício, suponho, de um número maior de interessados neste tipo de questão.
Não poderei fazê-lo de modo extenso, ou com a ajuda de aparato referencial, pelas características deste meio, e porque o faço diretamente na janela do blog, sem maior elaboração conceitual. Mas vou citar o que me parece pertinente como leitura adicional.
Destaco os comentários de meu interlocutor em itálico e agrego meus novos comentários em seguida. O que vai citado entre aspas são expressões minhas, objeto dos comentários do meu leitor, a quem agradeço sinceramente pela oportunidade de explicitar meu pensamento.

I) “...não existem povos africanos, apenas povos retirados individualmente e separadamente da Africa.”
“Africano” é um adjetivo que significa “relativo à África”. Literalmente, “povos africanos” são “povos da África”. Em que sentido a expressão "povos africanos" não equivaleria a "povos da África"?
PRA: A África é um continente muito diverso, quase tão diverso quanto a Ásia e a Europa, que constituem verdadiros mosaicos de povos, culturas, religiões e línguas. Provavelmente quase tão diverso quanto o subcontinente indiano, sendo que neste último, pelo menos, algumas poucas religiões unificam povos que falam mais de 250 línguas ou dialetos, assimo como na Europa, toda ela, onde as diferentes vertentes do cristianismo também unificam o continente, muito mais do que na Ásia ou na África.
As expressões geográficas, portanto, não recobrem a diversidade cultural, étnica, religiosa e linguística desses imensos continentes (bem, muito pequeno no caso da Europa ocidental, cabendo todo ele no Brasil).
Falar de africanos, e por extensão de afro-brasileiros, é tão falso quanto dizer que eu sou um euro-brasileiro, quando sou descendente de avós portugueses por um lado, e italianos, por outro. Ou seja, meus antepassados não tinham nada a ver, a não ser vagas referências religiosas, com alemães, poloneses, espanhóis, ucranianos e levantinos, que também vieram em volumes significativos para o Brasil desde meados do século 19 até um século depois, aproximadamente.
Os "povos africanos" que foram trazidos ao Brasil nos três séculos precedentes se caracterizam justamente por não serem povos, e sim indivíduos, e aqui preciso retificar e corrigir a expressão que eu mesmo utilizei. Não existem povos africanos, a não ser como referência geográfica indeterminada e geral, como falamos de povos europeus, mas no caso dos "africanos" essa expressão é ainda mais enganosa.
O "trabalho" de captura de "africanos" dispersos em vastas regiões daquele continente, seu transporte, assemblagem, venda aos traficantes europeus e americanos (do Norte, do Caribe e do Sul) que os compravam "prontos" para embarque -- quase free on board -- para o Novo Mundo, e a subsequente distribuição e venda aos "consumidores" de escravos, todos esses processos eram e foram profundamente destruidores, desestruturadores das "identidades" (uma palavrinha traiçoeira essa) desses povos.
Em suma, eles vinham como "indivíduos" e não como "povos" e no Brasil procuravam juntar-se a outros indivíduos falando a sua língua ou dialetos assemelhados. Isso explica movimentos de revolta na Bahia e em outras regiões, mas essas eram situacoes excepcionais, pois na quase totalidade dos casos esses indivíduos eram obrigados a se adaptar às novas situações, falar a língua local e aprender novos hábitos. Não havia nada de muito pedagógico nisso tudo, pois os escravos eram tratados praticamente como animais, no que se configura toda a grande tragédia da história brasileira, hoje usada de forma demagógica para reivindicar direitos que não são os deles, mas de seus distantes descendentes, que foram, por certo discriminados, mas jamais carregaram o estigma da escravidão.
Resumindo: uma vez postos no Brasil, os escravos não foram, e nunca foram -- a não ser em casos excepcionalíssimos como os haussás da Bahia -- "povos africanos", e sim indivíduos que se recriaram separadamente como "novos brasileiros", ainda que involuntariamente, e de forma trágica, como sabemos.

II) “NENHUM AFRICANO escravo veio ao Brasil.”
PRA: Creio que não preciso elaborar extensivamente, em razão do que já escrevi acima. Meu objetivo ao dizer isso, na verdade, se prende à desmistificação de uma invenção espúria, totalmente ideológica, feita pelos movimentos negros racistas e racialistas, que pretendem existir uma "coisa" chamada de "afro-brasileiros". Não existe; existem apenas negros brasileiros, ou brasileiros negros, na verdade mais mestiços do que negros, que são um minoria no contingente dos brasileiros de extração parcial africana (na sua vertente negra, ou sub-sahárica), sendo a grande maioria misturados a brancos (mais portugueses do que outros povos) e indígenas (poucos).
Trata-se de um contrabando político mistificador, trazido pronto dos EUA, onde tampouco existem African-Americans, mas simplesmente americanos negros, ou negros americanos (bem menos misturados do que no caso brasileiro).
Escrevi bastante sobre neste meu trabalho, ao qual remeto os interessados numa discussão de natureza mais antropológica (sem deixar de ser política):

472. “Rumo a um novo apartheid?: sobre a ideologia afrobrasileira”, revista Espaço Acadêmico (ano 4, n. 40, setembro 2004; link: http://www.espacoacademico.com.br/040/40pra.htm). Relação de Trabalhos nº 1322.

Aliás, todo esse debate é de natureza puramente ideológica, ou política, como provado justamente agora pelas referências em torno da atual Copa do Mundo na República da África do Sul. Vários analistas, jornalistas, simples comentaristas, referem-se à "copa africana", e muitos lamentam a eliminação de "equipes africanas" -- Camarões, a própria África do Sul -- da competição, como sendo uma quase "tragédia" para o continente, cuja "honra", a partir daqui, estaria sendo defendida apenas pela equipe de Gana (e se esquecem da Argélia, que também está na África, ao que parece).
Ora, quando a Copa do Mundo de Futebol ocorre na Alemanha ou na Inglaterra, ninguém se refere a ela como sendo uma "copa europeia" ou qualquer coisa do gênero, e quando por acaso equipes extra-continente (digamos Argentina ou Brasil) acabam disputando os primeiros lugares, à exclusão de qualquer time do continente, ninguém fala de "tragédia europeia". Por que o mesmo não é feito em relação à África? Se supõe que neste caso existe um amálgama de africanos a povos negros, o que pode ser um racismo involuntário, ou pelo menos um pensamento racialista.

III) “Ou seja, não havia "africanos" escravos, havia indivíduos vindos da África, o que é muito diferente.”
O dicionário registra que a palavra “escravo” significa “aquele que, privado da liberdade, está submetido à vontade de um senhor”. Esses indivíduos vindos da África estavam privados da liberdade e submetidos à vontade de um senhor. Nesse sentido, entendo que são escravos. Assim, “indivíduos vindo da África privados da liberdade e submetidos à vontade de outra pessoa” deveriam ser chamados de “escravos africanos”. O senhor escreve, no entanto, que isto é muito diferente. Em que sentido?
PRA: Creio que neste caso também minhas explicações precedentes deveriam bastar. Mas posso acrescentar mais algumas coisas. A escravidão é uma instituição antiga, milenar, podendo ter existido durante mais de nove décimos da história da humanidade. A escravidão africana, ou de povos "africanos", é uma parte muito pequena, diminuta, de toda essa história multissecular. Começou na própria África, entre seus povos negros ou berberes (depois dominados pelos árabes, bem mais tarde), se expandiu moderadamente durante o Império Romano (mas os "africanos" negros, com exceção dos povos mais "brancos" estavam muito longe para serem aproveitados) e explodiu na era moderna, quando se tornou a forma predominante de escravidão econômica (havia e houve outras formas de escravidão).
Durante oito décimos, provavelmente, da história da escravidão no mundo, os escravos eram povos não muito diferentes dos que os escravizavam, perfeitamente brancos, prisioneiros de guerra, "bárbaros" (mas brancos) submetidos à escravidão. Provavelmente 90% dos escravos na história do mundo eram brancos, ou "arianos", e não africanos, um continente self-contained, e praticando escravidão em escala local (como aliás era o caso de outras regiões, também). O tráfico transcontinental e o comércio mundial de escravos foram relativemente recentes na história da humanidade, e em grande medida os grandes responsáveis por essa "exportação" de negros africanos para outros continentes foram os mercadores árabes ou outros traficantes muçulmanos, que possuiam intensos laços de tráfico humano no Oceano Índico, antes que o tráfico se transformasse predominantemente (mas temporariamente apenas) em atlântico e europeu. Os traficantes árabes e muçulmanos continuaram, inclusive, exportando negros para a península arábica durante muito tempo mais, depois que o movimento abolicionista europeu conseguiu extingur o tráfico e a escravidão na primeira metade do século 19, com as exceções que se sabe: brasileira (vergonhosamente até o final do século), espanhola (mas essencialmente para Cuba, durante tempo similar) e americana (mas aqui, sem tráfico, apenas escravos de "criação" durante muitas décadas até a guerra civil).
Ou seja, é preciso DENUNCIAR a tremenda hipocrisia de acadêmicos idiotas que dão ênfase, apenas e seletivamente, ao tráfico e à escravidão europeia, deixando completamente na escuridão todos os outros fenômenos anteriores, simultâneos e posteriores, muito MAIS IMPORTANTES quantitativamente do que os quatro séculos de tráfico europeu. Os números não existem, por se tratar de sociedades ágrafas ou por não dispormos de documentos de arquivo árabes ou muçulmanos sobre esse imenso tráfico, ou mais exatamente por que não é POLITICAMENTE CORRETO falar de escravidão muçulmana, mas aproximações e estimativas fariam, provavelmente, essa vertente superar amplamente a escravidão para o Novo Mundo. Ainda hoje existem escravos "legais" em certos países africanos e na península arábica.
Existem muitas histórias da escravidão e do colonialismo em escala mundial, e no longo prazo histórico, infelizmente muito poucas, ou quase nenhuma, traduzidos e publicados no Brasil. Não tenho tempo, agora, de fazer uma lista, mas tenho um ou dois em minha biblioteca (agora distante) e muitas outras referências em trabalhos antigos. O Brasil, como é hábito, desconhece a história mundial, e nossos acadêmicos fazem pálida figura ao lado de estudiosos de outros países, que possuem uma visão mais equilibrada da história do mundo, inclusive de suas grandes tragédias

IV) “...música “africana”, algo que evidentemente não existe...”
Eis aí outra palavra – música – que o senhor deve estar usando num contexto particular. Música é o nome com o qual se designa a “arte de se exprimir por meio de sons”. Essa arte é encontrada em todos os povos, em todas as épocas. Evidentemente que suas regras variam segundo a civilização e o contexto histórico. Valendo-me dessa definição de música, deduzo que o uso de instrumentos de percussão pelos povos da África é uma forma de expressão musical.
PRA: Pois bem, se essa definição é usada, não existe música africana. Existe, sim, influência de algumas tradições de certos povos africanos que foram incorporados no mainstream da música brasileira, mas tudo isso misturado com outras tradições, inclusive as mais formais, "partiturizadas", de origem europeia. Negros americanos são em grande medida responsáveis pelo soul e pelo jazz, e eu nunca ouvi que se tratasse de música ou tradições "africanas" nos EUA. Apenas black music, depois incorporada ao mainstream da música americana.
Repito, todo esse movimento "africanista" ou "afro-qualquer coisa" é profundamente mistificador e ideológico, talvez uma tentativa de recuperar raízes (que não existem quase, tamanha foi a desestruturação), mas que se presta a exercícios de auto-engano coletivo que encantam os relativistas culturais e os politicamente corretos.
Como eu não sou nem uma coisa nem outra, não preciso ficar pagando impostos para os pretensos "afro-brasileiros" cada vez que me refiro aos negros brasileiros, ou aos brasileiros negros, como seria mais correto.
Registre-se, também, essa outra mistificação, bem mais fraudadora e mentirosa, que consiste em identificar os mestiços -- que formam a MAIORIA da população brasileira -- aos negros, o que é um exercício totalmente enganoso e ilusório.
Seria ótimo para a sociedade brasileira se ela fosse ainda mais mestiça do que ela é, atualmente, pois nesse caso estariam sendo completamente destruídas as bases materiais do racismo -- que só pode existir quando existem diferenças marcadas, ou fenotípicas -- mas ao dizer isso estou incorrendo, como gostariam alguns de dizer, no crime de etnocídio, ou seja, tentativa de eliminação da raça negra.
Confirmo esse meu propósito "criminoso" e vou mais além: também quero EXTINGUIR por completo a "raça branca", que quando "deixar de existir" será um enorme aporte civilizatório, pois é evidente que todo o racismo "científico" dos últimos três ou quatro séculos se baseou na evidente supremacia material dos europeus sobre os demais povos para sustentar uma suposta supremacia racial, e racista, sobre os povos culturamente inferiores, ficando assim justificada e legitimada a escravidão, o colonialismo, as discriminações, as ideologias lombrosianas, eugênicas e outras.
Sou totalmente anti-racista e, coerentemente, favorável à "eliminação" de todas as raças. Quanto o mundo todo estiver maravilhosamente misturado, os poucos racistas que sobrarem vão ser, rigorosamente, casos de hospício...

Pelo que posso deduzir, o senhor está empregando diversas palavras em um contexto diferente do usual.
PRA: Certamente, sou totalmente partidário da mais ampla liberdade linguística -- o que não quer dizer desmantelar regras formais, como aquele stalinista que acaba de morrer -- e do uso inovador de expressões, desde que devidamente acompanhado de bases conceituais explicativas. Se uma palavra não existe, mas você sente necessidade daquele termo específico, deve-se "inventá-la", justificá-la e passar a usá-la. Assim surgem verbos como "deletar", na verdade uma adaptação (pré-existente no latim) do famoso "to delete" popularizado com a linguagem de computador. Downloadar, por exemplo, deveria existir, e eu já estou usando, independentemente se é correto ou não. Os americanos usam tranquilamente "googlelize", que poderia ser o nosso "googolizar".
Mas, isso é o de menos. No tema que nos ocupa, eu uso rigorosamente o termo africano como sinônimo de pertencimento geográfico geral, nunca para designar nossos negros brasileiros, ou brasileiros negros, que são tão africanos quanto eu sou europeu, ou seja, NADA, rigorosamente nada. A despeito de alguns poucos hábitos portugueses ou italianos, que ficaram muito tenuamente em minha formação, eu sou exclusivamente brasileiro, aliás bem menos do que os negros brasileiros, que "deixaram" de ser "africanos" há mais de 160 anos, ou seja, bem mais do que meus antepassados europeus, com a GRANDE diferença que as tradições culturais europeias foram bem mais preservadas e cultivadas do que (infelizmente, se alguém quiser) no caso dos "africanos" (de araque, pois repito, eles não existem).
Creio que fui bastante claro, desta vez...
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 21 de junho de 2010)

domingo, 20 de junho de 2010

Contra Saramago (3): Janer Cristaldo

OCIDENTE HOMENAGEIA ESCRITOR STALINISTA CÚMPLICE DE ASSASSINOS
Janer Cristaldo
Sábado, Junho 19, 2010

Morreu ontem, em Lanzarote, um dos últimos remanescentes do stalinismo em pleno século XXI, ao lado de Oscar Niemeyer, Ariano Suassuna, Chico Buarque, Luís Fernando Verissimo. Portugal e o Ocidente todo estão chorando a morte do escritor que sempre foi inimigo ferrenho de Portugal e do Ocidente. No Brasil, os jornais estão dedicando suplementos a quem sempre defendeu as atrocidades da URSS e de Cuba e ousou defender o atentado às torres gêmeas. O Ocidente todo foi acometido de amnésia. Com sua morte, o cúmplice de assassinos virou herói.

Não vou comentar a literatura de José Saramago. Exceção feita de A Jangada de Pedra, não a li. Mas sobre a jangada posso falar.

A idéia de uma Europa Unida vinha sendo gestada desde 1951, com o Tratado de Paris, teve continuidade em 1957 com os Tratados de Roma e tomou corpo em 92, com o Tratado de Maastricht. Stalinista e anti-europeu até a medula, insensível à vocação histórica de seu país, em 1986 Saramago escreve Jangada de Pedra, um panfleto irracional e gratuito contra o Velho Continente. Enquanto os portugueses aspiravam desde há muito a integração com o universo transpirenaico, o escritor marxista, não contente em separar Portugal da Europa, pretende levar a Espanha nessa viagem insana.

A jangada em questão é a península ibérica. Lá pelas tantas, as terras luso-hispânicas começam a fender-se, separam-se gradualmente do continente e saem a navegar pelo mar oceano, rumo ao oeste. Para logo mudar de rumo. “A uns setenta e cinco quilômetros de distância do extremo oriental da ilha de Santa Maria, sem que nada o fizesse anunciar, sem que se sentisse o mais ligeiro abalo, a península começou a navegar em direção ao norte”.

Se seus habitantes temem encalhar nas planuras gélidas entre a Groenlândia e Islândia, a península tem outros planos. Na altura da mais setentrional ilha dos Açores, o Corvo, vira em linha reta, retomando sua trajetória para o ocidente, numa direção paralela à de sua primeira rota, prosseguindo-a alguns graus acima. A nova rota aponta para Nova York e o presidente americano apressa-se a dizer que a península seria bem-vinda. O mesmo não pensa o Canadá. Enfim, todas estas manifestações prévias de aceitação ou rechaço se revelam inúteis, já que a imensa ilha flutuante, em dado momento, começa a cair rumo ao sul. Para atracar finalmente em seu destino histórico, o mar caribenho e o socialismo cubano.

Em entrevista durante uma de suas visitas ao Brasil, Saramago falava em vocação atlântica da península ibérica. É grosso sofisma. Para começar, a península já está no Atlântico. Foi graças ao Atlântico que Portugal e Espanha construíram seus impérios. Continuando, Saramago a desloca para o Caribe. Sua metáfora pretende mostrar uma vocação cubana, socialista, que Portugal nunca alimentou. A dita Revolução dos Cravos, liderada por Otelo Saraiva de Carvalho, morreu na casca. Portugal, após o salazarismo, tornou-se um próspero país capitalista, perfeitamente integrado à economia – também capitalista – da Europa. Isto o velho comunista não consegue admitir.

Nos dias em que Portugal e Espanha faziam os preparativos para seu enlace definitivo – e muito bem sucedido, como hoje pode ver-se – com a Europa, o escritor português, fazendo eco ao ancestral ódio marxista à Europa, separa estes dois países de seu futuro. E os empurra um século para trás, rumo ao socialismo cubano. Nunca uma obra literária, sob o inocente disfarce de um divertissement, foi tão anti-ocidental, anti-européia, anti-lusitana e anti-espanhola. Ao autor deste panfleto imediatamente desmentido pelos fatos, a Kungliga Akademie de Estocolmo conferiu o galardão máximo das letras ocidentais. Vista destes dias em que portugueses, espanhóis e demais europeus se regozijam com o euro, esta obra de Saramago revela-se um merencório equívoco.

Uma vez conquistado o Nobel, o detentor da láurea permitiu-se o luxo de afirmar qualquer impropriedade. Comentando o conflito entre Oriente e Ocidente por ocasião do atentado às torres do World Trade Center, em artigo para a Folha de S. Paulo, Saramago toma o partido dos terroristas. Para defendê-los, empunha antigas atrocidades de uma Europa passada, hindus atados à boca de canhões. "No primeiro plano da fotografia um oficial britânico ergue a espada e vai dar ordem de fogo. Não dispomos de imagens do efeito dos disparos, mas até a mais obtusa das imaginações poderá ver cabeças e troncos dispersos pelo campo de tiro, restos sanguinolentos, vísceras, membros amputados. Os homens eram rebeldes".

O prêmio Nobel evoca também Angola, onde algures "dois soldados portugueses levantam pelos braços um negro que talvez não esteja morto, outro soldado empunha um machete e prepara-se para lhe separar a cabeça do corpo. Esta é a primeira fotografia. Na segunda, a cabeça já foi cortada, está espetada num pau, e os soldados riem. O negro era um guerrilheiro". Isto é: se ingleses explodem hindus, se portugueses decapitam angolanos, é perfeitamente permissível que um saudita, homiziado no Afeganistão e imbuído da missão de vingador universal, detone dois prédios em Nova York matando não só malvados civis americanos, mas também cidadãos de 62 países do planetinha.

Como um jornalista novato que vê a História como um lago raso, sem antes nem depois, Saramago mistura geografia e fatos de épocas passadas para absolver o terrorismo presente. Se algo se perdeu definitivamente neste atentado, parece ter sido a boa lógica. Numa tentativa de explicar o terror, o autor português joga a culpa no "fator Deus". Tudo, menos responsabilizar fanáticos muçulmanos.

Com sua autoridade de Nobel, escreve: "Disse Nietzsche que tudo seria permitido se Deus não existisse...". Isto é, atribuiu ao pensador alemão frase que, por equívoco, é normalmente atribuída a Dostoievski, por leitores de orelhas de livros. Em verdade, tal frase, assim como é proposta, não se encontra em momento algum do escritor russo. Foi Sartre quem a atribuiu a Dostoievski, tentando interpretar seu pensamento. Que mais não fosse, tal aforismo só poderia nascer no cérebro de um católico e de católico Nietzsche nada tinha. Ao fazer tal afirmação, Saramago demonstra que, para um laureado pela Kungliga Akademie, qualquer bobagem será sempre bem paga.

Não contente em defender o terror que destruiu as torres de Nova York, Saramago atacou Israel e sua reação aos atentados suicidas palestinos. Por ocasião do recrudescimento dos atentados cometidos por homens-bomba, comparou as ações do Exército israelense nos territórios palestinos ao sofrimento dos judeus no campo de concentração de Auschwitz na Segunda Guerra Mundial. "É a mesma coisa, ainda que levemos em conta as diferenças de espaço e tempo", afirmou em Ramallah (Cisjordânia), onde se encontrou com o líder palestino Yasser Arafat. "É preciso tocar todos os sinos do mundo para dizer que o que está ocorrendo na Palestina é um crime que podemos impedir", disse. Para os civis israelenses que morrem aleatoriamente, nenhuma palavra de conforto.

Isso sem falar que o valente escritor só rompeu com Cuba em 2003, quando 75 dissidentes foram presos e três pessoas foram executadas em um julgamento sumário. Castro vem executando opositores desde 1959, e Saramago rompe com o tirano só 44 anos depois. Em uma carta, escreveu: "De agora em diante Cuba segue seu caminho, eu fico aqui. Cuba perdeu minha confiança e fraudou minhas ilusões".

Mas o rompimento era brincadeirinha. Logo depois, em entrevista a um jornal cubano, reatou: "Não rompi com Cuba. Continuo sendo um amigo de Cuba, mas me reservo o direito de dizer o que penso, e dizer quando entendo que devo dizê-lo".

Este é o homem que o Ocidente hoje homenageia.