O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Across the whale in (less than) a month (20): final statistics

Apenas estatísticas, sem qualquer descrição de visitas, por enquanto, sem balanço, sem avaliação final, só dados:

Paulo Roberto de Almeida
Carmen Lícia Palazzo

United States, Coast to Coast
September 13 to October 9, 2013


Date

Itineraries

Departure
Arrival

Miles; Time

Fri 13

Hartford, CT - Wilkes-Barre, PA

9.260
9.466
206m; 4hs
Sat 14
Wilkes-Barre - Columbus, OH- Mason, OH
9.467
10.017
550m; 10hs
Sun 15
Mason - Cincinnati, OH - Louisville,KY - Saint Louis,MO
10.017
10.420
403m; 9h40
Mon 16
Saint Louis, MO - Kansas City, MO (Kansas City, KA)
10.420
10.695
200m; 8hs
Tue 17
Kansas City, MO
10.695
10.735
40m; day
Wed 18
Kansas City, MO - Omaha, NE - Lincoln, NE - Ogallala, NE
10.735
11.254
519m; 9hs
Thu 19
Ogallala, NE - Cheyenne, WY-Salt Lake City, UT
11.254
11.860
606m; 9h15
Fri 20
Salt Lake City, UT
11.860
11.876
16m; day
Sat 21
 Salt Lake City, UT - Reno, NV
11.876
12. 396
520m; 9h40
Sun 22
Reno, NV - Sacramento, CA - Napa, CA - Sonoma, CA
12.398
12.642
244m; 9h40
Mon 23
Sonoma, CA – Sausalito, CA - San Francisco, CA
12.645
12.740
95m; 7h30
Tue 24
San Francisco, CA – Monterey, CA
12.748
12.864
116m; 5hs
Wed 25
Monterey, CA – Carmel, CA – Monterey, CA
12.864
12.883
19m; day
Thu 26
Monterey, CA – Salinas, CA – Santa Barbara, CA
12.883
13.164
281m; 8h05
Fri 27
Santa Barbara, CA
13.164
13.184
20m; day
Sat 28
Santa Barbara, CA – Malibu Beach – Los Angeles, CA
13.184
13.276
92m; 5hs
Sun 29
Los Angeles, CA (Getty Museum, G. Villa; Hollywood)
13.276
13.346
70m; day
Mon 30
Los Angeles, CA – Las Vegas, NV
13.346
13.630
284m; 5hs
Tue 01
Las Vegas, NV
13.630
13.648
18m; day
Wed 02
Las Vegas, NV – Hoover Dam, AZ - Grants, NM
13.648
14.155
507m; 9h30
Thu 03
Grants, NM - Albuquerque, NM – Santa Fe, NM
14.155
14.305
150m; 9hs
Fri 04
Santa Fe, NM – El Reno, OK
14.312
14.820
508m; 9h05
Sat 05
El Reno, OK – Oklahoma City, OK – Memphis, TN
14.820
15.326
506m; 8h40
Sun 06
Memphis, TN – Ashland, KY
15.340
15.875
535m; 9h40
Mon 07
Ashland, KY – Charleston, WV – Princeton, NJ
15.875
16.438
563m; 10h55
Tue 08
Princeton, NJ
16.438
16.487
49m; day
Wed 09
Princeton, NJ - Hartford
16.487
16.653
166m; 3h45
Total
Coast to Coast, 26 days
9.260
16.653
7.393m; 11.829kms
Total:
Coast to Coast: 26 days; Average: 284m/day; 455kms/day;
Gas Consumption: 26 Miles/Gallon: 284 g. = $ 910

PS.: Quem desejar ler tudo o que escrevi, durante a viagem, vai precisar acessar o instrumento de busca deste blog, usando as palavras-chaves: "Across the whale", e aí deve aparecer todas as postagens sob essa rubrica (1 a 20).
Ou então me pedir o arquivo consolidado, mas o texto está sem as fotos, apenas os meus comentários.
Paulo Roberto de Almeida 
Hartford, 10 de outubro de 2013

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Diplomacia tortuosa - Editorial Jornal do Commercio

Diplomacia tortuosa
Editorial Jornal do Commercio, 9/10/2013

Quando as críticas aos rumos trilhados pelo Itamaraty nos últimos anos se transformam em consenso entre diplomatas de larga experiência, talvez seja o momento para uma arrumação. A política externa não pode ser pautada pela hostilidade, muito menos se o alvo é a maior economia do mundo e o maior parceiro comercial do Brasil. Se os EUA têm pisado na bola no tratamento à América Latina, não podemos incorrer no mesmo erro, nivelando por baixo. Como já disse a própria presidente Dilma, os laços culturais que unem brasileiros e o norte-americanos são maiores do que a transitoriedade imanente às políticas governamentais.
O alinhamento automático à agenda de nações como a Bolívia, a Venezuela, o Equador e Cuba não pode ser a prioridade da diplomacia brasileira. Por mais que seja necessário, como já afirmamos neste espaço, um posicionamento firme e coletivo dos povos latino-americanos contra os abusos que têm sido cometidos pelos EUA, em nome de uma sempre superdimensionada defesa dos interesses e da segurança dos norte-americanos, a nossa diplomacia não pode se restringir a isso. Ampliar o arco da atuação diplomática e da pauta brasileira no planeta não significa, de maneira alguma, compactuar com o ranço imperialista característico da Casa Branca, tampouco aceitar passivamente a invasão de soberania que representa a espionagem oficial dos órgãos de segurança chefiados por Barack Obama.
O esgarçamento das relações da potência do norte com o nosso continente deve-se em boa medida à atitude arrogante assumida pelos EUA. Mas para a diplomacia o mais importante não é o obstáculo, e sim, superá-lo. Como afirmou Henry Kissinger, "países não têm amigos, têm parceiros". O tom emocional de parte do continente, por motivações claramente ideológicas, contra a Casa Branca, não deveria ser replicado cegamente pelo Itamaraty. Até porque o Brasil não possui apenas liderança regional: cresce a importância brasileira no cenário global, e essa voz de precisa ser ativada, e se fazer ouvir, fora das queixas e de um comportamento anti-americanista convicto.
Além do mais, a suposta amizade com os irmãos latinos não evita que parcerias sejam desfeitas sem cerimônia. Foi o que ocorreu quando a Bolívia enxotou a Petrobras, e outras empresas se viram obrigadas a abandonar o país por absoluta falta de garantia institucional para exercerem suas atividades. A Venezuela não deixou por menos, e deu mostras de arrogância comparáveis às praticadas pelos norte-americanos, ou mesmo piores, sem que o Itamaraty reagisse com a contundência esperada.

Desta forma, o que se espera de uma diplomacia tortuosa é que retifique o seu caminho o quanto antes, pois o equívoco estratégico nesse campo traz repercussões de longo alcance em diversas áreas, contaminando relações comerciais que levaram décadas para se consolidar e estreitando as oportunidades de novos caminhos a serem abertos nas relações multilaterais.

Venezuela NAO faz parte do Mercosul - Camex dixit...

Camex aprova acordo de livre comércio entre Brasil e UE; Venezuela fica de fora

Mercosul-e-União-Européia
Arko-Infolatam, 9/10/2013
José Maurício dos Santos
O Conselho de Ministros da Câmara de Comércio Exterior (Camex), presidido pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, aprovou o acordo brasileiro de livre comércio que integrará o documento do Mercosul a ser entregue à União Europeia (UE).
O documento deverá ser entregue até o fim deste ano e integrará propostas de, além do Brasil, Argentina Uruguai e Paraguai.
Paradoxo
A Venezuela, apesar de ser a atual presidente do bloco, pelo menos por hora, não terá suas sugestões integradas ao documento, uma vez que o acordo reconhece que o país ainda precisa da aprovação do parlamento paraguaio para ser considerada membro-pleno. Ou seja, o Mercosul vive hoje esse paradoxo: politicamente a Venezuela faz parte do bloco, até o preside; economicamente ainda não é reconhecida.

Um livro para um debate consistente na proxima campanha presidencial - Fabio Giambiagi e Claudio Porto

Só posso recomendar este livro, recém lançado, e que propõe um reexame urgente de nossas prioridades de políticas econômicas -- macro e setoriais -- -para consolidar e impulsionar o desenvolvimento brasileiro.
Paulo Roberto de Almeida

O debate econômico e 2015 
Fabio Giambiagi 
Valor Econômico, 9/10/2013

Interrompo por um mês minha série de artigos sobre demografia para mencionar o esforço de reflexão empreendido com uma série de colegas e amigos com os quais este mês publicamos, em co-organização com Cláudio Porto, o livro "Propostas para o Governo 2015-2018", que contou com capítulos (diversos em co-autoria) de um conjunto numeroso de autores qualificados. Para não incorrer em alguma injustiça, prefiro citar todos eles sem exceção, com os respectivos temas por eles abordados. 

O livro inclui três partes. Na primeira, introdutória, no capítulo inicial, Marcelo Kfoury Muinhos e eu traçamos um panorama acerca do pano de fundo econômico em que se insere o livro, enquanto que no segundo capítulo Cláudio Porto e Adriana Fontes apresentam um painel dos desafios estruturais que o país tem pela frente. 
A segunda parte do livro traz um conjunto de textos que analisam o arranjo macroeconômico vigente e fazem uma série de sugestões. Bernard Appy analisa a questão do financiamento de uma estratégia de desenvolvimento. A leitura do capítulo de Nilson Teixeira e Daniel Sinigaglia sugere alguns aprimoramentos para o regime de metas de inflação. Tiago Berriel, Carlos Viana e Rafael Ihara questionam a condução da política econômica - e, em particular, da monetária - nos últimos anos. Da leitura conjunta de ambos capítulos depreendem-se bons ensinamentos para serem levados em conta pelas autoridades. Mansueto Almeida traz um raio-X da situação fiscal do país. Everardo Maciel faz sugestões referentes ao regime tributário que poderiam melhorar a consistência do sistema e a competitividade da economia. Fernando Honorato Barbosa explora o tema de quais podem ser os limites para a dimensão do desequilíbrio em conta corrente do país no futuro. Esta parte conclui com outro capítulo de minha autoria, sobre o tema da regra de indexação do salário mínimo. 

O país não tem se preparado adequadamente para os desafios que virão 

Finalmente, a terceira parte do livro trata das políticas para a promoção do desenvolvimento. José Ronaldo Souza Junior estima qual vem sendo a taxa de crescimento do produto potencial do país. Jorge Arbache propõe um interessante conjunto de medidas para elevar a produtividade. Maurício Mesquita Moreira e Cláudio Frischtak fazem uma reflexão pertinente acerca de que tipo de política industrial e comercial seria mais adequado ao país adotar. Francisco Ferreira e Márcio Gold Firmo sugerem uma política social consistente com o atual estágio da economia brasileira, bastante diverso em relação à situação em que a agenda social ganhou preeminência há 10 anos. Cláudio de Moura Castro e Simon Schwartzman elaboram um conjunto de propostas para o ensino técnico e profissional. Marcelo Caetano defende uma reforma da Previdência Social. Felipe Vilhena Antunes Amaral traça as perspectivas para a evolução do montante de ativos da FUNPRESP. Flávio Martins Rodrigues expõe um conjunto de ideias acerca da previdência complementar. Elena Landau, Joísa Dutra e Patrícia Regina Pinheiro Sampaio se debruçam sobre a agenda do setor de energia. Maílson da Nóbrega e Adriano Pitoli discorrem sobre os problemas da nossa infraestrutura. Cristiane Schmidt, Elizabeth Farina e Cláudio Considera tratam do tema da defesa da concorrência. Carlos Américo Pacheco, Rafael Lucchesi e Luis Gustavo Delmont escrevem sobre o tema chave da inovação. Alexandre Mattos, Glaucio Neves e Gustavo Morelli desenvolvem a temática do aprimoramento da gestão pública. Clarissa Lins trata do desenvolvimento sustentável. Finalmente, Alexandre Rands Barros sugere políticas de desenvolvimento regional sob a ótica da competitividade. 
O livro contém 24 capítulos, de 40 autores diferentes e responde às preocupação de organizadores e autores de sugerir ações e iniciativas para serem seguidas. Woody Allen disse certa vez que "o futuro me preocupa porque é o lugar onde penso passar o resto de minha vida". Assim, nada mais natural do que expor as ideias que cada um de nós tem acerca dos assuntos nos quais, ao longo da vida, foi ganhando uma certa expertise. 
Embora não haja uma visão monolítica - na lista de autores, há quem tenha participado dos governos do PT, bem como quem se destacou no governo de FHC, com largo predomínio, na relação de nomes, de técnicos conhecidos sem vinculação partidária - de um modo geral os autores comungam de um conjunto de ideias parecidas acerca de quais seriam as melhores políticas para serem adotadas. Não há espaço aqui para examinar em detalhes as questões abordadas em todas as páginas do livro. Há, sim, espaço para resumir as preocupações centrais da maioria daqueles que participaram da iniciativa. Primeiro, o ciclo de crescimento baseado no consumo tende a se esgotar. Segundo, temos o enorme desafio pela frente de aumentar a nossa produtividade. Terceiro, o mundo depois da crise será ainda mais competitivo que no passado. Quarto, o país não tem se preparado adequadamente para os desafios que virão. Àqueles que se interessarem em aprofundar esses temas, boa leitura! 


Fabio Giambiagi, economista, coorganizador do livro "Economia Brasileira Contemporânea: 1945/2010" (Editora Campus), escreve mensalmente às quartas-feiras. 

Governo abre a caixa de Pandora da irresponsabilidade federal na divida publica

O Refinanciamento da divida dos estados e municípios

Vou escrever rapidamente sobre esse assunto e não vou falar com ninguém sobre isso. Sugiro aos jornalistas que telefonem e peçam explicações à equipe técnica do Ministério da Fazenda, em especial, à Secretaria do Tesouro Nacional e Secretaria de Política Econômica.
A renegociação da dívida dos estados e municípios acordada ontem entre o PMDB e o Governo Federal foi uma surpresa para todos, inclusive, para a equipe econômica do próprio Ministério da Fazenda. Explico. A possibilidade de refinanciamento da dívida é um debate  que vem desde sempre, mas que se intensificou no ano passado.
Cheguei a conversar com alguns técnicos do Tesouro Nacional que sempre resumiram esse debate para mim com uma única palavra: “absurdo”. A Secretaria de Política Econômica, pelo que escutei de coordenadores já na gestão do Márcio Holland, em 2012, também era contra. Se aceitava, no máximo, a possibilidade de mudar o indexador para frente, mas não havia espaço para uma renegociação retroativa nos moldes do que foi anunciado ontem.
Vale lembrar três coisas. Primeiro, de 1997 até final de 2012, a taxa de juros Selic acumulada foi superior a IGP-DI+ 6% ao ano. Nas minhas contas dá 1.096% para Selic de 1997-2012 contra 849% do IGP-DI+6% ao ano. Assim, para quem participou das negociações desde o seu inicio, não faz sentido rever o passado. O ganho maior é para quem perdeu 1997 e 1998, quando a diferença entre Selic e IGP-DI foi grande. Esse é justamente o caso do município de São Paulo que só assinou o acordo em dezembro de 2000.
Segundo, além das taxas de juros Selic menores que IGP-DI+6% ao ano no acumulado, quando ocorreu o refinanciamento das dividas dos estados, em 1996/1997, as taxas acordadas (IGP-DI + 6% ou 7,5% para os estados) eram menores do que aquelas que os entes subnacionais estavam pagando aos bancos privados. Assim, houve um subsídio grande desde o início e isso vale também para a prefeitura de São Paulo. Adicionalmente, no caso dos estados, houve também o saneamento dos bancos estaduais com essa nova dívida incorporada ao valor total da divida renegociada.
Terceiro, como tudo em economia, não existe almoço grátis e isso foi tema de um artigo no ano passado no jornal Valor Econômico de um técnico de carreira do Tesouro Nacional (leiam o artigo aqui – Não existe almoço grátis – Valor 11 de maio de 2012), no qual alerta que o custo médio do endividamento do governo federal também é maior que a Selic e, assim, se o governo renegociasse as dívidas dos entes subnacionais pela taxa Selic estaria dando um novo subsídio.
O que vai acontecer? Bom, ao invés de eu responder vou deixar a reposta para o artigo citado acima:
“A despeito do senso comum de que a troca dos indexadores das dívidas estaduais irá beneficiar a todos os Estados é importante frisar, inicialmente, que haverá uma elevada concentração de benefícios nas unidades mais ricas da federação, que se beneficiaram com a implantação de infraestrutura econômica decorrente das dívidas refinanciadas.
Por fim, deve-se ter presente que o pagamento da dívida decorrente do refinanciamento das dívidas estaduais irá impactar o resultado primário do governo central – ou exigindo um esforço maior por parte da União para não elevar o endividamento público, via elevação do superávit primário, ou da ampliação do patamar da dívida federal. Ou seja, intertemporalmente, a dívida federal será quitada ou pela ampliação da receita, via elevação da carga tributária ou pela redução das despesas, por meio da contenção dos gastos com bens públicos. Em ambos os casos a distribuição dos ônus deverá recair de forma desproporcional entre as unidades da federação.”
E na passagem acima o debate era restrito à renegociação da divida dos estados. Com a inclusão dos municípios, especialmente São Paulo, o custo será ainda maior. Como o governo federal fará para elevar o seu primário? Não tenho a mínima ideia. Na minha modesta opinião, estamos conseguindo elevar ainda mais o risco de uma queda maior do primário, aumento da dívida e aumento da carga tributária como fala a passagem acima.
É claro que algumas pessoas acreditam que aumentar hoje a divida traz crescimento de 4,5% ou 5% ao ano lá na frente e conseguiremos, com maior crescimento, pagar todo esse aumento da dívida e do gasto. Eu discordo dessa visão, mas respeito quem pensa diferente. Mas se alguém pensa assim, bem que poderia sugerir o mesmo para Grécia, Espanha, Irlanda e Portugal.
Por favor, não me chamem de fiscalista. Não defendo teses de estado mínimo, controle a qualquer custo do custeio, etc. Mas não entendo como um governo que  está com o resultado primário em queda e quer aumentar o investimento faz uma bondade dessas para todos os entes subnacionais. Até entenderia se essa renegociação fosse restrita aos municípios e estados mais pobres. Mas esse não é o caso.
Um rápido lembrete: o Brasil na década de 1970 aumentou a sua divida precisamente para continuar com os grandes projetos de investimento. Infelizmente, o resto do mundo, EUA, com sua política monetária nos pegou de calça curta. Será que agora será diferente? ou há o risco de os EUA novamente aumentarem a taxa de juros no futuro próximo?

Calote americano: doloroso, mas seria divertido ver - Joe Nocera (NYT)

Quem diz que seria divertido, no sentido figurado, claro, sou eu, não o Joe Nocera, que faz uma análise séria, corretamente embasada, empiricamente sustentada, sobre as consequências, que todos chamam de "catastrófica" de um eventual calote americano sobre sua dívida pública advindo da não elevação do teto, ou do volume total, dessa dívida, que tem de ser autorizada por quem tem autoridade para isso: o Congresso.
De fato, nos EUA, as coisas mais importantes passam pelo Congresso, e seguem um ritual de exame, discussão e aprovação após grande debate público e parlamentar. Não é como em certos paisecos, nos quais o governo central, ou seja, o Executivo, faz o que quer em matéria de economia, finanças, dívida e outras matérias relevantes, como moeda, câmbio, comércio exterior, tarifas, etc. Em países sérios, essas coisas são resolvidas após um amplo debate envolvendo diversos parceiros, usuários, clientes, contribuintes, agentes econômicos coletivos e individuais, interesses privados e sociais, sem nenhuma imposição unilateral de alguma autoridade que se dá ares de mandona, e assume atitudes fascistas.
Pois bem, os EUA não parecem um país sério atualmente, pois estão sob risco de não pagarem o que devem, além de terem interrompido vários serviços, que não são exatamente básicos, mas suplementares.
Eu é que digo que seria divertido, pois nos últimos 80 anos pelo menos jamais se contestou que o Estado, ou o governo pudesse fazer isso ou aquilo. Agora, não pelas vias mais adequadas, se chegou a um impasse -- por razões de baixa política, certo -- entre os decisores, e por isso se fala da paralisia do governo. Não se trata bem de paralisia, mas de ausência de orçamento.
Ora, eu considero que se trata de uma excelente oportunidade para rediscutir o papel do Estado, alocando para os mercados diversos serviços que foram sendo entregues a esse ogro gastador ao longo das últimas décadas. Por exemplo: não pude visitar o Grand Canyon porque ele estava fechado, mas poderia ter ido a Disneyworld, se desejasse, abertinha da silva. Por que a Disney abre e os parques não? Não há nenhum motivo plausível para que isto ocorra, nenhum, repito.
Sobre a dívida, parece que as consequências seriam realmente sérias, como indica o articulista abaixo. Mas, por que não aproveitar um minicalote, seletivo, para rediscutir toda a política de endividamento do Estado?
Acho que está na hora de repensar todo o modo de funcionamento desse monstrengo que foi sendo alimentado pelo público e pelos políticos ao logo do tempo. Voltar a colocá-lo em seu lugar, o menor possível, onde não possa incomodar muita gente, e só aparecer para as tarefas realmente essenciais. Aposto como ele poderia deixar de fazer mais da metade das coisas que faz hoje...
Paulo Roberto de Almeida

OP-ED COLUMNIST

Why the Debt Ceiling Matters

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The word we keep hearing is “catastrophe.”
Fred R. Conrad/The New York Times
Joe Nocera

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Readers’ Comments

“A U.S. Default Seen as Catastrophe, Dwarfing Lehman’s Fall,” screams the headline in Bloomberg Businessweek. “A default would be unprecedented and has the potential to be catastrophic,” says a Treasury Department report issued on Thursday — two weeks before the government is expected to begin running out of cash.
But what does “catastrophic” actually mean in this context? In the summer of 2011, when Republicans refused to raise the debt ceiling unless President Obama caved to their extortionist demands, the same word was bandied about. It scared the political class enough that they kicked the can and avoided a default.
This time around, the need to raise the debt ceiling doesn’t seem to be generating nearly the same concern. Indeed, Tea Party Republicans seem to be almost rooting for the government to default, as if that would somehow bring about the smaller government they so yearn for.
But this is incredibly wrongheaded. A failure to raise the debt ceiling, should it come to that, would likely inflict a different kind of pain than sequestration or even a shutdown of the federal government. It won’t make the government smaller. But it does have the potential to diminish the value of one of America’s greatest assets — the backing of its debt — while throwing the world economy into chaos.
The first point worth making is that the 14th Amendment to the Constitution, which declares that “the validity of the public debt of the United States . . . shall not be questioned,” was added precisely to avoid what is happening now: a faction of Congress using the debt ceiling as a bargaining chip. That basic truth, as Fortune’s Roger Parloff noted in a recent blog post, “ought to weigh very heavily in the minds — and on the consciences — of the House Republican faction that is now unambiguously violating its letter and spirit.”
The second point worth making is that U.S. government debt is the only risk-free asset in the world. That debt undergirds the entire world financial system — precisely because the whole world has such faith in it. There is always demand for U.S. government debt. Almost every other asset you can think of is in some way measured against it. A default would destabilize the market for Treasuries. And that, in turn, would likely destabilize every other asset.
The stock market would fall. Interest rates would rise — meaning, for instance, mortgages would become more expensive just as the housing market is starting to revive. Treasuries themselves would likely have to pay higher interest to investors, which would create a rather sad irony: a default would exacerbate the country’s long-term debt (the very problem the Republicans claim to care about).
Let’s move to the havoc a destabilized Treasury debt would have on the banking system. “The plumbing of the global financial system depends on Treasuries,” says Karen Petrou, a banking expert at Federal Financial Analytics. Remember what happened to Lehman Brothers? As the market lost faith in the company’s ability to meet its obligations, Lehman lost access to the “repo” market, which is the way banks are funded on a short-term basis. Treasuries make up a great deal of the collateral in the repo market. If a default were to cause the repo market to freeze, the entire banking system would find itself in crisis. Meanwhile — more shades of Lehman Brothers — the ratings agencies would likely downgrade Treasuries, forcing money market funds to start dumping government debt.
Painful choices would have to be made. Right now, the Treasury Department says it does not have the authority to pick and choose which creditors to pay. But, in the event of a default, it is hard to imagine that the government wouldn’t make some tough decisions about who should get paid in the short term — and who would have to wait. And, though this would infuriate millions of Americans, bondholders in China would likely get their money ahead of, say, Social Security recipients.
“From a purely cost-benefit analysis,” says Mark Zandi of Moody’s Analytics, “not paying bondholders would wind up costing the U.S. much more than not paying Social Security recipients” — because if bondholders lost faith in Treasuries, it would cost the government billions more in interest payments each year.
During the 2011 debt-ceiling crisis, consumer confidence dropped by 22 percent. When consumer confidence falls, people are less willing to spend and businesses are less willing to hire. That’s how recessions — or depressions — begin, and that may be the most important consequence of all.
For as long as anyone can remember, the ability of the United States government to pay its bills on time has given the rest of world tremendous confidence. At the same time, to have the one asset everyone in the world trusts has given America great advantages.
Why on earth would we ever risk that? Why?

Celulares: brasileiros extorquidos pelos carteis e pelo governo

Caro leitor: você sabia que o governo fica com pelo menos 4 reais de cada 10 que você gasta usando o seu celular? E que as tarifas do Brasil são as mais altas do mundo por causa dos carteis que o governo promove ativamente?
PRA

AS CINCO MAIS CARAS E MAIS BARATAS TARIFAS DE CELULAR NO MUNDO!

(Estado de SP, 08) 1. O Brasil tem a tarifa de chamadas de celular mais cara do mundo em termos absolutos. A constatação é da União Internacional de Telecomunicações, que hoje publica seu informe anual sobre o setor. Em termos gerais e contando também tarifas de telefonia fixa e internet, o Brasil também não tem um bom desempenho. Entre 161 países avaliados, o Brasil ocupa apenas a 93 posição. Em média, um minuto no celular em horário de pico custaria US$ 0,71 entre chamadas pelo mesmo operador no Brasil. A taxa sobe para US$ 0,74 por minuto em caso de chamadas entre operadores diferentes. Para fazer a comparação, a UIT usou a taxa média praticada em São Paulo. O custo é três vezes o que um americano paga para falar ao celular ou Portugal, de onde vem uma parte importante dos investidores. Na Espanha, sede da Telefonica, um cidadão paga cinco vezes menos pelo celular que no Brasil.

        
2. Tarifas por minuto em horário de pico. As 5 mais caras: Brasil 0,71 / Bélgica 0,70 / Nova Zelândia 0,70 / Suíça 0,68 / Grécia 0,58. // As 5 mais baratas: Índia 0,01 / Geórgia 0,01 / Bangladesh 0,02 / Paquistão 0,03 / China 0,04.

O governo como primeiro e principal fora-da-lei: desvia contribuicao de sua finalidade precipua

As grandes violações constitucionais no Brasil, as piores ilegalidades e transgressões à ordem jurídica são cometidas sempre pelo próprio governo. Esse governicho de araque é um violador consciente e deliberado da lei e da ordem. O veto presidencial à extinção dessa contribuição criada para uma finalidade específica, com justificação estapafúrdia de que o governo "precisa do dinheiro" para financiar habitação, é um tal absurdo constitucional que JAMAIS deveria ter sido aprovado pelo Congresso, e JAMAIS poderia ter sido proposto pelo próprio governo.
Vamos ver o que vai fazer o ministro companheiro, mas a ilegalidade é flagrante.
Paulo Roberto de Almeida

Supremo

Empresas vão ao STF contra o adicional de 10% da multa do FGTS

Entidades patronais alegam que manutenção da multa não se justifica e os valores arrecadados são usados pelo governo para engordar superávit

O Ministro Luís Barroso durante análise dos recursos apresentados pelas defesas dos 25 réus condenados pela corte, os chamados embargos, nesta quinta-feira (15)
O ministro Luís Barroso será o relator das ações (Fellipe Sampaio /SCO/STF )
Entidades sindicais patronais foram nesta terça-feira ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a manutenção do adicional de 10% à multa sobre o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) no caso de demissão sem justa causa. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviço e Turismo (CNC) entrou com uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI) contra o adicional. Além disso, as Confederações Nacionais do Sistema Financeiro (Consif) e das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNSeg), juntas, também apresentaram ação semelhante ao STF. O ministro Luís Roberto Barroso foi designado o relator das duas ações.
O adicional à multa do FGTS foi mantido porque a presidente Dilma Rousseff vetou a proposta de eliminá-lo em setembro, alegando que o valor era necessário para manter em andamento o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, financiado com recursos do Fundo. O governo conseguiu costurar um acordo na Câmara para fazer com que a base votasse a favor do veto presidencial, fazendo com que a multa adicional fosse mantida.
A cobrança foi criada em 2001 para suprir um rombo decorrente nas perdas do FGTS provocadas pelos Planos Verão e Collor 1, na década de 1990. À época, a contribuição surgiu como uma solução provisória para zerar a dívida. No ano passado, porém, a Caixa Econômica Federal notificou o governo de que a conta estava paga e que o adicional poderia ser extinto – o que até hoje não aconteceu. Ao todo, calcula-se que o ressarcimento tenha custado 45,3 bilhões de reais aos cofres do setor empresarial, de acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Empresas - A CNC argumenta que há um desvio de finalidade na cobrança da multa. "O adicional não é revertido para o trabalhador, que continua percebendo apenas os 40% de multa rescisória sobre o montante dos depósitos realizados durante seu contrato de trabalho", aponta a CNC. "A demissão sem justa causa passou a ser onerada com uma alíquota total de 50% a título de contribuições ao FGTS: 40% destinados à indenização para o trabalhador; e 10% a título de receita para saldar o mencionado déficit do Fundo."
A CNC aponta, por fim, que os objetivos já foram alcançados e o montante que agora é arrecadado com a contribuição é usado pela União para outros fins. A Consif também argumenta que a permanência da contribuição não se justifica porque a recomposição do fundo já foi realizada e o patrimônio líquido do FGTS voltou a ser positivo em 2008.
O governo enfrentou dificuldades, mas conseguiu manter a cobrança da multa adicional de 10% sobre o FGTS pago pelas empresas nos casos de demissão sem justa causa. Trata-se de contribuição que rende à União mais de 3 bilhões de reais por ano. Para os partidos de oposição, no entanto, o governo utiliza esse dinheiro para engordar o superávit primário e ajudar no cumprimento das metas. Na noite do dia 17 de setembro, deputados e senadores optaram por preservar o veto presidencial a um projeto que visava extinguir essa multa e chancelaram também a vontade do Executivo em outras seis matérias.
(Com Estadão Conteúdo)