O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Heranca Maldita dos Companheiros (1): mao-de-obra especializada

Existem muitos, inúmeros, incontáveis elementos para a nossa série "herança maldita dos companheiros", apropriada para um debate sobre políticas públicas e o papel do governo nesse quadro que se nos apresenta em ano eleitoral.
Comecemos por uma dificuldade prosaica, mas crucial, para o crescimento econômico e a produtividade do Brasil.
Em dez anos, o que foi feito para paliar um problema crucial da economia?
Paulo Roberto de Almeida

Falta de mão de obra especializada se agrava e atinge 91% das empresas

Companhias pesquisadas pela Fundação Dom Cabral apontaram os principais problemas enfrentados na hora de contratar profissionais para cargos específicos: há deficiência na formação básica, falta de visão global e de inglês fluente

12 de janeiro de 2014 | 2h 04

Renée Pereira - O Estado de S.Paulo
A criação de cargos cada vez mais específicos, o uso de equipamentos ultramodernos e a globalização dos negócios intensificaram o problema de mão de obra nas empresas. Uma pesquisa da Fundação Dom Cabral mostra que 91% das companhias pesquisadas têm dificuldade na contratação de profissionais, especialmente para vagas de compradores, técnicos, administradores, gerente de projetos e trabalhador manual.
A maioria delas reclamou da escassez de profissionais capacitados para funções específicas, falta de visão global dos candidatos e deficiência na formação básica, além da falta de fluência em inglês. Mas, sem saída, elas têm se desdobrado em estratégias para preencher as vagas. Além de caprichar no pacote de benefícios, montar ambiciosos planos de carreira e criar cursos específicos de treinamento, as empresas foram obrigadas a abrir mão de exigências, como experiência, pós-graduação e fluência em inglês.
Segundo a pesquisa, no nível técnico, quase 60% das companhias reduziram as exigências para contratação. No nível superior, a porcentagem é de 45,51%. Em 2010, quando a Dom Cabral fez a primeira pesquisa de carência de mão de obra, os porcentuais eram de 54% e 28%, respectivamente.
"A questão da mão de obra virou um grande gargalo no Brasil, sem previsão de melhora no curto e médio prazos", diz o professor Paulo Resende, responsável pela pesquisa com 167 grandes grupos que empregam mais de 1 milhão de pessoas e cujo faturamento responde por 23% do Produto Interno Bruto (PIB).
Hoje, diz o professor, a contratação de um profissional leva de três a cinco meses, nos níveis técnico e superior, respectivamente. Se considerar o tempo de treinamento, esse prazo sobe para entre seis e oito meses. Mesmo assim, algumas empresas têm sido obrigadas a buscar no exterior mão de obra para algumas áreas.
Baixo desemprego. O problema começou a ser escancarado por volta de 2009. Naquele ano, Resende fez uma pesquisa com 76 grandes empresas sobre intenção de retomada dos investimentos no pós-crise. O resultado que mais impressionou, porém, foi que 67% das companhias estavam com dificuldade para preencher o quadro.
De lá pra cá, muita coisa mudou. Com o índice de desemprego no menor nível da história - em 4,6% (novembro de 2013) -, a demanda tem superado a oferta de profissionais em algumas áreas, reclamam as empresas. Mais de 80% delas afirmam que a oferta de mão de obra no mercado está entre média e baixa.
A pesquisa mostra que uma das áreas mais afetadas pela escassez de profissionais é o agronegócio. Há alguns anos o setor cresce acima de dois dígitos, o que amplia a disputa. "Não temos mão de obra suficiente para atender à demanda", diz Neusa Duarte, gerente de Recursos Humanos da multinacional Cargill.
Responsável pela área de grãos, ela conta que, além do elevado crescimento da atividade, o setor está estruturado em áreas distantes dos grandes centros, sem infraestrutura adequada. "Isso afeta na atratividade de profissionais, especialmente dessa geração Y, que quer ter uma vida social agitada e estar plugada no mundo."
Por isso, uma das estratégias é dar prioridade à região onde está a unidade de negócios - a empresa está em 140 pontos do País. O problema é que nem sempre o pessoal está preparado ou tem curso superior. Em alguns casos, a empresa contrata profissionais formados em outras áreas, e vai moldando de acordo com as necessidades.
Quando a busca por mão de obra local não tem sucesso, a solução é trabalhar com um programa de rodízio. "O profissional contratado sabe que vai ficar numa cidade por um determinado período, aprender, ganhar estofo e depois ir para uma área mais nobre", afirma Neusa. Mas a tarefa não é fácil. Além da disputa com as concorrentes, a mão de obra enfrenta o assédio do setor financeiro. Engenheiros e agrônomos estão na mira dos bancos.

Denuncias de Tuma Jr.: por que o silencio das autoridades? - PercivalPuggina

Como é frequente, devo este alerta e este post a meu amigo Orlando Tambosi.
Paulo Roberto de Almeida
Artigo de Percival Puggina, publicado hoje (12/01/2014) no jornal Zero Hora e disponível em seu blog:

Carta às Autoridades Brasileiras 
Percival Puggina
Zero Hora, 12/01/2014

Excelências. Li, de capa a capa, o volumoso livro de Romeu Tuma Júnior que leva o sugestivo título "Assassinato de reputações". A obra ganhou uma espécie de lançamento nacional através da revista Veja, no início de dezembro último, e consta entre as mais vendidas no país. Presumo, por isso, que milhares de cidadãos a estejam lendo. Assim como eu, hão de estar perplexos e alarmados com as denúncias que faz. 

É na condição de cidadão que redijo esta carta. Parece-me conveniente fazê-lo assim, aberta, para tornar pública a inquietação da maioria dos leitores que já percorreram as exaustivas páginas desse livro. Dirijo-a às autoridades porque são várias as que podem agir neste caso. Não alinharei, aqui, as acusações e denúncias descritas em "Assassinato de reputações". De um lado porque muito pouco sei sobre o autor e, como simples cidadão, não tenho como averiguar a autenticidade do que dele se diz e do que ele relata. De outro, porque a honra alheia não encontra em mim alguém disposto a assassiná-la. A prudência exige que sobre ela só se emita juízo público negativo após sentença transitada em julgado. 

No entanto... milhares estão lendo esse livro. Como eu, se fazem perguntas civicamente inquietantes. Por que persiste, decorrido um mês inteiro de seu lançamento, o perturbador e coletivo silêncio de quantos deveriam agilizar-se para contestá-lo? Por que, mais grave ainda, as próprias instituições tão fortemente atacadas e apontadas como objeto de aparelhamento político-partidário não bradam em sua própria defesa? As denúncias são graves e, se verdadeiras, descortinam a gênesis de um Estado policial e totalitário. Há crimes noticiados no livro. E o de prevaricação não me parece o maior deles. 

Em meio ao inquietante silêncio de quem deveria falar, as solitárias reações que encontro ao explosivo texto são disparos laterais dirigidos ao seu autor, que se apresenta, na obra, como uma das vítimas dos assassinatos em série que menciona. Convenhamos que desacreditar o livro com uso do argumentum ad hominem, mediante ataque pessoal ao autor, não é satisfatório ou suficiente ante a torrente de denúncias que formula, relatando episódios que diz ter pessoalmente vivido. Aos cidadãos brasileiros interessa saber se o que está dito no livro é verdade ou não. E quais as providências adotadas por quem as deve adotar. Inclusive contra o autor se for o caso. Num Estado de Direito, os fatos descritos exigem investigação e cabal esclarecimento. Não podem ser varridos para baixo do espesso tapete do tempo. Não são, também, prevaricação, o silêncio de quem deveria falar e a omissão de quem deveria agir? 

Bem sei que a promiscuidade entre as funções de governo e as de Estado decorre do vício institucional que as vincula ao mesmo centro de poder. Nosso lamentável presidencialismo faz isso. É tentador, nele, confundir os espaços partidários (por isso provisórios) próprios do governo, com os espaços permanentes (e por isso não partidários) da administração pública e do Estado. No entanto, por mais que o modelo favoreça o aparelhamento das instituições, não é aceitável a ideia de que vivemos num país onde algumas delas servem para investigar ou não investigar, dependendo do lado para onde sopra o vento das más notícias. Gerar dossiês por encomenda política é coisa de Estado policial, totalitário.

A (in)Justica do Trabalho deveria ser extinta: comentario recebido ameu artigo sobre as Verdades Nao Convencionais

Recebi muitos comentários, vários deles diretos, a meu artigo Verdades Não Convencionais, publicados no Estadão de 8/01/2014, e reproduzido neste blog (aqui: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/01/verdades-nao-convencionais-artigo-p-r.html).
Quase todos de cumprimentos, elogiando a coragem e demonstrando concordância com meus argumentos, mas geralmente pouco elaborados.
Este que reproduzo abaixo, porém, toca num ponto fundamental, um dos maiores problemas dentre todas as nossas disfuncionalidades, e que está atrasando o Brasil e provocando perdas monumentais, para os empresários e sobretudo para a economia brasileira como um todo. 
A (in)Justiça do Trabalho é um monstro deformado, dominado pela alcatéia de"adevogados" semi-especializados, e que no seu funcionamento disforme, distorcido e deliberadamente enviesado contra os empregadores em geral, deve reduzir o PIB em vários pontos percentuais.
 Não sei calcular exatamente, mas estimo, por alto, que várias centenas de milhões de reais, talvez mesmo alguns bilhões, sejam perdidos, todos os anos, em causas "trabalhistas" que simplesmente transferem dinheiro legitimamente ganho por entes privados empregadores (empresários e famíllias individuais) para empregados que não mereceriam receber, se não fosse essa monstruosa máquina de transferir recursos de um lado para o outro, para esses "adevogados" famélicos e desonestos, sem falar em todo o dinheiro que o Estado (ou seja, todos os brasileiros) perde com todos os palácios do monstro e seus milhares de juízes e funcionários todos nababescamente (e ilegitamamente) remunerados.
Trata-se de uma ficção especialmente prejudicial ao Brasil e que deveria ser simplesmente EXTINTA.
Todos sabem que é uma hipocrisia e que em 90% dos casos o empregador será obrigado a pagar indevidamente, e também que os vampiros trabalhistas ficarão com 25% do ganho do empregado, que, na verdade, é apenas uma peça numa engrenagem de extorsão de dinheiro dos empregadores.
Todos sabem disso, mas ninguém faz nada para extinguir essa deformação anti-econômica e essa perversão social.
Por isso mesmo, ESTOU INICIANDO UM DEBATE SOBRE A EXTINÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO, em nosso país, que espero tenha resultados práticos.
Agradeço à minha correspondente pela oportunidade que me deu de externar alguns argumentos a mais sobre esse problema fundamental.
O Brasil, volto a dizer, não é um país tão atrasado materialmente (em relação a outros de maior renda e mais avançados tecnologicamente, quero dizer), quanto ele é um país fundamentalmente atrasado no plano mental. Ele ainda cultiva uma legislação trabalhista fascista, corporativa e anti-econômica e mantém esse monstro disforme que se chama Justiça do Trabalho.
Paulo Roberto de Almeida 

====================

Prezado Prof. Paulo Roberto;
Muito lúcido seu artigo "Verdades não convencionais".
Todos os ítens abordados são verdadeiros e importantes, mas para mim, o principal deles, é o referente à Justiça do Trabalho. Temos visto com frequencia citação de que a produtividade não tem acompanhado a média mundial; que o reajuste dos salários tem sido em descompasso com a produtividade; que um brasileiro produz nada menos do que 18% (?) de um norte-americano ou coreano; mas ninguém diz o motivo principal. Derivam para a melhoria da educação, mas na verdade, com uma dita "Justiça do Trabalho" existente, quem vai pensar ou exigir produtividade?
A estrutura desse monstro, é verdadeiramente disfuncional; a lógica e bom senso passam longe de suas decisões; os juízes que a exercem, a maioria deles, veste sua capinha de Robin Wood e desancam contra os empresários empregadores sem dó nem piedade. Tratam os empregadores como se fossem escravocratas, aproveitadores; jamais como provedores de riquezas e empregos.
Só para não me estender muito, diria que essa "Justiça" só serve mesmo para "fabricar" vagabundos, tratar de advogados incapazes de atuar em qualquer outra área, pois nesta, basta manter na memória dos computadores toda sorte de reivindicações e depois apenas mudar o nome do réu e submetê-las à justiça. O ganho é certo, pois a prova em contrário pertence ao empregador e é simplesmente impossível desmentí-las na totalidade!
O certo mesmo seria, como o senhor disse, simplesmente extirpá-la. Mas nesse País disfuncional, onde impera o assistencialismo e o trabalho é simplesmente tido como maldição (o certo é ganhar sem trabalhar), quando poderemos ver essa luz no fundo do túnel?
Mais uma vez, parabéns pela atualidade de suas observações.
Atenciosamente,
Sônia D. F. Mondadori

Brasil, sem defesas aereas ate 2018: os companheiros demoraram 10 anos para escolher...

E ainda escolheram o mais demorado a ficar pronto, não necessariamente o de melhor performance e autonomia, mas o mais barato e incorporando mais tecnologia a ser desenvolvida conjuntamente com os suecos. Em todo, se era para ficar com o mais poderoso, teria que ser com o russo Sukhoi SU-29, ou o americano F18, este de preferência, já que somos clientes de vários outros produtos americanos e se entende que, se o Brasil quiser ter qualquer importância regional ou mundial em questões estratégicas e de defesa, teria de ser em cooperação com os gringos imperialistas e não em oposição a eles, como comanda o atavismo anti-imperialista e o antiamericanismo infantil e doentio dos companheiros. Parece que as preferências dos decisores, até o início de 2013, se inclinavam justamente pelos caças "estado-unidenses", como gostam de dizer os companheiros, processo finalmente gorado por causa do episódio Snowden, o que é sumamente ridículo, pois justamente vai a contrário senso  do que se poderia esperar em matéria de cooperação tecnológica e de sistemas de informação com os "odiados", mas admirados (secretamente) gringos.
Os companheiros, por incompetência, ideologia e outras virtudes inerentes ao seu atraso mental, acabam fazendo tudo errado, e o mais incrível é que o debate nacional é tão pobre sobre essas questões que decisões erradas, sobre vários assuntos, são tomadas, todos os dias, na mais completa indiferença do que sejam os interesses nacionais de longo prazo.
Nunca antes, na história deste país, tivemos gente tão incompetente no comando da nação.
Paulo Roberto de Almeida

Brasil perde hegemonia aérea no continente

Leandro Mazzini
Opinião e Notícia, 12 de janeiro, 2014

Governo brasileiro está tão indefeso com seus F-5, AMX e os bagrinhos Super-tucanos que a aguerrida FAB deve ter virado motivo de piada dos colegas sul-americanos.

A Força Aérea Brasileira tinha prazo de voo no francês Mirage 2000 até dia 31 de dezembro do ano passado. Daí a presidente se apressar no anúncio, tardiamente, para evitar críticas dos militares e uma dor de cabeça com a imprensa.

O governo federal tenta esconder, em vão, a incompetência administrativa na demora da renovação dos aviões de caça. Há mais de 10 anos o processo se arrasta, e não foi com o anúncio da presidente Dilma Rousseff, sobre a compra dos caças suecos Grippen, da SAAB, que o problema acabou. Apenas decolou, literalmente.

Sem peças de reposição e muito obsoletos – com mais de 30 anos – desde então foram para o ferro-velho. Agora são substituídos por caças-tampão, redirecionados das bases aéreas gaúcha e carioca para Brasília. Com os fraquinhos F-5, os céus do Brasil, em especial do Centro-Oeste, ficarão desguarnecidos até 2018, quando começam a aterrissar os novíssimos Grippen.
Ocorre que os aposentados Mirage 2000 eram mais potentes, carregavam armamentos de vários calibres e operavam num raio de ação de 3.500 km, com potencial de ida e volta sem reabastecer. Era um avião de ataque.
Os F-5 são caças de interceptação e têm alcance de menos de um terço dos Mirage. Imagine-se a comparação: enquanto o Mirage chega à fronteira e já interceptou o invasor, o F-5 ainda está em processo de reabastecimento em voo.
Em suma, o governo brasileiro está indefeso com seus F-5, AMX e os bagrinhos Super-tucanos. E a aguerrida FAB deve ter virado motivo de piada dos colegas sul-americanos. Apenas três exemplos de países que possuem os mais potentes caças bombardeios do mundo: o Chile opera com 32 caças F-16 norte-americanos. Os pilotos do Peru defendem seu país com dezenas de caças Mirage 2000P. E a Venezuela, do presidente doidão Nicolas Maduro (ele diz que conversa com o falecido Hugo Chávez em forma de passarinho) possui os mais potentes do mundo, o russo Sukhoi SU 29 – que, aliás, era o sonho dos pilotos brasileiros.
Vai demorar, mas em quatro anos a FAB terá seus modernos caças e, principalmente como deseja, adaptados às condições de operação num país de dimensões continentais, em prol de sua soberania.
Até lá, a maior potência econômica sul-americana sobreviverá na utopia de que os países aliados o são por bondade.

Quem pode ser judeu? Pergunta complicada, resposta mais ainda - The Economist

Jewishness

Who is a Jew?

Competing answers to an increasingly pressing question

SLIGHT, bespectacled and friendly, Rabbi Itamar Tubul makes an unlikely frontiersman. But his colleague Ziv Maor, a spokesman for Israel’s chief rabbinate, argues that as head of the department of personal status and conversions, Rabbi Tubul plays as big a role in protecting the state as the Israel Defence Forces. On his desk in Jerusalem lie the testimony of a rabbi in Finland and a ketubah (marriage certificate) from Germany. Rabbi Tubul’s job is to determine whether the subjects of these documents, and many others, are Jewish.
Who is a Jew? This question is becoming ever more pressing for Jews around the world. It looks like a religious issue, but is bound up with history, Israeli politics and the rhythms of the diaspora. Addressing it means deciding whether assimilation is a mortal threat, as many Jews think, or a phenomenon to be accommodated. The struggle over the answer will shape Israel’s society, its relations with Jews elsewhere, and the size and complexion of the global Jewish community.
For Orthodox Jews like Rabbi Tubul, the solution is simple and ancient: you are a Jew if your mother is Jewish, or if your conversion to Judaism accorded with the Halacha, Jewish religious law. Gentiles might be surprised that for Jews by birth this traditional test makes no reference to faith or behaviour. Jews may be atheist (many are: apostasy is a venerable Jewish tradition) and still Jews. Joel Roth, a Conservative rabbi at the Jewish Theological Seminary in New York, likens this nativist criterion to that for American citizenship: Americans retain it regardless of their views on democracy or the constitution. Some strict rabbis even think that a child is not Jewish if born to a devout mother but from a donated gentile egg.
As some Jewish leaders privately acknowledge, this formula has uncomfortable racial undertones. Their response is that it causes no harm to others. Perhaps, but in the secular world it can be awkward. A few years ago, for example, state-funded Jewish schools in Britain were obliged to change their admissions codes after they were judged to have violated the Race Relations Act. And the halachic rules are increasingly troubling to Jews themselves.
For many Israelis, the rabbis are the problem. In a concession designed to widen support for the new state, when Israel was founded its secular rulers left matters of marriage, divorce and burial in the rabbinate’s hands. It decides who is eligible for these rites, as well as carrying them out—so would-be brides and grooms must demonstrate their Jewish credentials. Supplying the necessary documents and witnesses can be inconvenient and galling: people resent having to prove what they know to be true. Immigration has made the system seem not just irksome but unsustainable.
For example, the Ethiopian Jews who migrated to Israel in the 1980s-90s, risking their lives and losing relatives along the way, have faced persistent doubts as to whether they are properly Jewish in doctrine and descent. “I feel that I’m the Jew I want to be,” protests Fentahun Assefa-Dawit of Tebeka, an advocacy group for the 130,000-strong community. “I don’t want anyone to tell me how to be Jewish.” Western migrants, too, are sometimes doubted. The rabbinate considers some American rabbis too lax to vouch for their congregants and rejects their testimonies; it deems many overseas conversions inadequate. Many Israelis worry about the impact of such disdain on the diaspora’s political and financial backing for their state.
Israel’s time bomb
The biggest problem comes from the clashing consequences of two great ruptures in 20th-century history: the Holocaust and the collapse of the Soviet Union. Under Israel’s Law of Return, anyone who has, or whose spouse has, at least one Jewish grandparent can claim citizenship—a standard expressly modelled on the criteria for persecution under the Nazis’ Nuremberg laws of 1935. The Law of Return also recognises conversions that the rabbinate rejects. The wave of immigration from Russia in the past two decades means the discrepancy between these two standards has become glaring.
There are now several hundred thousand ex-Soviet Israelis who were Jewish enough to get in, but are not Jewish enough for the rabbis. Most are put off by the length and intellectual demands of the halachic conversion process (it doesn’t help that finished conversions are sometimes annulled for violations of Sabbath or other religious rules). Since Israel offers them no civil marriage ceremony, these Israelis and their partners go abroad to marry (as do some couples who prefer to avoid the synagogues). The population is beginning to divide into three parts: halachic Jews and Arabs, but also “others”. This tripartite split, says Yedidia Stern, a jurist at the Israel Democracy Institute, a think-tank, “is a time bomb”.
Some Israelis want to keep immigrants in the fold by making conversion easier. The response of liberals such as Ruth Calderon, a member of the Knesset for the centrist Yesh Atid party, is to try to prise apart synagogue and state. As a first step she has co-sponsored a bill that would make civil union an alternative to religious marriage. Ms Calderon, who has a PhD in the Talmud (a central Jewish text), wants to reclaim the oversight of Jewishness from the rabbis. Politicians like her, she says, are no longer willing to trade the right to pronounce on it for the votes of right-wingers in Israel’s fractured parliament.
The long-term choice for Israelis appears stark: between a different model of Jewishness or a different kind of Jewish state—in which intermarriage, hitherto regarded by Israelis as a diaspora woe, becomes, in a peculiar and unexpected way, a worry for them as well.
The fraying diaspora
In the diaspora, too, history has reframed the question of who counts as a Jew. In much of eastern Europe, communist strictures made worship perilous and observance lapsed. Even circumcision was discouraged. By the time the system imploded, lots of Jews had forgotten much of their heritage. Yet they still think of themselves as Jews.
In the West, freedom has opened its own gap between history and Halacha. The Pew Research Centre recently surveyed American Jews, who account for almost half the global total (see chart). The responses confirm that Jewishness is not thought to consist mostly in belief: 22% of American Jews described themselves as having no religion (swap “Christians” for “Jews” and the statistic becomes nonsensical). Even among the avowedly religious, two-thirds did not think it necessary to believe in God to qualify. To widespread communal alarm, Pew also found that intermarriage has rocketed and now predominates among the young. Excluding the Orthodox (about a tenth of the American total), 72% of Jews who wed since 2000 married “out”.
Hardly surprising, then, that some American rabbis are rethinking their definitions. Since 1983 the Reform movement has recognised the children of Jewish fathers—but, as for other progressive movements, blood is not enough. “Jewishness can’t only be an accident [of birth],” says Rabbi Rick Jacobs, president of the Union for Reform Judaism. For some, the extra ingredient is faith: ironically, whereas Orthodox notions of Jewishness ignore belief, more liberal denominations include it. For others, Jewishness is broader than either faith or lineage.
Rabbi Andy Bachman of Congregation Beth Elohim, a lively and ecumenical synagogue in Brooklyn, New York, argues that “an exclusive definition of Jews as a faith is a goyishe[gentile] construct”—an effort to fit the Jewish people into a recognisable gentile category. Attachment to Jewish history and culture also suffice, he thinks. In this dispensation, gentile spouses and converts are welcomed. The biblical story of Ruth, a gentile who took on her Israelite in-laws’ religion, is a favourite parable.
Rising intermarriage is also a fact of Jewish life in Australia, Canada, France and Britain, hosts of four of the world’s other main Jewish populations. Historically the British community has been smaller, quieter and more ossified than America’s; it has shrunk since the 1950s because of ageing and integration. But its mood is changing. Take JW3, a stylish new community centre in north London. For a Jewish institution in Britain, the building is “out, loud and proud”, as Raymond Simonson, its boss, puts it, with the word “Jewish” unusually conspicuous on the façade.
Mr Simonson eschews doctrinal disputes. JW3’s aim, he says, is to let visitors feel as Jewish as they want to be, regardless of their background: “We’re not asking you to unzip your flies or show us your mother’s ketubah.” One of its adult-education courses, designed in part for gentile spouses, is called “The Accidental Jew”. Cooking and the arts feature prominently. “I’m not saying you can sustain a whole Jewish identity by listening to Amy Winehouse or Neil Diamond,” Mr Simonson says, but they are one possible “entry point” to Jewishness, along with the Talmud, Israel and Jewish history.
Two futures, two more questions
Opposed though the innovators and hardliners seem, they share a basic aim: to ensure Jewish continuity. Mr Maor, of the rabbinate, says: “Our job is to fight assimilation, which has been the great enemy of Judaism for 2,000 years.” For liberals, the fraying of diaspora communities makes the old strictures anachronistic. For halachic sticklers, it shows that the liberal approach has already failed.
The ketubah: beautiful and powerful
These two attitudes imply very different futures. In one the Orthodox, with their strong retention and very high birth rates, will represent a rising share of the Jewish population (in Britain the haredim, or ultra-Orthodox, are thought to account for 40% of Jewish births). They will be increasingly segregated from the less observant, who will gradually drift away, meaning total numbers will stagnate or fall. The bonds between Israel and the diaspora could weaken. In the other scenario, Jews become more pluralistic and mutually tolerant, finding room for those whose Jewish identity wavers over the course of their lives, as these days identities tend to.
Thus following from “Who is a Jew?” is a second, equally charged question: in the future, how many Jews will there be? And a third: what is a Jew? For some, Jews are adherents of an ancient faith, with a quirky biological qualification. For others, they are something less formal: members of a dispersed civilisation distinguished by an ethical tradition and interrogatory cast of mind; by a legacy of persecution and tragic worldview (and the sense of humour that is its inverse); by certain tastes in food and culture.
For Yossie Beilin, a former Israeli minister, Jews are an extended family. He would like membership to depend on neither blood nor belief, but desire to belong. “It’s a sad joke”, he says, “that after the Holocaust we are telling people who feel Jewish that they are not.” He thinks this family should offer a purely secular conversion ceremony (“I do not want to disturb God, She has so many other things to do”). Many Jews don’t believe, he reasons, so why must converts? Mr Beilin is an outlier, but perhaps not for ever.

Incendiarios de bibliotecas, assassinos da cultura, inimigos da humanidade, tristeza infinita...

Primeiro li, estupefato, uma notinha muito sucinta, numa página de pequenos registro do exemplar corrente (11-17 Janeiro) da Economist, que assino e recebo todo sábado:

The acrid smell of burning books
A library belonging to an Orthodox Christian priest in Lebanon, containing over 80,000 books and manuscripts, was set ablaze after it was claimed it contained a pamphlet that was insulting to Islam and the Prophet Muhammad.


Fui buscar ávido pela notícia completa no site da revista, e fiquei ainda mais estarrecido. Comparto com todos vocês o meu horror absoluto por esses atos inomináveis, muito ligados, infelizmente, a correntes fundamentalistas de uma religião muito primitiva:

Erasmus

Religion and public policy

Religion, libraries and war

The acrid smell of burning books

LAST month, when a moderate Sunni Muslim figure, ex-minister Mohamed Chateh, was assassinated by a car bomb in Beirut, some Middle East-watchers detected a "Sarajevo moment" for Lebanon. In other words, a single violent event that could be a step on the road to a broader conflict across the region, or even beyond itjust as the assassination of Austria's Archduke Ferdinand in the Bosnian capital, a century ago, started a chain reaction that led to the first world war. An exaggerated comparison? It did at least seem true that the killing of Chateha critic of the Syrian regime and its Lebanese allies, the Shia fighters of Hezbollahon December 27th marked a new twist in the contest between Sunnis, Shias and their respective allies and sponsors, even though Syria and Hezbollah denied responsibility.
Anyway, in a rather different and more literal sense, you might say Lebanon had a Sarajevo moment last Friday night. In the north Lebanese city of Tripoli, a library belonging to an Orthodox Christian priest, containing over 80,000 books and manuscripts, was set ablaze and two-thirds of the contents were destroyed. What triggered the act of arson was the alleged "discovery...of a pamphlet inside one of the books at the library that was insulting to Islam and the prophet Muhammed," according to an AFP report. The library's steward, Father Ibrahim Sarrrouj, is a locally respected figure who enjoys good relations with the town's Muslim leaders. He had convinced them that he was nothing to do with the pamphlet, and had managed to negotiate the cancellation of a proposed demonstration against the library, which includes Islamic texts. But at least one fanatic with a match proved impossible to stop. Tension in Tripoli has been running high because the port is a stronghold of Sunni Islam with a minority of Alawites, practising the same faith as Syria's ruling elite. But Father Ibrahim has been one of the city's peacemakers and he has continued calling for restraint even after losing his treasures.
For people who care about ancient book collections that tell a rich cultural story, the act of arson immediately recalled an even greater assault on the written heritage of a cosmopolitan city: the destruction of the Sarajevo library in August 1992. The Moorish-revival structure, built in the 1890s, had housed more than 1.5m volumes, including at least 155,000 rare books and manuscripts. They were an important legacy of the region's Christian, Muslim and Jewish heritage. The great majority of the contents was destroyed when the building was pounded with incendiary grenades, but librarians and ordinary citizens braved sniper fire to form a human chain to pass books out of the smouldering building. One librarian was killed. Aleksandar Hemon, a Bosnian-born writer who now lives in America, believes the shelling of the library was ordered by his old literature professor, Nikola Koljevic, a Shakespeare scholar who horrified his students by joining the leadership of the hard-line Bosnian Serbs who were besieging the city. A troubled and conflicted figure, Koljevic committed suicide in 1997.
In all these ghastly situations, there are inspiring moments as well as horrifying ones. In Sarajevo, members of the library staffSerbs and Croats as well as Muslimsworked on through the siege to catalogue the material they had salvaged. A new Sarajevo library is supposed to open this year, although some of its employees have had to work without pay recently because inter-ethnic squabbles have left them without a budget.
In the Lebanese port, one mildly encouraging thing is that on Saturday, hundreds of local Muslims staged a demonstration against the act of arson committed the previous night, with banners like "Tripoli, peaceful town" and "This is contrary to the values of the prophet Muhammed". The enemies of co-existence (whether their target is present-day symbiosis or the evidence of it in centuries past) never have things entirely to themselves.

Eleicoes 2014: a castracao companheira do MP?

Seria já uma prévia, ou preparação, de como (não) vai agir o TSE sob o comando do menino de recados do partido companheiro?
Paulo Roberto de Almeida 

Eleições 2014

TSE tira poder do MP de pedir investigação de crime eleitoral

Promotores e procuradores terão, a partir de agora, de pedir autorização à Justiça Eleitoral para a instauração de inquérito policial eleitoral

Juiz José Antonio Dias Toffoli comparece ao julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal, em Brasília
Juiz José Antonio Dias Toffoli comparece ao julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal, em Brasília (Nelson Jr./SCO/STF)
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tirou do Ministério Público (MP) o poder de pedir a instauração de inquéritos policiais para investigação de crimes nas eleições deste ano. A partir de agora, promotores e procuradores terão de pedir autorização à Justiça Eleitoral para abrir uma apuração de suspeita de caixa dois, compra de votos, abuso de poder econômico, difamação e várias outras práticas.
Até a eleição de 2012, o TSE tinha entendimento diferente. As resoluções anteriores que regulavam as eleições diziam: "o inquérito policial eleitoral somente será instaurado mediante requisição do Ministério Público ou da Justiça Eleitoral". Para o pleito de 2014, os ministros mudaram o texto: "O inquérito policial eleitoral somente será instaurado mediante determinação da Justiça Eleitoral". Ou seja, o Ministério Público foi excluído.
O relator da nova norma, ministro José Antonio Dias Toffoli, que vai assumir o comando da Corte em maio, afirma que o tribunal mudou o entendimento por duas razões: processos que não tinham o aval inicial da Justiça estavam sendo anulados; outra razão, garantir maior transparência. "O Ministério Público terá de requerer à Justiça. O que não pode haver é uma investigação de gaveta, que ninguém sabe se existe ou não existe. Qualquer investigação, para se iniciar, tem que ter autorização da Justiça", diz. "A polícia e o Ministério Público não podem agir de ofício." 
O atual presidente do tribunal, ministro Marco Aurélio Mello, foi o único contrário à restrição na corte ao considerar que "o sistema para instauração de inquéritos não provém do Código Eleitoral, mas sim do Código Penal, não cabendo afastar essa competência da Polícia Federal e do Ministério Público."
O presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República, Alexandre Camanho, afirmou que a medida é inconstitucional. "Se o MP pode investigar, então ele pode requisitar à polícia que o faça. Isso também é parte da investigação", afirmou. A associação não descarta ingressar com medida judicial para derrubar a norma.

Nao existe inseguranca alimentar; existe incompetencia de governos - Roberto Rodrigues

O ex-ministro Roberto Rodrigues, um dos melhores, talvez o melhor do primeiro governo Lula (que não o merecia, pois tinha um outro ministério, dito do Desenvolvimento Agrário, dominado pelo MST, que era a própria anti-agricultura), escreve um artigo que leva por título "Segurança Alimentar", e vai publicado nesse jornaleco digital que é uma contradição nos termos: Carta Capital, mas é contra o capital.
A suposição é a de que existam preocupações com a segurança alimentar, no Brasil ou no mundo.
Pois bem, todo o seu artigo é uma prova cabal de que não existe insegurança alimentar: apenas falta de investimentos e incompetência na distribuição.
Qualquer governo decente, e minimamente competente, pode importar alimentos se por acaso houver alguma quebra de safra, por algum motivo qualquer.
Ninguém, repito NINGUÉM, está condenado a passar fome, hoje em dia, em qualquer canto do universo, por falta de alimento. Se existem pessoas sem comida, é porque não dispõem de recursos para comprar alimentos -- mas esse é um problema de renda, não da produção de alimentos -- ou porque o governo não consegue fazer chegar os alimentos em zonas recuadas.
Pois bem, conviria que ele trocasse o título do artigo, para algo como:
Como o Brasil e os EUA poderão alimentar toda a população excedentária do mundo nas próximas décadas.
É disso que se trata.
Paulo Roberto de Almeida 


Segurança alimentar
Por Roberto Rodrigues
Carta Capital, 06/01/2014

Produção Há uma série de reformas necessárias para aumentar a podutividade da agropecuária

Um dos temas mais debatidos no mundo inteiro é o da segurança alimentar. Todo dia cientistas, políticos, técnicos, empresários, estudiosos e curiosos se debruçam sobre a expectativa de que, em 2050, seremos 9 bilhões de habitantes no planeta, exigindo uma produção de alimentos 70% maior do que a atual para a fome não aumentar. Mas a demanda dos alimentos segue a crescer acima da oferta, seja por a renda per capita aumentar mais nos países onde se expande mais a população, seja por falta de políticas públicas globais ou nacionais em favor de maior produção, seja por adversidades climáticas nos países produtores, seja porque 2050 ainda está muito longe...

Ao pensar nisso, a OCDE e a FAO lançaram um sério estudo há pouco mais de um ano, avaliando o que acontecerá em 2020, "amanhã". E concluíram que até lá, isto é, em dez anos, a oferta global de alimentos tem de aumentar 20%. E que, para isso, o Brasil precisa incrementar sua oferta em 40%. Por três motivos.

O primeiro é a nossa excelente Tecnologia tropical: nos últimos 20 anos, a áreaplantada com grãos no País cresceu 40%, enquanto a produção aumentou 220%. Novas Tecnologias permitiram maior produtividade por hectare plantado. Hoje cultivamos 52 milhões de hectares com todos os grãos. Tivéssemos a mesma produtividade de 20 anos atrás, seriam necessários mais 66 milhões de hectares para colher a safra deste ano. Em outras palavras, foram preservados 66 milhões de hectares de florestas ou cerrados, e isso não é promessa ou sonho: está feito.

Mais ainda: se tivéssemos hoje a mesma produtividade de cana-de-açúcar do começo do Pro-Àlcool, precisaríamos de mais 6 milhões de hectares de canaviais, além dos 8 milhões hoje cultivados, para produzir a safra atual. Assim, só com grãos e cana preservamos 72 milhões de hectares, número idêntico à área total cultivada no Brasil com todas as culturas, e que representa apenas 8,5% do território nacional. Ademais, o etanol da cana emite apenas 12% do gás carbônico emitido pela gasolina, mitigando o aquecimento global.

Fica claro que nossa agricultura é altamente sustentável, e o mundo sabe disso.

E não só a agricultura. Nos últimos 20 anos, nossa produção de carnes explodiu: 90% em bovina, 238% em suína e 458% em aves, reduzindo a área de pastagem, que tem sido substituída por soja, cana e florestas plantadas. Temos 7 milhões de hectares de florestas plantadas. E, é sempre bom lembrar, 61% do nosso território é coberto com florestas nativas do tempo de Adão e Eva. AEuropa tem menos de 1%.

Outras Tecnologias têm sido incorporadas, como as do Plano ABC (agricultura de baixo carbono), lançado pelo governo brasileiro e que dará ainda maior sustentabilidade à atividade, com programas super importantes, entre eles a integração Lavoura--Pecuária-Floresta, o plantio direto, a recuperação de pastagens degradadas, a fixação biológica de nitrogênio ao solo, o plantio de mais florestas.

O segundo fator que justifica a expectativa da OCDE é a disponibilidade de terras. Além de a agricultura ocupar apenas 8,5% da área total do País, a pecuária toma outros 20%. Estudos indicam que ao menos mais 85 milhões de hectares servem para a agricultura, o que assombra nossos concorrentes de fora, pois já somos os maiores exportadores de açúcar, do complexo soja, de suco de laranja, de carne bovina e de frangos, e de café. Que dirá, pensam eles, se ocuparmos toda essa área vocacionada para o setor rural. E tratam de criar todas as dificuldades nas organizações mundiais de comércio, em que defendem subsídios e outras formas de proteção a seus produtores, inibindo a abertura comercial que nos permitiria crescer.

Não é para menos. Em 2002, as exportações do agro brasileiro somaram 25 bilhões de dólares. Dez anos depois, em 2012, chegaram a 96 bilhões. Em 2013, ultrapassaremos os 100 bilhões de dólares. Mais ainda: o saldo comercial do setor tem crescido sistematicamente e chega a 79 bilhões de dólares em 2012, enquanto o saldo total do País foi de 19 bilhões. Em 2013, o saldo agro deverá superar 85 bilhões, ante 2 bilhões do total. Isso significa que o agronegócio tem salvado a balança comercial, sistematicamente. Bom lembrar ainda que ele representa 23% do PIB e gera mais de um terço de todos os empregos formais.

Infelizmente, daqueles 87 milhões de hectares potencialmente agricultáveis, pouco mais de 15 milhões poderão ser hoje incorporados à área plantada. O resto está fechado à atividade por legislações existentes: são parques nacionais, estaduais e municipais, terras para indígenas, para quilombolas, reservas legais e áreas de preservação permanente, entre outras.

E, por último, o terceiro fator a justificar a expectativa da OCDE/FAO de crescimento de 40% na oferta de alimentos até 2020 é a alta qualidade de nossos produtores rurais. Jovens e bem preparados tecnicamente, eles usam instrumentos cada vez mais modernos de gestão comercial, financeira, fiscal e tributária, de recursos humanos e ambiental. Estão ligados em tempo real às informações de mercado ou de clima, tomando decisões acertadas sobre o que, como e quando produzir, levando o País a sucessivos recordes de produção.

E é também verdade que planos de governo bem estruturados no setor de crédito rural, na área de mecanização (o Moderfrota permitiu a recomposição da frota motomecanizada, completamente sucateada há pouco mais de dez anos) e os programas de suporte à agricultura familiar, têm sido relevantes nesses avanços.

Tudo isso nos leva à pergunta imediata: podemos então crescer os tais 40% imaginados?

Temos potencial para isso e até mais. Recente trabalho publicado pelo Departamento do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Deagro-Fiesp), feito em parceria coma MBAgro, o Outlook2023, mostra esse potencial.

Segundo o estudo, a área de grãos, incluindo soja,milho, algodão (base pluma), arroz, feijão e trigo, deve crescer 18%, de 52 milhões de hectares em 2013 para 61,2 milhões em 2023, enquanto a produção aumentará 30%. Isso mostra que a forte expansão será por ganhos de produtividade, que deve ter um crescimento médio de 10% no período, resultando na preservação de mais 6,3 milhões de hectares. Já as pastagens passam a ocupar uma área cada vez mais restrita, liberando para a agricultura um total de 4,9 milhões de hectares e chegando, em 2023, a 177 milhões de hectares. A área agrícola, portanto, crescerá essencialmente sobre as pastagens, exigindo da pecuária de corte umsalto em termos de produtividade para assegurar a oferta brasileira.

As exportações de grãos aumentarão 61% em volume, as do complexo sucroal-cooleiro crescerão 21% e as de café, 19%, até 2023. Já as exportações de carnes devem crescer 23%. Em suma, ofertar mais 40% é factível.

Naturalmente, isso vai depender de políticas públicas. Aliás, uma política para o desenvolvimento sustentável do agro está pronta no Mapa, construída nas Câmaras Setoriais daquele ministério, nas quais o público e o privado se somaram por vários anos. O problema é implantar esse plano, pois os instrumentos estão dispersos entre vários outros ministérios, agências e empresas públicas federais e estaduais.

Precisamos mesmoéde uma estratégia de Estado para o agronegócio, que considere a questão da logística e da inf raestrutu-ra, maior gargalo para o setor, e que começa a sair do papel com as concessões de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. Para ficar adequada, todavia, ao menos mais cinco anos serão necessários, o que significa ainda um longo tormento aos produtores das regiões mais distantes.

Outro tema importante é a política comercial. Cerca de 40% do comércio mundial de alimentos ocorre em acordos bilaterais ou áreas de livre comércio e o Brasil não tem avançado nisso. Há em andamento um projeto de acordo bilateral entre os Estados Unidos e aUnião Européia, para os quais vai uma terça parte de tudo que exportamos do agro. Se esse acordo acontecer, as tarifas entre eles diminuirão e fatalmente perderemos mercados. Temos de fazer acordos com eles e com outros grandes compradores, inclusive em busca de abertura comercial para exportarmos produtos com maior valor agregado e não apenas commodities.

Política de renda é também essencial, especialmente para os pequenos produtores. O seguro rural, existente desde 2003, cobre apenas 6% da área agricultada, insignificante. E fundamental avançar célere nesse assunto, assim como na modernização do crédito rural.

Legislações precisam ser reformadas, como a trabalhista, a ambiental, a tributária e fiscal, a de armazenagem, a de defesa sanitária e outras muitas que inibem saltos maiores do agro. Uma nova molécula de defensivos agrícolas demora até sete anos para ser aprovada, enquanto, nos países desenvolvidos, demora um ano ou pouco mais. Com isso, não avançamos mais no quesito sustentabilidade.


Em resumo, esse magnífico setor pode contribuir bastante para o progresso brasileiro, gerando empregos, renda e excedentes exportáveis. Mas para isso precisamos de uma estratégia ampla, que, uma vez montada, permitirá ao Brasil ser o campeão mundial da segurança alimentar, base indispensável para a conquista definitiva da paz universal.