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sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Paradoxos da mao-de-obra e do emprego - Alexandre Schwartsman

Paradoxos heterodoxos 
Alexandre Schwartsman
A Mão Visível, 15/10/2014

A economia não cresce; apesar disto o desemprego tem caído, atingindo 5% em agosto nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE, que correspondem a pouco mais de um quinto do emprego no país. Trata-se do menor registro para o mês desde que estas estatísticas começaram a ser coletadas, o que, aliás, tem sido verdade em todos os meses deste ano. Em que pesem questões específicas destas regiões, o resultado desafia o senso comum: como é possível a redução do desemprego em face da economia estagnada?

O resultado se torna menos paradoxal quando examinamos o número mais de perto. Nessas regiões o emprego não cresceu; muito pelo contrário, caiu nos oito meses deste ano, registrando em agosto redução de 85 mil postos de trabalho na comparação com o mesmo mês do ano passado. Este comportamento é consistente com o que seria natural no caso de uma economia cujo crescimento deve ficar ao redor de zero.

Fica claro, portanto, que a evolução positiva do desemprego em 2014 não se deve ao desempenho favorável do emprego, mas sim a desenvolvimentos que afetam a oferta de trabalhadores.

Parte da história reflete a demografia. Há 10 anos a população em idade ativa (PIA) crescia perto de 2% ao ano; hoje o crescimento oscila de 1% a 1,5% ao ano. Isto, porém, não explica o aparente paradoxo: mesmo este ritmo mais modesto de crescimento da PIA supera por larga margem a expansão (negativa!) do emprego. Com mais pessoas chegando ao mercado de trabalho do que empregos sendo gerados, o natural seria observarmos desemprego crescente.

O que tem ocorrido, porém, é uma redução persistente da fração da PIA engajada no mercado de trabalho (a população economicamente ativa, PEA, ou força de trabalho), seja trabalhando, seja na busca por empregos. Entre 2003 e 2013 a PEA foi equivalente em média a 57% da PIA, proporção que hoje se reduziu para pouco menos de 56%.

Parece uma queda pequena, mas não é. Caso a PEA em agosto deste ano atingisse a mesma proporção registrada um ano antes, o total de pessoas engajadas no mercado de trabalho seria algo da ordem de 24,8 milhões; na prática, porém, apenas 24,3 milhões de pessoas participavam dele, uma diferença de quase 500 mil pessoas.

Vista por outra ótica, entre agosto de 2013 e agosto de 2014 a força de trabalho encolheu em 160 mil pessoas, quase o dobro da queda do emprego no período. É este desenvolvimento que explica a redução do desemprego apesar da produção e do emprego estagnados.

Não é claro o que causou este fenômeno. Ele parece mais pronunciado na faixa etária de 18 a 24 anos e pode resultar tanto da busca por maior qualificação por parte dos jovens (que teriam se afastado do mercado para estudar), como do aumento da “geração nem-nem” (nem trabalha, nem estuda). Muita gente boa tem queimado as pestanas para entender o que ocorre.

Embora o debate sobre as origens do fenômeno seja de interesse por si só, prefiro destacar aqui uma conclusão que me parece pouco notada. Se há menos gente disposta a trabalhar (por bons ou maus motivos), nossa própria capacidade produtiva deve ser menor do que imaginávamos.

Em números, com a produtividade crescendo ao redor de 0,7% ao ano, enquanto a força de trabalho encolhe em magnitude parecida, nossa capacidade atual de crescimento não deve ser muito diferente de zero. Isto, contudo, não deve ser persistente, já que em algum momento a força de trabalho voltará a crescer em linha com a população.


Ainda assim, este desenvolvimento parece explicar a resistência da inflação mesmo em face do baixíssimo crescimento deste ano, o que ajuda a esclarecer mais uma aparente anormalidade brasileira. Trata-se apenas de mais uma das contas que pagamos pelo descaso com a produtividade em nome da “nova matriz macroeconômica”, cuja obsessão com a expansão do consumo e com o microgerenciamento da economia minou as bases do crescimento sustentado.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Heranca Maldita dos Companheiros (1): mao-de-obra especializada

Existem muitos, inúmeros, incontáveis elementos para a nossa série "herança maldita dos companheiros", apropriada para um debate sobre políticas públicas e o papel do governo nesse quadro que se nos apresenta em ano eleitoral.
Comecemos por uma dificuldade prosaica, mas crucial, para o crescimento econômico e a produtividade do Brasil.
Em dez anos, o que foi feito para paliar um problema crucial da economia?
Paulo Roberto de Almeida

Falta de mão de obra especializada se agrava e atinge 91% das empresas

Companhias pesquisadas pela Fundação Dom Cabral apontaram os principais problemas enfrentados na hora de contratar profissionais para cargos específicos: há deficiência na formação básica, falta de visão global e de inglês fluente

12 de janeiro de 2014 | 2h 04

Renée Pereira - O Estado de S.Paulo
A criação de cargos cada vez mais específicos, o uso de equipamentos ultramodernos e a globalização dos negócios intensificaram o problema de mão de obra nas empresas. Uma pesquisa da Fundação Dom Cabral mostra que 91% das companhias pesquisadas têm dificuldade na contratação de profissionais, especialmente para vagas de compradores, técnicos, administradores, gerente de projetos e trabalhador manual.
A maioria delas reclamou da escassez de profissionais capacitados para funções específicas, falta de visão global dos candidatos e deficiência na formação básica, além da falta de fluência em inglês. Mas, sem saída, elas têm se desdobrado em estratégias para preencher as vagas. Além de caprichar no pacote de benefícios, montar ambiciosos planos de carreira e criar cursos específicos de treinamento, as empresas foram obrigadas a abrir mão de exigências, como experiência, pós-graduação e fluência em inglês.
Segundo a pesquisa, no nível técnico, quase 60% das companhias reduziram as exigências para contratação. No nível superior, a porcentagem é de 45,51%. Em 2010, quando a Dom Cabral fez a primeira pesquisa de carência de mão de obra, os porcentuais eram de 54% e 28%, respectivamente.
"A questão da mão de obra virou um grande gargalo no Brasil, sem previsão de melhora no curto e médio prazos", diz o professor Paulo Resende, responsável pela pesquisa com 167 grandes grupos que empregam mais de 1 milhão de pessoas e cujo faturamento responde por 23% do Produto Interno Bruto (PIB).
Hoje, diz o professor, a contratação de um profissional leva de três a cinco meses, nos níveis técnico e superior, respectivamente. Se considerar o tempo de treinamento, esse prazo sobe para entre seis e oito meses. Mesmo assim, algumas empresas têm sido obrigadas a buscar no exterior mão de obra para algumas áreas.
Baixo desemprego. O problema começou a ser escancarado por volta de 2009. Naquele ano, Resende fez uma pesquisa com 76 grandes empresas sobre intenção de retomada dos investimentos no pós-crise. O resultado que mais impressionou, porém, foi que 67% das companhias estavam com dificuldade para preencher o quadro.
De lá pra cá, muita coisa mudou. Com o índice de desemprego no menor nível da história - em 4,6% (novembro de 2013) -, a demanda tem superado a oferta de profissionais em algumas áreas, reclamam as empresas. Mais de 80% delas afirmam que a oferta de mão de obra no mercado está entre média e baixa.
A pesquisa mostra que uma das áreas mais afetadas pela escassez de profissionais é o agronegócio. Há alguns anos o setor cresce acima de dois dígitos, o que amplia a disputa. "Não temos mão de obra suficiente para atender à demanda", diz Neusa Duarte, gerente de Recursos Humanos da multinacional Cargill.
Responsável pela área de grãos, ela conta que, além do elevado crescimento da atividade, o setor está estruturado em áreas distantes dos grandes centros, sem infraestrutura adequada. "Isso afeta na atratividade de profissionais, especialmente dessa geração Y, que quer ter uma vida social agitada e estar plugada no mundo."
Por isso, uma das estratégias é dar prioridade à região onde está a unidade de negócios - a empresa está em 140 pontos do País. O problema é que nem sempre o pessoal está preparado ou tem curso superior. Em alguns casos, a empresa contrata profissionais formados em outras áreas, e vai moldando de acordo com as necessidades.
Quando a busca por mão de obra local não tem sucesso, a solução é trabalhar com um programa de rodízio. "O profissional contratado sabe que vai ficar numa cidade por um determinado período, aprender, ganhar estofo e depois ir para uma área mais nobre", afirma Neusa. Mas a tarefa não é fácil. Além da disputa com as concorrentes, a mão de obra enfrenta o assédio do setor financeiro. Engenheiros e agrônomos estão na mira dos bancos.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Mao-de-obra estrangeira: Brasil ainda paranoico e atrasado (BBC)

Da BBC, via coluna diária de Cesar Maia:

BRASIL PRECISA DE MÃO DE OBRA QUALIFICADA, MAS NÃO ATUALIZA LEI DO REGIME MILITAR! SÓ ENTRA MÃO-DE-OBRA SEM QUALIFICAÇÃO DO HAITI E BOLÍVIA!


(BBC, 07) 1. Grandes levas de imigrantes haitianos têm entrado no Brasil pela fronteira do Acre. É maciça a entrada de estrangeiros no Brasil pela fronteira com a Bolívia. Mas a discussão sobre a necessidade de atrair mão de obra qualificada de estrangeiros para suprir a demanda do mercado, a criação de uma política migratória – que ainda não existe no Brasil – está parada.
        
2. Atualmente, a lei 6.815, de 1980, conhecida como Estatuto do Estrangeiro, estabelece as condições de entrada e permanência de estrangeiros no país. Criada durante o governo militar, a lei é considerada defasada. O estatuto afirma que a "segurança nacional" é considerada prioridade ao analisar a concessão de visto e permanência a um estrangeiro. Por isso, vistos não devem ser concedidos ao cidadão considerado "nocivo à ordem pública ou aos interesses nacionais".
        
3. A lei também proíbe que estrangeiros realizem atividades políticas (punidas com prisão e expulsão do país) e permite que o Ministério da Justiça impeça a realização de conferências, congressos e "atividades culturais e folclóricas" de estrangeiros, "sempre que considerar conveniente aos interesses nacionais". 
        
4. O projeto de lei que deveria reformular e atualizar o Estatuto, elaborado em 2005, tramita na Câmara dos Deputados desde 2009 e ainda não há previsão de quando irá para a votação no plenário. "Quanto mais o tema ganha relevância no cenário nacional, mais premente fica a modificação e aprovação desse projeto, então já estamos com alguns anos de atraso", afirmou o presidente do CNIg à BBC Brasil.
        
5. Um grupo composto por representantes do Ministério da Justiça, do Itamaraty, do Ministério do Trabalho e da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) prepara um novo plano de reformulação do Estatuto do Estrangeiro, que ainda não tem data para ser apresentado.