O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Companheiros da comunicacao pouco comunicativos: EBC quer segredo por100 anos!!!

O que será que a cúpula da EBC procura esconder da população? É mais uma tentativa golpista do Partido Totalitário:

A cúpula da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) - estatal vinculada à Secretaria de Comunicação da Presidência da República responsável por emissoras públicas de rádio e televisão - avalia transformar parte de seus documentos em material protegido por sigilo oficial por até 100 anos. Hoje, nenhum papel da empresa é mantido sob segredo de Estado.
Se for aprovada, a nova regra abrangerá as atas do conselho de administração - colegiado que pode definir critérios para firmar contratos sem licitação e para realização de auditorias - e do conselho curador da EBC, grupo que orienta e fiscaliza a linha editorial de veículos jornalísticos da TV Brasil, emissora pública criada no governo Luiz Inácio Lula da Silva, e da Agência Brasil, que produz conteúdo usado por diversos veículos de comunicação do País, além das rádios públicas.
A proposta está em um documento de dez páginas obtido pelo Estado, chamado “Norma de Tratamento da Informação Corporativa - NOR 904”. Ela foi incluída na pauta da reunião realizada na segunda-feira pela Diretoria Executiva da EBC - um grupo restrito, composto por sete diretores da estatal, incluindo o diretor-presidente da empresa, Nelson Breve. O encontro terminou, no entanto, sem uma decisão sobre a adoção do sigilo. 
A norma classifica a produção da EBC em três categorias. A “informação pública” seria aquela “sem restrição de acesso tanto para o público interno quanto para o público externo”. Já a “informação pessoal” inclui dados relativos “à intimidade, vida privada, honra e imagem da pessoa” e pode ficar em segredo por até 100 anos.
Por fim, “informação reservada” é a que “estabeleça vantagem competitiva, controle estratégico e/ou comprometa a atuação da EBC no mercado”. O sigilo para papéis desse terceiro grupo é de até cinco anos. 
A proposta quer imprimir o carimbo de “reservado” em atas de três conselhos da EBC (o curador, o de administração e o fiscal) e também nas produzidas pela diretoria executiva. A medida estaria de acordo com os “princípios” expostos no item cinco da NOR 904, segundo o qual “toda informação corporativa que confere vantagem competitiva, controle estratégico e/ou comprometa a atuação no mercado deve ser protegida pela EBC”.
O texto diz ainda que “não devem ser divulgadas as deliberações estratégicas para a empresa ou aquelas informações corporativas que, se divulgadas antes da concretização do negócio ou fato empresarial, expõem as estratégias comerciais da EBC”. 
A medida discutida pela Diretoria Executiva da EBC não tem paralelo, por exemplo, em outra TV pública, como a Cultura, vinculada ao Estado de São Paulo. A emissora informou ao Estado que não tem nenhum documento classificado como sigiloso nem há qualquer tipo de regra para classificar seus documentos internos.
Questionamentos. A proteção aos papéis da EBC não foi discutida com o conselho curador da empresa, composto por 22 integrantes, dos quais 15 são representantes da sociedade civil.
A presidente do grupo, Ana Luiza Fleck Saibro, consultora legislativa do Senado, disse que ficou sabendo do assunto ao ser questionada pela reportagem. “Estou muito surpresa”, afirmou. Reação semelhante tiveram outros conselheiros.
Apesar de não ter acesso ao documento, o conselheiro Cláudio Lembo, ex-governador de São Paulo, criticou a proposta. “Eu sou da transparência total. O que salva a vida pública é a transparência”, disse.
Para Eliane Gonçalves, representante dos funcionários da EBC no conselho curador, os dados da estatal devem ser públicos porque “se trata de empresa pública fazendo comunicação pública com dinheiro público”. (Estadão).

Decreto bolivariano: sovietes devem ir para o lixo da historia - Editorial Estadao

Decreto bolivariano merece lixo
Editorial do Estadão vai ao ponto: o decreto que cria os "sovietes" do lulismo só tem interesse dos atuais ocupantes do poder. Na verdade, é golpismo:

Os sofismas são distorções da realidade. Captam um aspecto e extrapolam o seu âmbito, começam com uma meia-verdade e terminam com uma mentira completa. E esse é o percurso que o governo federal tem seguido na defesa do Decreto 8.243. Cria ele novos conselhos? Não. Se apenas criasse conselhos, não haveria maiores problemas. Seria "apenas" uma burocratização a mais na já burocratizada administração pública federal. Mas não foi isso que provocou reações contrárias a ele no Congresso. O decreto cria algo de extremo interesse dos atuais ocupantes do Poder Executivo - uma "política de participação social" gerenciada por ele.
É algo mais profundo do que a mera existência de conselhos, e o seu perigo reside nas segundas intenções. Nada é dito explicitamente. E o governo trata os seus opositores como ignorantes, alegando que existem conselhos desde 1937. Só para lembrar: 1937 foi o ano em que o Brasil mergulhou na ditadura do Estado Novo. É assim que quer defender o decreto?
O governo sustenta que é piada de mau gosto da oposição chamar o Decreto 8.243 de bolivariano. Infelizmente não é. Alegar que são conselhos consultivos é fugir do problema, escorregando novamente para o sofisma. Chávez e seus "muchachos" não estrangularam a democracia em seus países dizendo que assim o fariam. Sufocaram a democracia com as mais belas palavras, "conferindo o máximo poder ao povo".
É verdade que o decreto não iguala Dilma a Chávez. O decreto está vigente e isso não nos transformou ipso facto numa Venezuela. Mas o decreto traz no seu bojo a mesma lógica, idêntica retórica. "A representação tem muitos defeitos", afirmou o ministro Gilberto Carvalho. É óbvio, mas não pode ser um ato do Executivo o meio legal para corrigir essa representação, e ainda por cima encarregando o próprio Executivo de coordenar essa nova representação, com a sua "política de participação social". Aí está o problema.
Na cortina de fumaça que é a defesa do decreto pelo Executivo, afirma-se que a oposição está criando um problema político. Não se trata de um "problema político", mas de um problema institucional, que logicamente afeta a vida política. A questão institucional, em sua essência, é a vontade do Executivo de "alterar" (se vai piorar ou melhorar é uma questão sobre a qual cada um terá sua opinião) a forma de participação social. Ora, não cabe a ele "reequilibrar" representação política nem muito menos proclamar-se gerente dessa nova "política de participação social".
Representantes do governo afirmam que estão dispostos a dar todas as explicações necessárias ao Congresso. Até o momento, tiveram inúmeras oportunidades para fazê-lo, mas o que deles só se ouviu foi mais do mesmo. Na prática, dizem: "Acreditem em nós, não faremos nenhum mal à democracia representativa com a nossa política de participação social". As instituições de um país são organizadas para diminuir a arbitrariedade pessoal, não para criar feudos e atribuí-los a "bonzinhos". A constitucionalidade de um decreto não depende das declarações de boa intenção dos seus criadores. Decorre do que está posto no papel, e o que lá está não é nada republicano.
Não é o medo da voz popular que leva o Congresso a se opor ao Decreto 8.243. É o receio de que alguns, sob a batuta do Executivo, se sirvam dele para monopolizar a voz da sociedade. Uma rendição dos deputados e senadores a este ato da Presidência significaria ferir o mandato que a sociedade brasileira lhes conferiu. É seu dever garantir a pluralidade de vozes da população, não apenas alguns corais ensaiados.
Criar e organizar os Conselhos pretendidos por projeto de lei - como sugerem alguns congressistas - não resolve o problema. Por lei ou por decreto, a ideia é ruim e perigosa, porque atropela as instituições ao dar ao Executivo o direito de organizar - ou melhor, domesticar - a "participação social". Por lei, o máximo que o Congresso poderá fazer é maquiar a ideia, dando-lhe ares de respeitabilidade e legitimidade. Por isso, a emenda poderá ser pior do que o soneto.

Tribuna de honra nos estadios? Onde foi parar essa instituição taoaristocratica? Onde esta Lula?

Já não se fazem mais tribunas de honra como antigamente...
Elas até existem, mas as pessoas que nelas deveriam estar têm medo das vaias dos torcedores; parece que elas deveriam ficar invisíveis, e insuladas, pelo menos enquanto os companheiros estão no poder.
Bem feito para o futebolista-mor da nossa política: ninguém mandou ser tão corrupto, tão mentiroso, tão fraudador da vontade popular, tão arrogante e tão pretensioso, sem fazer qualquer coisa para cumprir as pronessas assumidas em 2007. Bem feito...
Paulo Roberto de Almeida 
Cadê a tribuna de honra nos estádios, Lula?
Tadinho do tiranete, que tudo fez para trazer a Copa ao Brasil, e agora fica exilado em casa, vendo tudo pela televisão com Dona Marisa e seu rolo de macarrão. Nem ao Pelegão do Corintians ele foi. Ah, o poderoso tem medo de vaias? Vai, Lula, vai - assino embaixo do texto de Nelson Motta no jornal O Globo:


Os estádios estão lindos e cheios, os jogos de ótimo nível, com muitos gols e surpresas, as torcidas animadas e pacíficas, as ruas fervilhando de gringos e de alegria. Independentemente da performance da seleção brasileira, a Copa é um sucesso. Quem ama o futebol está feliz.

Assaltos, arrastões, tiroteios, roubos e furtos, achaques policiais, saidinhas de banco, sequestros-relâmpago — o habitual cotidiano urbano brasileiro — sumiram dos noticiários e, aparentemente, das ruas. Com o Congresso em recesso futebolístico, cessam temporariamente as negociatas vergonhosas, as tenebrosas transações políticas e as propostas indecentes que prejudicam o país. Quem ama o Brasil está feliz.

Todo mundo que ama futebol e já foi a um estádio sabe que nada se compara a ver um jogo ao vivo, no meio do calor da torcida. Mesmo com todos os fabulosos recursos da televisão, o espetáculo no estádio ainda é insuperável. Enquanto a câmera apenas segue a bola, da arquibancada se vê a totalidade do campo e a movimentação dos jogadores, as manobras táticas e as possibilidades de jogadas e lançamentos, que são parte importante da emoção do futebol.

Agora que se pode assistir ao jogo no estádio ouvindo rádio e conferindo no celular os replays e os detalhes da transmissão da televisão — e ainda comentando cada lance com os amigos, um dos maiores prazeres do futebol, pelas redes — é show de bola.

Quem não deve estar tão feliz é Lula, que trabalhou tanto pela Copa e ajudou o seu Corinthians a construir um estádio, que adora futebol, mas não vai assistir a nenhum jogo porque tem medo de ser vaiado, como nos Jogos Pan-Americanos de 2007, embora atribua a vaia a uma conspiração de César Maia, que teria até treinado milhares de militantes da prefeitura para vaiá-lo… rsrs.

Pobre Lula, que imaginou desfrutar da “sua” Copa na Tribuna de Honra, assistindo à vitória da seleção brasileira e ovacionado pela multidão, vendo televisão em São Bernardo com dona Marisa. Para quem adora futebol não pode haver pior castigo.

A vaidade vai vencer a paixão? O que é uma vaiazinha diante de um jogão? Vai, Lula, vai!

Se a internet tivesse sido inventada pelo governo brasileiro (nao ria, pois seria tragico) - Diogo Costa

Pausa para... rir um pouco, mas apenas sorrisos amarelos, pois muito do que jocosamente Diogo Costa imagina estaria espantosamente em vigor, graças à imaginação infinita dos nossos burocratas atentos, e de nossos reguladores fascistas.
Paulo Roberto de Almeida

Se a Internet tivesse sido criada pelo governo brasileiro
por 
Instituto Ludwig Von Mises Brasil, quinta-feira, 27 de março de 2014



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— Ainda haveria o catálogo da foto ao lado listando todos os emails do mundo;

— Cada website teria que observar as normas da ABNT;
— Conta no Facebook só poderia ser registrada com CPF e RG;
— Haveria cotas para conteúdo nacional no YouTube;
— Sua Senha de Acesso Universal (SAU) estaria seguramente protegida no cartório de sua cidade;
— A cada seis meses, a Folha Dirigida listaria novo concurso para vagas de Moderador de Redes Sociais;
— Comentários em blogs seriam aprovados pelo Ministério da Comunicação Informática;
— Spams implicariam multa de até 20 (vinte) salários mínimos;
— Os preços na Amazon já incluiriam imposto sobre lucro presumido;
— Cada email enviado teria que pagar uma pequena taxa aos Correios por "substituição eletrônica de correspondência";
— O Twitter teria que aumentar o número de caracteres para não "impor limites à expressividade do povo brasileiro";
— Os pobres receberiam um Vale-Wikipédia que daria acesso a até 10 artigos por mês;
— A Argentina não teria internet.

Diogo Costa é presidente do Instituto Ordem Livre e professor do curso de Relações Internacionais do Ibmec-MG. Trabalhou com pesquisa em políticas públicas para o Cato Institute e para a Atlas Economic Research Foundation em Washington DC. Seus artigos já apareceram em publicações diversas, como O Globo, Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo. Diogo é Bacharel em Direito pela Universidade Católica de Petrópolis e Mestre em Ciência Política pela Columbia University de Nova York.  Seu blog:http://www.capitalismoparaospobres.com

postado por Diogo Costa | 27/03/2014

Política externa brasileira, presente e futura - Paulo Roberto de Almeida


Política externa brasileira, presente e futura
Quando é que vamos parar de sustentar ditaduras miseráveis e regimes inviáveis, e nos relacionarmos normalmente com as maiores democracias de mercado, atendendo de fato ao que nos prescreve a Constituição?
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A diplomacia partidária do lulo-petismo

Toda e qualquer política pública apresenta aspectos positivos e outros menos positivos. Com as relações exteriores não deveria ser diferente. A política externa seguida nos últimos doze anos não foi exatamente aquela que o Itamaraty poderia ter concebido como diretriz própria, do contrário não teriam havido tantos editoriais críticos nos grandes jornais, levantando a questão do fim do consenso nacional em torno das opções externas adotadas pelo partido hegemônico nesse período. Os defensores da política externa do lulo-petismo acreditam que ela tenha sido legitimada unicamente em função das vitórias eleitorais em 2002, em 2006 e em 2010. O fato é que nunca houve um debate aprofundado, pré ou pós-eleitoral, em torno dessas opções, nem os eleitores seriam capazes de formular um julgamento claro sobre assuntos tão complexos como os que frequentam a agenda diplomática, apenas com base numa escolha genérica feita em torno de questões eminentemente sociais ou políticas que aparecem nas eleições.
Pode-se, portanto, questionar os rumos adotados pela política externa dos anos do lulo-petismo com base numa avaliação de suas intenções declaradas (e alguns de seus propósitos menos transparentes), tanto quanto sobre seus resultados efetivos. Parece evidente, aos olhos dos observadores mais atentos, que existe uma grande distância entre a velha (mas não superada) diplomacia conduzida pelo Itamaraty, tradicional no bom sentido da palavra, e a diplomacia do “nunca antes”, ou seja, a política externa partidária operada pelos companheiros, defensores de várias causas dúbias, muitas outras perdidas, ou que simplesmente se tornaram anacrônicas desde a queda do Muro de Berlim pelo menos (mas provavelmente desde antes também).
Em todo caso, cabe confrontar argumentos em torno de alternativas de política externa, preferencialmente em direção de uma que garanta rumos adequados ao país no plano internacional, já que a diplomacia adotada pelos companheiros nos últimos doze anos trouxe fundadas desconfianças de que não serve a um país como o Brasil, que pode ser várias coisas na economia e na política, menos bolivariano. Antes de falar do que poderia ser adequado para a política externa brasileira na próxima década, cabe começar pela simples identificação do quenão foi adequado nessa política, durante a última década. A partir daí talvez seja possível corrigir alguns dos erros, os desvios, os muitos equívocos, as deformações, enfim tudo aquilo que, antes dos companheiros chegarem ao poder, nunca tinha sido feito na área diplomática.
Se poderia começar, por exemplo, afastando qualquer retórica grandiloquente, dessas pelas quais se proclama, a altos brados, que se está defendendo a soberania nacional, lutando contra uma fantasmagórica dominação estrangeira, contra a submissão ao FMI, aos especuladores de Wall Street, aos neoliberais de Washington e tantas outras bobagens do gênero. Quem se enrola na bandeira da soberania, para enfrentar moinhos imaginários, é porque tem um sério problema psicológico, e não tem, no fundo, muita certeza de estar de fato defendendo o interesse nacional. O mais provável é que continue em campanha eleitoral e fique escondendo sua falta de imaginação com invectivas contra supostos inimigos da pátria, o que é, na verdade, uma insegurança tremenda sobre o que fazer, de fato, para defender os interesses nacionais.
Ainda recentemente, um desses iluminados do partido da soberania nacional voltou a agitar o fantasma de uma volta ao passado, referindo-se continuamente ao neoliberalismo, como se um país dirigista e estatizante como o Brasil tenha sido, algum dia, liberal. Não se sabe bem quais traidores da pátria andaram por aqui praticando as artes sempre perversas do neoliberalismo, que parece comprometido com as piores intenções possíveis, a do atraso nacional, por exemplo. Tudo isso revela muita falta de imaginação, ou falta do que falar, trazendo novamente à pauta o velho fantasma do neoliberalismo. Devia ser numa assembleia da UNE, essa organização que contribui enormemente, nos nossos dias, para o atraso mental do país.
Vamos ser diretos: a defensa dos interesses nacionais se faz com uma avaliação isenta, tecnicamente fundamentada, economicamente embasada, da agenda que cabe implementar na frente externa, sem arroubos, sem retórica vazia, sem grandes golpes de propaganda enganosa. Nos últimos dez ou doze anos, os companheiros no poder primeiro deblateraram contra quem os precedeu, inventando uma tal de herança maldita que só existiu por profunda desonestidade sub-intelectual, uma vez que a deterioração da situação econômica do Brasil, durante os meses da campanha eleitoral de 2002, só existiu porque os mercados temiam, justamente, os possíveis efeitos de uma política econômica esquizofrênica que os aprendizes de feitiçarias econômicas do partido dos companheiros tinham se encarregado de propagar durante os meses anteriores ao pleito presidencial.
Depois, eles se empenharam na implosão da Alca, o projeto americano de uma zona de livre comércio hemisférica, não porque tivessem conduzido brilhantes estudos técnicos de simulação econômica sobre os efeitos de um tal acordo para o Brasil, mas apenas porque ideologicamente eram contra tudo o que pudesse provir do gigante do norte. Em seu lugar eles esperavam maravilhas de um hipotético acordo entre a União Europeia e o Mercosul, e até chegaram a propor um acordo de livre comércio entre o bloco do Cone Sul e a China, como se esta fosse a solução para todos os problemas externos do Brasil e do Mercosul. Deve-se reconhecer que os companheiros conseguiram o seu intento, não exatamente o livre comércio com a União Europeia – uma ilusão de ingênuos e de amadores – e menos ainda tal tipo de arranjo com a China, mas obtiveram, de fato, a implosão da Alca, transformada em dragão da maldade imperialista. O que obtiveram em troca? Absolutamente nada.
Os companheiros também ficaram iludidos pela possibilidade de o Brasil ser admitido como membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, uma verdadeira obsessão para alguns, numa outra suprema demonstração de irrealismo e de total falta de prioridades para a agenda externa do Brasil. Em nome desse objetivo, o supremo mandatário saiu pelo mundo perdoando dívidas bilaterais de ditadores do petróleo e prometendo apoio político para os mesmos inimigos das liberdades e dos direitos humanos. Aliás, fazer amizade com ditaduras parece que se converteu numa mania dos companheiros, sempre dispostos a tratar com complacência os piores perpetradores de violações aos direitos humanos e atentados aos valores democráticos no mundo. Antigamente, o Brasil apenas se abstinha quando das discussões e votos a respeito dos casos mais politizados nessas matérias nas instâncias da ONU; a partir de 2003, o país passou a votar ativamente com os violadores e inimigos da democracia ao redor do mundo. Não se está inventando nada: basta conferir os votos envolvendo alguns desses países. Um político companheiro, embaixador numa de suas ditaduras preferidas, chegou a defender o fuzilamento de simples balseiros que tentavam fugir da ilha-prisão da qual os companheiros gostam tanto (a ponto de financiá-la fartamente, por diversos meios, nos dias que correm).
Um outro comportamento inadequado do ponto de vista dos interesses do Brasil, sob qualquer critério que se julgue, foi o abandono da agenda comercial do Mercosul, em favor de uma agenda política que poucos progressos trouxe ao bloco; ao contrário, fê-lo retroceder tremendamente nos últimos dez anos. Dizer que o Mercosul não é só econômico ou não é só comercial, e que ele deve também avançar nos terrenos político ou social, não constitui apenas uma impropriedade semântica, mas representa um crime contra o bloco. O Mercosul é, antes de mais nada, um tratado de integração comercial, e se fundamenta, basicamente, na abertura econômica recíproca, na liberalização comercial e na plena integração produtiva do bloco ao resto do mundo. É isso que está escrito em seu tratado constitutivo e é essa agenda pela qual os países deveriam se bater em suas políticas comerciais e industriais. Nada disso se fez durante a lula-década, ao contrário. Durante todo esse tempo, o bloco só recuou na liberalização interna e na abertura externa, voltando a ser o avestruz temeroso que os países do Cone Sul eram nos tempos pouco gloriosos do protecionismo comercial e da introversão econômica.
Finalmente, os rumos sensatos da diplomacia profissional foram bastante afetados pelo personalismo presidencial, e tudo passou a girar em torno da figura retumbante do guia genial dos povos, o grande líder das nações oprimidas pelo imperialismo, o homem que iria comandar uma cruzada contra o unilateralismo arrogante dos países hegemônicos, até mudar a relação de forças no mundo e inaugurar uma nova geografia do comércio internacional. Em nome desses objetivos grandiloquentes, várias iniciativas de grande envergadura foram tomadas, para as quais se mobilizaram mundos e fundos, e recursos humanos em abundância, sempre com o objetivo de exaltar a figura do chefe e seus discursos de sindicalista universal.
Não se esqueça que tudo começou pela tentativa de se implantar um Fome Zero Universal, quando sequer o brasileiro deu certo – logo abandonado e substituído pela assemblagem marota de todos os programas sociais existentes desde o governo anterior, apenas rotulando-os com um novo nome e aumentando o poder de fogo do curral eleitoral então criado. Sinceramente, não sei se deveria ser motivo de orgulho nacional o fato de ter mais de um quinto da população do país numa lista oficial de assistidos por esmolas do governo, como se isso fosse um sinal de normalidade no quadro da comunidade internacional. Com isso terminamos nossa listagem de inadequações e de equívocos diplomáticos cometidos no passado recente.

Uma diplomacia simplesmente sensata e adequada ao Brasil

Cabe agora refletir sobre o que significa ter uma política externa adequada para um país que pretende se inserir plenamente nos circuitos da economia globalizada, não retrair-se defensivamente porque perde competitividade e se mostra incapaz de concorrer com outros parceiros comerciais, por não lograr ganhos de produtividade que dependem de um diagnóstico correto dos problemas reais e uma prescrição conforme as necessidades sentidas. A primeira condição para superar o estado lastimável em que se encontra o Brasil é saber traçar uma avaliação adequada dos desafios a serem enfrentados e colocar-se corajosamente na condição de propositor de novas medidas proativas, não ficar atribuindo ao ambiente externo as razões de seu baixo desempenho no contexto internacional.
Quais são os principais problemas enfrentados atualmente pelo Brasil? Eles estão, na frente interna, no baixo crescimento, no recrudescimento da inflação, na infraestrutura medíocre, na nossa insuficiente produtividade, que por sua vez se reflete, no plano externo, na perda de competitividade da economia brasileira, na chamada reprimarização da pauta exportadora – que diminuiu bastante em sua composição – e na nossa dependência de alguns grandes compradores dos produtos primários de exportação. O Brasil se tornou hoje bem mais dependente da China do que ele jamais o foi, no passado, dos Estados Unidos, país com o qual sempre mantivemos uma interface bastante diversificada, feita das exportações as mais variadas, inclusive manufaturados, e que sempre nos abasteceu de know-how, tecnologia, financiamentos, cooperação educacional, e também filmes de Hollywood e, ultimamente, iPhones e iPads.
Aparentemente, mais até do que esses problemas de ordem econômica, o Brasil parece ter perdido uma mercadoria ainda preciosa na frente internacional, uma coisa que se chama credibilidade. É isso que dá ficar apoiando ditaduras comunistas, violadores de direitos humanos, agressores de valores democráticos e outros meliantes do mesmo naipe. Vejam bem: temos consagrados na nossa Constituição alguns princípios que nos são muito caros, pois lutamos muito, no passado, para assegurá-los na ordem política interna e na nossa expressão externa: o pleno respeito aos direitos humanos, aos valores democráticos, a condenação do terrorismo e a não intervenção nos assuntos internos de outros países. E o que aconteceu nos últimos dez ou doze anos? Segundo um “wikileaks” do Itamaraty, recentemente divulgado pelo grupo Anonymous, pedimos aos Estados Unidos que retirem Cuba da lista dos países que patrocinam terroristas. Somos aliados de alguns dos piores regimes do planeta, que violam constantemente nossos princípios e valores consagrados. Superamos a antiga hipocrisia – que parece ser normal quando alguns desses temas são politizados na agenda internacional – em favor de um apoio direto e solidário a ditaduras.
Mais grave ainda: nossa Constituição consagra o princípio de que qualquer acordo gravoso para o país tem de ser necessariamente aprovado pelo Congresso, para ser plenamente válido, depois de formalmente ratificado. Não é isso que tem ocorrido nos últimos tempos. Um outro princípio relevante da Constituição, que é a necessária aprovação do Senado para operações financeiras externas, também tem sido descurado em diversas ocasiões, por acaso envolvendo algumas das mesmas ditaduras. Como é possível que empréstimos de órgãos públicos possam ser classificados como secretos, e se eximirem, assim, do necessário escrutínio do Congresso? Não se trata nem mais de só fazer favores a ditaduras corruptas, mas de um desrespeito a todo o povo brasileiro – que alimenta esses empréstimos com os seus impostos – bem como ao próprio poder legislativo, que deveria monitorar as condições sob as quais são feitas esses generosos empréstimos a regimes muito pouco frequentáveis desse nosso planetinha redondo.
A credibilidade de nossa política externa também tem sido posta à prova nesses episódios de inadimplência negociadora: o país, que pertence a um bloco que outrora pretendia ser um mercado comum, não consegue montar uma oferta exportadora, e concessões nas importações, para as negociações entre o Mercosul e a União Europeia. O bloco tampouco consegue dar início a novos processos negociadores com parceiros promissores, e isso quando esses mesmos parceiros têm assinado acordos de livre comércio ou de liberalização comercial com vizinhos mais ousados, ou talvez mais inteligentes e mais abertos do que nós. Por que é que o Brasil insiste nessa política de avestruz, se fechando ao comércio internacional, atribuindo a outros as fontes de nossos velhos problemas internos e pretendendo voltar a construir uma economia apenas baseada no mercado interno, quando sabemos que esse tempo já passou? Será que os companheiros no poder pretendem voltar ao stalinismo industrial praticado em outras eras de nosso itinerário econômico?
Quando é que vamos parar de sustentar ditaduras miseráveis e regimes inviáveis, e nos relacionarmos normalmente com as maiores democracias de mercado, atendendo de fato ao que nos prescreve a Constituição? Quando é que vamos deixar a introversão de lado e nos integrarmos plenamente nos circuitos da globalização contemporânea, sem mais esses pruridos defensivos que só têm atuado para diminuir, cada vez mais, nossa participação no comércio internacional? Quando é, enfim, que vamos deixar de lado essa diplomacia partidária, extremamente enviesada do ponto de vista dos interesses nacionais, e voltar às boas tradições do Itamaraty, baseadas numa análise isenta e objetiva das realidades externas, num tratamento profissional, tecnicamente embasado, dos itens da agenda internacional, e numa implementação consensual de questões que deveriam nos integrar cada vez mais ao mundo, não colocar-nos à margem, e por vias obscuras, da grande integração global que se processa sob nossos olhos mas com pouca participação do Brasil?


Está na hora de retificar os rumos e de realmente adotar uma política externa que seja consentânea, adequada e condizente com o que o Brasil passou a ser depois do Plano Real: uma democracia, ainda que com muitas falhas, fundada numa economia de mercado, e que deve procurar defender sua estabilidade interna e sua plena integração ao mundo contemporâneo. O Itamaraty sabe como fazer, já fez antes, mas é preciso deixá-lo voltar a fazer.

Surrealismo legislativo brasileiro: motoboy classificado como atividade perigosa

O absurdo chegou ao limite do absurdo em matéria legal, abrindo amplo caminho para novos conflitos, pendências, descaminhos e desvios de recursos, fazendo a alegria de "adevogados" trabalhistas e todo o aparato dessa entidade metafísica-inútil que é a Justiça do Trabalho.
O que é um "trabalhador em motocicleta"?
Qualquer um que se desloque nesse meio em seu trabalho, e possivelmente na ida e na vinda entre casa e trabalho, certo? E porque isso seria considerado perigoso?
Existe um risco inerente às motocicletas? Tanto quanto existe para a bicicleta, suponho, ou para o skate, patins, ou mesmo andar a pé. A menos que você circule em veículo blindado, de preferência militar, você está sempre sob risco no trânsito.
Porque "trabalhadores em motocicleta"  seriam mais vulneráveis do que outras categorias?
Porque eles circulam velozmente entre os carros e entre faixas de trânsito, certo?
E de quem é a responsabilidade por isso?
Do Estado, do governo, da empresa que os têm como empregados, dos demais usuários das faixas normais e constantes de trânsito? Parece que não.
O perigo advém da própria conduta dos motociclistas, certo?
E como então colocar isso numa lei, isentando os tais motociclistas de suas responsabilidades?
Se eles circulassem como todos os demais veículos, seus riscos seriam semelhantes aos demais, ou pelo menos minimizados, certo?
Essa lei é uma extrovenga e vai criar todo um capítulo novo de responsabilização alheia por falhas dos próprios motociclistas, assim como uma nova indústria de indenizações, sempre contra os empresários.
E por que os empresários do setor não se manifestam contrariamente à lei?
Porque provavelmente são pequenos capitalistas de serviços, explorando uma mina lucrativa, sem maiores responsabilidades quanto à conduta de seus "empregados".
O Brasil é um país surrealista, cada vez mais.
Está caminhando para a mediocridade de crescimento, e para o inferno da redistribuição de renda para os mais espertos e os aproveitadores.
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 20/06/2014

LEI N.º 12.997, DE 18 DE JUNHO DE 2014
(DOU de 20/06/2014 Seção I Pág. 04)

Acrescenta § 4º ao art. 193 da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, para considerar perigosas as atividades de trabalhador em motocicleta.

A P R E S I D E N T A D A R E P Ú B L I C A
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º O art. 193 da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, passa a vigorar acrescido do seguinte § 4º:
"Art. 193. .................................................................................
..........................................................................................................
§ 4º São também consideradas perigosas as atividades de trabalhador em motocicleta." (NR)
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.


Brasília, 18 de junho de 2014; 193º da Independência e 126º da República.

Capitalismo regulado (nos outros paises), no Brasil: ultra-regulado, restrito, cerceado...

Os reais beneficiados por um capitalismo regulado
Instituto Ludwing Von Mises Brasil, quinta-feira, 5 de junho de 2014

 

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Proteja seu bolso: governo em conluio com grandes empresários
A palavra "capitalismo" é utilizada de duas maneiras contraditórias.  Em algumas ocasiões, ela é utilizada com o intuito de denotar um mercado livre e desimpedido, ou laissez-faire.  Em outras ocasiões, ela é utilizada para denotar exatamente o arranjo atual em que vive o mundo, uma economia mista em que o governo intervém para privilegiar grandes empresas, criando monopólios e oligopólios. 
Logicamente, "capitalismo" não pode ser ambas as coisas.  Ou os mercados são totalmente livres, ou o governo os controla.  Não é possível ter os dois arranjos ao mesmo tempo.
Mas a verdade é que não há um mercado genuinamente livre em nenhum país do mundo.  As regulamentações governamentais, as tarifas, os subsídios, os decretos e as intromissões são generalizados, variando apenas o grau de intensidade com que ocorrem em cada país.  Sendo assim, o termo "capitalismo" denotando mercados livres não pode ser aplicado nos dias de hoje.
O que existe é um capitalismo mercantilista, um capitalismo de compadrio, um capitalismo regulado em prol dos regulados e dos reguladores, e contra os consumidores.
O que seria esse capitalismo mercantilista?  Trata-se de um sistema econômico no qual o mercado é artificialmente moldado por uma relação de conluio entre o governo, as grandes empresas e os grandes sindicatos.  Neste arranjo, o governo concede a seus empresários favoritos uma ampla variedade de privilégios que seriam simplesmente inalcançáveis em um genuíno livre mercado, como restrições de importação, subsídios diretos, tarifas protecionistas, empréstimos subsidiados feitos por bancos estatais, e agências reguladoras criadas com o intuito de cartelizar o mercado e impedir a entrada de concorrentes estrangeiros.  Em troca, as empresas beneficiadas lotam os cofres de políticos e reguladores com amplas doações de campanha e propinas.
O capitalismo mercantilista é tão antigo, que Adam Smith já o criticava — e combatia — no século XVIII.  Atualmente, não é necessário procurar muito para se encontrar exemplos deste tipo de capitalismo.  Basta olhar para o seu próprio país.  Todos os cartéis, oligopólios e monopólios que você conhece estão em setores altamente regulados pelo governo, como o setor bancário, o setor aéreo, o setor de transportes terrestres, o setor de transportes aquaviários, o setor de telecomunicações, o setor elétrico, o setor energético (petróleo, postos de gasolina), o setor minerador, o setor farmacêutico etc.
Quem cria cartéis, oligopólios e monopólios é e sempre foi o estado, seja por meio de regulamentações que impõem barreiras à entrada da concorrência no mercado (agências reguladoras), seja por meio de altos tributos que impedem que novas empresas surjam e cresçam, seja por meio da burocracia que desestimula todo o processo de formalização de empresas, seja por meio da imposição de altas tarifas de importação que encarecem artificialmente a aquisição de produtos importados (pense nas fabricantes de automóveis).
Um capitalismo de livre mercado é um sistema em que os lucros e os prejuízos são privados.  Já um capitalismo mercantilista é um arranjo em que os lucros são privados, mas os prejuízos são socializados.  Quando são bem-sucedidas, as empresas mantêm seus lucros; quando sofrem prejuízos, recorrem ao governo em busca ou de pacotes de ajuda ou de novas medidas que restrinjam a concorrência.  No extremo, pedem ao governo para jogar a fatura do prejuízo sobre os pagadores de impostos.
O papel das regulamentações em um capitalismo mercantilista não é corretamente entendido pelos intervencionistas.  Eles genuinamente acreditam que as regulamentações são uma forma de o governo subjugar e domar as grandes corporações.  Só que, historicamente, as regulamentações sempre foram uma maneira tida como lícita de determinadas empresas (geralmente as grandes e bem-conectadas politicamente) ganharem vantagens à custa de outras, geralmente menos influentes. 
Por exemplo, em teoria, agências reguladoras existem para proteger o consumidor.  Na prática, elas protegem as empresas dos consumidores.  Por um lado, as agências reguladoras estipulam preços e especificam os serviços que as empresas reguladas devem ofertar.  Por outro, elas protegem as empresas reguladas ao restringir a entrada de novas empresas neste mercado.  No final, agências reguladoras nada mais são do que um aparato burocrático que tem a missão de cartelizar os setores regulados — formados pelas empresas favoritas do governo —, determinando quem pode e quem não pode entrar no mercado, e especificando quais serviços as empresas escolhidas podem ou não ofertar, impedindo desta maneira que haja qualquer "perigo" de livre concorrência.
Em seu cerne, a regulação é anti-livre iniciativa, anti-livre mercado e anti-concorrência.  A regulação não se baseia nas preferências dos consumidores e nem nos valores subjetivos dos consumidores em relação aos bens e serviços ofertados.  Ao contrário, ela faz com que as empresas ajam como se fossem ofertantes monopolistas, de modo que os preços passam a ser determinados pelos custos de produção das empresas e não pela preferência dos consumidores. 
Mas isso é apenas o primeiro passo: uma empresa regulada pode encontrar várias maneiras de fazer as regulações funcionarem em proveito próprio e contra os interesses dos consumidores. 
Por exemplo, não é incomum que grandes empresas façam lobby para criar regulamentações complicadas e onerosas sobre seu próprio setor.  Por que elas fazem isso?  Para dificultar uma potencial concorrência de empresas novas, pequenas e com pouco capital.  Empresas grandes e já estabelecidas têm mais capacidade e mais recursos para atender regulações minuciosas e onerosas.  Empresas pequenas, que querem entrar naquele mercado mas que ainda não possuem muitos recursos financeiros, não têm essa capacidade.  Empresas grandes podem contratar lobistas (ou podem simplesmente subornar políticos) para elaborar padrões de regulação que elas já atendem ou que podem facilmente atender, mas que são impossíveis de serem atendidos por empresas pequenas e recém-criadas. 
O livro "The Big Ripoff: How Big Business and Big Government Steal Your Money", de Timothy Carney, explica em detalhes como a própria Phillip Morris estimulou a "guerra contra o tabaco" para se beneficiar, como a própria General Motors agitou pela aprovação de rígidas legislações ambientalistas nos EUA (cujas restrições mais rígidas afetariam a concorrência), e como a poderosa megacorporação Archer Daniels Midland se beneficia dos subsídios para o etanol (algo adorado pelos ambientalistas).
O apoio das grandes empresas às regulamentações criadas pelos governos não apenas não é algo raro, como, na realidade, sempre foi a norma.
Caso ainda não esteja convencido, apenas faça a si mesmo a seguinte pergunta: Qual destas tem uma maior probabilidade de ser afetada por vigorosas regulamentações: grandes corporações com boas conexões políticas e com enormes departamentos jurídicos e contábeis, ou micro e pequenas empresas ainda incipientes e em processo de formalização? 
Regulamentações aniquilam a concorrência — e as empresas já estabelecidas adoram que seja assim.
Este arranjo de economia mista é também, como já explicado, ótimo para os governos.  Políticos e burocratas adquirem poderes sobre as empresas e, com tais poderes, garantem que seus cofres estejam sempre cheios.  Políticos ganham generosas doações de campanha e reguladores ganham fartas propinas.  Ambas essas contribuições são feitas pelas grandes empresas e pelos grandes sindicatos em troca da promessa de novas regulamentações que irão lhes favorecer e afetar a concorrência.
Trata-se de uma mistura de socialismo em um arranjo basicamente capitalista, uma mistura suficiente para manter fluidas as receitas do governo e garantir a continuidade dos assistencialismos sociais e corporativos.  A porção capitalista dessa economia mista possibilita um confortável estilo de vida para políticos e para milhões de funcionários públicos.
Defensores das regulações não percebem que elas são essencialmente uma forma de controle estatal.  É por isso que todos os partidos políticos atuais endossam agências reguladoras e todo o seu aparato burocrático.  Afinal, qual político não gostaria de comandar amplos setores da economia? 
Em vez de proteger os inocentes e incautos, regulações estimulam os escroques e incentivam as grandes empresas a manipular o sistema com o intuito de aumentar sua própria fatia de mercado e seus lucros.  Como sempre ocorre com todas as interferências governamentais nas questões econômicas e sociais, a regulação gera o efeito exatamente oposto do seu proclamado objetivo.  E o pior: em um esforço para se tentar corrigir as inevitáveis consequências desastrosas das regulações, mais e mais regulações vão sendo criadas, levando a um controle estatal da economia cada vez mais paralisante.
Já passou da hora de a população entender a diferença entre livre mercado, que se baseia na liberdade e na concorrência, e capitalismo mercantilista, que se baseia em privilégios concedidos pelo estado.
A conclusão é que os socialistas se reinventaram, trocaram seu rótulo para social-democratas, deixaram de lado sua ânsia de estatizar diretamente os meios de produção e optaram por um mais suave modelo fascista, no qual estado e grandes empresas atuam em conluio para se beneficiar mutuamente e prejudicar o cidadão, que tem de aceitar serviços ruins e caros, pois não há mais livre mercado.  Exatamente o intuito original dos socialistas.
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Participaram deste artigo:
Hans F. Sennholz  (1922-2007) foi o primeiro aluno Ph.D de Mises nos Estados Unidos.  Ele lecionou economia no Grove City College, de 1956 a 1992, tendo sido contratado assim que chegou.  Após ter se aposentado, tornou-se presidente da Foundation for Economic Education, 1992-1997.  Foi um scholar adjunto do Mises Institute e, em outubro de 2004, ganhou prêmio Gary G. Schlarbaum por sua defesa vitalícia da liberdade.
Mark Borkowski é o presidente da corretora Mercantile Mergers & Acquisitions Corp., sediada em Toronto.
Leandro Roque é o editor e tradutor do site do  Instituto Ludwig von Mises Brasil.