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quarta-feira, 2 de novembro de 2016

60 Anos da RBPI (1): preparando o seminario de 7/11 - Paulo Roberto de Almeida

Pouco mais de 2 anos atrás, no quadro das comemorações dos 60 anos do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais, fundado no Rio de Janeiro em 1954, eu comecei a elaborar uma série de textos sobre esse mais de meio século decorrido desde sua criação e os tempos atuais, passando pela criação da Revista Brasileira de Política Internacional, em 1958, com vistas a comemorar devidamente esses dois empreendimentos meritórios tanto no plano puramente acadêmico, quanto no profissional, uma vez que eles engajaram diplomatas e outros personagens públicos no debate e publicações em temas de relações internacionais e política externa do Brasil.
Este trabalho, que transcrevo abaixo, foi o primeiro da série, que ficou inédito na forma em que está, embora tenha sido aproveitado nos trabalhos subsequentes. Nas postagens seguintes vou reproduzir os três outros trabalhos preparados para a ocasião.
Como estamos organizando um seminário sobre esses eventos, no IRel-UnB, sob a coordenação do Professor Antonio Carlos Lessa, achei pertinente reproduzir o que fiz dois anos atrás, pois pode sempre servir de informação a muitos interessados na temática.


2722. “O Brasil e suas relações internacionais de 1954 a 2014: O que mudou em 60 anos? O que ficou? O papel do IBRI”, Hartford, 30 novembro 2014, 16 p. Nota sobre o Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (IBRI) e as relações internacionais do Brasil, entre 1954 e 2014: para (a) pequeno artigo para o Mundorama, (b) grande artigo para o Meridiano 47, e (c) uma gravação audiovisual sobre a transferência do IBRI do Rio de Janeiro para Brasília, e o salvamento da RBPI. Desmembrado para fins de publicação como artigo comemorativo dos 60 anos do IBRI; parte relativa ao IBRI e à RBPI integrada ao trabalho 2724; outras partes para reelaboração.



O Brasil e suas relações internacionais de 1954 a 2014:

O que mudou em 60 anos? O que ficou? O papel do IBRI

Paulo Roberto de Almeida
Artigo comemorativo dos 60 anos do IBRI

Sumário:
1. Introdução: a ordem mundial, tal como realmente existente
2. O Brasil e a América Latina em 1954: atrasados e dependentes da ajuda externa
3. O Brasil e a América do Sul em 2014: de fora dos circuitos internacionais?
4. O papel do IBRI e da RBPI: pioneiros no debate da política externa brasileira

1. Introdução: a ordem mundial, tal como realmente existente
Em 27 de janeiro de 1954, um pequeno grupo de intelectuais, de funcionários públicos e de profissionais liberais se reuniu no Palácio Itamaraty do Rio de Janeiro, sede do Ministério das Relações Exteriores desde o início da República, e tomou a decisão de criar a primeira instituição brasileira especificamente dedicada ao estudo da política internacional e de questões atinentes às relações exteriores do Brasil: o Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (IBRI). Ele foi definido, nos seus estatutos, como uma sociedade civil com finalidades culturais, com o objetivo de “realizar, promover e incentivar estudos sobre problemas internacionais, especialmente os de interesse para o Brasil”. Condizente com a sede que abrigava o conclave, o IBRI congregaria, ao longo de sua existência continuada, vários diplomatas engajados em suas atividades, assim como devotaria parte de seus esforços analíticos e das iniciativas empreendidas nos anos e décadas seguintes ao registro, à exposição, para um público mais vasto, e à discussão dos mais diversos temas vinculados à relações internacionais, bem como ao pensamento e à ação da diplomacia brasileira.
Uma dessas iniciativas concretizou-se quatro anos depois, sob a forma de uma publicação periódica, a Revista Brasileira de Política Internacional (RBPI), a mais antiga e a mais prestigiosa dos veículos especializados em temas internacionais no Brasil (n. 1: http://cafemundorama.files.wordpress.com/2013/10/rbpi_1958_1.pdf). Ambos, o IBRI e a RBPI, passaram por diferentes etapas em seus itinerários respectivos de mais de meio século, em duas fases bem caracterizadas: a do Rio de Janeiro, de 1954-58 até 1992, e a de Brasília, a partir de 1993 aos nossos dias. Um pouco de sua história, ao completar o IBRI seus primeiros 50 anos de vida, foi recapitulada por este mesmo autor na nota comemorativa “Instituto Brasileiro de Relações Internacionais: 50 anos de um grande empreendimento intelectual” (Revista Brasileira de Política Internacional, vol. 47, n. 2, julho-dezembro de 2004, p. 223-226; link: http://www.scielo.br/pdf/rbpi/v47n2/v47n2a08.pdf ).
Este pequeno ensaio não tem a intenção de refazer a história da instituição e a de seu principal veículo de divulgação nas mais de seis décadas decorridas desde as iniciativas pioneiras, mas buscará, preferencialmente, oferecer um panorama do Brasil e de suas relações internacionais nos dois anos extremos do período. Um sobrevoo geral permite constatar certas constâncias, ou seja, o a recorrência das mesmas questões ao longo desse itinerário, mas também muitas transformações, como parece inevitável, tanto no plano propriamente doméstico, quanto no da política internacional e da economia mundial. O Brasil e a América do Sul não parecem ter mudado significativamente de posição no contexto dos cenários geopolíticos que se sucederam historicamente: Guerra Fria, distensão global, crises e derrocada do comunismo, emergência de novos equilíbrios nos planos regional e mundial; a despeito dessas grandes alterações da ordem mundial, o Brasil, a América Latina, e a do Sul talvez não tenham um peso maior, atualmente, do que tinham no início do período em exame.
Não obstante, algumas estruturas econômicas e as formas de participação do país e da região nos assuntos da política mundial podem ter sido substancialmente alteradas, em alguns casos para um melhor posicionamento, em outros casos apenas confirmando o papel excêntrico, relativamente secundário, para não dizer marginal, assumido pelo Brasil e pela região no contexto mais vasto das relações internacionais e, sobretudo, no quadro dos grandes equilíbrios geopolíticos entre os atores determinantes da politica e da economia mundiais. Em termos mais exatos, o Brasil e a América do Sul contam pouco nos cenários decisivos da paz e da segurança internacionais, mas também no das grandes dinâmicas econômicas – tecnológicas e financeiras, sobretudo – que movimentam a interdependência global (e, na verdade, podem até ter perdido terreno para a Ásia nessa segunda área, já sendo pouco influente na primeira).
Esta última afirmação pode parecer depreciativa do papel ou da importância que se costuma emprestar – no mais da vezes auto-atribuída – ao Brasil nesses contextos, uma vez que tanto as elites políticas, quanto o establishment diplomático e a corporação militar têm por hábito ressaltar a relevância da participação do Brasil nesses cenários de variada significação para os grandes objetivos multilaterais da preservação da paz e da segurança internacionais, e para a promoção dos objetivos ainda mais decisivos relativos ao desenvolvimento econômico e ao progresso social dos povos e dos Estados membros da comunidade internacional. Se formos compulsar, porém, a obra mais recente que trata justamente dos grandes equilíbrios mundiais e dos problemas remanescentes para a consolidação de uma ordem internacional estável, pacífica e promotora dos direitos humanos, da segurança e da paz, escrita por um especialista reconhecido, teremos exatamente a confirmação do argumento defendido neste ensaio.
Com efeito, Henry Kissinger, em seu livro mais recente, World Order – (New York: Penguin Press, 2014), provavelmente o último, de tipo conceitual, de uma das mais longas carreiras de acadêmico, de conselheiro de segurança nacional, de diplomata e de ator de primeiro plano das relações exteriores dos Estados Unidos e das próprias relações internacionais, consultor de quase todos os presidentes americanos desde os anos 1950 –, não devota nem mesmo um capítulo, sequer uma mísera seção, à América Latina ou ao Brasil, nas dez grandes unidades da obra, todas elas dedicadas aos grandes atores ou aos problemas percebidos como relevantes para o estabelecimento ou a preservação de uma ordem que de fato não existe. Após uma introdução de tratamento conceitual da questão título, ele dedica dois capítulos à ordem europeia surgida com a paz de Westfália e o sistema de balanço de poder daí resultante, um ao mundo islâmico e às desordens do Oriente Próximo, outro voltado exclusivamente para as relações entre os Estados Unidos e o Irã, dois outros sobre a Ásia (sua multiplicidade e a emergência de uma ordem “asiática”), dois capítulos inteiros sobre a diplomacia dos Estados Unidos (a ideia de uma ordem internacional na tradição wilsoniana e o seu papel atual como “superpotência ambivalente”) e, finalmente, dois capítulos finais voltados para questões tecnológicas e de informação e de proliferação, e sobre a evolução provável de uma ordem mundial ainda largamente indefinida.
Para ser mais preciso, a América Latina não aparece sequer no índice remissivo do livro, embora nele exista a entrada western hemisphere. O Brasil só é mencionado duas vezes, ambas en passant e de maneira irrelevante: a primeira para falar sobre o impacto mundial das revoluções europeias de 1848, a segunda na companhia da Índia (que recebe tratamento mais amplo nos capítulos asiáticos da obra) como exemplo de nações emergentes. Esta é, portanto, uma abordagem realista, a despeito de negativa para a autoestima de alguns, do cenário mundial e das relações internacionais nos últimos cinco séculos, registrando apenas os atores que contam nos grandes equilíbrios mundiais. Não obstante a marginalidade relativa do Brasil e do continente para essa ordem mundial, cabe examinar, para fins deste pequeno ensaio rememorativo, o que era o Brasil e sua posição no sistema internacional em 1954, como foi evoluindo sua presença e participação nas seis décadas decorridas desde então, e de como se apresenta hoje o país e sua região no cenário econômico e político mundiais.

2. O Brasil e a América Latina em 1954: atrasados e dependentes da ajuda externa
O conceito de América do Sul, embora fosse geograficamente válido para essa época, não tinha maior significado geopolítico e não constituía um espaço próprio de reflexão para o Brasil ou sua diplomacia no início dos anos 1950, embora o continente já fosse, em especial o Cone Sul, o foco principal de preocupações de segurança e, paradoxalmente, um espaço privilegiado de intercâmbios econômicos e de possível cooperação regional. A Argentina era, obviamente, o principal competidor nos exercícios – em geral, apenas virtuais – de equilíbrio de poder, assim como o principal parceiro nos intercâmbios comerciais regionais, desde o Império aliás. Os Estados Unidos já eram, desde essa época, o principal comprador do primeiro produto brasileiro de exportação, o café, mas a Argentina despontava como um importante fornecedor de trigo, assim como constituía uma absorvedora natural das exportações brasileiras de baixo valor agregado. Em contrapartida, o conceito de América Latina experimentava um renascimento significativo – desde seu uso inicial no bojo das aventuras francesas no México – a partir da constituição da Comissão das Nações Unidas para a região, a Cepal, em 1948. É portanto com base nesse conceito que se pode examinar o contexto regional e internacional de seis décadas atrás.
Na primeira metade dos anos 1950, o clima vigente na região era de bastante frustração com o pouco empenho dos Estados Unidos nos projetos e aspirações latino-americanas de desenvolvimento econômico. No imediato pós-guerra, desde o encontro interamericano de Chapultepec – em janeiro de 1945, no México, à qual a Argentina não tinha sido convidada, em vista de sua neutralidade pró-nazista durante a guerra – até as conferências diplomáticas do Rio de Janeiro-Petrópolis e de Bogotá – que assistiram ao nascimento do TIAR, o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca, pai espiritual da OTAN, e da OEA, que substituiu a antiga União Pan-Americana – os latino-americanos ainda mantinham alguma esperança de que os EUA, findo o conflito mundial em duas grandes frentes, pudessem finalmente se voltar para o hemisfério de maneira mais atenciosa do que tinha sido o caso até então. Alguns países, não excluindo o Brasil, até pensaram que pudesse ser reproduzido deste lado do Atlântico o grande experimento europeu do Plano Marshall, no que eles confundiam inteiramente projetos articulados de reconstrução e de recuperação de economias destruídas pela guerra com programas de desenvolvimento para nações dotadas de baixa capacitação técnica até para formular programas articulados de desenvolvimento econômico e social.
Na verdade, o que os países do sul desejavam, o Brasil inclusive, era a cessão facilitada de grandes montantes de capitais oficiais para que os países pudessem aplicá-los em projetos de sua própria escolha, geralmente ligados à industrialização e infraestrutura (numa fase em que o Banco Mundial ainda não dispunha de muitos recursos, ou quando os existentes estavam já comprometidos com projetos na Europa e na Ásia). Nada disso ocorreu, obviamente, e os americanos formularam suas recomendações habituais: que os países da região reformassem suas estruturas de acolhimento de capitais privados e que suas políticas industriais e comerciais fossem moldadas de acordo com um ambiente de negócios suscetível de investimentos diretos estrangeiros. A Cepal ainda não tinha adquirido peso intelectual suficiente para oferecer o novo evangelho econômico da industrialização substitutiva de importações, mas já formulava suas primeiras críticas às doutrinas em vigor nas instituições de Bretton Woods, que iam mais na linha da ortodoxia mainstream do que da heterodoxia prebischiana que passou a influenciar as políticas econômicas nos países da região.
O Brasil também continuava a ser uma economia relativamente atrasada, embora tivesse começado a impulsionar vigorosamente seu processo de industrialização: depois de Volta Redonda (1942) e em razão das próprias restrições durante o período bélico, uma série de novas indústrias de transformação foram estabelecidas ou começaram a ser implantadas no país, com investimentos feitos pelo próprio Estado, desde o Plano Salte (no governo Dutra) e a partir da criação da Petrobras e do BNDE (no governo Vargas), ou pelo capital estrangeiro, sobretudo no período seguinte, a partir do Plano de Metas de JK. Em 1953 – coroando a fase de cooperação iniciada durante a guerra sob os acordos de Lend-Lease (empréstimo e arrendamento), o Plano Cooke (1942), e continuada com a Comissão Mista de Desenvolvimento no governo Dutra – foi assinado um acordo de assistência militar, que consolidava a inserção securitária do Brasil no campo americano e ocidental, na fase clássica da Guerra Fria, quando manuais do National War College eram traduzidos e utilizados na formação dos oficiais das Forças Armadas, e muitos deles seguiam para cursos em instituições de formação militar dos EUA.
A cooperação com o gigante do norte teria o seu desenvolvimento máximo entre meados dos anos 1950 e a década seguinte, culminando na “aliança não escrita” (mas documentada) do golpe militar de 1964, para deteriorar-se sensivelmente a partir daí, em vista de alguns projetos dos militares – a capacitação nuclear bélica, em primeiro lugar – que terminaram colocando os dois governos em campos opostos, até a ruptura registrada no governo Geisel (denúncia, em 1977, do acordo de assistência militar), por causa das pressões exercidas pelos EUA a propósito do acordo de cooperação nuclear Brasil-Alemanha e de direitos humanos. A despeito da continuidade da cooperação na área militar, na Guerra Fria ou depois dela, as relações nunca mais seriam as mesmas.
O Itamaraty também se colocava, talvez com menor entusiasmo, no mesmo universo mental e político do anticomunismo oficial – doutrina de Estado desde 1935, pelo menos – e no da solidariedade interamericana liderada pela grande potência do norte, com a qual a cooperação era suposta integrar os fundamentos mesmos da política externa daquela fase. Esse elemento constituía um dos grandes desafios da diplomacia profissional, uma vez que era preciso conciliar impulsos hemisféricos vindos da América do Norte com os apelos por uma “terceira posição”, patrocinados pelo caudilho argentino Juan Domingo Perón. No início dos anos 1950, a postura do Brasil era claramente pan-americana e pró-americana; militares e diplomatas não simpatizavam com o caudilho, menos ainda com sua “república sindical”, o que de certa afetava tanto os apelos de Perón por uma terceira via, mas contrários à visão dos Estados Unidos para a “solidariedade hemisférica”, quanto projetos iniciais da Cepal em prol da integração regional, tema que ainda não era prioritário para o Brasil.
Cabe não olvidar que, no mesmo momento em que estavam sendo feitos os preparativos iniciais para a criação do IBRI, um pedido de impeachment contra Getúlio Vargas, envolvendo inclusive seu ministro do Trabalho João Goulart, tinha sido introduzido na Câmara dos Deputados pelo seu ex-chanceler, tornado inimigo político, João Neves da Fontoura, por motivo de financiamento peronista (ilegal, portanto) em favor da máquina partidária e de candidatos do Partido Trabalhista Brasileiro. Submetido a votação, o processo falhou em ser levado adiante no Senado, mas ele integrou, junto com os demais dramas políticos (e até criminosos) envolvendo Carlos Lacerda e vários militares, a sucessão de crises que culminaram no suicídio de Vargas, em agosto de 1954 (ver o artigo “Brasil: a denúncia João Neves”, em Cadernos do Nosso Tempo: nº 2, 1954). A cooperação regional teve chance de avançar depois da queda de Perón, patrocinada pelos militares argentinos, e quando o Brasil se aproximou mais positivamente da Argentina, sob o governo Kubitschek, quando foi assinado um acordo de cooperação bilateral entre os chanceleres Lafer e Taboada. Dois anos depois se decidia a criação da Alalc e do Banco Interamericano de Desenvolvimento, duas iniciativas às quais responsáveis do IBRI, já escrevendo para a RBPI, estiveram intimamente associados, inclusive como delegados brasileiros nas conferências diplomáticas de adoção dos convênios constitutivos, como foi o caso do diretor do IBRI, e editor “eterno” da RBPI, Cleantho de Paiva Leite.
Em síntese, o que se pode dizer do Brasil e da América Latina, na conjuntura de 1954 a 1958, os anos que vão da fundação do IRBI à criação da RBPI, é que se tratava de um país e de uma região excêntricos aos grandes equilíbrios internacionais, embora solidamente ancorados na esfera de influência dos Estados Unidos, com os quais cada um dos países da região mantinha relações de dependência econômica, financeira e tecnológica, ademais de vínculos políticos e diplomáticos bastante evidentes, a despeito de ensaios tentativos de autonomia e até de contestação (como a breve experiência da “terceira via” proposta no início da década pelo caudilho argentino Juan Perón).
O Brasil, que recém inaugurava o seu primeiro reator experimental para a produção de materiais nucleares (na USP), entretinha a aspiração de intercambiar seus “minerais atômicos” contra tecnologia nuclear a ser fornecida pelos EUA, tema que iria converter-se em contencioso diplomático pouco menos de uma década à frente. Mas era também, no bojo dos “cinquenta anos em cinco” do presidente Kubitschek, um país essencialmente otimista, tendo recém ganho sua primeira copa do mundo de futebol (na Suécia) e inaugurado o Palácio da Alvorada, no quadro da construção da nova capital (vide a tabela cronológica ao final deste ensaio); no plano diplomático, ele pretendia secundar os esforços dos EUA para melhorar suas relações com o “resto do hemisfério” – o conceito não era usado, obviamente – por meio da Operação Pan-Americana, uma tentativa de obter uma espécie de “Plano Marshall” para a América Latina, depois dos primeiros ensaios, frustrados, no momento da criação da OEA e das primeiras reuniões em âmbito regional, da OEA ou da Cepal.
Mas era também o país que recebia uma primeira missão de analistas do FMI, convidados para examinar as condições para a concessão de um empréstimo temporário, em vista das dificuldades de balanço de pagamentos – queda nos preços do café – e das dificuldades de honrar compromissos externos, a despeito (ou por causa) dos enormes gastos extra-orçamentários com a construção de Brasília. Juscelino Kubitscheck rejeitou, como se sabe, as sugestões de maior rigor fiscal dos técnicos do FMI, dando início à demonização do organismo no Brasil, com as acusações infundadas de que ele estivesse querendo impedir o desenvolvimento do país. A despeito da demagogia política, ele acolhia com entusiasmo os investimentos diretos que estavam sendo feitos por americanos e europeus na indústria brasileira nessa mesma época.
O lado econômico das relações entre as duas partes do hemisfério suscita a questão do desenvolvimento comparado dos principais países, a partir do estágio em que se encontram em 1954. Nesse ano, os EUA dispunham de um PIB global de quase 2 trilhões de dólares (deflacionados em dólares de 2008, segundo o Bureau of Economic Analysis), valor superior ao de todos os demais países combinados, o que representava uma renda per capita média de 12 mil dólares para os 163 milhões de americanos, perto de cinco vezes acima da renda média dos habitantes da América Latina no mesmo ano.
Os dados são obviamente bastante diferenciados entre os países. Angus Maddison, um economista-historiador de renome e autor de diversos trabalhos de consolidação de dados estatísticos homogêneos sobre demografia e crescimento em âmbito global, fornece dados diferentes para esse ano: segundo as “Statistics on World Population, GDP and per capita GDP” (disponível na página de seu projeto: http://www.ggdc.net/maddison/maddison-project/home.htm), a renda per capita dos americanos em 1954 era de US$ 10.300 (em dólares Geary-Khamis de 1990), podendo-se confrontar este valor com os US$ 2.702 da renda média para a América Latina, embora poderosamente puxada para cima pelos US$ 8,400 dos venezuelanos e de US$ 4.980 para os argentinos, mas também para baixo, como a própria renda per capital dos brasileiros, de apenas US$ 1.848 nesse ano (vide “Table 3: Per Capita GDP Levels, 1AD - 2008 AD”; link: www.ggdc.net/maddison/Historical.../horizontal-file_02-2010.xls; acesso em 28/11/2014).
Em outros termos, o Brasil possuía menos de um quinto da renda per capita dos EUA, o que já era um notável progresso em relação ao início do século, quando a distância era muito maior, na faixa de apenas um décimo da maior renda per capita do hemisfério e do mundo. O ponto mais alto a que o Brasil chegou, em relação à renda média dos EUA foi durante o regime militar, quando a relação ultrapassou um quarto do valor de referência, para novamente baixar nas décadas seguintes, sob o impacto das crises inflacionárias no Brasil e o lento crescimento observado desde então. Em 2014, a distância ainda era superior a cinco vezes, como uma breve consulta a estatísticas atuais pode confirmar. Segundo o FMI, a renda per capita nos EUA, situado em nono lugar no mundo, era de US$ 53,101 em 2013; o Brasil, situado no 61o. lugar, exibia um renda de US$ 11.310 (em termos PPP, registre-se), ou de apenas 18% da renda dos EUA. A Argentina, que sempre esteve muito acima do Brasil desde o início do século 20 (quando ela exibia mais de dois terços da renda per capita dos EUA, mas diminuindo gradualmente ao longo do período, pela sua própria estagnação secular), situou-se em 2013 imediatamente acima do Brasil, em 60o. lugar, com apenas US$ 11.766.
Mais importante do que flutuações conjunturais da renda nominal – que podem ser influenciadas por taxas de câmbio não exatamente determinadas por movimentos do próprio mercado – são as tendências estruturais de longo prazo, que indicam a trajetória de países individuais no contexto da economia mundial, uma poderosa alavanca de sua participação nas dinâmicas internacionais e de possível influência na composição da agenda diplomática multilateral e nas decisões que lhe são associadas. A esse título, o Brasil e a América do Sul aparecem como claramente perdedores, no confronto com a região da Ásia Pacífico, por exemplo. Isso não tem a ver unicamente com o fato de que a aproximação ao PIB per capita americano pode exigir mais de um século de esforços contínuos – o que também seria o caso, comparativamente, da população chinesa, a despeito de o PIB da China ultrapassar o dos EUA em mais alguns anos – mas envolve basicamente a inserção de casa país nos circuitos produtivos da moderna globalização.

3. O Brasil e a América do Sul em 2014: de fora dos circuitos internacionais?
Quando se observa o Brasil e a América do Sul com mais de meio século de distância, torna-se inevitável constatar o imenso progresso material e humano realizado desde meados dos anos 1950: estradas, indústrias, comunicações, escolas, hospitais, participação política, melhoria dos indicadores demográficos (esperança de vida) e sociais (educação e cultura, produção científica, universidades vibrantes). Também se registraram melhores indicadores econômicos – menos inflação (com falhas em transgressores impenitentes aqui e ali), talvez menos fuga de capitais – e, sobretudo, alguns avanços políticos: já não sobrevivem as ditaduras militares, embora caudilhos e populistas demagógicos ainda pontilhem em alguns países.
O que não mudou, basicamente, foi a miséria e a exclusão, sempre presentes, ainda que o peso relativo dos pobres e miseráveis tenha diminuído no conjunto da população. A má educação também se traduz em poucos ganhos de produtividade, e a produção de patentes e a oferta de inovações exibem número ridiculamente baixos em comparação com países que também eram pobres nos anos 1950 (vários da Ásia Pacífico, por exemplo). A governança deficiente, o mau funcionamento da justiça e a sombra da corrupção continuam em ritmo e intensidade provavelmente similares aos de meio século atrás, embora as modalidades e os mecanismos possam ter se alterado um pouco, por vezes até de maneira significativa, com o desenvolvimento da cobertura bancária e as facilidades de comunicações e de deslocamentos para o exterior. O grau de concentração de renda – medida pelo índice de Gini – e parte apropriada pela pequena fração dos muito ricos da riqueza criada a cada ano não parecem ter recuado de forma substancial. Governos tiveram de atender novas demandas, o que redundou em maiores avanços do aparelho impositivo sobre os rendimentos e as transações dos cidadãos, nem sempre de maneira progressiva, em alguns países até de forma injustamente regressiva.
Na virada dos anos 1960, no entanto, a América Latina parecia ter todas as condições para o famoso take-off previsto no manifesto não-comunista de Walt Rostow, sobre os estágios do desenvolvimento econômico. Mesmo se economistas mais céticos, ou mais versados em outras ciências humanas – como Albert Hirschman, por exemplo – alertassem para a inevitabilidade de desequilíbrios e estrangulamentos nos processos de crescimento, que não eram necessariamente sustentados ou contínuos, ainda menos isentos de crises e retrocessos, os técnicos do Tesouro, do Departamento de Estado, e os funcionários dos bancos multilaterais – BIRD, BID – acreditavam que seria possível conceber e implementar bons projetos de desenvolvimento, com algumas reformas domésticas e um pouco de assistência externa. Um famoso economista pioneiro das teorias de desenvolvimento econômico, o sueco Gunnar Myrdal, chegou a prever que os únicos países do Terceiro-Mundo a realizar o famoso e esperado catch-up em relação aos avançados industrialmente seriam, justamente, os latino-americanos, contrariamente aos asiáticos, estes condenados à miséria extrema por décadas à frente (a previsão foi feita nos três volumes de Asian Drama).
Não é que tudo ocorreu ao inverso do afirmado por Myrdall? A Ásia Pacífico e a maior parte da América Latina parecem ter trocado de lugares na escala do progresso material e dos avanços educacionais e tecnológicos, numa espécie de Trading Places (o filme americano) até aqui sem retorno aparente. As posições respectivas em comércio internacional, em ritmo de crescimento, em atração de investimentos e na absorção de inovações tecnológicas forma invertidas ou levadas a itinerários diferentes em cada uma das regiões. Foram confirmadas, no caso da América Latina, a baixa qualidade da maior parte das políticas públicas, em especial de caráter macroeconômico e várias setoriais, e no caso da Ásia a importância da educação e da inserção nos circuitos mais dinâmicos do comércio internacional e dos investimentos diretos estrangeiros. Poucos países da Ásia trocaram tantas vezes de moedas – se alguma – ou foram levados a moratórias com tanta frequência quanto vários latino-americanos o fizeram.
O Brasil, justamente, relativamente aberto – ainda que abertamente protecionista – ao comércio internacional até as crises do entre-guerras, continuou sendo o mesmo país deliberadamente protecionista no pós-guerra, mas ele se desprende dos mercados externos para voltar-se ao seu próprio no processo de substituição de importações que o caracterizou de maneira provavelmente mais completa do que em qualquer outro país latino-americano: ao final do regime militar, a oferta interna era praticamente ocupada, à razão de 90% – em certos casos até mais –, pela produção orgulhosamente doméstica. Poucos países no mundo, se algum, trocaram oito vezes de moeda no espaço de duas gerações, sendo seis vezes em menos de dez anos, com abatimentos de três zeros quase todas as vezes. Em compensação, talvez se possa arguir quanto à estabilidade de sua diplomacia, gerida por um corpo respeitado e bem treinado de profissionais, atuando quase sem interferência de políticos ou de lobbies claramente caracterizados, em todo caso até a segunda gestão Fernando Henrique Cardoso, concluída em 2002.
Mas é exatamente na política externa que as mudanças forma mais importantes desde os anos 1950 aos nossos dias, e com ainda mais intensidade nos últimos doze anos. Em 2014, a principal diferença em relação ao cenário de seis décadas atrás parece ser o fato de que o conceito de América do Sul está solidamente entranhado nas opções e prioridades da diplomacia brasileira e, a partir desta última, na da maior parte dos países da região. Com efeito, tomando início na gestão Fernando Henrique Cardoso à frente da chancelaria brasileira, em 1992, e consolidando-se gradativamente em seus dois mandatos, uma moldura especificamente continental para os esforços brasileiros de coordenação da cooperação regional emergiu na primeira cúpula de chefes de Estado e de governo da América do Sul, a seu convite, realizada em Brasília em agosto-setembro de 2000, no bojo das comemorações dos 500 anos do descobrimento português.
Mesmo se o esforço concertado na ocasião – simbolizado pela Iniciativa de Integração Regional Sul-Americana (IIRSA) – foi claramente sabotado pelas administrações posteriores sob o comando do Partido dos Trabalhadores, em benefício de projetos políticos de claro sabor antiamericano (como a Unasul, por exemplo), o conceito de América do Sul perdurou e se firmou na diplomacia brasileira como confirmando o espaço privilegiado de atuação do Brasil nos diversos planos de projeção externa: econômica, política e em diversas outras áreas setoriais de cooperação (inclusive educacional e militar). A própria recuperação, mais recente, do conceito de América Latina (e Caribe) no âmbito diplomático não diminuiu a concentração de esforços e o foco prioritário na América do Sul, que adquiriu identidade própria e vem sendo confirmado, a despeito das peculiaridades de certas escolhas regionais sob o predomínio do Partido dos Trabalhadores (ver o livro de Luís Cláudio Villafañe Gomes Santos: A América do Sul no discurso diplomático brasileiro; Brasília: Funag, 2014).
A antiga dependência econômica, financeira, e até militar, do gigante do norte se esvaiu no grande desenvolvimento material registrado desde então, num processo de duro aprendizado que passou por várias crises econômico-financeiras e negociações, por vezes humilhantes, com países credores e com entidades multilaterais ou plurilaterais (Clube de Paris, por exemplo) de assistência financeira. A absorção, na área industrial, de tecnologia estrangeira – inclusive na área militar – continua com intensidade similar, embora alternativas venham se desenhando, sobretudo no bojo de novas iniciativas diplomáticas, algumas até impulsionadas de maneira pouco realista nos últimos anos. A ideia, por exemplo, de que o Brics venha a oferecer novas condições de autonomia tecnológica e alternativas de financiamento e/ou de investimento, em substituição ao bloco mais tradicional de economias capitalistas avançados pode revelar-se otimista em demasia para abrir um cenário efetivamente novo no plano do relacionamento externo. E várias das iniciativas tomadas mais recentemente no sentido de consolidar uma nova situação de não dependência da grande potência hemisférica o foram deliberadamente, mais por anti-imperialismo e antiamericanismo do partido no poder – e que forjou uma diplomacia partidária – do que propriamente como resultado de estudos técnicos que concluíssem pela inconveniência da relação outrora privilegiada. Ao contrário, o reforço da “parceira estratégica” com a China, buscada expressamente pelos mesmos dirigentes, resultou numa dependência de tipo assimétrico que se traduz em padrões de comércio tipicamente coloniais, com dominância de matérias primas nas exportações brasileiras e de produtos manufaturados provenientes da China.
Essa mesma evolução, combinada a erros de política econômica e a opções claramente regressistas nos campos das políticas industrial e comercial – dirigismo exacerbado na primeira, insistência num protecionismo ultrapassado na segunda – fizeram o Brasil recuar nos indicadores de competitividade externa, redundando no fenômeno precoce da desindustrialização e da reconcentração da pauta do comércio exterior numa pequena lista de commodities agrícolas e minerais que se considerava superada em favor de maior diversificação da oferta externa desde os esforços de promoção comercial do governo e do Itamaraty a partir dos anos 1970. A tábua de salvação, no grande recuo brasileiro no comércio exterior – senão em quantidade, onde o reina é a estagnação, teimosamente estacionada em pouco mais de 1% de participação brasileira nos intercâmbios globais de bens, pelo menos em qualidade – tem sido o processo de integração regional – representado pelo Mercosul e por poucos outros acordos parciais de liberalização – ainda assim ameaçado este pela voracidade dos exportadores chineses sobre mercados supostamente destinados a ofertantes brasileiros.

Uma história intelectual das relações exteriores e da diplomacia brasileira nas últimas seis décadas seria incompleta se deixasse de mencionar o papel relevante desempenhado pelo Instituto, desde sua fundação, e sobretudo pela revista, a partir de 1958. Uma distinção quanto à natureza dessa influência ao longo do tempo deve ser feita no que respeita o IBRI e no tocante à revista. A associação de muitos diplomatas lotados no Rio de Janeiro, em meados dos anos 1950, à fundação e funcionamento do IBRI nos primeiros anos permite estabelecer uma clara vinculação conceitual entre os temas discutidos nas reuniões do IBRI e transplantados para a revista desde seu aparecimento e publicação trimestral e a agenda do Itamaraty nos anos imediatamente anteriores ao regime militar. Pode-se dizer, sem hesitação, que os membros civis e os diplomatas ativos no IBRI, e os focos de discussão e análise na RBPI exibem uma espécie de osmose intelectual com os grandes temas da política externa brasileira e seu tratamento pelo Itamaraty e pela própria presidência da República.
Esses grandes temas referem-se ao relacionamento bilateral Brasil-Estados Unidos, no contexto da Guerra Fria, aos primeiros passos da integração regional, o lançamento da Operação Pan-Americana pelo governo Kubitschek, a criação do BID e da Alalc, o problema de Cuba e seu encaminhamento na OEA, a emergência e afirmação da chamada “política externa independente” – presente, implicitamente, desde o início na revista, antes mesmo de se tornar explícita nos governos Jânio e Goulart – e a mobilização ativa do Brasil e dos países em desenvolvimento em torno da problemática do desenvolvimento, primeiro tratada no âmbito da Cepal, depois transplantada – inclusive porque o diretor, Raul Prebisch, era o mesmo – no quadro da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, cujo primeiro encontro se deu, aliás, ao mesmo momento em que caia o governo Goulart e tinha início o governo militar. Todas essas questões figuram nas páginas da revista, como uma consulta sumária aos índices dos números relativos a esses anos iniciais pode revelar (ver a coleção completa neste link: http://mundorama.net/category/2-biblioteca/rbpi/).
Qualquer pesquisa sobre a diplomacia brasileira no período não pode, assim, dispensar esse recurso, muitas vezes até como fonte primária. Numa época em que o Itamaraty publicava, se tanto, burocráticos relatórios anuais de suas atividades – e estes não eram tão detalhados, mas ao contrário, bem menos copiosos do que os antigos relatórios da Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros, sob a monarquia – e algumas poucas publicações avulsas, a seção documental da RBPI invariavelmente fazia a transcrição dos principais expedientes da diplomacia oficial: discursos, documentos de posição, atas de reuniões, textos de tratados e de outros atos internacionais, geralmente traduzidos pelos próprios diplomatas que colaboravam com a revista. No início do governo militar, por sinal, os relatórios de atividades do Ministério se rarefizeram, o que tornam ainda mais úteis esses números trimestrais da RBPI, a despeito do eventual retraimento de alguns diplomatas ante a nova situação política e suas orientações mais alinhadas à diplomacia tradicional da era da Guerra Fria.
Embora tenham ocorrido poucos episódios de enquadramento da corporação ao novo Zeitgeist, e até algumas baixas entre os opositores identificados – foi o caso, por exemplo, do embaixador Jayme Rodrigues, segundo na delegação brasileira à Unctad –, a revista continuou a dar ênfase aos seus temas habituais. O novo editor, o historiador e ex-professor do Instituto Rio Branco José Honório Rodrigues – que deu início a uma revista “concorrente”, a Política Externa Independente, que sobreviveu a três corajosos números entre 1964 e 1966 – preparou números temáticos sobre os temas econômicos do momento, a dependência do Brasil das exportações de commodities e a reforma do sistema multilateral de comércio; as questões da política nuclear, do direito do mar e vários outros que estavam ativamente presentes na agenda de trabalho da diplomacia brasileira também comparecem nas páginas da RBPI com muita frequência (ver o número especial sobre os 40 anos da revista, em 1998, bem como o editorial assinado por Antônio Carlos Lessa e Paulo Roberto de Almeida, no vol. 47-1, junho de 2004, por ocasião dos cinquenta anos do Instituto, ambos disponíveis na plataforma Scielo).
É provavelmente esse espírito da revista, e do próprio Instituto, que explica a relativamente rápida retomada das posições da “política externa independente” já no segundo governo do regime militar, a despeito das limitações políticas da época e de alguns cânones ideológicos identificados com o espírito de caserna dos dirigentes. A sua influência foi, no entanto, sendo progressivamente diminuída depois que o ministério e todo o corpo diplomático presente no Rio de Janeiro tiveram de operar a mudança para a nova capital, no início dos anos 1970, o que culminou com a transferência do próprio Instituto Rio Branco, em 1975. O IBRI e a RBPI foram perdendo realce e prestígio nos meios que eles mais influenciavam: a própria corporação profissional do Itamaraty, o corpo diplomático e os muitos acadêmicos e altos funcionários que sempre gravitaram em torno desse antigo empreendimento na capital cultural do país. Seguiu-se uma trajetória de declínio, quando o IBRI já era praticamente virtual e a revista continuava a ser mantida – financiada, editada e distribuída – graças aos esforços solitários de Cleantho de Paiva Leite, sem grande promotor e animador nas duas décadas restantes de sua fase carioca. Sua morte, em outubro de 1992, sinalizou o fim de uma época e o início de outra, tanto para o IBRI quanto para a RBPI, que se tornaram menos policy-oriented, e mais deliberadamente voltados para o mundo acadêmico.
Essa orientação, adotada a partir da transferência – de fato a recriação, tanto no que concerne o IBRI, fundado novamente, quanto a revista – para Brasília representou na verdade uma dinamização e uma potencialização das possibilidades intelectuais e de disseminação para um público mais vasto de ambos instrumentos. O IBRI passou a organizar seminários e outros eventos tipicamente acadêmicos, firmou convênios com outras instituições, a começar com a Fundação Alexandre de Gusmão, do Itamaraty, publicou muitos livros – geralmente em coedição com editoras comerciais ou da área acadêmica e diplomática – e adquiriu um novo prestígio, graças à sua íntima associação com o Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, que fornece a quase totalidade dos recursos humanos, e muitos dos recursos materiais, necessários às suas atividades. O Professor José Carlos Brandi Aleixo, seu primeiro diretor na fase de Brasília, permanece como presidente de honra, em vista de seu trabalho meritório nos primeiros esforços de soerguimento da antiga instituição inaugurada em 1954.
Quanto à revista, ela não apenas recuperou suas excelentes qualidades analíticas dos anos do Rio de Janeiro, quanto cresceu exponencialmente em prestígio e audiência internacionais, o que é confirmado pela ampla gama de instrumentos de citação e de indexação de âmbito mundial. Dois nomes foram essenciais para essa feliz evolução institucional e intelectual: o professor emérito Amado Luiz Cervo, seu primeiro editor durante os primeiros dez anos da fase de Brasília, e desde 2004 o professor Antônio Carlos Lessa, que imprimiu notável modernização editorial e gráfica à revista, bem como atuou de forma decisiva para inculcar-lhe os mais rigorosos padrões de qualidade propriamente acadêmica (ver a coleção: http://ibri-rbpi.org/category/edicoes-da-rbpi/).
Ela é parte de um esforço mais amplo que também vem acompanhado de outros veículos e instrumentos de pesquisa e publicação, como a antiga plataforma Relnet e, desde muitos anos, a plataforma Mundorama. Por iniciativa do professor Lessa, foi criado o Boletim Meridiano 47, cujo significado foi explicando em seu primeiro número nestes termos: “Meridiano 47 é uma homenagem que o IBRI faz a Brasília (cidade cortada por aquela linha), onde está funcionando desde 1993, com o que renova o seu compromisso permanente com a análise de alto nível na área de relações internacionais, há muito firmado com a publicação ininterrupta da Revista Brasileira de Política Internacional - RBPI, que desde 1958 é testemunha e muitas vezes veículo preferencial  dos movimentos intelectuais e políticos que renovaram a ação internacional do Brasil, assumindo desde logo um papel de relevo na cultura política e acadêmica do país.” (n. 1, neste link: http://periodicos.unb.br/index.php/MED/article/view/4774/4007)
O longo quadro analítico, de 1954 a 2014, que se segue a este ensaio tenta realizar uma síntese do contexto internacional, regional e nacional sob os quais se desenvolveram a reflexão, a produção intelectual e a própria ação da diplomacia brasileira, tal como repercutida numa produção de obras – por acadêmicos, por diplomatas e alguns analistas estrangeiros – relevantes para enquadrar essa rica evolução intelectual e prática das relações internacionais e da política externa do Brasil. Ele fornece um rápido instrumento de consulta sobre os trabalhos mais importantes publicados no Brasil nas últimas seis décadas, com destaque para a própria RBPI, ademais de uma seleção dos livros já integrados à literatura desses campos, e que marcaram cada um desses anos de aprofundamento analítico e de crescimento intelectual. O IBRI e a RBPI são peças destacadas, e certamente meritórias, desse cenário de realizações intelectuais, como tais destinados a perdurar no futuro previsível, num ambiente certamente mais competitivo do que o das primeiras décadas, e por isso mesmo mais estimulante em termos de rigor analítico e de preservação dos padrões de qualidade que sempre foram os seus. 
Paulo Roberto de Almeida
[Hartford, 2722: 2 de dezembro de 2014]

Historia do Futuro, de George Minois, finalmente em Portugues - resenha de Paulo Roberto de Almeida

Muitos anos atrás, e mesmo alguns anos depois de quando tinha sido publicado o Histoire de l'Avenir, de Georges Minois, começando a trabalhar em "prospectiva", eu escrevi uma longa resenha desse livro que me pareceu muito instrutivo, e didático.
Como só saiu publicado em versão resumida na revista do CGEE, Parcerias Estratégicas, reproduzo abaixo a versão completa.
Agora que saiu a edição brasileira, pela Unesp, torna-se ainda mais pertinente conhecer a argumentação desabusada de George Minois, um francês que já fez muitas outras histórias sobre temas bizarros.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 2/11/2016


História do porvir: uma aposta contra o passado

Paulo Roberto de Almeida

Georges Minois

Histoire de l’Avenir: des Prophètes à la prospective

(Paris: Fayard, 1996, 680 p.; ISBN: 2-213-59759-6)

No Brasil, costumava dizer o ministro Pedro Malan, não é só o futuro que é imprevisível, mas até o passado é incerto – ele se referia aos muitos “esqueletos” financeiros deixados pelas administrações anteriores –, o que nos permitiria agregar que a previsão sobre o futuro, nessas condições, está de antemão condenada ao fracasso. De fato, o processo histórico não é, como gostaríamos, um itinerário linear, levando das dificuldades conhecidas do passado às certezas do presente e a um cenário esperado no futuro. A vida é um trajeto relativamente caótico, cheio de ruído e furor – full of sound and fury, como diria Shakespeare em Macbeth (V, 5) –, conduzindo, por caminhos algo incertos e em companhias nem sempre escolhidas, a cenários sempre inesperados ou mesmo, por vezes, a algumas surpresas desagradáveis.
Prever é próprio do homem, alerta o historiador francês Georges Minois, ao início deste livro rico e saboroso, que nos leva dos velhos expedientes de adivinhação empregados pelas sociedades do mundo antigo às modernas técnicas, pretensamente “científicas”, utilizadas pelos prospectivistas ou “prospectólogos” contemporâneos, com a intenção de prever o futuro. Registre-se, desde já, que o livro não é uma “história do futuro”, o que o colocaria irremediavelmente no terreno do profetismo, mas uma “histoire de l’avenir”, isto é, um discurso erudito, centrado no conhecimento histórico das técnicas, métodos e procedimentos utilizados em todas as épocas para melhor conhecer, e se possível tentar dominar o futuro, isto é, os acontecimentos de alguns dias, de poucos meses ou mesmo de anos à frente.
Das pitonisas e sacerdotes do mundo antigo, dos falsos profetas da Idade Média, aos astrólogos do Renascimento e às leitoras de cartas de todas as épocas (inclusive e sobretudo na nossa), reis, príncipes ou simples mortais sempre recorreram às técnicas de adivinhação para ter sucesso na guerra ou no amor, ou em ambos. Mesmo os filósofos do Iluminismo não estiveram imunes ao apelo às forças “incontroláveis” – magnetismo, sonambulismo e outras formas de recurso ao oculto –, como maneira de evitar as desgraças e misérias da condição terrena para construir um mundo melhor. Oráculos, profecias, predições, utopias e outros modos de antecipação foram mobilizados pelos homens para evitar desastres e garantir o sucesso, com resultados sempre decepcionantes.
No início do século XX, os espíritos mais esclarecidos estavam fortemente impregnados de otimismo racionalista: as conquistas da ciência e da técnica, o domínio sobre a natureza iriam conduzir a civilização a patamares ainda mais elevados de bem-estar material e de felicidade espiritual e, no entanto, o que se viu foi um breve século XX cheio de ruído e furor, com milhões de mortos em guerras e genocídios vergonhosos. O aborrecido da história, como relembra Georges Minois, é que o futuro é desconhecido. As escolhas que fazemos, portanto, são apostas ou estimativas e mais elas são exatas, mais nossa ação terá sido eficaz. O ideal, assim, seria poder conhecer o futuro, o que nos permitiria fazer exatamente o que convém ao nosso máximo bem-estar. A predição, assim, é indissociável da ação, e ela pode ser tanto positiva, ou seja, tendencialmente situada no caminho de um resultado esperado, como “negativa”, isto é, permitindo antecipar e prevenir alguma catástrofe “prevista”. O importante, nesse sentido, não seria tanto a exatidão da predição, mas o seu papel de terapia social ou individual.
Minois esclarece ainda, em sua introdução a um formidável estudo histórico de 650 páginas, que a predição “não é jamais neutra ou passiva. Ela corresponde sempre a uma intenção, a um desejo ou a um temor; ela expressa um contexto e um estado de espírito. A predição não nos esclarece sobre o futuro, mas reflete o presente. Nisso, ela é reveladora das mentalidades, da cultura de uma sociedade ou de uma civilização” (págs. 13-14). Ele não se propõe, em conseqüência, realizar um catálogo das profecias passadas para atribuir um certificado de clarividência ou distribuir censuras em função do seu grau de realização e, se este fosse o caso, a história das predições seria a história dos fracassos. Ninguém teve a capacidade de conhecer ou prever o futuro: nem os profetas, os oráculos, as sibilas, os astrólogos, os cartomantes, os autores de ficção científica, os utopistas, os filósofos ou os futurólogos. O interesse dessas predições reside no que elas podem nos revelar sobre a época ou o meio nos quais elas foram feitas. É nesse espírito que Minois concebeu o seu livro, que é portanto um trabalho de história, não de antecipação.

Ele começa seu racconto storico pela era dos oráculos, ou seja, as adivinhações primitivas, bíblicas ou do período greco-romano, quando estavam a serviço do destino individual e da política. A predição, nos povos mais antigos, servia como uma espécie de seguro ou de garantia divina, ambos ligados a uma concepção determinista do universo. A astrologia também nasce nesse contexto, sobretudo nos povos do “crescente fértil” da Mesopotâmia: ela se coloca a serviço dos reis e permitiria “determinar” as épocas favoráveis às guerras e anunciar as grandes catástrofes, epidemias, inundações, secas ou, ainda, as colheitas fartas e a prosperidade (págs. 22-23).
Existem também os profetas, que falam em nome do próprio deus, mas eles freqüentemente anunciam a volta a tempos imaginários do passado, o que dá início ao ciclo do “eterno retorno”. Cedo se desenvolve uma luta, por vezes surda, outras vezes aberta, entre profetas “verdadeiros” e “falsos profetas”, que são obviamente os de “oposição”, agindo individualmente contra os profetas “oficiais”, ligados aos reis e servos do poder: Jeremias acaba na prisão por ter previsto a ruína de Jerusalém (pág. 33). O messianismo, também surgido nesse contexto, desenvolve-se geralmente para restaurar uma antiga felicidade perdida ou anunciar um futuro salvador, o que constitui o coração da própria Bíblia e o sentido profundo do povo de Israel. Quando o messianismo toca de perto nas questões político-sociais, ele pode chegar a contestar a ordem estabelecida, com funestas conseqüências para os seus praticantes.
No mundo grego se vai uma etapa adiante, passando da prática espontânea a uma atividade refletida, pensada e até objeto de questionamentos intelectuais: seria possível predizer o futuro? Os filósofos pensam sobre a natureza desse conhecimento do futuro, mas os chefes da cidade-Estado se servem da adivinhação para fins de manipulação política. “Tornar-se mestre do futuro para controlar o presente: este será um dos legados essenciais da civilização grega” (pág. 51). Os gregos aperfeiçoam os métodos e as diversas técnicas da adivinhação, que passam a ser conhecidas pelos nomes gregos: a quiromancia (linhas da mão), a hidromancia (pelas águas), a ictiomancia (peixes), a empiromancia (fogo), a oniromancia (sonhos), a ornitomancia (pássaros), a necromancia (evocação dos mortos) e muitas outras mais. Os gregos não negligenciam nenhuma forma de conhecer o futuro e foram, provavelmente, “o povo mais bem informado sobre o futuro de toda a Antiguidade” (pág. 57). Mesmo os romanos, mais céticos quanto aos oráculos – dos quais o principal foi o de Delfos, uma bem orquestrada figuração manipulada pelos sacerdotes do tempo de Apolo –, se deixarão levar pelo colorido, diversidade e riqueza da “tecnologia grega de adivinhação”.
Minois vê em Delfos o verdadeiro centro da diplomacia das cidades gregas. As delegações vêm de todas as partes para consultar o oráculo sobre seus assuntos correntes. “O santuário é uma espécie de Genebra do mundo mediterrâneo, onde se está perfeitamente a par de todos os acontecimentos políticos dessa região, graças às idas e vindas dos diplomatas, dos delegados, dos mercadores, dos turistas e dos peregrinos. (…) Nós temos lá um caso único de ‘futurocracia’” (pág. 61). Felipe da Macedônia e Alexandre visitam Delfos, menos para saber o futuro do que para obter uma caução suplementar para a sorte dos seus exércitos.
Isso estimula a livre concorrência profética, pois outras cidades vão querer também desenvolver seus próprios oráculos, com predições mais conformes aos seus interesses. A astrologia também recebe um impulso fundamental nos trabalhos dos sábios gregos, o que permite dar-lhe ares de predição “racional”, sobretudo a partir de seu tratamento separado, mas potencialmente conjunto, com a astronomia, na obra de Ptolomeu: “para ele a astronomia é apenas uma etapa necessária em direção do objetivo essencial, o conhecimento do futuro pela predição astrológica” (pág. 69). Segundo um dos comentaristas de Ptolomeu, um certo tipo de cometa pode prever a queda dos tiranos e provocar mudanças nos países para os quais aponta a sua cauda.
Já Platão pertence a um outro gênero de “profetas do futuro”, os “utopistas”. Ele concebe a cidade ideal, um projeto detalhado fundado sobre a análise do comportamento humano. Os governantes serão sábios, os sacerdotes são afastados e a predição é um monopólio do Estado, ao passo que o povo, considerado incapaz de se organizar, deve ser enquadrado e submetido a vigilância constante: “austeridade, simplicidade, racionalidade caracterizam a cidade platônica, reflexo do sonho grego de harmonia e de permanência, de um porvir sem futuro” (pág. 88).
Os romanos vão recolher toda essa herança e levar a arte da predição do terreno do conhecimento para o da prática, instaurando um monopólio de Estado sobre todas essas técnicas, de forma a sempre colocar a vontade dos deuses a serviço de Roma, garantindo assim o sucesso de seus empreendimentos militares e econômicos: “uma vez o Império estabelecido, assiste-se a uma dominação do Estado sobre o futuro, confiscado pelos novos mestres” (pág. 89). Tibério proíbe a consulta privada aos adivinhos e Cláudio, em 47 d.C., decide reagrupá-los “em uma ordem oficial, fazendo deles um órgão do Estado, uma espécie de ministério do Futuro” (pág. 97). O historiador Tácito registra essa passagem: “Cláudio propõe ao Senado a criação do Bureau dos adivinhos… [e] o Senado decreta que os sacerdotes se encarregariam das instituições necessárias à manutenção dos adivinhos” (pág. 97). Mas em Roma, a astrologia perde em parte seu caráter científico para revestir-se de um aspecto religioso, ao passo que um intelectual como Horácio prefere exaltar o presente, preconizando a política do carpe diem.

Se os jogos de adivinhação dos romanos eram modestos, geralmente relativos ao futuro imediato, em especial político e militar, a profecia cristã, que ascende de maneira irresistível a partir do século IV, apresenta uma dimensão bem mais vasta: ela estende seu alcance de maneira ambiciosa, no tempo e no espaço, como demonstra Georges Minois na segunda parte do seu livro, dedicada à “idade das profecias”. Trata-se, no essencial, das promessas apocalípticas e milenaristas da Idade Média, o que compreende uma vasta gama de predições e exegeses, das interpretações mais ou menos livres dos profetas antigos (como Daniel), à proliferação de “falsos profetas” e ao estatuto ambíguo da astrologia na Alta Idade Média – Santo Agostinho diaboliza a adivinhação e a astrologia –, até a verdadeira inflação, banalização e deriva ulterior das predições e profecias, cuja regulamentação será tentada por São Tomás.
Alguns eventos catastróficos são vistos como a própria antecipação do Anticristo, como a peste negra, ao passo que as cruzadas podem ser consideradas como uma materialização das profecias. Roger Bacon, que preconizou precocemente uma união entre a religião e a ciência, tenta colocar a astrologia a serviço da cristandade, mas os teólogos resistem e fazem condená-la em 1277 (o próprio Bacon foi encarcerado). A Igreja tenta controlar o fluxo de predições, inclusive para resistir à ascensão de movimentos heréticos que se multiplicam a partir do século XII. O tema da pobreza é recorrente em alguns movimentos milenaristas, abrindo assim o caminho a uma espécie de “comunismo da idade do ouro” que se refletirá, no século XIX, nas correntes utópicas do socialismo. Pequenos grupos, que se mantêm pacifistas, decidirão, mais adiante, construir comunidades de puros no Novo Mundo, depois que Colombo deu início à etapa moderna da globalização e da unificação planetária da economia.

A terceira parte desta obra, dedicada à “idade da astrologia”, está concentrada no Renascimento, entre os séculos XV e XVII, quando se pretendia que os astros podiam reger a vida das pessoas e, portanto, o futuro. Ainda que a Igreja tenha procurado refrear a demanda pelas predições astrológicas – diferentes concílios entre meados do século XVI e a segunda metade do seguinte tentam condenar o uso dos horóscopos e as predições a partir dos astros –, o charlatanismo astrológico conheceu sua hora de glória no século XVI, com Nostradamus. Mas, nem só de astrologia viveu essa época, pois que utopias e retomada do profetismo religioso também ocupam a atenção de letrados e da arraia miúda, com uma extraordinária difusão dos materiais impressos, a partir da invenção de Gutenberg. A Utopia de Thomas Morus é publicada em 1516 e, a despeito de guardar uma certa filiação intelectual com a cidade ideal de Platão e a cidade de Deus de Santo Agostinho, ela talvez aponte para a redenção dos homens em outro continente, nas novas terras descobertas por Colombo, a partir de então conhecidas simplesmente como América (do nome de outro navegador, o genovês Amerigo Vespucci). Tomaso Campanella publica a sua “cidade do sol” um século mais tarde (1602) e Montaigne tenta desacreditar essas “prognostications”, em nome do ceticismo racionalista, mas naquele momento ele perde para os astrólogos da corte.

A “idade das utopias” se dissemina mesmo entre os séculos XVII e XIX, objeto da quarta parte deste livro, que vai das cidades radiosas clássicas até o otimismo das utopias socialistas na transição para a sociedade industrial. As adivinhações tradicionais tornam-se então marginais, submetidas que foram a uma exploração “cética” dos mitos e das profecias religiosas pelos sábios iluministas. Ironicamente, a decadência da astrologia vem na cauda de um cometa, em 1680, cuja reputação catastrófica é ridicularizada por vários sábios. O edifício termina de cair em 1758, quando o mesmo cometa retorna, como havia previsto Halley: “a ciência astronômica se revela mais eficaz em seus anúncios do que a astrologia” (pág. 400). O Dictionary do doutor Samuel Johnson já traz, em 1775, esta qualificação da astrologia: “arte doravante completamente desacreditada como irracional e falsa” (págs. 405-6). A ciência dos astros passa a servir não mais do que para previsões meteorológicas, que são incorporadas a partir de então nos almanaques, úteis sobretudo para os agricultores em sociedades ainda não industrializadas.
As novas vias da predição, a partir do século XVIII, situam-se justamente na história e nas ciências humanas, que não ficam entretanto imunes às utopias, inevitáveis em sociedades em rápido processo de transformação, como foi o caso desde o deslanchar da revolução industrial. A diferença em relação aos métodos tradicionais de adivinhação, segundo Georges Minois, está no fato de que “enquanto as primeiras se inspiram de informações exteriores, comunicados por Deus, pelo diabo, por quaisquer espíritos, pela posição dos astros, as segundas são o fruto exclusivo do raciocínio humano” (pág. 417). Esse modo de ver leva os filósofos a se ocupar do passado, da história, segundo a regra ainda estipulada pelo Big Brother em 1984: “Aquele que controla o passado, controla o futuro”. O Discours sur l’histoire universelle de Bossuet (1681) ainda se desenvolve segundo a vontade de Deus, mas essa história providencialista começa a recuar em face dos ataques cada vez mais intensos dos racionalistas (aliás, desde Jean Bodin, que em 1566, expunha, em seu Méthode pour une connaissance aisée de l’histoire, uma tentativa de racionalização do processo histórico). A idéia de progresso e o conceito de “sentido da história” fazem irrupção no debate intelectual, notadamente com Turgot e Condorcet, mas também com Kant, que escreve, em 1784, a Idéia de uma história universal de um ponto de vista cosmopolita. O “fim da história” está próximo, com Hegel, cujos argumentos sobre o liberalismo político e econômico serão retomados em pleno século XX por Alexandre Kojève e Francis Fukuyama. Esse profetismo histórico, de base parcialmente científica, também está presente em Fichte, que de certo modo “anuncia o messianismo nacionalista do século XIX e mesmo o nacional-socialismo do século XX” (pág. 426). 
Globalmente, os filósofos iluministas são otimistas, vendo progresso e razão no futuro da humanidade, mas o pessimismo, base das utopias, também tem um mercado aberto à sua expansão. Lamartine arriscou que as “utopias são, freqüentemente, apenas verdades prematuras” (pág. 427), mas o fim das ilusões e o desencantamento do mundo ainda não tocaram o século XVIII, que encontra-se impregnado de utopias, geralmente sob a forma de projetos de reforma social, de construção da sociedade ideal, com fortes traços de “comunismo primitivo”. A Revolução francesa vem, justamente, inaugurar a era das massas, que desejam um futuro sem miséria. A condenação da propriedade privada, impulsionada pelo clima revolucionário, vai desembocar nos milenarismos socialistas, de base cooperativa ou coletivista, cujos profetas principais são Fourier (e os “falanstérios”), Cabet (e a “Nova Icária”) e Robert Owen (o patrão da “Nova Harmonia”). Os Estados Unidos recebem várias dezenas desses projetos de “paraísos terrestres”, inclusive um experimento de Cabet no Illinois e uma aldeia de Owen em Indiana. Mesmo o Brasil, no final do século XIX, acolherá a comunidade libertária e anarquista de Giovanni Rossi, a “Cecília”, que entretanto “não resiste quatro anos” (pág. 504).
Alguns profetas da felicidade procuram dar uma base econômica credível a seus projetos de bem-estar sem custos, como Jean-Baptiste Say que, em 1800, prevê, na obra Olbie ou essai sur les moyens d’améliorer les moeurs d’une nation, uma economia de mercado funcionando sem crises e com ganhos rápidos. Menos simplista, mas também otimista, John Stuart Mill acredita, nos seus Princípios de Economia Política (1848), que a sociedade passará de um “estado progressivo”, no qual as forças econômicas estão em contínua expansão, para um “estado estacionário”, que seria um estado ideal, antecipando assim as previsões do Clube de Roma (págs. 509-510). O pastor Thomas Malthus é bem mais pessimista, prevendo uma catástrofe se a forte natalidade não recuasse em face da oferta insuficiente de alimentos, mas ele não foi confirmado pelos fatos ou pela ciência.
Os pensadores socialistas são todos mais ou menos profetas, como foi o caso com a primeira geração de utopistas, mas o socialismo científico tampouco escapa à regra. Proudhon achava o socialismo inelutável, da mesma forma que Marx, que tinha ademais “descoberto” as leis de funcionamento da história, baseadas na luta de classes. Marx também anunciou o fim da história, já que a futura ditadura do proletariado aboliria a sociedade de classes e a necessidade de acumulação privada, com o que o poder público perderia seu caráter político. O milenarismo marxista se desenvolve a partir daí e, já em 1892, Kautsky, no livro O Estado do Futuro, prevê o fim do capitalismo pela crise de superprodução, tema igualmente presente em Lênin, em Rosa Luxemburgo e nos demais seguidores do credo. Cruel ironia: o profetismo leninista vê a verdadeira liberdade a partir da eliminação dos últimos capitalistas e a abolição do Estado burguês.
Na mesma época, favorecidos pelos progressos tecnológicos, tomam impulso os profetas da ficção científica, com o anúncio do fim das guerras. As previsões terríveis sobre a “guerra do futuro” (1897) por um banqueiro polonês, Ivan Bloch, teriam incitado o czar russo a tomar a iniciativa de convocar uma conferência de paz, realizada em Haia em 1899. Mesmo o cientista Alfred Nobel acreditava que a iminência de uma destruição terrível, a partir da sua dinamite, levaria os países a se desfazerem de seus exércitos.
O autor mais conhecido no gênero, o inglês Herbert George Wells, dá o tom da nova era com um livro, Anticipations (1901), cujo subtítulo já indicava seu conteúdo: “a influência do progresso mecânico e científico na vida e no pensamento humano”. Para Wells, como indica Minois, “a predição é possível, à condição de empregar um método científico, que se baseia na observação da história e das tendências do presente, complementado pelo método indutivo” (pág. 523). Em um trecho de Anticipations, Wells esclarecia que a “profecia moderna deve seguir exatamente o método científico” e ele acreditava que “seria extremamente estimulante e benéfico para nossa vida intelectual dirigir firmemente para o futuro os estudos históricos, econômicos e sociais e, nas discussões morais e religiosas, preocupar-se ainda mais do porvir, referir-se incessantemente a ele, deliberadamente e corajosamente”. O paradoxo, entretanto, é que Wells faz previsões muito mais certeiras nos seus romances de ficção – The Time Machine (1895), When the Sleeper wakes (1899) e A Modern Utopia (1905) – do que nas obras ditas “sérias”: ele antecipa o transporte aéreo de massa (1899), a eficácia do carro de combate ou tanque de guerra (1903) e as bombas atômicas (1914), mas recusa, em seus trabalhos não-ficcionais, a possibilidade de que essas máquinas venham a ser construídas (segundo comparação feita por Bernard Cazes, no livro Histoire des Futurs; Paris, 1986).

Com o século XX, entretanto, já estamos na “era das predições científicas”, quinta e última parte do livro de Georges Minois, que se ocupa agora do renascimento do pessimismo, com os profetas de decadência e da contra-utopia, e da prudência das teorias probabilísticas e dos métodos dos prospectivistas.
Na primeira vertente, ocorre de fato uma ênfase nos problemas da humanidade, confirmando, talvez, a previsão feita em 1790 por Edmund Burke, segundo a qual depois da era dos cavaleiros, viria a dos economistas: depois do cavalheiro, o banqueiro; depois da honra, a carteira; depois da Igreja, a Bolsa, em direção de um mundo cinzento de proletários, burocratas, pequenos comerciantes e grandes burgueses. Teorias darwinistas, eugenistas e racistas agregam ao pessimismo reinante e mesmo a democracia começa a ser relegada a segundo plano pelos novos arautos do Estado onipresente. O próprio Tocqueville pode ser arrolado entre os pessimistas da democracia, que, segundo ele, gera frustrações ao prometer uma igualdade ilusória, estimular o desejo de consumo e validar os apelos demagógicos e as “tiranias legítimas”, desde que “em nome do povo” (pág. 536). Em outros termos, a democracia de massas poderia conduzir à mediocrização, com o que certamente concordaria Nietzsche. Alguns preferem ver no judeu a causa da “decadência do Ocidente”, com as conseqüências que se conhece poucos anos mais à frente.
A Grande Guerra de 1914-18 e seu imenso cortejo de hecatombes militares e os primeiros genocídios reforçam ainda mais o pessimismo: Oswald Spengler termina em 1918 seu cenário decadentista, O Declínio do Ocidente, cujo sucesso é imediato. O raciocínio é biológico: as civilizações nascem, desenvolvem-se, chegam à maturidade, entram em decadência e depois morrem, segundo um ciclo de mil anos. O Ocidente, nascido no ano 1000, estaria, portanto, próximo do fim. O historiador Arnold Toynbee, um “outro profeta da decadência” (pág. 543), tem porém uma visão menos pessimista, feita de ciclos civilizacionais que podem se regenerar.
A própria ficção científica torna-se pessimista, num ciclo que começa com Eugene Zamyatin (Nós, 1920), passa pelo romance Brave New World (1932), de Aldous Huxley, e avança para 1984 (1948), de George Orwell: em todos eles, um mundo regulado e submetido a um poder totalitário “produz felicidade humana”, ao preço da liberdade individual. Só a literatura produzida sob o regime soviético foge a essa tendência, mas “trata-se aqui da aplicação das recomendações oficiais, que marcam o setor da cultura: um bom comunista é otimista, porque a classe trabalhadora, dirigida pelo partido e guiada pelo genial pensamento marxista-leninista, vencerá todos os obstáculos” (pág. 545).
A contra-utopia da ficção científica do século XX é tanto mais pessimista quanto os futuros previstos parecem possíveis. “Inspirando-se nas experiências do século XX, que elas prolongam e amplificam pelo acréscimo dos progressos tecnológicos, dos estudos sociológicos e psicológicos, esses futuros abrem perspectivas que seria perigoso desdenhar” (pág. 552). Afinal de contas, como Nicolas Berdiaev escreveu na apresentação do Brave New World, “o mundo caminha para as utopias”, o que parece ser ilustrado pela previsão econômica, que tornou-se importante no século XX.
De fato, a “ciência lúgubre” dos neoclássicos atravessa maus bocados em meados desse século, com as crises surpreendentes, a perda de patrimônio, a depressão e o desemprego. Keynes – que havia aliás “previsto” que os custos da política de reparações imposta à Alemanha pelo tratado de Versalhes poderia provocar uma crise e novas fontes de conflito – reconhecia que a confiança no futuro é um elemento determinante do jogo econômico, razão pela qual o Estado deveria desempenhar um papel importante na retomada do ciclo virtuoso, atuando sobre os juros, a moeda e o emprego.
As técnicas e instrumentos de previsão econômica se desenvolvem na primeira metade do século, desde a teoria dos ciclos de Nicholas Kondratieff e Joseph Schumpeter até os trabalhos econométricos e de modelagem insumo-produto de Wassily Leontief (estes não tratados por Minois). Isso não impediu, obviamente, o deslanchar da crise de 1929 e o aprofundamento da depressão na década seguinte. Schumpeter também era, de certa forma, um “profeta da decadência”, já que em seu livro Capitalism, Socialism and Democracy (1942) ele chegou a duvidar, por razões econômicas – concentração da produção, “financeirização” – da capacidade de sobrevivência do capitalismo.
Previsões pessimistas ou otimistas não existem apenas em economia – como o famoso Relatório Meadows (1971), do Clube de Roma, que antecipa uma crise ecológica e o esgotamento dos recursos naturais no século XXI –, mas elas são feitas igualmente no terreno da política. Henry Kissinger, considerado um dos mais argutos dos conselheiros de segurança nacional dos Estados Unidos, afirmava categoricamente em 1997 que “hoje, pela primeira vez em nossa história, somos confrontados à dura realidade do desafio comunista que não se extinguirá. Nós devemos aprender a conduzir a política externa como muitas outras nações o fizeram durante séculos, sem escapatória e sem descanso. O contexto será durável”. Dois anos depois, Jeanne Kirkpatrick reafirmava que “a história deste século não traz nenhuma razão para crer que regimes totalitários radicais podem se transformar por si mesmos” e Jean-François Revel temia, em 1983, que talvez fossem as democracias que desapareceriam (pág. 557). Nem François Furet, que historiou o fim das ilusões comunistas, nem Francis Fukuyama, que perguntou, em 1989, se não tínhamos chegado ao “fim da história” – o ponto de interrogação do título do seu famoso trabalho é importante –, com o triunfo das economias de mercado, não previram necessariamente o fim do comunismo enquanto regime político totalitário ou o próprio desaparecimento da União Soviética enquanto Estado.
Cenários otimistas a partir do domínio sobre a energia nuclear nos anos 1950 eram muito freqüentes, da mesma forma como o crescimento econômico ininterrupto dos países recentemente independentes, até alcançar os patamares de desenvolvimento das nações mais avançadas. As previsões econômicas contemporâneas tendem a ser mais modestas e cautelosas, quase que incorporando os princípios de incerteza e de improbabilidade da física quântica, que abandonou as certezas da mecânica newtoniana para adentrar nos terrenos bem mais vagos da imprecisão e do acaso.
A previsão ainda tem futuro?, pergunta Georges Minois em seu último capítulo, que trata dos videntes, dos profetas do fim da história e dos prospectivistas. A pergunta faz sentido, pois se começa a duvidar da capacidade do homem em fazer previsões: o questionamento da razão, o hipercriticismo e o ceticismo, agregados aos freqüentes erros de previsões passadas, levam a uma reconsideração global da possibilidade de previsão. O contraste é evidente com a multiplicação de antecipações que tinha marcado o ano de 1900: então, todas as esperanças eram permitidas, mesmo se algumas já expressavam alguns temores. O século XX frustrou todas as esperanças e terminou, em quase todas as áreas, aquém do que se esperava há cem anos. Provavelmente, apenas a eletrônica conseguiu superar as previsões.
Não obstante o pessimismo, a predição popular e as “adivinhações” astrológicas – em meio urbano, sobretudo – continuam a fazer sucesso: milhões são gastos com dezenas de métodos diferentes para prever o futuro, evitar desgraças e restabelecer a felicidade. Os jornais mais sérios trazem as previsões dos astrólogos mais “reputados” e a consulta à distância se vê facilitada pelas tecnologias de informação e de comunicação. As profecias religiosas também continuam a mobilizar milhões de seguidores de diversas crenças, ao passo que uma certa “teologia da prosperidade” arranca dinheiro de incontáveis crédulos prometendo-lhes a felicidade garantida, ou pelo menos a salvação de um destino terrível.
Mas, o futuro não é mais o que ele costumava ser, já que as novas técnicas de modelagem de cenários devem levar em conta o impacto do desenvolvimento tecnológico e os efeitos paralelos ou em cadeia provocados por inovações técnicas em áreas não necessariamente imaginadas por seus inventores. Como argumenta Minois, “a previsão tecnológica se caracteriza sempre por resultados em dentes de serrote, em relação às realizações concretas: os anúncios prematuros convivem com as subestimações, os avanços com os atrasos. As previsões globais são incapazes de levar em consideração as interações múltiplas entre as diferentes áreas, variações de custos, influência de fatores sociais, políticos ou culturais” (págs. 579-580).
As disparidades entre a previsão tecnológica e a realização é explicada da seguinte forma pelo conhecido filósofo da ciência Thomas Kuhn: “Tudo se passa como se nós conseguíssemos reter, dos sinais que nos vêem do ambiente, apenas aqueles que estão de acordo com os nossos conhecimentos, sustentam nossas convicções, justificam nossas ações, vão ao encontro de nossos sonhos e nosso imaginário” (pág. 581). No terreno das ciências humanas, o relativismo se instala com a derrota das grandes teorias históricas e o combate ao etnocentrismo e ao evolucionismo. Como escreveu o historiador americano Carl Lotus Becker (1873–1945), numa transcrição sem fonte de Minois, “cada século reinterpreta o passado de maneira a que este sirva a seus próprios fins. O passado é uma espécie de tela sobre a qual cada geração projeta a sua visão do futuro” (pág. 582). Minois completa o raciocínio invertendo a frase de Becker, dizendo que “o futuro é uma tela sobre a qual cada geração projeta a sua visão do passado, e, como este não para de mudar e função das preocupações do presente, a previsão do futuro é apenas uma projeção do presente” (idem).
Minois também sugere que, sem que sejamos organizados por algum serviço especial, cumprimos inconscientemente o trabalho de revisão permanente do passado que era efetuado no romance 1984 pelo ministério da Verdade do Big Brother. Se o valor da história é contestada em seu próprio objeto, ou seja, no conhecimento do passado, então todas as tentativas de construir modelos explicativos estão condenadas ao fracasso: “Ora, de Joaquim De Flore a Hegel e a Marx, foram esses os modelos que serviram de instrumentos de previsão, colando no futuro as estruturas do passado. Se todos os modelos são falsos, é evidente que a previsão não tem nenhum valor” (pág. 583). A previsão, sobretudo em matéria política, se limita a um catálogo de potencialidades.
Alguns historiadores fazem dessa incapacidade de previsão a própria força da história, que não precisa, como a sociologia, generalizar eventos ou processos. Como diz o historiador britânico Hughes Trevor-Roper, “a dificuldade, com todas as tentativas de profecia da sociologia, é que elas se apóiam sobre hipóteses de continuidade que não estão sempre fundamentadas. Quase todas as mudanças provêm da sociedade, mas elas provêm mais freqüentemente de grupos que, na época que eles existem, são ignorados. Assim, para o historiador só existe um método: o método empírico. Todo pensamento histórico que não se vê golpeado imediatamente pela obsolescência, é fundado na experiência. O sociólogo parte do dogma: ele elabora modelos, e o que prova a qualidade do modelo é que ele funciona” (pág. 584).
O debate tantas vezes equivocado em torno do “fim da história” não deveria, em princípio, considerar as imensas dificuldades para a realização efetiva da tese principal de Fukuyama, qual seja, a hegemonia do sistema liberal-democrático, mas sim o fato de se poder imaginar um mundo substancialmente diferente desse, uma alternativa melhor para se organizar o futuro. O próprio Fukuyama aponta alguns fatores limitativos da marcha irresistível para a democracia liberal: a persistência, em alguns lugares, de uma consciência racial e étnica bastante desenvolvida; correntes religiosas totalitárias, em especial os fundamentalismos judeu e muçulmano, e talvez mesmo católico; a resistência das estruturas sociais desiguais; e a organização insuficiente da sociedade civil, que deixa o essencial do poder a um Estado centralizador, enquanto a verdadeira sociedade liberal deveria apoiar-se sobre a autonomia das associações de base. “Globalmente, é, portanto, a afirmação das ‘identidades culturais’ que retarda o movimento em direção da homogeneização das formas de vida” (pág. 586).
Em outros termos, a luta contra essa homogeneização e a reafirmação, ao nível infra-político, das identidades culturais reforçariam as barreiras entre os povos e as nações, mas se trata de um combate de retaguarda e periférico. Minois pergunta se o fato de não se imaginar nenhum sistema melhor do que a liberal-democracia não seria uma simples falta de imaginação, como se não houvesse, no século XVII, nenhuma alternativa ao absolutismo. E as desigualdades de renda, pergunta ele, não poderiam ser fonte de futuros conflitos? Os profetas do apocalipse ainda parecem ter trabalho pela frente.

Os dois métodos mais recentes de previsão são a futurologia e a prospectiva, esta uma das grandes novidades da segunda metade do século XX. “Ela se caracteriza por uma institucionalização e uma profissionalização da atividade de previsão, com um objetivo de ação e de preparação da opinião. Na sua concepção, portanto, ela retoma o papel que desempenhavam os oráculos oficiais no mundo greco-romano, utilizando os meios modernos, estatísticas, probabilidades, modelização, sondagens e outros. Trata-se na verdade de um instrumento a serviço dos poderes políticos, econômicos, tecnocráticos. Mais do que nunca, governar é prever, num mundo instável onde a tecnologia avança a uma velocidade crescente. É preciso antecipar para ser eficaz. É preciso também preparar os espíritos, e se retoma aqui a idéia de manipulação do futuro a serviço do presente, tão comum na Antiguidade. Nada como uma pesquisa prospectiva para justificar uma reforma desejada pelo poder” (pág. 589).
O vínculo com a Antiguidade se manifesta inclusive na escolha do nome de um dos procedimentos, o método Delphi, processo estabelecido pela Rand Corporation no início dos anos 1950. A prospectiva moderna nasceu antes, em 1929, quando o presidente Hoover cria uma comissão encarregada de estudar a evolução no campo das reformas sociais. Depois, Roosevelt, em 1933, encarrega W. F. Ogburn de redigir um relatório sobre as tendências tecnológicas e a política governamental, mas os avanços mais importantes se dão no contexto militar dos anos cruciais de 1944-48, com a tecnologia nuclear e a revolução estratégica que significa a passagem à Guerra Fria. A criação da Rand (Research and Development) Corporation se dá portanto nesse contexto. A partir de 1975, a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos obriga todas as comissões a trabalhar de maneira prospectiva, o que a consagra como instituição. Mas, o movimento já tinha sido ampliado a partir da criação da World Future Society, em 1966, que democratiza o debate em torno de profissionais e mediante uma revista, The Futurist.
Na Europa, a prospectiva está vinculada ao estabelecimento da planificação econômico-social no pós-guerra, em diversos países de orientação liberal. O caso da França é obviamente o mais evidente. O próprio nome “prospectiva” foi inventado em 1957 pelo francês Gaston Berger, como o simétrico de retrospectiva. Como indica Minois, “o termo previsão não convém, de fato, a essa nova realidade, que não é simples conhecimento do futuro, mas o resultado de uma ação concertada, levando em consideração as tendências prováveis” (pág. 591). A imagem utilizada por Gaston Berger para justificar essa atividade é a da estrada: a carroça, de noite, precisa apenas de uma simples lanterna, mas o carro veloz necessita de faróis potentes. Em 1957, Gaston Berger cria o Centre d’Études Prospectives, que em 1960 se funde com a associação Futuribles, criada por outro pioneiro da área, Bertrand de Jouvenel. “A grande preocupação de Bertrand de Jouvenel”, diz Georges Minois, “é a de evitar que a prospectiva se torne monopólio do poder, isolada da sociedade, elaborada em segredo como um puro instrumento da tecnocracia” (pág. 591). O outro grande nome da prospectiva francesa é o de Jean Fourastié, cujo cuidado reside na incorporação das estruturas duráveis e dos terrenos estáveis na elaboração das previsões. A regra de ouro de Fourastié para o espírito prospectivo, “é colocar o evento não apenas no quadro do passado recente, mas no longo prazo, isto é, ao menos no século, e talvez mesmo no milenário” (pág. 592).
A prospectiva tornou-se, portanto, uma atividade profissional, utilizando métodos científicos sempre refinados, apoiados na matemática, a exemplo das “matrizes de interação”, estabelecidas nos anos 1960 por Gordon e Helmer. Trata-se de uma tabela de dupla entrada, permitindo medir os resultados de interações entre os eventos possíveis e as tendências prováveis. “Mais do que uma previsão, é preciso falar de um leque apresentando cenários potenciais. O método das extrapolações, por sua vez, apóia-se sobre a observação de uma série de fenômenos passados para aplicar suas conclusões em um outro terreno. O procedimento dos ‘modelos’ é definido como ‘um substituto da realidade, que ele representa de uma maneira da qual se espera que seja apropriada ao problema a ser tratado. Ele se compõe de fatores relativos a uma situação dada e de relações entre eles. São colocadas questões e se espera que as respostas obtidas forneçam um esclarecimento sobre a parte do mundo real ao qual ele corresponde’” (pág. 592, citando E. S. Quade, Analysis for Public Decisions; Amsterdam, 1982, pág. 139).
Pode-se distinguir modelos lineares gerais, de regressão, modelos estocásticos lineares (ou multivariados), modelos econométricos e outros, todos apoiados em métodos matemáticos bastante complexos, sem esquecer o método dos “cenários”, que descreve antecipadamente as condições nas quais se desenvolverá tal ou qual tipo de ação. A fiabilidade do método depende em grande medida da qualidade da informação da qual se dispõe, o que é válido também para os métodos probabilistas, mas não se pode resolver, obviamente, questões de natureza metafísica colocadas pela realidade ou pelo acaso. A prudência, portanto, é de rigor para todos esses métodos, que devem ser considerados mais como subsídios à tomada de decisão do que como uma previsão certeira sobre o que vai ocorrer. A finalidade seria não tanto prever, mas evitar, por meio de ações adequadas, algumas orientações que poderiam ser consideradas nefastas.
Como indica acertadamente Minois, “a prospectiva tem mais a ver com o terreno da prática do que com o do conhecimento” (pág. 593). Avaliações conduzidas na França, em relação a cenários traçados nos anos 1960, confirmaram uma boa aproximação da realidade, em termos de evolução da mão-de-obra, da produtividade, da duração do trabalho, do crescimento econômico, do papel do nuclear, da revolução biológica e das tendências da urbanização, sendo que os “erros” foram sobretudo constituídos de lacunas: a disparada do Japão, a micro-informática, o trabalho feminino e o desemprego.
A prudência dos futurólogos pode frustrar o público, que espera “certezas”: assim pode-se contrastar a morna recepção de um livro cauteloso como The World in 2020 (1994), de Hamish McRae, com o sucesso estrondoso do Future Shock (1970), de Alvin Toffler, para quem a humanidade chegou à “terceira onda”, depois da agricultura e da revolução industrial. Por vezes, a previsão representa uma aposta contra o futuro, como o trabalho de Herman Kahn e Anthony Wiener, Year 2000, que em 1972 listava cem inovações técnicas prováveis para o último terço do século XX. O resultado pode ser pura futurologia, ou uma forma moderna de utopia, fazendo extrapolações razoáveis mas extraídas de seu contexto. Os dois métodos estavam presentes no famoso relatório Meadows de 1972, do Clube de Roma, The Limits to Growth, que previa uma catástrofe mundial em meados do século XXI em razão do prolongamento das curvas de cinco dados fundamentais: demografia, produção industrial, produção alimentar, poluição e esgotamento dos recursos naturais. “Os resultados, calculados por computador, são espetaculares e formais, e conduzem a uma conclusão lógica: é preciso parar o crescimento para chegar a uma economia estacionária, do tipo da prevista por John Stuart Mill” (pág. 595). Da mesma forma, o relatório encomendado pelo presidente Carter e publicado em 1980, Global 2000, também era pessimista, prometendo excesso de população, de poluição e outros impactos ecológicos nefastos.
Bernard Cazes, em seu livro Histoire des Futurs (1986), enquadra as preocupações dos prospectivistas em sete temas principais, e, em cada um deles, a evolução é negativa: (1) meio ambiente: rápida degradação; (2) contexto geopolítico: tendência à anarquia desde o fim dos blocos; (3) crescimento econômico mundial: lento; (4) comportamentos demográficos: natalidade em baixa, mas ainda preocupante, sobretudo nos países em desenvolvimento; (5) emprego e trabalho: os números do desemprego estão sempre em alta, a despeito das políticas mobilizadas; (6) Estado protetor: ele não pára de se retirar, mesmo aumentando a carga fiscal; (7) mudanças tecnológicas: o único setor positivo, mesmo se alguns, como Michel Moravick, prevêem uma parada no desenvolvimento dos conhecimentos científicos, que se traduziria por uma interrupção do progresso tecnológico, em virtude de três fatores: (a) para progredir, a pesquisa científica exige um pessoal cada vez mais numeroso e qualificado, que talvez não se renove rapidamente; (b) necessidade de capitais cada vez mais amplos, que vão faltar; (c) chegará a um tal nível de complexidade que as capacidades do cérebro humano serão superadas (pág. 596, citando Moravick, “The ultimate scientific plateau”, The Futurist, outubro 1985).
As previsões catastróficas teriam, assim, alguma razão de ser?: parada do progresso científico e técnico, implosão do sistema bancário internacional, provocando o retorno à autarquia, desurbanização e guerras civis, balcanização da Europa, colonizada pelo Islã, emergência da China, para dominar o terceiro milenário? Essas previsões, feitas mais de uma década atrás, parecem hoje singularmente pessimistas, mas outros fatores de crise e de tensão no sistema econômico e político internacional vieram acrescentar-se aos velhos problemas e riscos existentes.
A novidade talvez resida na ausência de previsão. Georges Minois precisa: “ausência de previsões gerais de longo prazo, levadas a sério por um número significativo de pessoas” (pág. 597). O fato é que sabemos fazer previsões de curto prazo, com base nas estatísticas e nas técnicas de projeção, mas não há mais crença nas previsões globais de longo prazo, o que pode ser um sintoma de maturidade social: “a humanidade tornou-se adulta” (pág. 598). Ele termina esse capítulo por uma nota de ceticismo sadio: “Desde a Antiguidade, o homem prediz e profetiza, e a história das suas previsões é uma história dos seus erros e das suas decepções. Devemos ficar tristes com o seu ceticismo crescente?” (idem).

As conclusões deste livro são conformes ao seu espírito condutor. Depois de se perguntar se um livro sobre a história das previsões deveria terminar por uma previsão, Minois considera as lições da história. A divisão em cinco períodos – oráculos, profecias, astrologia, utopia e métodos científicos –  não significa que ocorreu uma sucessão cronológica dos procedimentos de previsão, mas sim um efeito de entrelaçamento e de acumulação. Os métodos antigos de previsão ainda são utilizados, ao lado dos mais recentes, o que confirma que, nesse terreno, não é o conteúdo que importa, mas o procedimento. “Não é o futuro que está em jogo, mas o presente. Assim é que o método mais recente, a prospectiva, encontra o mais antigo, os oráculos. Para os institutos de prospectiva, como para os funcionários de Delfos, trata-se de fornecer aos dirigentes de todos os tipos indicações de tendências, cenários possíveis para guiar sua ação. Que esses cenários expressem a vontade dos deuses ou a evolução provável das curvas sócioeconômicas, isto é secundário. O importante é que, num caso como no outro, não haja nada de inelutável e que o futuro seja apresentado, finalmente, como o resultado de uma ação voluntária em função de um certo ambiente. Nos gregos, a forma enigmática do oráculo faz a solução depender da habilidade do interessado em decifrá-lo; na prospectiva, a pluralidade de modelos apresentados deixa ampla latitude à perspicácia dos decisores” (pág. 599).
“Em última instância”, continua Minois, “não é o que é previsto que conta, é a reação daquele para quem é feita a previsão, e não é a realização da previsão que conta, mas sim a ação que ela vai provocar” (pág. 600). Minois considera que a ecologia talvez seja a última utopia da era presente. As religiões eram proféticas, mas ao tornarem-se instituições, encarregadas de administrar o presente, elas tendem a ser conservadoras e a afastar as antigas profecias. A astrologia continua popular, por aparentar alguma base científica. Mas os tempos modernos também tiveram sua cota de previsões não realizadas: os socialistas previram o igualitarismo, os economistas liberais o crescimento contínuo, fonte de enriquecimento, e todos estão de acordo sobre o progresso científico. Mas, no que se refere à “grande previsão, o futuro do mundo, da sociedade, da economia, ela foi engolfada no naufrágio generalizado das ideologias, das religiões estabelecidas e dos valores” (pág. 602).
Impossibilidade de prever o futuro, portanto? Isso não importa, como reafirma Georges Minois: “não é o conteúdo da previsão que conta, é o seu papel de guia para a ação; a previsão é oferecida para justificar ou modificar um comportamento” (pág. 603). O futuro se constrói agora e ele não está pré-determinado. “Ora, para construir o futuro, é preciso primeiro construir uma imagem, mesmo falsa. É esta imagem que falta, porque o presente parece ter alcançado o futuro e se confundido com ele. O imediato absorveu o futuro como ele absorve o passado, reconstruindo-o” (idem).
Minois termina relembrando essas obras de ficção, esses filmes futuristas, nos quais os heróis disparam raios-laser, mas levam uma couraça greco-romana e lutam de espadas: “esses traços anedóticos são reveladores de uma época que busca a saída, que não sabe mais prever porque ela não sabe mais onde está o futuro” (pág. 603).

Uma obra sem dúvida alguma rica em ensinamentos sobre nossas frustrações com o passado, mas tranqüilizadora quanto a nossas possibilidades no futuro: continuaremos a tentar adivinhar o curso futuro dos eventos, para melhor guiar nossa ação no presente e revisar nossa visão do passado. Se ouso tirar uma lição pessoal (e coletiva) da leitura destas páginas, seria esta aqui: planejadores do futuro (entre os quais me incluo, momentaneamente), manejem com cuidado os instrumentos de predição, sejam modestos nos objetivos a serem alcançados, estejam prontos para ajustar a “mira” a cada curva do caminho, guardem sempre um certo ceticismo sadio quanto às “soluções ideais” e mantenham as possibilidades abertas para uma escolha entre vias alternativas, pois o desenvolvimento social segue sempre uma via única e original, não havendo coisa alguma no passado que nos condene a este ou aquele futuro. E, finalmente: boa sorte na condução deste nosso bateau ivre, lançado no oceano do espaço-tempo.
   
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 1326b: 16 dezembro 2004

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Defesa: debate no IEA-USP, 29/11/2016, 9-17hs

Seminário apresenta visão das Forças Armadas sobre a defesa no Brasil

por Mauro Bellesa - publicado 27/10/2016 17:10 - última modificação 31/10/2016 13:40

3º Pelotão Especial de Fronteira, sediado em Paracaima, RR, fronteira com a Venezuela
3º Pelotão Especial de Fronteira, sediado em Pacaraima,
Roraima, próximo à fronteira com a Venezuela
A Defesa no Brasil é o tema do encontro que se realiza no dia 29 de novembro, das 9h às 17h, na Sala de Eventos do IEA, atividade inaugural do Ciclo de Diálogos Estratégicos do IEA. Haverá exposições de representantes do Exército, Marinha, Aeronáutica e da indústria nacional de defesa.
Esse primeiro diálogo tem por objetivo proporcionar à comunidade acadêmica informações atualizadas e realistas que permitam debater e concluir sobre a situação e perspectivas do Brasil nesse campo, assim como os papeis das partes interessadas da sociedade.
"A atuação militar vem passando por uma transformação, seja pela posição que o país passou a ocupar no mundo ou pela incerteza e imprevisibilidade do cenário internacional", explica em artigo publicado no site do IEA o general Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, comandante do Exército Brasileiro.
Já estão confirmadas as participações do capitão de mar e guerra Arthur Mendes de Oliveira, que falará sobre a fronteira marítima, e do representante do Departamento da Indústria de Defesa da Fiesp, Anastácio Katsanos. Os coordenadores serão o general da reserva do Exército Sergio Conforto e do vice-diretor do IEA, Guilherme Ary Plonski.
Alguns dos tópicos a serem discutidos no encontro são:
  • importância do mar para o Brasil. A "Amazônia azul"
  • a problemática decorrente da diversidade das fronteiras terrestres (sul, oeste, Amazônia)
  • controle e defesa do espaço aéreo brasileiro
  • as forças de paz
  • ciência, tecnologia e inovação e defesa
  • indústria e defesa
  • Política Nacional de Defesa
Ciclo
"Ao focalizar em temas estruturantes, o Ciclo de Diálogos Estratégicos convergirá com outras iniciativas do IEA e da USP na construção de um espaço de reflexão estratégica para o desenvolvimento sustentável e inclusivo do Brasil", segundo Plonski, que coordena o programa.

Relacionado

América do Sul: Integração, Geoestratégia e Segurança(painel realizado em 21/set/2006)
Notícia
Midiateca
O ciclo integra a série Strategic Workshops, organizada pela Pró-Reitoria de Pesquisa e pelo IEA, com apoio da Academia de Ciências do Estado de São Paulo.
Além desta primeira atividade do ciclo, o tema "segurança" será discutido no IEA também por meio da revista "Estudos Avançados", em futuro dossiê especial sobre o assunto.

A Defesa no Brasil
CICLO DE DIÁLOGOS ESTRATÉGICOS

29 de novembro, 9h
Sala de Eventos do IEA, rua da Praça do Relógio, 109, bloco K, 5º andar, Cidade Universitária, São Paulo
Evento gratuito e aberto ao público
Transmissão online ao vivo
Informações: com Sandra Sedini (sedini@usp.br), telefone (11) 3091-1678
Foto: Mauro Bellesa/IEA-USP