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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sábado, 13 de abril de 2019

Governo Bolsonaro: entre o mediocre e o desastroso - seminário IBRE-FGV/Estadao


Realmente preocupante que o governo, com pouco mais de 3 meses, já esteja sendo classificado entre o medíocre e o desastroso.
Paulo Roberto de Almeida


Mediocridade estável ou ruptura?
Fernando Dantas 
O Estado de S. Paulo, 12 de abril de 2019 | 21h37

No seminário “100 dias do governo Bolsonaro”, realização conjunta do FGV/Ibre e Grupo Estado, predominou uma visão bastante sombria sobre as perspectivas do Brasil no mandato do atual presidente.
O seminário “100 dias do governo Bolsonaro”, realização conjunta do Grupo Estado e FGV/Ibre, não foi exatamente animador para a plateia que acorreu nesta sexta-feira (12/4) ao auditório do Centro Cultural da FGV, no Rio, para ouvir a análise de especialistas do Ibre e outros convidados. A mediação dos debates ficou a cargo dos jornalistas do Grupo Estado Celso Ming e Adriana Fernandes.
Talvez, para mostrar de forma mais clara o pessimismo predominante, seja preferível começar pelos pontos positivos do governo até agora apontados pelos participantes – e em seguida indicar como o lado negativo sobrepuja amplamente os primeiros.
Assim, verificou-se quase consenso entre os debatedores, a partir do diagnóstico inicial de Armando Castelar, do Ibre, de que houve uma surpresa positiva em relação a Paulo Guedes e sua equipe econômica, que se revelaram mais competentes e disciplinados do que se entrevia no fragor da campanha.
Uma área também considerada satisfatória – embora bem aquém do prometido – foi a de concessões e privatizações. De fato, como notou Manoel Pires (Ibre), não havia a menor chance de privatizar R$ 1 trilhão no primeiro ano, como prometido. Mas houve avanços nas concessões e não foi nessa seara que o governo tropeçou nos seus 100 primeiros dias.
A reforma da Previdência, um copo meio cheio e meio vazio, é um bom tópico para passar dos acertos para os muitos erros e problemas acumulados por Bolsonaro neste início de governo.
Houve consenso no seminário na previsão de que o Congresso aprovará uma versão substancialmente desidratada do projeto enviado pelo governo, e que a aprovação final tomará bem mais tempo do que gostaria a equipe econômica – talvez em torno de um ano, na visão de Pires.
Alguns debatedores, como Bruno Ottoni (Ibre), opinaram que teria sido melhor tentar aprovar rapidamente, no início do governo, o projeto de Temer que já tinha passado na Comissão Especial da Câmara.
O raciocínio é que o nível de desidratação da proposta de Bolsonaro – que na forma original visa economia fiscal de R$ 1,1 trilhão em dez anos – acabará levando o ganho para perto dos mesmos R$ 600 bilhões do projeto de Temer aprovada na comissão.
Então, para que perder tempo? Esta é uma pergunta relevante dado que, como notou Silvia Matos (Ibre), a onda de otimismo com a eleição de Bolsonaro no final do ano passado se esvaziou.
Os prognósticos de crescimento do PIB em 2019 saíram de 2,5% para 2%, e têm cara de estar rumando para 1,5%. Castelar notou que o momento em que as projeções começam a cair fortemente do patamar de 2,5% coincidiu com a recente briga entre Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
Um sinal de que a incerteza sobre a Previdência – e, consequentemente, sobre o futuro da solvência pública – está pesando na confiança de investidores e consumidores, e freando a já combalida recuperação econômica. Nesse sentido, a perspectiva de que a aprovação vai demorar, sem que saiba qual o teor de desidratação da versão final, deve prolongar incertezas e machucar ainda mais a economia.
Isto, por sua vez, tende a piorar a popularidade de Bolsonaro, que caiu muito rapidamente e já está num nível bastante baixo para um presidente que supostamente estaria gozando da sua lua de mel com o eleitorado.
O que nos leva à política, a área em que o quase consenso do debate foi de que as coisas estão indo muito, muito mal.
Tanto Carlos Pereira quanto Octavio Amorim Neto, ambos cientistas políticos da Ebape, consideram um erro gravíssimo de Bolsonaro ignorar as regras do jogo do presidencialismo de coalização e tentar governar sem uma base estável no Congresso.
Para Pereira, é grande insensatez demonizar o que considera como “moedas de troca legítimas” do presidencialismo multipartidário na relação entre Legislativo e Executivo: distribuição, proporcional ao peso dos partidos na base, de cargos no Ministério e na burocracia federal; e liberação de emendas orçamentárias de interesse local para os parlamentares da base. Bolsonaro nem base montou.
Discutiu-se, no encontro, sobre como o Congresso pode estar ocupando o vácuo deixado pela não participação do governo na “velha política”, com a emenda – aprovada em tempo relâmpago nas duas Casas – do Orçamento impositivo (e como isto acaba com uma das “moedas de troca”).
E cogitou-se que Bolsonaro talvez esteja conseguindo, de fato, jogar um pouco sobre o Congresso a responsabilidade pela aprovação da Previdência, mas numa estratégia temerária, já que ao fim e ao cabo é o Executivo que acaba recebendo a conta de perda de popularidade se a economia vai mal.
Neste ponto, Roberto Fendt, secretário-executivo do Conselho Empresarial Brasil China – e único dos debatedores com uma visão menos pessimista – sustentou que Bolsonaro estaria efetivamente, e com razão, forçando o Congresso a assumir também sua parte de responsabilidade pela gestão do País. Mas foi uma posição isolada no debate.
Pereira notou que a literatura de ciência política mostra que presidentes populistas como Bolsonaro são bem-sucedidos apenas no início de mandato em emparedar o Congresso, com apelos plebiscitários à população, para conseguir a aprovação de suas medidas. O mais grave neste início de governo para o pesquisador, no entanto, é que nem esse poder inicial Bolsonaro parece ter conseguido. O capital político derrete sem nenhuma vitória com a estratégia plebiscitária.

O Velho e o Mar
Já Amorim Neto foi muito feliz ao usar como metáfora o conto “O Velho e o Mar”, de Hemingway, para definir o que seria uma suposta “vitória” de Bolsonaro na reforma da Previdência e na agenda liberal, com a estratégia de formar maiorias no varejo a cada votação no Congresso. Nesse caso, os parlamentares ficam livres para “encarecer” os seus votos à cada nova rodada.
“O governo vai lutar muito para pescar o Marlim, mas quando o barco voltar a porto só vai chegar o esqueleto, porque os tubarões de sempre terão, de naco em naco, devorado toda a carne”, disse o cientista político.
Os “tubarões” são uma óbvia referência aos grupos de pressão que lutam para manter seus privilégios no âmbito das mudanças na Previdência e outras medidas de teor liberal (como o combate aos subsídios).
Mas se, de fato, o pessimismo predominante no seminário se confirmar, onde vai desembocar o governo Bolsonaro?
Para Pessôa, vai dar numa mediocridade com baixo crescimento, mas sem “ruptura”, porque há quatro importantes amortecedores: grandes reservas internacionais (com posição líquida em dólares do setor público), baixos juros e inflação, a provável aprovação de uma reforma da Previdência (ainda que muito desidratada) e a emenda do teto dos gastos.
Veloso, no entanto, contrapôs que a previsão de mediocridade estável de Pessôa está olhando apenas o mercado. Na opinião de Veloso, um eventual (e bastante possível) fiasco do governo Bolsonaro, numa situação de penúria econômica e grandes tensões sociais, tem boas chances de levar a um desfecho desastroso. Pessôa concordou que sua visão de estabilidade olhava fundamentalmente para o mercado, e não para a sociedade.
Fernando Dantas é colunista do Broadcast
Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 12/4/19, sexta-feira.

sexta-feira, 12 de abril de 2019

Araujo constrange o Itamaraty : alvo de crescente oposicao interna - Carta Capital


Araújo constrange o Itamaraty e é alvo de crescente oposição interna


Carta Capital,   

Diplomatas mais jovens estão constrangidos em defender as ideias do chefe. E os mais velhos se sentem afrontados

Passados os cem dias de governo Bolsonaro, é cada vez menor a tolerância a Ernesto Araújo dentro do Itamaraty. Diplomatas mais jovens estão constrangidos em defender as ideias do chefe. E os mais velhos se sentem afrontados por ele, que ofereceu posições importantes a diplomatas mais jovens — muitos até evitam lhe dirigir a palavra.
Araújo divide o protagonismo nessa área com Felipe Martins, Eduardo Bolsonaro e com o guru Olavo de Carvalho, o grande fiador de sua indicação. Martins, uma espécie de chanceler paralelo do governo, chama essa turma de ala anti-establishment. Um funcionário veterano do Itamaraty resumiu melhor: está mais para diplomacia religiosa.
Muitos subordinados consideram Araújo um true believer do olavismo, cativado pelas ideias do filósofo e envaidecido da missão de lutar contra o globalismo e a decadência do ocidente. “Bobo”, “maluco” e “cooptado” foram alguns adjetivos que jovens diplomatas ouvidos por CartaCapital usaram para defini-lo.
“Não acho que ele seja manipulador ou mau-caráter. Naquele discurso de posse, deu pra ver que ele quase chorou”, disse um terceiro-secretário lotado em Brasília. 
Tom mais elogioso recebem os secretários do ministro, tidos como competentes no papel de “adultos na sala” do dia a dia do MRE. Já os militares, em especial o General Santos Cruz, são vistos como “preparados e pragmáticos”, embora com mais influência dentro do Planalto do que no Itamaraty.
Durante a carreira, Araújo sempre teve atuação discreta e protocolar. Seus arroubos ideológicos só ficaram conhecidos em 2016, depois que ele publicou nos cadernos do IPRI um artigo em defesa de Trump. No texto, Araújo considera o presidente americano o único capaz de salvar a civilização ocidental, representante de uma “longa tradição intelectual e sentimental, que vai de Ésquilo a Oswald Spengler”. Em meados de outubro do ano passado, passou a defender abertamente a candidatura de Bolsonaro em seu blog Metapolítica 17.
O maior temor é de que o país esteja se isolando ao aderir a Trump e ao consórcio de extrema-direita que tomou países como Hungria, Polônia e Turquia. “Todo mundo fala em prejuízos econômicos, mas o prejuízo imediato é diplomático. Nunca a imagem do Brasil esteve tão ruim”, analisa Marcelo Zero, especialista em Relações Internacionais e assessor técnico no Senado.
Há também quem o veja como oportunista. Anos antes, Araújo dedicou sua tese exigida para virar embaixador à política externa colocada em prática a partir dos governos Lula. Quando era ministro-conselheiro nos Estados Unidos, em 2011, defendeu o envolvimento de Dilma na luta armada contra a ditadura. “Especialmente entre os jovens não havia esperança de ver a democracia restabelecida por meios pacíficos. (…) Então muitas pessoas, a despeito das instituições, decidiram pegar em armas. Ela [Dilma] foi parte disso.”

Nunca antes na história do Itamaraty

Fato é que nunca antes um ministro na posição de Araújo teve tanta oposição dentro do Itamaraty. E, apesar do mal-estar, há certa blindagem. A carreira diplomática se parece um pouco com a carreira militar: há muito respeito à hierarquia e à institucionalidade, e essa disciplina obriga os sujeitos a obedecer quem está no andar de cima. Por isso os levantes, embora mais frequentes, seguem anônimos. 
Costumam confrontar o governo abertamente veteranos como Roberto Abdenur e os ex-chanceleres Rubens Ricupero e Celso Amorim, já afastados das funções cotidianas da diplomacia. “Os governos anteriores não fizeram nenhuma reforma, então o poder do ministro ainda é imenso”, critica um diplomata veterano, já aposentado.
“Sempre existe a possibilidade de não cumprir pedidos à risca, de fazer certo ‘corpo mole’, mas a capacidade do corpo diplomático de resistir a certas diretrizes e interpretações é um tanto limitada”, explica Zero.
Episódios recentes ilustram bem esse desbalanço. Um grupo anônimo de quarenta diplomatas divulgou uma carta de repúdio às manifestações do governo em favor do golpe de 64. Dias depois, em telegrama à ONU, o Itamaraty confirmou a versão oficial do Planalto, de que não houve um golpe militar no Brasil.
No Brasil, a Associação dos Diplomatas Brasileiros não costuma se envolver em confusão. A última manifestação de cunho político oficial ocorreu em 2017, depois que funcionários do Itamaraty divulgaram uma carta, também anônima, criticando a truculência do governo na repressão a manifestações contra o então presidente Michel Temer. Na época, a ADB contestou a posição, considerada pela associação um ataque ao caráter institucional da diplomacia. 

Dança das cadeiras nas chancelarias

Enquanto isso, o governo vai trocando as peças na tentativa de melhorar a imagem do país. Em março, Paulo Roberto de Almeida foi demitido depois de publicar na internet um artigo nada elogioso à tal ala anti-establishment, no qual Olavo de Carvalho era chamado de “sofista da Virgínia”. 
Mario Vivalva foi exonerado da Apex, principal braço do comércio exterior, depois de protestar publicamente contra um golpe estatutário que deu poder máximo a dois protegidos de Ernesto Araújo. Diplomata de carreira com passagens por Alemanha, Chile e Portugal, Vilalva havia assumido a agência para acalmar os ânimos depois da breve e desastrada nomeação de Alecxandro Carreiro, um amigo de Eduardo Bolsonaro que mal falava inglês.



Também perdeu o cargo Sérgio Amaral, que há três anos chefiava a embaixada de Washington, considerado o posto mais destacado do Brasil no exterior. Amaral não é o que pode se chamar de “petista”: assumiu o posto pouco depois do impeachment, defendeu o veto a Lula nas eleições e vinha mantendo uma boa relação com o novo governo. Mesmo assim, foi limado. E deve ser substituído por um discípulo de Olavo.

Itamaraty: Ou segue a ideologia ou está fora - IstoÉ

Ou segue a ideologia ou está fora

Em meio ao clima de caças às bruxas, diplomatas que não rezam na cartilha ideológica do governo preparam-se para deixar o Itamaraty. Competentes ou não, já receberam o recado: sairão por bem ou por mal

Revista IstoÉ, 12/04/19 - 09h30

Crédito:  Pedro Ladeira/Folhapress
“DEUS VULT” Sob o comando de Ernesto Araújo, o Itamaraty virou palco de perseguições contra quem não concorda com a catilinária obscurantista do chanceler (Crédito: Pedro Ladeira/Folhapress)
“DEUS VULT” Sob o comando de Ernesto Araújo, o Itamaraty virou palco de perseguições contra quem não concorda com a catilinária obscurantista do chanceler (Crédito: Pedro Ladeira/Folhapress)
ELE CAIU ATIRANDO O experiente diplomata Mario Vilalva deixou a presidência da Apex, na última semana, sem poupar o chanceler Ernesto Araújo de pesadas críticas
A demissão de dois quadros de grande relevância na diplomacia brasileira retrata o tóxico ambiente que se instalou no Itamaraty desde a posse do novo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Na última semana, o diplomata Mario Vilalva, assim como já acontecera com seu antecessor, foi defenestrado da presidência da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). E o embaixador Sérgio Amaral deixou a embaixada dos Estados Unidos, cumprindo o que já avisara o presidente Jair Bolsonaro antes da viagem aos Estados Unidos. É provável que, a partir dessas saídas compulsórias, haja uma debandada voluntária no corpo diplomático brasileiro nas próximas semanas. Não exatamente em solidariedade a eles. Mas pela condução extremamente ideológica de Ernesto Araújo no ministério, que tem tornado o clima na diplomacia brasileira insuportável. Há, segundo diplomatas ouvidos por ISTOÉ, uma verdadeira perseguição macarthista no ministério – uma referência à caçada contra pretensos comunistas que conduzia na década de 1950 nos Estados o senador Joseph Mcarthy. Uma perseguição radical e injusta que levou à expulsão do país mesmo de ícones populares, como o ator Charles Chaplin. Neste caso, quem não reza na cartilha ideológica do governo – que condena delírios como o “marxismo cultural” e luta contra o que chamam de “globalismo” – é posto para fora.
“Nunca pensei que um ministro (Ernesto Araújo) faria isso. Legislando sem transparência, modificando o estatuto da Apex e tentando me induzir ao erro”
“Comecei a receber pressão do próprio Ernesto Araújo e de Otávio Brandelli (secretário-geral do Itamaraty). Os dois me disseram para deixar os diretores fazerem o que quisessem. Desse tipo de esquema, eu não participo”
“À medida que eu neguei, tentaram me constranger”
ISTOÉ apurou que muitos diplomatas que consideram não se encaixar exatamente no perfil político desejado por Araújo estão tentando transferência para cargos em outros Poderes, especialmente o Legislativo. O maior incômodo são com as decisões administrativas de Ernesto. Uma delas seria a nova política de remoção, cujo critério para escolha das melhores representações nacionais mundo afora agora é a afinidade do interessado com a filosofia do novo governo, algo que nunca havia sido feito antes. “Estou vendo gente que ama o que faz querendo sair porque não aguenta esse ministro”, disse um diplomata, sob a condição de não ser identificado para não sofrer perseguições. De acordo com ele, há um clima de “caça às bruxas”.
O medo tem fundamento. Os dois recém-demitidos foram criticados por fazer “corpo mole” na defesa da política externa do novo governo. Tanto Vilalva como Sérgio Amaral, ex-porta-voz do presidente Fernando Henrique Cardoso, são embaixadores dotados de grande experiência. Serviram a vários governos. Vilalva, por exemplo, afirma que sua saída está diretamente ligada a pressões que sofria para dar liberdade plena a dois subordinados indicados por gente de fora do quadro da agência. A ordem de Ernesto Araújo com relação a eles, segundo Vilalva, é que estariam autorizados a fazer o que bem entendessem na agência. A primeira é Letícia Catelani, pivô de outra demissão na Apex em três meses: a de Alecxandro Carneiro. Ela é diretora indicada por Ernesto, a pedido de Eduardo Bolsonaro. O outro é Márcio Coimbra.
MAIS UM BODE EXPIATÓRIO O embaixador Sérgio Amaral deixou posto nos EUA acusado de não blindar Jair Bolsonaro de ataques fora do País (Crédito:Marlene Bergamo/Folhapress)
Marlene Bergamo/Folhapress
Vilalva recusava-se a dar aos dois a autonomia exigida por Araújo. A situação tornou-se irreversível quando foram instaladas portas eletrônicas com senha na entrada da ala de acesso às salas de Catalani e Coimbra. Sem o código de acesso, o presidente da Apex era simplesmente barrado dos gabinetes dos subordinados – algo impensável para qualquer repartição de esquina, quiçá num importante órgão de governo. Ao sair, Vilalva não poupou crítica ao ministro, a quem chamou de desleal. “Desse tipo de esquema, eu não participo”, afirmou. O embaixador Sergio Amaral deixou a chancelaria brasileira em Washington, nos Estados Unidos, um dia depois da queda de Vilalva. A interlocutores, Bolsonaro se queixou que a imagem dele não estava boa lá fora, pois era apresentado como ditador, racista e homofóbico “sem a devida defesa dos diplomatas brasileiros”, como se Amaral fosse o culpado pelas diatribes do mandatário do País.

Os dois episódios marcam o estilo de gestão de Ernesto Araújo no Itamaraty. Diplomatas que atuam em países fora do eixo principal de interesse dos Estados Unidos dizem ter sido orientados a não celebrar negócios e adiar compromissos até segunda ordem. Outros casos que provocam incômodo são as relações com a China e os países árabes. ISTOÉ apurou que, por conta dos riscos econômicos, já há setores dos Ministérios da Economia e da Agricultura trabalhando nos bastidores para que Ernesto Araújo deixe o governo. Por ora, ele segue prestigiadíssimo, sobretudo por professar o mesmo rosário do presidente da República. Enquanto isso, os tempos no Itamaraty seguem nada diplomáticos.

quinta-feira, 11 de abril de 2019

Chefia do Itamaraty veta escolha dos alunos para paraninfo da formatura do Instituto Rio Branco

Itamaraty veta homenagem de formandos a diplomata desafeto dos EUA

Turma do Instituto Rio Branco convidou José Maurício Bustani como paraninfo; Itamaraty nega ingerência

O comando do Itamaraty, chefiado pelo ministro Ernesto Araújo, interferiu na formatura dos alunos do Instituto Rio Branco deste ano e vetou uma homenagem que os formandos planejavam fazer ao embaixador aposentado José Maurício Bustani.
Os alunos da escola de formação de diplomatas do Itamaraty formalizaram em fevereiro o convite para que Bustani fosse paraninfo da turma, em reconhecimento ao período em que ele chefiou a Opaq (Organização para a Proibição de Armas Químicas), uma agência da ONU.
Mas a indicação foi barrada pela cúpula do Itamaraty, segundo relataram diplomatas à Folha. Bustani confirmou a informação.
Segundo esses diplomatas, que pediram anonimato por temerem represálias na carreira, a seleção de Bustani como paraninfo criaria uma saia justa para Araújo e para o presidente Jair Bolsonaro, uma vez que é tradição que o mandatário compareça à cerimônia de formatura do Rio Branco.
Isso porque embaixador aposentado protagonizou um conflito no passado com John Bolton, hoje conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca e um dos principais interlocutores entre os governos Bolsonaro e Trump. 
Em nota, o Itamaraty negou a ingerência e disse que nem Araújo nem a alta chefia da casa tiveram informação sobre o convite feito a Bustani.
Diplomata de extensa carreira, Bustani foi forçado a deixar a direção-geral da Opaq em 2002 por pressão direta de Bolton, então subsecretário para controle de armas e segurança internacional do governo George W. Bush.
Bustani argumentava que o Iraque de Saddam Hussein não possuía um arsenal químico. A existência dessas armas foi o principal argumento dos EUA para invadir o Iraque em 2003. Posteriormente, ficou provado que o ditador não tinha esses armamentos.
Questionado pela Folha, Bustani disse que de fato foi procurado em fevereiro por alunos do Rio Branco, que lhe fizeram o convite para ser paraninfo. A justificativa dada pelos alunos para a escolha, relatou Bustani, foi seu desempenho à frente da Opaq.
O embaixador aposentado disse aos alunos que aceitaria a homenagem, mas pediu que eles primeiro consultassem as “instâncias superiores” do ministério. 
“Eu disse para que eles primeiro verificassem dentro da casa [Itamaraty] qual a repercussão, se seria uma coisa viável ou não. Porque eu não queria criar nenhum problema para a turma, não queria que ela ficasse marcada por um confronto ou qualquer coisa do tipo”, afirmou Bustani. 
“Algumas semanas depois eu recebi a comunicação de que realmente o meu nome não tinha sido aprovado. Ponto. Não disseram nem onde nem porquê”, concluiu.
A assessoria de imprensa do Itamaraty informou que a turma escolheu a embaixadora Eugenia Barthelmess como paraninfa.
Passados mais de 16 anos desde a saída de Bustani da Opaq, Bolton é hoje um dos principais auxiliares de Trump nas áreas de relações exteriores e de defesa.
Antes de 1º de janeiro, Bolton viajou ao Rio de Janeiro e se encontrou com Bolsonaro, então presidente eleito. Ele é um interlocutor de Araújo, com quem se encontrou quando o chanceler viajou a Washington, em fevereiro, para preparar a visita presidencial aos EUA. 
Bolton é um dos representantes da ala mais linha-dura do governo americano. Ele já classificou, por exemplo, os regimes de Venezuela, Nicarágua e Cuba como “troica da tirania” no continente.
As turmas do Rio Branco são formadas por diplomatas em início de carreira, que passam por um período formativo no instituto antes de começarem a trabalhar no ministério.
Os diplomatas que se graduam neste ano estiveram dois semestres na escola, que entre outras áreas dá aulas de planejamento diplomático e história da política externa brasileira. 
Após o início de sua gestão, Araújo estendeu para três semestres a duração do curso.
Todos os anos, os formandos escolhem um paraninfo, que é um diplomata sênior admirado pela turma, e um patrono, que também vira o nome da turma. 

Em 2018, ainda no governo do ex-presidente Michel Temer, os diplomatas escolheram como patrona Marielle Franco, vereadora no Rio de Janeiro e militante dos direitos humanos assassinada em março daquele ano.

Autonomia dos Bancos Centrais sob ataque - The Economist editorial

The independence of central banks is under threat from politics

That is bad news for the world

CRITICS OF ECONOMICS like to say that its abstract theories lack real-world pay-offs. There is a glaring counter-example: the global rise of central-bank independence in the past 25 years. In the 1970s it was normal for politicians to manipulate interest rates to boost their own popularity. That led to a plague of inflation. And so rich countries and many poorer ones shifted to a system in which politicians set a broad goal—steady prices—and left independent central bankers to realise it. In a single generation billions of people around the world have grown used to low and stable inflation and to the idea that the interest rates on their bank deposits and mortgages are under control.
Today this success is threatened by a confluence of populism, nationalism and economic forces that are making monetary policy political again. President Donald Trump has demanded that interest rates should be slashed, speculated about firing the boss of the Federal Reserve and said he will nominate Stephen Moore and Herman Cain, two unqualified cronies, to its board. Brexiteers rubbish the competence and motives of the Bank of England, while in Turkey President Recep Tayyip Erdogan has been in a tug-of-war with the central bank. India’s government has replaced a capable central-bank chief with a pliant insider who has cut rates ahead of an election. And as we report this week, many top jobs at the European Central Bank (ECB), including the presidency, are up for grabs, and some could become part of a wider political struggle over who runs Europe’s institutions (see article). There is a genuine need for reflection on central banks’ objectives and tools. But dangerous forces are afoot that could have alarming consequences for economic stability.
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The problem of politicisation last became acute in the 1970s. After the post-war Bretton Woods currency system collapsed, central banks failed to tame racing inflation because politicians, who pulled the strings, were reluctant to bear the short-term cost of higher unemployment. Two decades of runaway prices and crises led to a new orthodoxy that central banks should be given operational autonomy to pursue an inflation target. In the euro zone, Japan and Britain central banks became legally independent in the 1990s. In America the White House refrained from even publicly discussing Fed policy (see Free exchange). This consensus survived the crash of 2007-08 and is one reason why global inflation has been only 4% a year on average over the past two decades.
The fraying of central banks’ independence has several causes. One is populism. Leaders like Mr Trump combine the politician’s desire for low interest rates with a reckless urge to undermine institutions. Another is the scope of central banks’ activities, which expanded after the financial crisis. Most now hold huge portfolios of government bonds while, at the same time policing the financial industry. And the record of central banks is far from perfect. Because they have probably been too hawkish (despite their unconventional policies) the recovery from the crisis has been slow, undermining voters’ faith in the technocrats whose loyalty is supposedly to the public interest. All this makes it easier to view them as political. Meanwhile, the memory of the crises that led to independence has faded.
Pressure is manifesting itself in different ways in different places. Mr Trump has launched an attack on the Fed. Although his legal authority to sack Jerome Powell, its chairman and a Trump appointee, is not clear, if he wins re-election in 2020 he will be able to nominate a new Fed chairman and two more governors. In Europe a flurry of job changes threatens to lower the calibre of decision-making at the ECB and feed underlying disagreements. By the end of the year, three members of the six-strong executive board and eight of the 19 national governors, who also vote on rates, will have left. The most notable of these is Mario Draghi, its head. His departure in October will happen almost concurrently with elections and a change in leadership at the European Commission and Council, a once-in-40-years overlap. Behind the political game of revolving chairs is a battle between countries to control policy. Northern Europeans have been suspicious of the ECB’s bond-buying, seeing it as cover for subsidising southern Europe. Rather than win by force of argument, they are seeking an edge by getting their own people into the top jobs. That will store up problems.
Perhaps global inflation will rise again from its grave, in which case weaker central banks may struggle to kill it off. More likely is an economic downturn. The world economy has decelerated this year—on April 9th the IMF downgraded its forecasts. Central banks may find themselves needing to pep up their economies.
This is what makes today’s politicisation so dangerous. Technocrats face a difficult challenge. The rich world has hardly any room to cut interest rates before hitting zero, so central banks will once again have to turn to unconventional stimulus, such as bond-buying. The Fed and other central banks may also need to co-operate globally, as in the wake of the crisis. The ECB will have to convince markets that it will do whatever it takes to contain another financial panic on Europe’s periphery. The presence of political appointees, who are either ill-qualified or northern European hawks, would make all these tasks harder. It is not just that their votes count, but also that they would poison the public debate about what central banks should and should not do to deal with recessions.

The talking cure

It is right that the objectives and tools of monetary policy are subject to democratic scrutiny and that central bankers are accountable to legislatures. The Fed is reviewing its target in order to be prepared for a downturn. Other central banks should follow suit. In the long run, this secures their legitimacy and hence their independence. Yet in today’s political environment it is naive to think that politicians really want a considered debate. Instead, the more central banks are in the limelight, the more they will find their month-to-month decision-making subject to external pressure, or find themselves at the whim of boards packed with hacks. It is just that sort of politicisation that the theorists behind independent central banks wanted to avoid. Look back 40 years and you will get a flavour of what could go wrong.

This article appeared in the Leaders section of the print edition under the headline "Interference Day"