O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Instituto Millenium: dezenas de especialistas, só dois diplomatas

 Diplomatas liberais? Só dois?!?!

Verifiquei a lista de “especialistas” do Instituto Millenium, dentre os quais (são exatamente 148) eu e o meu ex-chefe, embaixador Rubens Barbosa, somos os DOIS ÚNICOS diplomatas!

Não acredito que somos os dois únicos diplomatas liberais entre 1.500 membros do corpo diplomático brasileiro. Não deve ser verdade: o Itamaraty tem de tudo, liberais, esquerdistas, tucanos, malufistas, lulistas, direitistas, reacionários, anarquistas, românticos, surrealistas e talvez até um ou dois bolsonaristas (sempre é possível).

Vou fazer a enquete de sociografia que imaginei fazer assim que ingressei no Itamaraty, mais de 43 anos atrás…

Paulo Roberto de Almeida 

Especialistas

terça-feira, 26 de outubro de 2021

O Meteoro e a renovação da política externa - Marcos Magalhães (Capital Político)

 O Meteoro e a renovação da política externa

O diabo não desiste - Editorial, O Estado de S. Paulo (24/10/2021)

 O diabo não desiste

Editorial, O Estado de S. Paulo (24/10/2021)


O PT não se desculpa por seus erros, e aqueles que o partido não pretende repetir, julga ter poder de apagar

Desde que o PT precipitou a maior crise econômica, política e moral da Nova República, a população esperou em vão por um mísero mea culpa. Após o impeachment de Dilma Rousseff, a única bandeira a unificar seus correligionários foi a denúncia ao “golpe”, logo substituída pelo slogan “Lula Livre”. O PT se opôs a reformas modernizantes como a da Previdência, opõe-se a outras, como a administrativa, e não oferece alternativas construtivas aos desmandos que acusa. Em campanha eleitoral, o partido se mostra incapaz de propor uma agenda positiva para o futuro, muito menos de reconhecer os erros do passado. Ao contrário, afirma que vai repeti-los, por exemplo, implodindo o teto de gastos que estancou a hemorragia fiscal deflagrada no governo Dilma Rousseff. 

Ainda pior, o PT não só pretende repetir seus erros de gestão, como julga ter poder de apagar os crimes dos quais foi cúmplice. Em entrevista coletiva, a sua presidente, Gleisi Hoffmann, afirmou que nunca houve “corrupção sistêmica”, superfaturamento ou desvio de dinheiro na Petrobras.

Boa parte desses delitos foi confessada pelos próprios delinquentes, que devolveram bilhões desviados à Petrobras. Com base em uma auditoria da PriceWaterhouseCoopers, a própria Petrobras admitiu no balanço de 2014 que US$ 2,5 bilhões foram pagos a mais a “um conjunto de empresas que, entre 2004 e abril de 2012, se organizaram em cartel para obter contratos com a Petrobras, impondo gastos adicionais nestes contratos e utilizando estes valores adicionais para financiar pagamentos indevidos a partidos políticos, políticos eleitos ou outros agentes políticos, empregados de empreiteiras e fornecedores, ex-empregados da Petrobras e outros envolvidos no esquema de pagamentos indevidos”.

Segundo Gleisi Hoffmann, a PriceWaterhouse foi obrigada pela Lava Jato a atestar as perdas. Não há evidências disso. Por outro lado, é notório que à época o PT pressionou a diretoria da Petrobras comandada por Maria das Graças Foster, executiva de confiança de Dilma Rousseff, a não publicar os dados auditados, levando a um impasse e finalmente à renúncia de Foster e outros diretores. Depois, a Petrobras participou dos processos judiciais como assistente de acusação do Ministério Público, recuperando mais de R$ 6 bilhões superfaturados pelos cartéis.

O Tribunal de Contas da União (TCU), atuando independentemente da Lava Jato, expôs uma série de ilicitudes nos contratos da Petrobras. Na construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, por exemplo, o TCU identificou que o orçamento inicial de US$ 13,4 bilhões foi majorado para US$ 26,3 bilhões. Ao mesmo tempo que o custo final foi dobrado, a refinaria produz apenas metade dos 230 mil barris de petróleo inicialmente previstos. O TCU estimou que as perdas da Petrobras apenas em Abreu e Lima acumularam US$ 19 bilhões.

Similarmente, o TCU verificou que a torre Pirituba, em Salvador, inicialmente orçada em R$ 320 milhões, foi construída pela OAS e a Odebrecht por R$ 1,3 bilhão, e que a construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro – jamais concluída – gerou perdas de US$ 12,5 bilhões.

É conhecida a candura com que a ex-presidente Dilma Rousseff expôs os métodos petistas: “Nós podemos fazer o diabo quando é a hora da eleição”. Ironicamente, o PT, ciente de que ninguém fez mais do que Dilma para arruinar o suposto legado de Lula, a incluiu no rol dos erros a serem esquecidos. O ex-poste de Lula é hoje uma ausência garantida nos discursos e comícios do demiurgo de Garanhuns. 

Lula, por sinal, afetou melindres em suas redes sociais: “Eu sou de um tempo onde a disputa era apenas eleitoral. Você não estava numa guerra. Seu adversário não era um inimigo”. Que o diga a ex-petista Marina Silva, sordidamente vilanizada pelos marqueteiros do PT nas campanhas de 2014, ou todos os brasileiros vilipendiados como “fascistas” simplesmente por recusarem o culto a Lula da Silva.

O despudor com que o PT tenta reescrever a história do País para edulcorar sua trágica passagem pelo poder rivaliza com o sistemático embuste bolsonarista, o que permite prever que a campanha de 2022, mantido o favoritismo de Lula e Bolsonaro, fará corar o próprio Pinóquio.


Do arco e flecha à vacina: uma evolução pouco evolutiva - Paulo Roberto de Almeida

 Do arco e flecha à vacina: uma evolução pouco evolutiva

Paulo Roberto de Almeida


A evolução da guerra: espadas, lanças e escudos; catapultas; arqueiros e lanceiros; cavaleiros; armaduras; castelos; canhões; cavalaria, infantaria; mais canhões; metralhadoras; canhoneiras, tanques; aviões; porta-aviões; bombardeiros; foguetes; bombas atômicas; mísseis; drones…

Tem espaço para algum manifesto incendiário? Algum Mein Kampf, por exemplo?

Ou apenas algum outro que proclame a luta de classes? Até a extinção de todas as classes?

Até que ponto, ou em quais condições, ideias são capazes de matar?

Algumas armas são mais sutis, como o humor, por exemplo, ou o escárnio…

Estaria bem um duelo entre Shakespeare e Machado de Assis? Ou entre Verdi e Wagner?

Que tal uma corrida de cem metros entre Schopenhauer e Nietszche? 

Ou uma competição entre Marx e Epicuro sobre como fazer da humanidade um lugar menos desumano?

Quem sabe um concurso literário entre Adam Smith e John Maynard para tornar a economia política menos lúgubre?

E assim chegamos à corrida das vacinas, na qual supostamente todos estariam engajados para o bem dos indivíduos e a felicidade geral da nação. 

Mas, não: sempre aparece algum psicopata negacionista que recusa uma prescrição tão simples quanto eficaz.

Assim marcha a humanidade…

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 27/10/2021