O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 3 de julho de 2023

Augusto de Franco sobre as democracias e as autocracias

Uma canja. Capítulo 33 do meu novo livro Como as democracias nascem

Augusto de Franco : 

Como Nascem as Democracias

A RAIZ DO REALISMO POLÍTICO

“A teoria de Darwin sobre a sobrevivência do mais forte… [é] um melhor guia para a compreensão da história do que a moralidade pessoal”.

O realista Kissinger (1994), em Diplomacy, interpretando o pensamento de Theodore Roosevelt, o seu admirado “estadista-guerreiro” (1).

O realismo político acabou virando uma vertente de política externa ou internacional. Não nasceu assim, porém. Nasceu como um pensamento antipolítico, para efeitos, na verdade, internos.

Há uma tradição autocrática no pensamento político. É essa tradição que constitui o chamado realismo político. Começa com Platão, passa por Maquiavel, Hobbes, pelo Cardeal Richelieu, por Clausewitz, pelos chamados “políticos do poder”, como Metternich e Bismarck e vários outros até chegar aos realistas modernos como Schmitt, Morgenthau e Carr e aos contemporâneos, como, para citar apenas alguns exemplos, Brzezinski, Genscher, Ross, Kissinger e o novo crush dos autocratas de direita e de esquerda chamado John Mearsheimer. Este capítulo é sobre isso. Mas não vai comentar exaustivamente as ideologias desses autocratas e sim apenas chamar a atenção para alguns padrões antidemocráticos que estão presentes nos seus pensamentos.

Platão

Podemos dizer – sem medo de errar – que o realismo político nasceu com Platão, quer dizer, tem a ver com os fundamentos dos regimes de Esparta, Creta e Siracusa, não com os fundamentos do regime que vigorou em Atenas nos séculos 5 e 4 a.C. Sua raiz é dória, não jônia. E as tentativas de atribuí-lo originalmente a Tucídides são inconsistências inventadas por acadêmicos americanos.

Platão, nas Leis (626a), escreveu que “na realidade, por questões de natureza (φύσις), todas as póleis vivem envolvidas em um estado de guerra velada”. Bem… aí com certeza começou, no plano teórico, o chamado realismo político. O primeiro problema dessa afirmação platônica não é constatar que as póleis (entendidas erroneamente como cidades-Estado) vivem em estado de guerra e sim achar que isso ocorre por algum tipo de deteminação natural, da phýsis, como qualidade ou propriedade constitutiva de todas as coisas ou sua maneira de ser. O segundo problema é não ver que a pólis, numa democracia (onde Platão vivia, embora a ela se contrapusesse), não é a cidade-Estado e sim a koinonia (comunidade) política. Como percebeu Hannah Arendt (1958), em A condição humana, “a pólis não era Atenas e sim os atenienses” (2).

Avancemos agora pouco mais de dois milênios para constatar como os padrões autocráticos se replicam em outras regiões do tempo. Hans Morgenthau (1948), um dos principais teóricos do realismo político, acreditava que “a política, como aliás a sociedade em geral, é governada por leis objetivas que deitam suas raízes na natureza humana”. Eis aí, desnudado, o pressuposto ideológico platônico antipolítico. Natureza humana é uma natureza (não, com perdão do neologismo, uma “socialeza”). Natureza, Deus ou História (tudo assim com maiúsculas) dá no mesmo. É uma instância extra-política determinando a política a despeito da interação propriamente política entre as pessoas. Se há algo infenso à política, determinando a política, não pode haver democracia.

Bastaria dizer isso. Mas partamos de uma definição, quase escolar, de realismo político antes de examinar os pensamentos de alguns realistas políticos.


Realismo político é guerra

Em poucas palavras e simplificando ao máximo (o que não é tão inadequado, pois suas construções intelectuais são simplórias), o realismo político parte da constatação de que, não havendo uma instância normativa no plano internacional (uma autoridade máxima à qual os Estados devam se submeter), cada Estado – sim, todo realismo é um estatismo: o sujeito é sempre o Estado, a sociedade é um dominium do Estado – deve garantir a sua própria segurança, agindo em nome de um interesse nacional.

Em nome desse interesse nacional, definido pelo próprio Estado, cada ator deve lutar para aumentar o seu poder (em geral traduzido como capacidade militar, mas não só), para impor sua vontade a Estados mais fracos. Cada Estado deve então decidir por si mesmo se e quando vai usar sua força para alcançar seus objetivos (ou realizar seus interesses).

A colaboração entre Estados, no limite, leva a abrir flancos perigosos, pois o aliado de hoje pode se tornar o inimigo de amanhã (o que é bem resumido na máxima autocrática: “os aliados lhe enfraquecem, os inimigos lhe fortalecem”).

Como não há democracia no plano internacional, não há lei (quer dizer, império da lei) ou critério ético-político a que um Estado deva se submeter. Logo, a única maneira de garantir a sobrevivência do Estado como entidade é organizar-se para se defender de um possível ataque de outros Estados.

Para garantir a paz (entendida como manutenção da integridade do Estado) é necessário se preparar para a guerra por meio da defesa (e por isso toda defesa é guerra preemptiva). E como o sistema é competitivo, a única maneira de evitar a guerra é alcançar um equilíbrio de forças que desestimule, por medo da retaliação, que um Estado faça guerra contra outro e o destrua.

Bem, trata-se de uma definição quase escolar, mas nem por isso incorreta. Pelo menos deixa claro que falar do realismo é falar de guerra. Não, não é falar de outra coisa. É o óbvio. Mas agora vem uma inferência não tão óbvia: toda guerra é interna. Este é o primeiro ponto a ser entendido. Para entendê-lo, porém, é preciso balançar algumas certezas.

Para começar, guerra não é o conflito. É um modo de regular o conflito. E guerra não é o conflito violento. Pode ser praticada sem violência (física), como guerra fria e como política adversarial (a política como continuação da guerra por outros meios).

Depois é preciso ver que guerra não é destruição de inimigos e sim, pelo contrário, construção e manutenção de inimigos (tanto faz se for a Eurásia ou a Lestásia, para lembrar o 1984 de Orwell).

Em seguida é necessário entender que a guerra não tem como objetivo principal derrotar um país estrangeiro a não ser na medida em que isso puder ser usado para instalar internamente um ‘estado de guerra’ (não adianta derrotar um inimigo externo se não se derrotar os inimigos internos, quer dizer, se a força política que está no poder de Estado não continuar estabelecendo sua supremacia). O objetivo da guerra – para quem a faz (e como dizia Maturana, “a guerra não acontece, nós a fazemos”) – é instalar um estado de guerra que enseje, permita e justifique a ereção de estruturas hierárquicas regidas por modos autocráticos. Ou seja, a guerra é um engendramento para possibilitar uma reorganização do cosmo social. Em outras palavras, para impor uma ordem preconcebida em vez de deixar que diversas ordens emerjam da interação, o que acontece toda vez que tomamos a liberdade como sentido da política (e não a ordem). Este ponto é fundamental, porque a democracia é apenas a política que não tem uma ordem pronta (preconcebida) para colocar no lugar de outra, mesmo que essa ordem seja avaliada como a mais perfeita e justa do universo.

Aqui é preciso entender, para resumir, que não é apenas que autocracias façam guerras: a guerra já é a autocracia. E toda autocracia é sempre uma guerra contra um inimigo interno (ainda que um inimigo externo possa existir objetivamente).

Voltemos agora aos pensadores realistas para corroborar essas primeiras impressões.


Schmitt

O jurista e estudioso político alemão Carl Schmitt, publicou, em 1932, um famoso livro intitulado O conceito do político, que provocou grande controvérsia sobre um suposto militarismo ou belicismo presente nas suas concepções. Sua posição foi encarada como realista, pelo fato de ele admitir (mesmo sem desejar, ou propor) que a guerra é o pressuposto sempre presente como possibilidade real em qualquer relação política. De qualquer modo, não há como negar que, para conceituar o político, Schmitt insiste demais nas noções de guerra e de inimigo, deixando de tratar, com a mesma atenção – e isso não pode ser por acaso –, dos conceitos de paz e de amigo.

Não cabe aqui entrar na controvérsia nos termos em que ela foi colocada. Talvez seja necessário dizer apenas que, para Carl Schmitt, “a diferença especificamente política… é a diferença entre amigo e inimigo”. Ainda que ele tente fazer uma distinção entre inimicus em seu sentido lato (o concorrente comercial, “o adversário particular que odiamos por sentimentos de antipatia”) e hostis (o inimigo público, o combatente que usa armas para destruir meu contexto vital, enfim, o inimigo político), parece claro que Schmitt não via diferença de natureza entre guerra e política. Tanto é assim que ele afirma que “a guerra, enquanto o meio político mais extremo, revela a possibilidade subjacente a toda concepção política, desta distinção entre amigo e inimigo” (3). Quer dizer que, para ele, conquanto seja um “meio extremo”, a guerra é um meio político. Do contrário ele deveria ter afirmado que a política pode levar à guerra, deixando de ser o que é (mudando, portanto, sua natureza) e não que a guerra é um meio político, pois que, assim, ao fazer guerra, ainda estamos fazendo política.


Pode-se perceber em Carl Schmitt um viés realista da chamada realpolitik. Contrapondo-se ao idealismo, o realismo político é uma política baseada no “equilíbrio do poder”, na linha do pensamento e da prática do Cardeal Richelieu – com sua “razão de Estado” (“raison d’état”) colocada acima de qualquer princípio moral – e dos chamados “políticos do poder”, como os já citados Metternich, Bismarck e, mais recentemente, Kissinger (1994), segundo a qual – e ele escreveu isso interpretando o pensamento do presidente Theodore Roosevelt, o seu admirado “estadista-guerreiro” – “a teoria de Darwin sobre a sobrevivência do mais forte… [é] um melhor guia para a compreensão da história do que a moralidade pessoal” (4).

O ponto da discussão é o seguinte: se pode haver guerra como meio político, então devemos ser realistas o suficiente para praticar a política como quem conta com tal possibilidade (e se prepara para isso, o que acaba, quase sempre, sendo a mesma coisa que praticar a política como “arte da guerra”). Ao proceder desse modo, separando os amigos políticos dos inimigos políticos (os que podem nos combater), cristalizamos aquela relação de inimizade que pode levar à guerra (e que, de qualquer modo, leva à prática da política como uma “arte da guerra”).

O problema é que isso não vale apenas para a relação entre Estados soberanos, mas acaba deslizando – inevitavelmente – para todas as relações políticas (Richelieu usava a “lógica” da tal “razão de Estado” para manter o seu poder internamente e não apenas nas relações internacionais da França). Amigo, então, passa a ser todo aquele que está de acordo com nosso projeto e inimigo todo aquele que discorda do nosso projeto. Ora, se quero afirmar o meu projeto, então devo derrotar ou destruir (na verdade, incapacitar) aqueles que podem inviabilizar a sua realização e isso deve ser feito, inclusive, preventivamente, antes que eles (os outros, os inimigos) consigam inviabilizar meu projeto ou substituí-lo pelos projetos deles. Preempção.

Há uma linha divisória muito fina entre derrotar e destruir o projeto do outro e derrotar e destruir o outro como ator político, quer dizer, como alguém que pode apresentar um projeto diferente (que não é o meu). Assim, basta alguém não estar de acordo com meu projeto (político), para poder ser classificado como inimigo (político), pelo menos em potencial.

Esse ponto de vista, portanto, não cogita muito da possibilidade de transformar o inimigo político em amigo político, convencendo-o, ganhando-o para o nosso projeto ou adotando outro projeto, um terceiro projeto, que contemple ambos os projetos (o nosso e o dele). O realismo indica que isso não ocorrerá, pelo simples fato de ele (o outro), para usar o pensamento de Carl Schmitt, não ser um eu-mesmo – o que significa, paradoxalmente, convenhamos, uma construção ideal do inimigo, aquele que deve ser desconstituído como ser político enquanto ameaçar a realização do meu projeto. Não podendo ser destruído de pronto, tal inimigo, pelo menos, deverá ficar em seu canto, respeitando meu espaço, caso contrário será destruído mais tarde ou a qualquer momento: a isso se chama “equilíbrio de poder”. Configura-se assim uma situação de luta permanente, levando a uma política adversarial ou geradora de inimizade. Porque o outro, em vez de ser considerado como um possível parceiro, um aliado ou colaborador, é visto, antes de qualquer coisa, como um potencial inimigo.

Na verdade, o inimigo como construção ideal passa a ser uma peça funcional do nosso esquema de poder, quer dizer, da nossa política (ou antipolítica). Sem o inimigo, desconstitui-se a realpolitik e o tipo de poder que ela visa sustentar, em geral baseado na necessidade de preservação de uma determinada ordem que precisa ser mantida contra o perigo representado pelo inimigo. É para manter essa ordem que se instaura então, internamente, o “estado de guerra” que consiste em uma preparação para a guerra externa (que pode vir ou não, pouco importa) mas sempre em nome da paz (pois que só alguém preparado para a guerra pode manter a paz). E o mais grave é que esse “estado de guerra” interna pode se referir tanto ao âmbito de um país diante de outros países, como ao de uma organização em conflito real ou potencial com outras organizações, como, por exemplo, ao de um governo confrontado por partidos de oposição. O raciocínio, como se vê, é uma perversão, mas o fato de ele ser aceito tão amplamente indica que as tendências de autocratização da democracia ainda estão na ofensiva em relação às tendências de democratização da democracia.

Toda política que admite a guerra como um de seus meios acaba sendo uma política adversarial, baseada na luta constante para destruir o inimigo ou para manter o “equilíbrio de forças” (e deve-se notar que, aqui, a política já começa a se constituir sob o signo da força e não do poder – uma distinção tão cara à Johanna Arendt). Para a realpolitik, a única realidade política – inexorável – é a da interação de forças e, assim, o único critério político deve ser o da correlação de forças. Devo, sempre, fazer tudo o que for possível para alterar a correlação de forças a favor do meu projeto (ou a meu favor, quando se trata de um projeto pessoal, de uma agenda própria – como, aliás, sempre acontece). A política passa a ser uma luta constante para atingir tal objetivo, quando não deveria ser; ou seja, como escreveu Michelangelo Bovero (1988) em Ética e política: entre maquiavelismo e kantismo, a política não deveria ser luta e sim impedir a luta: não combater por si próprio, mas resolver e superar o conflito antagônico e impedir que volte a surgir (5).

Não são apenas as teorias políticas que estão, em sua maioria, contaminadas pela visão perversa do clausewitzianismo invertido (a fórmule-inverse de Clausewitz-Lenin). A chamada sabedoria política tradicional também se baseia, totalmente, nas regras da luta política como “arte da guerra” ou na prática da ‘política como uma continuação da guerra por outros meios’, pois parece claro que, na maioria dos casos, essa sabedoria não se refere à guerra propriamente dita, aquela em que ocorre a violência física: aqui estamos tratando do ânimo adversarial, que tanto está por trás da guerra quanto da política adversarial ou competitiva.


De Hobbes a Clausewitz

Thomas Hobbes (1651) – que era autocrático, mas não desprovido de inteligência – já havia percebido que “a guerra não consiste apenas na batalha ou no ato de lutar, mas naquele lapso de tempo durante o qual a vontade de travar batalha é suficientemente conhecida… [já que] a natureza da guerra não consiste na luta real, mas na conhecida disposição para tal…” (6).

Conquanto acumule uma grande dose de sabedoria, a tradição política é autocrática, não democrática. Essa sabedoria dos grandes chefes e articuladores políticos, tão admirada pelos políticos tradicionais e pelas almas impressionáveis, tem pouco a ver com a democracia.

Sabedoria não significa democracia nem constitui um requisito para a boa prática democrática. A democracia não é uma tradição: é um acaso; é um erro no script da Matrix, uma falha no software dos sistemas autocráticos.

O conjunto dos ensinamentos oriundos da sabedoria política tradicional induz a um comportamento que gera inimizade e que, consequentemente, exige a prática da política como “arte da guerra”. Tudo está baseado, no fundo, em vencer o adversário, desarmar seu projeto político, ou seja: desorganizar suas forças e, sobretudo, impedir que se reúnam os meios necessários à sua existência como ator político.

Do ponto de vista da democracia – não há como negar – isso tudo é uma perversão. Se existe uma ética da política e essa ética é – ou só pode ser – a democratização, então o recurso da guerra (no sentido da prática da política como “arte da guerra”) deve ser visto como violador dessa ética e, assim, como o comportamento a ser evitado.

Em política, a guerra (quer dizer, a política pervertida como “arte da guerra”) não acontece em função da existência objetiva do inimigo, mas em função de nossas opções de encarar o outro como inimigo e de tentar destruí-lo (mas, na verdade, mantê-lo como impotente para nos destruir). Tais opções só são feitas se estivermos montando ou mantendo um sistema autocrático de poder, que exige o inimigo para a sua ereção ou para o seu funcionamento como tal (quer dizer, como um sistema não-democrático de organização e resolução de conflitos).

Clausewitz (1832) tinha razão, segundo certo ponto de vista, quando dizia que a guerra é uma continuação da política por outros meios: se ficar claro que essa continuação não é mais política e que a política capaz de ter tal continuação é uma política praticada como “arte da guerra”. A chamada “fórmula inversa” (a ‘política como continuação da guerra por outros meios’) é que é perversa, pois a guerra não pode levar à política a menos que queiramos estabelecer a impossibilidade da democracia. Políticas que conduzem à guerra são autocráticas. Coletividades que praticam a democracia não guerreiam entre si (na exata medida em que a praticam).

Há um fundamento hobbesiano na visão da política como continuação da guerra por outros meios. No famoso capítulo XIII do Leviatã, Hobbes (1651) decreta que “os homens não tiram prazer algum da companhia uns dos outros (e sim, pelo contrário, um enorme desprazer), quando não existe um poder capaz de intimidar a todos”. É claro que ele não está falando apenas de política, mas também revelando os pressupostos antropológico-sociais que condicionam sua maneira de ver a política. Segundo ele, “na natureza do homem encontramos três causas principais de discórdia. Primeiro, a competição; segundo, a desconfiança; e terceiro, a glória” – ou seja, essas manifestações de egoísmo não seriam culturais, não emanariam da forma como a sociedade se organiza, mas intrínsecas. Essa inclinação “genética” para o mal explicaria por que, “durante o tempo em que os homens vivem sem um poder comum capaz de mantê-los todos em temor respeitoso, eles se encontram naquela condição a que se chama guerra; e uma guerra que é de todos os homens contra todos os homens. Pois a guerra não consiste apenas na batalha ou no ato de lutar, mas naquele lapso de tempo durante o qual a vontade de travar batalha é suficientemente conhecida… [já que] a natureza da guerra não consiste na luta real, mas na conhecida disposição para tal, durante todo o tempo em que não há garantia do contrário. Todo tempo restante é de paz” (7).

Mas, segundo Hobbes, “tudo aquilo que se infere de um tempo de guerra, em que todo homem é inimigo de todo homem, infere-se também do tempo durante o qual os homens vivem sem outra segurança senão a que lhes pode ser oferecida pela sua própria força e pela sua própria invenção. Em uma tal condição [de falta de um poder que domestique ou apazigue os homens]… não há sociedade; e o que é pior do que tudo, um medo contínuo e perigo de morte violenta. E a vida do homem é solitária, miserável, sórdida, brutal e curta” (8).

O mesmo fundamento hobbesiano para a visão da política como continuação da guerra por outros meios – ao assumir que não pode haver sociedade (civil) sem Estado – conspira contra os pressupostos da democracia.

Enfim, a luta política como “arte da guerra”, cria a guerra e obstrui a democracia. Lembrando novamente do que disse certa vez Maturana, a guerra não acontece: nós a fazemos (9). E como a fazemos? Ora, praticando a “arte” de operar as relações sociais com base no critério amigo x inimigo. Toda vez que fazemos isso estamos, caso se possa falar assim, armando ou fazendo guerra. Não necessariamente a guerra tradicional, “quente” e declarada, entre países ou grupos dentro de um país, a guerra com derramamento de sangue, mas também aquelas formas de guerra “fria” e não instalada: a “guerra sem derramamento de sangue” (como Mao definia a política), a “guerra sem mortes” (como George Orwell definia o esporte competitivo), a paz dos impérios (lato sensu, quer dizer, a paz estabelecida pelo domínio) e a paz como preparação para a guerra, o “estado de guerra” (interno) instalado em função da guerra (externa) ou de sua ameaça (ou, ainda, da avaliação, subjetiva, da sua possibilidade); enfim, a prática da política como “arte da guerra” que compreende: os modos de regulação de conflitos em que a produção permanente de vencedores e vencidos gera inimizade política, os padrões de organização compatíveis com esses modos de regulação de conflitos e o clima adversarial que se instala consequentemente nos coletivos humanos que os praticam.

Para captar os conceitos (na verdade os preconceitos) fundantes é ocioso passear pelos demais realistas. Aí acima estão os principais fundamentos do realismo político e por que eles são incompatíveis com os fundamentos da democracia (um modo pazeante – não-guerreante – de regulação de conflitos). Mas é preciso dizer algo a mais para chegar à conclusões aplicáveis aos tempos que correm.

O que aprendemos sobre o realismo político

São três os principais aprendizados decorrentes da análise democrática do realismo político:

1 – O realismo político é uma ideologia.

2 – O realismo político é um culto ao Estado.

3 – O contrário do realismo político é a democracia.


Examinemos cada um desses aprendizados.

O credo realista. O realismo é uma ideologia que se escuda em uma suposta ciência (às vezes chamada de geopolítica) para não se reconhecer como tal (como uma ideologia). Da constatação de que o mundo está assim, ele passa de contrabando a ideia que o mundo é assim. Como disse John Mearsheimer, respondendo a um jornalista do New Yorker que lhe perguntava se não devemos pensar em tentar criar um mundo onde nem os EUA nem a Rússia se comportem de maneira intervencionista: “Não é assim que o mundo funciona” (10).

As crenças em que se baseia a ideologia realista são, basicamente, as seguintes: a) o ser humano é inerentemente (ou por natureza) competitivo; b) as pessoas sempre fazem escolhas tentando maximizar a satisfação de seus próprios interesses ou preferências (ao fim e ao cabo egotistas); c) sem líderes destacados não é possível mobilizar e organizar a ação coletiva; e d) nada pode funcionar sem hierarquia. Infelizmente extravasa o escopo deste capítulo mostrar que essas crenças estão presentes no subsolo das concepções realistas da política. Mas talvez nem seja tão necessário fazer isso (para os propósitos do presente escrito): estes são fundamentos hobbesianos ou decorrentes do hobbesianismo, como o darwinismo social.

O culto ao Estado. O protótipo de qualquer hierarquia (stricto sensu, como poder sacerdotal) é o Estado (e sua forma histórica inaugural, que é o Estado-Templo mesopotâmico).

O realismo é um culto ao Estado. Poder é poder de Estado (degenerado como força). Os Estados são os únicos atores que contam. Para quem adota o realismo político (como uma espécie de religião laica, pois é isso que ele é) não faz nenhum sentido continuar defendendo a democracia. A democracia não se baseia nos interesses dos Estados e sim nos desejos das pessoas. Desejos? Pessoas? Tudo isso é irrelevante para a realpolitik, para a política do poder (como exercício ou ameaça do exercício da força – o que é, a rigor, uma antipolítica).

Não existe a sociedade como forma de agenciamento autônoma. Como já foi dito anteriormente, a sociedade é um dominium do Estado (na acepção feudal mesmo do termo).

Continua...

Putin prepara mais um gigantesco crime de guerra e contra a humanidade: a explosão da maior central nuclear da Europa

 Zaporizhzhia NPP

Several employees of "Rosatom," brought to the Zaporizhzhia NPP from Russia, have left Enerhodar, as well as some collaborators who were ZNPP employees that had contracts with the Russians, said the Mayor of Enerhodar, Dmytro Orlov, in a comment to Ukrainian Radio.

According to the Mayor's statement, the occupying forces brought explosives to the ZNPP nearly a year ago and proceeded to mine the plant's perimeter as well as the entire coast of the Kakhovka Reservoir. The Russians have continued mining activities this year, possibly in preparation for a potential counterattack by the Ukrainian Armed Forces. These mining activities, including the impact on the Kakhovka Hydroelectric Power Station, have caused significant concern among specialists in Enerhodar. The presence of trucks with explosives indicates that the occupiers are preparing for various scenarios, and their use of the nuclear power plant as a tool for international influence is seen as a means of blackmailing not only Ukraine but the entire world.

According to Orlov, the Mayor of Enerhodar, there are no shelters in the city in case of an explosion at the ZNPP. In the event of nuclear or radiation incidents at the plant, regulations and instructions dictate a complete evacuation from the city based on wind directions and weather conditions. Shelters are only available in industrial premises at the nuclear and thermal power plants and neighboring facilities. Orlov also highlighted that around 5,000-6,000 ZNPP workers in the city are effectively held hostage by the Russian army. The occupation authorities prevent them from leaving the city limits, and those who have not signed contracts with Rosatom have had their passes blocked, prohibiting them from working.

The humanitarian situation has worsened as well. Since September, the occupiers have blocked the delivery of humanitarian aid, including essential medications like insulin. Communication in the city is also challenging. While mobile networks can reach the upper floors of high-rise buildings, the occupiers have blocked Ukrainian TV channels, radio stations, and taken control of internet resources.

Source: CDS, July 2. 2023

domingo, 2 de julho de 2023

O número de antivacinais ainda é elevado no Brasil: um texto de 2015 - Paulo Roberto de Almeida

 A pandemia retrocedeu, a OMS já declarou o fim da emergência internacional da pandemia da Covid, mas ainda continuamos a registrar um número significativo de opositores da vacina, de qualquer vacina, e os níveis de cobertura no Brasil, de qualquer vacina, estão anormalmente baixo.

Por acaso descobri um pequeno texto que elaborei em 2015, já protestando contra os antivacinais, muito antes que se pudesse sequer imaginar a pandemia que sacrificou mais de 700 mil brasileiros (uma das mais altas, senão a mais alta proporção de vítimas no mundo, a partir do volume da população), em grande medida devido a um psicopata perverso, negacionista e antivacinal na presidência da nação.
Eis o meu texto: 

Mini-reflexão sobre a involução da humanidade
(dedicada a todos os iluminados que se opõem a qualquer tipo de vacina, humana ou animal)
Paulo Roberto de Almeida
(www.pralmeida.org; http://diplomatizzando.blogspot.com)

A humanidade demorou dez mil anos para escalar, penosa e lentamente, as escarpas do conhecimento científico que habilitou a sua quase totalidade a escapar dos males ancestrais de epidemias humanas e animais, ou de vírus e bactérias mortíferas, dando assim uma chance de sobrevivência a quem não tinha nenhuma, mesma para aquelas porções da humanidade que em nada contribuíram para fazer crescer o estoque de conhecimento científico que permitiu o uso de vacinas e outros procedimentos médico-sanitários que salvam até mesmo os idiotas que se opõem a esses métodos.
Pois bem, ao cabo desses dez mil anos de progressos civilizatórios, chegam alguns novos iluminados que se opõem a tudo isso, e que pretendem fazer a mesma humanidade voltar aos tempos das cavernas.
Não seria o caso de pedir a esses obstrutores da ciência e da medicina que fossem morar em cavernas?
Desculpem a sinceridade, mas eu tenho certa alergia à estupidez...

Paulo Roberto de Almeida 
Halifax, 23 de agosto de 2015
Postada no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.ca/2015/08/mini-reflexao-sobre-involucao-da.html

The Promise of Human Rights - Eleanor Roosevelt (Foreign Affairs, 1948)


Oswaldo Aranha: textos e fotobiografia sobre sua vida e carreira diplomática e política

 


Oswaldo Aranha: Fotobiografia e dois volumes de seus mais importantes textos sobre diplomacia e política externa do Brasil.

Pedro Corrêa do Lago, Oswaldo Aranha: uma fotobiografia (Rio de Janeiro: Capivara, 2017), e a coletânea Oswaldo Aranha: um estadista brasileiro (Brasília: Funag, 2017, 2 vols.). 


        Montagem audiovisual com fotos variadas de Oswaldo Aranha, em diversas fases de sua carreira política e diplomática, com frases retiradas de seus discursos ou declarações, com um fundo de música brasileira. Serviu de simples ilustração de fundo quando do lançamento de dois livros sobre o ele: a fotobiografia de Pedro Corrêa do Lago e os dois volumes dos mais importantes discursos e textos de Oswaldo Aranha sobre temas de relações internacionais e política externa do Brasil.

Lançamento dos livros no Itamaraty, em 2017.

https://youtu.be/nG7pPEVpL0I

Pedro Corrêa do Lago é o autor de Oswaldo Aranha: uma fotobiografia (Rio de Janeiro: Capivara, 2017). Junto com os editores da coletânea Oswaldo Aranha: um estadista brasileiro (Brasília: Funag, 2017), ele apresentou, com a participação do embaixador Rubens Barbosa, ex-embaixador em Washington, e do diretor do IPRI-Funag, Paulo Roberto de Almeida, as duas obras, focadas na personalidade e na ação do famoso político gaúcho, um dos líderes da Revolução liberal de 1930, ministro da Justiça e da Fazenda no governo provisório de Getúlio Vargas (1931-34), embaixador em Washington (1934-37), chanceler do Brasil (1938-44), no período mais decisivo do século XX, e novamente ministro da Fazenda no governo constitucional de Vargas (1953-54). 

A fotobiografia tem mais de 600 imagens e 500 depoimentos, ao passo que a obra da Funag, em dois volumes, coleta tudo o que de mais importante Aranha escreveu ou falou entre 1930 e 1959. 


A tragédia da política brasileira - Paulo Roberto de Almeida, Augusto de Franco

A tragédia da política brasileira

Paulo Roberto de Almeida e Augusto de Franco

Copiando (abaixo) de Augusto de Franco e insistindo primeiro no meu argumento. 

O reino dos companheiros foi quem produziu os dois maiores desastres da frágil democracia brasileira pós-1985: 

(a) a passagem do “modo artesanal de produção de corrupção” ao “modo industrial” de corrupção politica, organizada de maneira “científica” (como diriam Marx e Engels), o que abriu o caminho para a completa normalização da corrupção pelo estamento político profissional; 

(b) a calculada e nefasta divisão do país entre “nós e eles”, sendo que o “nós” é o modo gramsciano de conquista do poder, para seu exercício de modo leninista, o que acabou causando o agrupamento e a ascensão da extrema-direita, por acaso empolgada pelo mais boçal e estúpido dos seus representantes, o capitão psicopata apoiado por generais vingativos.

Vai demorar para nos livrarmos dessas duas pragas.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 2/07/2023


Augusto de Franco:

“Essa conversa de que a decisão do TSE abre caminho à direita civilizada é uma bobagem de quem comprou o esquema interpretativo esquerda x direita. O que interessa à democracia é que se abram caminhos para democratas liberais (pois não há democracia liberal sem democratas liberais). Não importa que alguém se diga (ou seja dito) de esquerda ou de direita. Boric, dito de esquerda, é melhor do que Maduro, Ortega, Obrador ou Lula. Pou, dito de direita, é melhor do que Bukele, Henry, Orbán ou Erdogan. Porque Boric e Pou são democratas liberais, ou seja, são democratas não-populistas.”


As companhias militares privadas e a tirania russa de Putin - Adam Tooze

The Wagner uprising and the centrigugal force of war

Adam Tooze

Chartbook, July 1, 2023


What happened this time last week in Russia? 

As Robert Armstrong observed it went by so fast that markets hardly had time to react. One could infer that Russia doesn’t matter that much. As Armstrong argued that would be a mistake. In fact it may very well be of decisive importance to a number of key facets of the world economy, notably energy markets. The problem is that like other crucial factors in the global scene right now - most notably the logic driving Chinese policy - it is devilishly hard to get good information about what is going on and to decide its significance. What it does clearly illustrate, however, is the centrifugal dynamic of war. 

On Ones and Tooze this week, Cameron Abadi and I discussed some of the questions that arise from the incident. 

  • What kind of organization was Wagner? 

  • Is Putin weaker now than he was prior to the mutiny? 

  • How far are economic factors decisive in political history, or is it ultimately men with guns who call the shots? 

  • And has Putin overcommitted his military to Ukraine? How many soldiers is it normal for states to have? 

You can listen and read more here.

One piece that really set me off was a an op ed by Tony Barber in the FT. He evoked what is supposedly a 

long tradition of unofficial, semi-official or secretly state-backed warriors who fight for Russia — a tradition that extends from the tsarist empire’s 19th-century volunteers to the Wagner group of Vladimir Putin’s presidency.

To make the point Barber invokes the character of Count Alexei Vronsky from Tolstoy’s Anna Karenina who set off to join thousands of Russian volunteers fighting in the Balkans for the liberation of fellow Slavs from Ottoman rule.

To me that seems about as illuminating as saying that the British mercenaries operating in the Gulf, or the Congo or West Africa in recent decades are descendants of a tradition that goes back to the Greek wars of liberation in the 1820s.

In fact, Russia’s laws are comparatively strict when it comes to truly free lance, private mercenary activity. That didn’t stop military entrepreneurialism of many kinds after the collapse of the Soviet Union. According to one report: “by 1998 an official Russian government estimate placed the total number of private security companies operating in Russia at around 5,000.” High-profile private operations overseas, however, were by no means encouraged. The survivors of one precursor organization to Wagner were arrested on their arrival back in Russia after their first and highly unsuccessful sally into Syria. 

It took a rethink on Putin’s part, between 2009 and 2012 to lead to the state backing of Wagner. As András Rácz pointed out in a CSIS blog:

As pointed out by Anna Borshchevskaya, in 2009 several special operations units of the Main Intelligence Directorate (GRU) were subordinated directly to Chief of Staff Nikolay Makarov. Though there is no direct evidence, these units were probably intended to become the personnel source for private military companies to be set up in the future. A year later, Makarov publicly spoke about the need to use private military companies “for delicate missions abroad.” The logic prevailed: in April 2012, when then-Prime Minister Vladimir Putin was asked in the Russian Duma about whether he supported the idea of creating a network of Russian private military companies, he replied positively and emphasized that PMCs could be tools of influence abroad, allowing the realization of national interests without the direct involvement of the state. As examples, he noted that such companies could provide protection of important facilities, as well as training for foreign military personnel abroad. Plausible deniability played a key role in Russia’s considerations about setting up private military companies, based also on the rich historical experiences Moscow has.

Wagner was never a PMC like Blackwater. It was always a proxy force, a deniable military arm of the Russian state. The obvious historical analogue, therefore, is less romantic military adventurers in the 19th century, than the kind of front companies used by the CIA in various settings. The main difference seems to be that whereas the CIA used front companies above all for air transport, Wagner developed into something like a miniature combined arms force. Its main base in Russia, its long-range logistics and tricky matters like passports were all provided by the GRU. 

As to the question of the state and the monopoly over the legitimate use of violence, Wagner was obviously in a grey zone. On the one hand it was deniable. On the other hand it was an open-secret that it was endorsed and backed by Putin himself, which gave it a status in a sense higher than the regular military. It was an exception defined by the sovereign and defining his sovereignty. 

The serious problem this kind of organization creates is less the question of legitimacy than the rivalry between different militaries, especially when the going gets rough and it is not victory, but the responsibility for defeat that has to be apportioned. 

This is not unusual in war. All armed forces are complex. This gives rise to rivalry and political arguments - with both a small and a capital “p”. In the American Civil War, for instance, different units of the Union army had more or less radical positions on abolition. In World War 2, Army Group Center on the Eastern Front harbored many of those involved in the bomb plot of 20 July 1944. The tensions are likely to be particularly acute when military forces are made up of units recruited through different politicized channels, as on the Republican side during the Spanish civil war. 

Tensions between Wagner and the regular Russian military flared already in Syria. In the disastrous war in Ukraine it was hardly surprising that they would reach a new pitch. The bushfire of indignant nationalist military bloggers on Telegram are a welcome extension of Kremlin propaganda, but a risk for the regular military leadership. This Al-Jazeera segment on the military bloggers was excellent. 

When Prigozhin’s attacks on the top brass became too outrageous and Wagner was ordered to be incorporated into the Russian military command chain, it was hardly surprising that this triggered opposition. It is surprising only that it was allowed to flare into an armed rebellion. It was not a rebellion against the war, or even truly against Putin, but an internal military on military struggle, which has been resolved in favor of the regular military command chain.

Bruno Macaes concludes with characteristic insight but also overstatement that what the Putsch shows us is that the Russian state is hollow. It certainly demonstrates that Putin is losing his grip in balancing the different factions and showed little actual ruthlessness in dealing with the rebellion. We surely expected to see Prigozhin subjected to savage reprisals. If he eventually falls victim to an assassin it will hardly be surprising, but nor will it do much to restore Putin’s authority. 

Rather than cause for celebration, as Alexander Clarkson remarks, if this is a sign of things to come, it should surely be reason for concern. 

In a system that has become reliant on an individual leader to act as arbiter between rival factions, the ability of a force made up of a few thousand troops to threaten the capital demonstrates the chaos that could unfold once Putin is gone. Putin’s unwillingness to select a potential successor who could become an alternative center of authority means that the risk of disputes over the succession process once he does eventually—and inevitably—leave office are inherent to the power structure he had put in place. With the severe pressure that a disastrous war against Ukraine has put on Russian society and the proliferation of parastatal armed units—of which Wagner and Chechen leader Ramzan Kadyrov’s Akhmat units are only the most prominent examples—the likelihood has risen sharply that such a succession dispute could escalate into a neo-feudal civil war that fractures the state.

We must also ask, surely, what the implications of this shock are for our wider thinking about the war and its future course. 

Of course, Putin’s Russia has a distinctive political structure. But Ukraine’s military effort too has its roots back in 2013 and 2014 in formations recruited under different flags and with very different politics. They have been welded together highly effectively by Kyiv. Success and the patriotic rally has done the rest. But will that unity hold if the Ukrainian offensive continues without major success, if supplies of equipment run critically short, or when it comes to negotiating peace? 

Tony Barber in his piece about the Wagner rebellion refers to the ominous example of the Freikorps in Weimar Germany. He cites them as an example of the breakdown of state power. But they were also a political force. They were the spawning ground of Nazism and they were organized above all around opposition to the decision by the democratic forces in Germany to negotiate a peace and to try and fulfill the terms of the Versailles peace treaty. They killed not only the revolutionary communist leaders Rosa Luxemburg and Karl Liebknecht, but also thousands of other leftists and two of the most prominent civilian politicians involved in negotiating the peace, Walther Rathenau and Matthias Erzberger. 

Nor was this logic of disintegration in the face of peace confined to Germany. Think of the civil war in Ireland that followed the Anglo-Irish Treaty of 1921. The IRA was able to resist the compromise peace with armed force, because it had grown out of an armed underground resistance with an independent system of financing and arming itself. In the moment that he put his signature on the Anglo-Irish Treaty, Michael Collins knew that he was a man marked for death.

Modern wars generate massive and violent centrifugal forces. We should not be surprised if this is just the beginning.


A 3a GM comecará na Belarus, ou seja, na Polônia outra vez? - Osborn Baya (Medium)

 

Poland Is Going To War Against Russia

Osborn Baya

4 min read·3 days ago

Has Poland Triggered The World War III Bomb?

Photo by Daniel on Unsplash

Has Poland started what the world has not wished for a lifetime? Has it started WWIII?

The past few days have been busy for the International Community with the attempted coup on Russian President Vladimir Putin by the war mafia and Leader of the Private Military Group, Wagner PMC, Yevgeny Prigozhin. The leader was allegedly in conflict with the Defence Minister of the Russian Federation, Sergei Shoigu, over the misappropriation of funds and strategic failures. Putin referred to this attempted coup as a “betrayal of their own country”. He termed them as insurgents. His speech sealed their fight, and I analysed it here: Putin’s Stance on the Fate of Wagner PMC

These events led to a deal being struck between Putin and Prighozin, with Belarusian President Aleksandr Lukashenko acting as the mediator. The deal meant that Prighozhin was to cease his advancements towards the Kremlin, which he was a mile away from. It was also deemed necessary for the war mafia to relocate to Belarus to ascertain his security as all criminal charges were dropped against him. I also wonder why, if you ask me. Criminal charges for an act of this scope translate to treason in the Russian Republic.

The relocation of Prighozin, popularly known as “Putin’s personal chef”, meant that the bases of his Wagner PMC mercenaries were going to be in Belarus. They still have the blessing of the Kremlin to continue their military activities and expeditions in Africa and the Middle East. I will soon write a story on this issue. Does this move scare anyone around? Yes, it does. This move has had three countries scrambling to advance their strategic military positions in fear of these mercenaries.

These countries are Poland, Latvia, and Lithuania. Poland's President Andrzej Duda was quoted as saying:

We see what is happening, the relocation of Russian forces in the form of the Wagner Group to Belarus, and the head of the Wagner Group going there, those are all very negative signals for us which we want to raise strongly with our allies

With the military and political instability happening in the region, the three countries seemed to have urged getting ready for any advancements from the most dangerous Private Military Group Wagner, which seems to be a few miles away from their borders. Latvian Foreign Minister Edgars Rinkevics was quoted saying this in Paris. He specifically said this:

This move needs to be assessed from a different security point of view. We have seen the capabilities of those mercenaries

Their Lithuanian counterparts, through Foreign Minister Gabrielius Landsbergis, said that the mercenaries are just one day away from their capital city. This is what he had to say:

Our countries’ borders are just hundreds of kilometres from that activity so it could take them 8–10 hours to suddenly appear somewhere in Belarus close to Lithuania

It is creating a more volatile, unpredictable environment for our region.

We need to take the defense of the Baltic region very seriously

With this confusion, the World War III that people have seemingly thought was far from happening is now near enough.

Map of Belarus and its territorial neighbours.

These Baltic countries are members of the North Atlantic Treaty Organisation, commonly known as NATO. This therefore means that any military advancements in the region would trigger a response from the Alliance, which has membership in the USA, UK, and France, among other European Union countries. They would also trigger a response from the Russian side, which has a close relationship with Belarus. This would also push the involvement of China, which has been taking a military strategic position in African countries, and other countries aligned with the Communist Republic.

These events therefore spark a sense of a war that would crumble the world and bring about disorder. A war against NATO countries and former Warsaw Pact members could see the use of nuclear weapons, which would destabilise the world. I really wish the events in that region don’t escalate in that direction. If you can clearly remember, the Second World War began there, which saw Adolf Hitler invade Poland. I sincerely hope that the Baltic countries remain calm and quell the situation quickly.

What do you think about these events? Do you think that we could witness a Third World War soon enough?

If you have any comments about my views, please comment them down below or email me directly at bayaosborn78@gmail.com. If you have any suggestions, a story you would like me to analyse, or things I need to improve on, please do the same.

To stay informed on international politics, follow me on Twitter and Medium for insightful perspectives and expert commentary. I offer valuable insights into the complex dynamics of the international stage. You can find me at @bayaosborn, where I share a wealth of information and engage in informed discussions on the ever-evolving world of politics.