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domingo, 4 de agosto de 2024

Governo Lula não é mediador na Venezuela, é cúmplice - O Antagonista

Governo Lula não é mediador na Venezuela, é cúmplice

O Antagonista, 3 agosto 2024

Há pouco mais de um ano, Lula sugeriu a Maduro criar uma narrativa contra o que considerava críticas injustas ao regime venezuelano. O ditador diz hoje que o “Golias Elon Musk” hackeou a eleição. Será que cola, Lula?

O isolamento progressivo de Nicolás Maduro após a farsa eleitoral de 28 de julho tem levado a análises curiosas sobre o papel do governo Lula na crise.


Especialistas em política externa se aventuram a destacar o papel de mediação do Brasil, único aliado relevante que restou no mundo democrático para o regime venezuelano. Há quem fale até em "estratégia" diplomática ao mencionar o histórico do Itamaraty para analisar a postura de Lula e de seu assessor Celso Amorim na questão. Não faz sentido.


Carlos Graieb já disse em Lula, sócio majoritário da tragédia venezuelana, assim como Ricardo Kertzman em Celso Amorim é mais que “observador” da farsa eleitoral de Maduro, e eu repito nesta análise: o governo Lula faz parte da tragédia venezuelana. Não é mediador, é cúmplice.


Se o Palácio do Planalto não reconhece a vitória do opositor Edmundo González Urrutia, como fizeram Estados Unidos, Argentina e Uruguaientre outros, não é por calcular uma estratégia para a saída da crise, mas porque faz parte dela. 

E a narrativa?


No momento em que admitir que Maduro fraudou a eleição, o governo Lula reconhecerá automaticamente o que já deveria ter reconhecido há meses: não há democracia na Venezuela, e não é de hoje, não é desde 28 de julho, quando a oposição foi impedida de acompanhar a apuração dos votos.


Faz bem mais de uma década que a Venezuela não sabe o que é democracia, mas Lula recebeu Maduro com pompas de chefe de Estado em maio de 2023, há pouco mais de um ano, e lhe deu uma dica pública de como lidar com o que ele considerava críticas injustas aos desmandos do regime.


"Companheiro Maduro, é preciso que você saiba a narrativa que se construiu contra a Venezuela, da antidemocracia, do autoritarismo”, disse Lula ao lado de Maduro, em entrevista coletiva, completando: "É preciso que você [Maduro] construa a sua narrativa. E eu acho que, por tudo que nós conversamos, a sua narrativa vai ser infinitamente melhor“.


A narrativa que Maduro encontrou para explicar a fraude eleitoral é que o “Golias Elon Musk” foi responsável pelo “primeiro golpe de Estado cibernético na história da humanidade”. Será que cola, Lula?

Chanceler paralelo


É por ser cúmplice de Maduro que o chanceler paralelo Amorim se vê forçado a manter um discurso cândido de confiança nas instituições venezuelanas. "Não há dúvidas [de] que, como outros, nós estamos decepcionados com a demora do Conselho Nacional Eleitoral em publicar os dados", lamentou Amorim, como se o CNE não tivesse feito parte da farsa, ao inabilitar opositoras como María Corina Machado para a disputa eleitoral.


Esse discurso de confiança nas instituições da Venezuela, dominadas há décadas pelo chavismo, é de um cinismo constrangedor. O presidente do CNE, Elvis Amoroso, pediu investigação sobre três opositores do regime, entre eles Corina Machado e Leopoldo López, por um alegado "ataque cibernético" durante a contagem dos votos. Mesmo sem a existência de qualquer prova, o procurador-geral apresentou denúncia contra todos no dia seguinte.


Diante de tudo isso, é preciso deixar claro que qualquer benefício da alegada mediação brasileira na crise venezuelana ocorrerá por fruto de golpes de sorte. O governo Lula não está nessa condição por se comportar de forma imparcial ou fazer cálculos diplomáticos, mas por ter um lado bem claro nessa história.


É por isso que o Brasil toma conta hoje das embaixadas da Argentina e do Peru na Venezuela, após a expulsão dos representantes desses países, entre outros que ousaram questionar de fato a "vitória" de Maduro. Não é uma questão de solidariedade, mas de responsabilidade pelo que está acontecendo na Venezuela neste momento. 


O comício de Lula em rede nacional -Editorial O Estado de S. Paulo

 O comício de Lula em rede nacional

O Estado de S. Paulo, 2/08/2024

 

Convocado a título de prestação de contas, o pronunciamento extemporâneo foi, na prática, um comício fora de hora e de lugar, num escandaloso uso da máquina pública para fins eleitorais

 

No domingo passado, o governo convocou de supetão uma rede nacional de rádio e TV para o presidente Lula da Silva. Um ingênuo poderia pensar que Lula, que se julga um estadista, talvez quisesse fazer algum comentário oficial sobre a vergonhosa eleição na Venezuela. Que nada. Lula apareceu nas TVs do País inteiro sem pedir licença para dizer que sua mãe lhe ensinou direitinho a não gastar mais do que ganha.

O extemporâneo pronunciamento, convocado a título de prestação de contas após um ano e meio de governo, foi, na prática, um comício fora de hora e de lugar, num escandaloso uso da máquina pública para fins eleitorais e partidários. É o velho Lula de sempre – mas a reiteração desse comportamento antirrepublicano por parte do chefão petista não o torna menos grave.

Em longos 7 minutos e 18 segundos, Lula da Silva praticou seu esporte preferido: apontar “heranças malditas” deixadas por governos anteriores. Disse que, ao final de seu segundo mandato, em 2010, deixou um país no caminho da prosperidade, sem desemprego, com inflação baixa e grande crescimento econômico. “De lá para cá, assistimos a uma enorme destruição no nosso país”, disse Lula. Na descrição do presidente – em cuja narrativa obviamente não se consideram nem os dois anos de recessão provocados pela inépcia de Dilma Rousseff nem a pandemia de covid-19 –, os governos não petistas que se seguiram ao impeachment de sua dileta criatura desmontaram programas sociais, tiraram verbas de saúde e educação, aumentaram os juros, deixaram a inflação disparar, empobreceram e endividaram famílias, “espalharam armas ao invés de empregos” e, máxima crueldade, “trouxeram a fome de volta”.

Como não se tratava de “assunto de relevante importância”, como manda o Decreto 84.181, de 1979, que regulamenta a convocação de rede nacional de rádio e TV, o pronunciamento de Lula não tinha nenhum compromisso com a verdade. Sentindo-se autorizado por sua condição de demiurgo, caprichou na mistificação.

Depois de relatar a suposta terra arrasada deixada por seus antecessores, Lula enumerou seus alegados feitos, como se estivesse no horário eleitoral. Sem dar qualquer contexto, como é típico das bravatas de palanque, falou como se antes dele não houvesse um país, e sim um inferno. Não citou os nomes nem do “genocida” Jair Bolsonaro nem do “golpista” Michel Temer, mas nem precisava. Estava claro que o presidente estava mais uma vez colocando os brasileiros diante de uma escolha crucial: o PT ou a barbárie. Com a volta do PT ao poder, declarou Lula, “o Brasil se reencontrou com a civilização”. Nada menos.

É evidente que se pode fazer todo tipo de crítica ao governo de Jair Bolsonaro, que lidou de maneira criminosa com a pandemia, ameaçou reiteradas vezes promover uma ruptura democrática, desmoralizou o Brasil no exterior e destratou jornalistas e opositores. Lula, como cidadão e presidente, tem todo o direito de fazer o pior juízo possível de Bolsonaro, mas o lugar para fazê-lo não é numa rede nacional de rádio e TV – que, além de não se prestar a isso, não permite o contraditório. Para quem festeja a “vitória da democracia”, como Lula fez questão de fazer logo no início de seu pronunciamento, trata-se de um comportamento bem pouco democrático.

No mais, é o caso de perguntar quais eram as motivações e os objetivos de Lula com seu comício em cadeia nacional. Ao reiterar seu compromisso com o equilíbrio das contas públicas – numa única frase em seus mais de sete minutos de discurso –, Lula apenas cumpriu tabela. Citou as lições de economia recebidas da mãe como prova de que fala sério, e mais não disse. Todo o resto do pronunciamento, em ano de eleições municipais nas quais Lula está pessoalmente empenhado, serviu para dar o roteiro do embate que ele pretende travar com Bolsonaro – e o uso vergonhoso da máquina pública para isso mostra até que ponto Lula está disposto a ir nessa guerra imaginária.


sábado, 3 de agosto de 2024

Direito ao Ponto: eleições na Venezuela - Max Telesca entrevista Rubens Barbosa

Programa Direito ao Ponto com Max Telesca - 03/08/2024

Entrevista: Embaixador Rubens Barbosa

Tema: Venezuela. 

Vamos falar do tema mais comentado: eleições na Venezuela e a posição do Brasil, com a opinião do Embaixador Rubens Barbosa, especialista em relações internacionais, convidado especial que trará sua visão para todo este cenário.

Youtube: Max Telesca

Rádio: 100,5 FM Sucesso News

#eleiçoes #venezuela #notícias #Advocacia #Justiça #Direitointernacional

https://www.youtube.com/watch?v=c0B3D0Vpkqo 

sexta-feira, 2 de agosto de 2024

O último tango em Caracas - Ricardo Seitenfus

O último tango em Caracas

Ricardo Seitenfus

Habituado a fazer bailar opositores e aliados ao seu bel prazer, escolhendo ritmo e cadencia, Nicolás Maduro Moros – o inefável ditador venezuelano – está bailando a contragosto seu último e trágico tango. A História do ocaso das ditaduras demonstra que se trata de período delicado e muitas vazes o canto do cisne dos ditadores se transforma em um derradeiro banho de sangue. Inclusive, prometido por Maduro.

Tudo estava, como em pleitos anteriores, preparado para a proclamação da vitória bolivariana. Todavia, surgiu um pequeno imprevisto nesse script bem rodado. A sociedade civil através da Alta Vista – iniciativa independente de Tabulação Paralela de Votos – em uma operação silenciosa em todo território nacional, decidiu documentar as atas eleitorais afixadas nos Centros de Votação. Dezenas de milhares de voluntários munidos simplesmente de seus celulares conseguiram fotos dos recibos oficiais de contagem de votos com mais de 80% dos votos.

São fotos originais e informações derivadas dos recibos de tabulação de votos, impressos pelas máquinas de votação oficiais após a conclusão da votação em cada centro de amostragem. Cada recibo identifica a mesa de votação e o centro de origem.

Agregando os resultados surgidos das fotografias das Atas e fazendo projeções aos 20% faltantes, os responsáveis da TPV chegam a um resultado inapelável: González recolhe 66,12% ao passo que Maduro, 31,39%.

Ciente que havia perdido, Maduro acelera o processo declarando-se vencedor e de imediato toma posse. Não há festas, passeatas ou regozijos. Ao contrário. Se instala um mal-estar facilmente perceptível. A oposição, por sua vez, se declara vencedora pois possuidora das fotografias das Atas Eleitorais. No entanto, clama unicamente por uma transição pacífica e ordenada, sem festejos ou comemorações.

Ainda mais interessante do que o teatro de sombras entre Maduro e a oposição frente aos resultados da votação, a posição dos vizinhos é tragicômica. Alguns não reconhecem a autoproclamada vitória do ditador e imediatamente seus diplomatas são expulsos de Caracas. Outros, aparentemente mais prudentes, embora sabedores dos resultados das Atas Eleitorais publicadas pela Alta Vista, exigem por parte do CNE a apresentação oficial e desagregada dos resultados. Ora, Maduro não pode fornecer pois seria reconhecer a vitória da oposição. 

Esses governos, a começar pelo nosso, estão, de fato, cozinhando o galo, tentando ganhar tempo e buscando uma aparentemente impossível solução institucional.

Graças a franqueza que lhe permite seu poder, finalmente os Estados Unidos descartam a retórica rebarbativa diplomática e, baseados nas fotografias das Atas Eleitorais disponibilizadas pela Alta Vista, consideram a oposição vencedora do pleito. Os derradeiros acordes do último tango ressoam em Caracas.

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Ricardo Seitenfus, Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Genebra, autor de vários livros, Vice-Presidente da Comissão Jurídica Interamericana da OEA, foi representante da OEA no Haiti (2009-2011) e na Nicarágua (2011-2013). Em 2006 foi Observador do Centro Carter nas eleições presidenciais no Equador.


Does China Prefer Harris or Trump? - Wang Jisi, Hu Ran, and Zhao Jianwei (Foreign Affairs)

Over the past few weeks, the upheavals in the U.S. presidential election season have drawn enormous global attention. Even before the summer began, countries were weighing the implications of former President Donald Trump’s return to the White House and, conversely, what a second term for U.S. President Joe Biden might bring. To many countries, these two possibilities presented markedly different prospects for geopolitics and for the future role of the United States in world affairs.

Then came nine remarkable days in July, during which Trump was almost assassinated and Biden abruptly announced that he would not seek reelection. Upending the U.S. presidential race for both parties, these events have created further uncertainty about the coming direction of the United States. Many countries see an increasingly stark divergence between the anticipated continuation of Biden’s internationalist foreign policy under a future President Kamala Harris and a far more isolationist approach under a reelected President Trump and his running mate, J. D. Vance.

From China, however, the view is somewhat different. Eight years ago, the first Trump administration ushered in a far more confrontational approach to relations with Beijing, which many Chinese observers found bewildering. Rather than treating China as a trading partner and sometimes a rival, the United States began to call it a “revisionist power,” a strategic competitor, and even a threat. More striking still, despite changes in tone, the Biden administration, has reinforced that shift and even taken it further on some issues. Indeed, there seems to be a bipartisan consensus in Washington that China must now be treated as a major adversary, with a growing contingent of analysts arguing for a cold war framing.

To Chinese observers, rather than offering alternative approaches to their country and the world, the two major U.S. parties both reflect a general approach to China that has emerged in recent years, one that is strongly informed by domestic U.S. political concerns. What is more important than either party’s views are the several gradations of U.S. analysis of China and what they could mean in practice. Most Chinese observers do not expect significant changes in U.S. policy toward China. But they are trying to understand which strands of current thinking in Washington may ultimately dominate.

PLAYING TO THE HOME CROWD

Owing to China’s political structure and the close government management of Chinese public opinion, it is difficult to fathom how the leadership in Beijing views and reacts to U.S. debate about China. Nevertheless, some general points can be made about the forces that many in China see as driving that debate. First, a country’s external actions tend to reflect its domestic politics. This phenomenon appears to be especially true in the United States, in which major domestic debates can easily spill over into foreign affairs. And it has come to play a particular role in how Washington approaches China.

Thus, both Trump’s “America first” mantra and Biden’s “foreign policy for the middle class” catchphrase vividly demonstrate the close relationship between domestic politics and foreign policy in the United States. After Trump took office, the deeply polarized political climate in the United States shaped his foreign policy, particularly toward China. The “America first” approach was largely a response to American voters’ concerns about globalization and immigration. As a result, the Trump administration raised trade barriers, restricted immigration, and limited U.S. participation in international organizations, prioritizing the United States’ economic interests and national security.

Yet the Biden administration has also made clear that its foreign policy decisions are aimed to align with the interests of voters at home and that the prosperity of ordinary Americans also has an international dimension. Thus, Biden’s foreign policy shares similar political considerations with Trump’s, as it aims to rebalance domestic industrial policies and international economic rules to promote domestic interests. Some U.S. issues themselves have both domestic and foreign components. A continuous influx of immigrants is not only a driving force behind the prosperity of the United States but also affects its border security and its relations with the outside world. Since the Trump administration, the fentanyl crisis in the United States has required cooperation with China, and China has responded positively. Nevertheless, members of Congress continue to blame China for the fentanyl entering the United States from Mexico.

A second feature of U.S. foreign policy in recent years is the growing role that China plays in it. Although Russia’s armed conflict with Ukraine and Israel’s war against Hamas in Gaza draw much attention, China continues to be the top priority in Washington’s pronounced global strategy. At this critical juncture, many U.S. strategists are renewing calls for Washington to accelerate its pivot to Asia. For example, in their new book, Lost Decade, the foreign policy analysts Robert Blackwill and Richard Fontaine contend that the Obama, Trump, and Biden administrations have all, in various ways, fallen short in developing strong and coherent policies toward China and the rest of Asia. Despite the continuing challenges for the United States in Europe and the Middle East, they argue, it is crucial for U.S. policymakers to hasten the shift toward Asia.

The importance of China policy has already become clear in the U.S. presidential contest. Both parties are vying to produce the strongest rhetoric about getting tough on Beijing and restricting its global role. And this points to yet another feature of the American debate about China: in the current U.S. political context, the traditional binary of “doves” and “hawks” cannot capture the complexities of U.S. perceptions of China. Given the broad bipartisan consensus that China poses a major challenge, it is more meaningful to examine the range of policy perspectives that has emerged within this general view.

A THREE-SIDED DEBATE

Observed from afar, U.S. strategists on China can be broadly divided into three schools. The first might be called the New Cold Warriors. People in this group believe that the U.S.-Chinese rivalry is a zero-sum game and that Washington and Beijing are engaged in a cold war that requires even more aggressive tactics from the United States. As former U.S. Deputy National Security Adviser Matt Pottinger and former U.S. Congressman Mike Gallagher argued in Foreign Affairs, the competition with China “must be won, not managed.” In making this argument, they and others have drawn on U.S. President Ronald Reagan’s example of setting the Soviet threat as a top priority, in order to pursue victory in the Cold War.

The second school could be described as the Competition Managers. Contrary to the New Cold Warriors, those in this camp hold the idea that the U.S.-Chinese rivalry is not a zero-sum game and, consequently, that it is essential to have a strategy for coexisting with China. The intellectual origins of this approach can be traced to an article that Kurt Campbell and Jake Sullivan wrote for Foreign Affairs in 2019, before they both joined the Biden administration. As they argued, the contest with China is “a condition to be managed rather than a problem to be solved.” Along with Rush Doshi, who was deputy senior director for China and Taiwan Affairs at the National Security Council from 2021 to early 2024, and others, they suggest that Washington’s best approach to China is leading with competition, followed by offers of cooperation.

The third might be called the Accommodationists. Although they share the other schools’ dislike for China’s political system and its global influence, they tend to be more concerned than their counterparts that competition could devolve into confrontation. As prominent figures in this camp, the international relations scholars Jessica Chen Weiss and James Steinberg are against waging a cold war with China because cold wars are inherently dangerous. In their view, Pottinger and Gallagher offer an illusory appeal to victory, because “U.S. efforts to bring about change through pressure are as likely to consolidate authoritarian rule as to undermine it.” Weiss and Steinberg argue that it is therefore in the interest of both Beijing and Washington to reduce the risk of war and to cooperate on issues of mutual concern, such as climate change and public health.

Despite this diversity of opinion, all three schools agree that China poses a significant challenge to the United States. They also concur that U.S. policy toward China needs bipartisan foundations to succeed. Nonetheless, there appears to be no prevailing view in Washington on which approach is best or on what aspect of the challenge—political, military, economic, or global governance—is most serious. For Beijing, this unsettled debate has meant that it is crucial to understand how these different approaches are influencing U.S. policies and, specifically, how they might shape the incoming U.S. administration.

DIFFERENT TACTICS, SAME AIMS

Americans may be tempted to ask whether China prefers a Harris administration or a second Trump administration—or more broadly, whether it prefers Democrats or Republicans. After all, in 1972, Chairman Mao Zedong told President Richard Nixon that he liked the political right in the United States and other Western countries. Although Mao did not give a reason for this preference, it seems likely that he saw Nixon and other right-leaning Western leaders as paying more attention to the economic and security interests of their countries, whereas politicians on the left tended to base their policies on ideology and political values. 

Yet it is difficult to judge whether the Democrats or the Republicans have made a greater contribution to U.S.-Chinese relations. For instance, although Nixon, a Republican, first broke the ice with China, it was President Jimmy Carter, a Democrat, who decided to establish diplomatic ties with Beijing. Since the founding of the People’s Republic of China in 1949, there have been seven Democratic presidents and seven Republican presidents in the United States, and major breakthroughs and crises in bilateral ties have occurred under both.

The same uncertainty holds true with Chinese assessments of the two parties today. When Trump took office, in 2017, his foremost concern about China was the enormous U.S. trade deficit, and for the first time in U.S. history, the deficit, as well as China’s technological edge, was treated as a national security issue. Not only did the Trump administration label China a “revisionist power” and a strategic competitor; it also identified the Chinese Communist Party as a threat to the American way of life and “the free world.” Launching an aggressive yet inconsistent “whole of government” approach, the Trump administration set out to compete with and confront China on almost every issue.

Starting with trade, the Trump administration began with punitive tariffs on Chinese imports and then expanded its campaign to include increased scrutiny and restrictions on Chinese investments, tightened high-technology export controls, and targeted actions against specific Chinese companies with large overseas presences, such as Huawei. On security issues, the Trump administration also took new steps to maintain U.S. supremacy in what strategists now consistently called the “Indo-Pacific” region, a geographical term that had been used only occasionally earlier. The Trump administration gave Taiwan special security assurances and downplayed the long-standing “one China” policy; put new resources into the Quad (the grouping of Australia, India, Japan, and the United States) in an effort to collectively balance China; and stepped up U.S. military activities in the Western Pacific to challenge China’s territorial claims.

As for the political relationship between the United States and China, Trump did not hold rigidly ideological views on the Chinese system and leadership, but he allowed his administration officials and the U.S. Congress to stridently criticize China’s ruling party and its domestic governance, particularly its policies toward Xinjiang and Hong Kong. And as his administration adopted a broader “China threat” narrative, it severely damaged the academic, scientific, and societal exchanges between the two countries that had existed for decades. In multilateral diplomacy, Washington also began to demonize Beijing and strongly counter its international influence, trying to constrain China’s expanding global role in its Belt and Road Initiative and in its growing involvement in United Nations bodies.

Then, in 2020, amid a complicated election year in the United States, the spread of the COVID-19 pandemic accelerated the downward spiral of relations between Washington and Beijing. The Trump administration blamed the public health crisis on the Chinese government, suspended most bilateral dialogues, and adopted a hostile stance toward China itself. In July 2020, the U.S. government even ordered China’s consulate general in Houston to close down, accusing it of being a “hub of spying and intellectual property theft.”

Yet overall, the Trump administration maintained a degree of flexibility toward China. Despite its punitive tariffs and other measures, it remained open to trade talks and demonstrated some willingness to compromise on thorny issues such as technological competition and Taiwan. What’s more, “America first” also meant that Washington held less credibility and leverage in coordinating with other countries on their own policies toward China, with the result that the Trump administration did not build and lead a strong multilateral front to counter China. This encouraged a popular perception among some Chinese commentators that Trump was primarily interested in business benefits and making a deal with China. In November 2017, Trump paid a state visit to Beijing—a step that Biden has failed to take during his administration—and in January 2020 signed a phase one trade agreement with China to begin to resolve trade tensions. By the end of the Trump presidency, many in the United States characterized his administration’s trade war with China as a failure. 

For all its putative differences from the Trump administration, the Biden administration has shown noticeable continuity with its predecessor on China. Mainly, Biden has cemented the generally adversarial orientation of Trump-era policies by way of a more systematic and multilateral approach, which his administration has called “invest, align, and compete.” In his first foreign policy speech, in February 2021, Biden called China the United States’ “most serious competitor” and pledged to “take on directly” the challenges it posed to U.S. “prosperity, security, and democratic values.” 

Thus, Biden has worked closely with Congress to implement large-scale infrastructure investments and industrial policies aimed at making the United States more competitive and less reliant on China. To better compete on advanced technologies, the Biden administration has also sought tighter export controls, new tariffs on China’s green technology products, and more coordinated international efforts such as the Chip 4 alliance—a semiconductor partnership between Japan, Korea, Taiwan, and the United States.

In the Asia-Pacific, the Biden administration has intensified its military presence in the Taiwan Strait and the South China Sea and added a regional economic dimension to the United States’ Asian security alliances. Biden has also rallied G-7 leaders to push forward the Build Back Better World initiative and the Partnership for Global Infrastructure and Investment—both aimed at providing a Western answer to China’s Belt and Road Initiative. Prompted by China’s growing ties with Russia amid the war in Ukraine, the Biden administration has imposed sanctions on Chinese companies that trade with Russia. Washington has also given the contest with China a new overlay of ideology—what the administration calls “democracy versus autocracy”—in an effort to build a grand alliance against Beijing.

Although it has competed fiercely with China, the Biden administration has maintained regular high-level communication channels and continued to explore areas of cooperation. Despite its emphasis on what it sees as China’s political influence, the Biden team has taken steps to depoliticize and restore bilateral academic and societal exchanges, such as ending the Trump administration’s China Initiative—a controversial crackdown on researchers in the United States who had contacts with Chinese entities. Biden also had direct meetings with Chinese President Xi Jinping in Bali, Indonesia, in November 2022, and in San Francisco in November 2023, in which the two leaders pledged to maintain a stable and healthy bilateral relationship.

BIG YARDS OR BROAD COALITIONS

Chinese strategists hold few illusions that U.S. policy toward China might change course over the next decade. Given U.S. public opinion polls and the bipartisan consensus about China in Washington, they assume that whoever is elected in November 2024 will continue to prioritize strategic competition and even containment in Washington’s approach to Beijing, with cooperation and exchanges taking a back seat.

A new Trump administration would almost certainly pursue a more aggressive trade policy toward China. Trump has already proposed a 60 percent tariff on all goods manufactured in China, as well as the revocation of China’s permanent normal trade relations status, which has granted nondiscriminatory, favorable trade terms and market access since 2000. He has also called for a “big yard, high fence” doctrine—an explicit expansion of the Biden administration’s “small yard, high fence” concept that only protects critical and emerging technologies with robust security measures—to enable a broader technological decoupling from China.

Still, given Trump’s predilection for dealmaking, he might decide to pursue bilateral agreements with Beijing on consumer goods, energy, and technology. He might also try to use the Taiwan issue as a bargaining chip to gain leverage in other areas, such as offering to restrain Taiwan’s provocative actions in exchange for Beijing’s compromise on trade. But it is highly unlikely that China would agree to such a deal, and Trump’s foreign policy advisers might also oppose it. Once again, with his general preference for bilateral diplomacy over multilateralism, Trump might also be less capable of mobilizing allies and partners against China and might seek a separate U.S. accommodation with Russia, a staunch strategic partner of China.

For its part, a Harris administration, assuming it retained much of the Biden approach, would likely intensify strategic competition with Beijing and consolidate Biden’s efforts to build a coalition of Western and Asian countries to counterbalance China. Compared with Trump’s arbitrary and fickle policymaking, these strategies would likely remain more organized and predictable. 

Yet overall, from a Chinese perspective, the China policies of a new Trump administration and a Harris administration will likely be strategically consistent. As presidents, both candidates would present challenges and disadvantages for China, and neither seems likely to want a major military conflict or to cut off all economic and societal contacts. Therefore, Beijing is unlikely to have a clear preference. Moreover, China has strong incentives to maintain a stable relationship with the United States and to avoid confrontation or major disruptions. Given the political sensitivities regarding the election and U.S.-Chinese relations, any Chinese action to interfere would likely backfire.

As the 2024 U.S. presidential race heats up, officials in Beijing have made cautious and reserved remarks about it, with government officials describing the election as “America’s internal affair.” At a press briefing in July, Foreign Ministry Spokesperson Lin Jian stressed that China “has never and will never interfere in the presidential elections of the U.S.” Lin also said, however, that the Chinese government “staunchly rejects anyone making an issue of China and damaging China’s interests for election purposes” and that the two U.S. political parties “should not spread disinformation to vilify China and should not make China an issue.” That signals that Beijing may feel compelled to respond, at least rhetorically, if it is attacked during the campaigns. Despite its declared principle of noninterference, Beijing may not be able to silence sensational, irresponsible, and provocative voices in Chinese-language social media. Some of these are aired outside China and may reflect the specific agendas of particular external Chinese communities and should therefore not be construed as representing China’s official position.

CAUTION, NOT CATASTROPHE

Like Washington, Beijing’s primary concern in 2024 is its domestic situation. In contrast with the political polarization and volatile election season in the United States, China appears to be politically stable and socially cohesive under the leadership of the Chinese Communist Party. In mid-July, the 20th CCP Central Committee concluded its third plenary session with a positive assessment of China’s economic recovery, despite below-expectation economic growth figures for the first half of 2024, and made a proposal for comprehensively deepening reforms to advance China’s modernization. Seeking to balance economic development and national security, Beijing’s top priority remains institution building, particularly strengthening the CCP leadership and enforcing party discipline.

On the one hand, Beijing recognizes that sustaining economic growth is imperative for domestic stability and takes incremental measures to enhance foreign trade, investment, and technological cooperation. In this regard, it sees no advantage in antagonizing the United States and the West. On the other hand, the Chinese government has spared no effort in guarding against what it sees as Western—and in particular, American—attempts to undermine its authority and legitimacy at home, and it will not sacrifice political principles and national security for economic gains.

Although it seeks stability with Washington, Beijing has also been preparing for growing turbulence in the bilateral relationship. In March 2023, Xi observed, “Western countries led by the United States have implemented all-around containment, encirclement, and suppression against us, bringing unprecedented severe challenges to our country’s development.” Two months later, at the first meeting of the new Central National Security Committee, Xi called on the party to “be prepared for worst-case and extreme scenarios and to be ready to withstand the major test of high winds, choppy waters, and even dangerous storms.” In foreign affairs, Beijing still depicts the world as comprising both developing and developed countries rather than framing it as Western and anti-Western blocs competing for influence in the global South.

China has adamantly resisted U.S. interference in what it regards as its domestic affairs, particularly on issues such as Hong Kong, Taiwan, Tibet, Xinjiang, and human rights. China regards the Taiwan question, in particular, as holding core importance. Beijing believes it has exercised significant restraint toward Taiwan and is far from exhausting its potential policy options for preventing the island from obtaining de jure independence. Under these circumstances, the Chinese leadership will adhere to its declared principle of peaceful unification with Taiwan and “one country, two systems” unless it is drastically and irreversibly provoked. In its territorial dispute with the Philippines in the South China Sea, China views its approach as calibrated and confident. In its tensions with the United States over trade and technology, China sees itself focusing on measured counteractions and compelled to double down on pursuing self-reliance.

Given the broad similarities of both the Trump and the Biden administrations’ approach to China, Beijing is preparing itself for the outcome of the U.S. elections with great caution and limited hope. In April, Xi restated to U.S. Secretary of State Antony Blinken that “China welcomes a confident, open, prosperous, and thriving United States and hopes the United States will also look at China’s development in a positive light.” Unfortunately, the likelihood that the next U.S. administration will view China’s development positively is low. As China continues to prioritize domestic development and security, it will likely strive to defend its economic and governance models while preserving space for global trade and investment. For a long time to come, U.S.-Chinese relations seem unlikely to return to the deep exchanges and cooperation that occurred at the beginning of the twenty-first century. Yet if a rapprochement is out of the question, China and the United States can still maintain stability and avoid catastrophe, whoever is in the Oval Office.


Read Vladimir Kara-Murza’s Pulitzer Prize-winning commentaries on Russia (The Washington Post)

Opinion

Read Vladimir Kara-Murza’s Pulitzer Prize-winning commentary on Russia

Kara-Murza courageously wrote incisive, historically informed columns about Russia from confinement.

The Washington Post, August 1, 2024

  1. 1Many Russians refuse to be silent accomplices to Putin’s war
  2. 2What happened when I saw Alexei Navalny
  3. 3Putin thinks he can bend history to his will
  4. 4Russians are living in a frightening, distorted reality
  5. 5Putin’s war on Ukraine makes a mockery of law
  6. 6A reckoning will come
  7. 7Change will come to Russia — abruptly and unexpectedly


Vladimir Kara-Murza, a Washington Post contributing columnist, was released in the largest prisoner exchange since the height of the Cold War. Kara-Murza, who had been imprisoned in Russia since April 2022, was awarded the 2024 Pulitzer Prize for commentary in May.

Arrested voicing his opposition to the war in Ukraine, Kara-Murza continued to send his incisive, historically informed columns about the Russian system to The Post from confinement. The Pulitzer judges recognized Kara-Mura’s “passionate columns written under great personal risk from his prison cell, warning of the consequences of dissent in Vladimir Putin’s Russia and insisting on a democratic future for his country.”


Here are the seven columns for which he was honored:

1

Many Russians refuse to be silent accomplices to Putin’s war

August 15, 2023

“Some people in the West are asking why more Russians aren’t protesting against Putin and his brutal war. Perhaps, a more apt observation would be that — given the circumstances and the cost — so many Russians are. According to human rights groups, since Putin’s invasion of Ukraine, nearly 20,000 people have faced police detention across Russia for antiwar protests. Not a week goes by without another arrest, indictment or sentencing of antiwar protesters. Artists and journalists, politicians and priests, lawyers and police officers, students and railroad workers: Russians of different backgrounds and vocations have refused to become silent accomplices to Putin’s war, even at the cost of personal freedom.” [Read the full column.]


2

What happened when I saw Alexei Navalny

August 30, 2023

"The room on the video screen looked like a school gym. At the head of the court, under a double-headed eagle clumsily fastened to the wall, sat Moscow City Court Judge Andrei Suvorov, with his chair behind a small (also school-type) desk. His judicial gown looked strikingly out of place, given the circumstances. The room was filled with men in black masks and khaki uniforms. At a table by the wall on the left side of the screen sat the defendant surrounded by his lawyers — and it was only when he stood up to approach the camera and speak that I realized it was Alexei Navalny." [Read the full column.]


3

Putin thinks he can bend history to his will

Oct. 12, 2023

“As could be expected from a regime led by a KGB officer who spares no effort to whitewash and glorify the Soviet past, the new textbooks have very little to do with actual history. Instead, they resemble compilations of propaganda slogans that have for years been advanced by Kremlin officials and state media outlets.” [Read the full column.]


4

Russians are living in a frightening, distorted reality

Jan. 17, 2023

“Propaganda is not limited to news bulletins and talk shows — it also permeates documentaries, cultural programs and even sports coverage. New Year’s Eve, when millions of Russians tune in to listen to popular songs and watch favorite movies, was also filled with propaganda messages.” [Read the full column.]


5

Putin’s war on Ukraine makes a mockery of law

June 7, 2023

“Today in our country, it is not those who are waging this criminal war but those who oppose it who face judgment: Journalists who tell the truth. Artists who put up antiwar stickers. Priests who invoke the commandment “Thou shalt not kill.” Teachers who call a spade a spade. Parents whose children draw antiwar pictures. Lawmakers who allow themselves to doubt the appropriateness of children’s competitions when children are being killed in a neighboring country.” [Read the full column.]


6

A reckoning will come

Kara-Murza delivered these remarks on April 10, 2023, at the closing session of his trial in Moscow.

“Members of the court: I was sure, after two decades spent in Russian politics, after all that I have seen and experienced, that nothing can surprise me anymore. I must admit that I was wrong. I’ve been surprised by the extent to which my trial, in its secrecy and its contempt for legal norms, has surpassed even the “trials” of Soviet dissidents in the 1960s and ’70s. And that’s not even to mention the harshness of the sentence requested by the prosecution or the talk of “enemies of the state.” In this respect, we’ve gone beyond the 1970s — all the way back to the 1930s. For me, as a historian, this is an occasion for reflection.” [Read the full column.]


7

Change will come to Russia — abruptly and unexpectedly

Sept. 11, 2023

“Political change in Russia always comes unexpectedly… The next time, change will come in exactly the same way — abruptly and unexpectedly. None of us knows the specific moment and specific circumstances, but it will happen in the foreseeable future. The chain of events leading to these changes was started by the regime itself [with its full-scale invasion of Ukraine] in February 2022. It’s only a matter of time.” [Read the full column.]

 

 ==========


My opinion (PRA):


Vladimir Kara-Murza foi um dos dissidentes russos encarcerados trocados por criminosos russos presos no Ocidente. Corajoso. 

Insistiu em que o Ocidente não faça sanções contra a Rússia pois isso prejudicaria os russos ordinários. Pretende o quê, então?

Sanções podem não ser muito efetivas, mas são as únicas que restam para impedir guerras, quando o adversário agride terceiros, por vezes o seu próprio povo, como fazem as ditaduras. 

Dissidentes deveriam convencer os nacionais a trocar de governo. Alguns o fazem, outros reclamam.


Venezuela: Estados Unidos apoiam os resultados eleitorais que dão vitória à oposição democrática - Declaração do Secretário de Estado Antony Blinken

(O Globo, 2/08/2024)

Declaração do Secretário de Estado Antony Blinken: 



Informações do jornal O Estado de S. Paulo, 2/08/2024:

Em um comunicado oficial divulgado ontem, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, reconheceu a vitória de Edmundo González Urrutia, opositor de Maduro, nas eleições venezuelanas.  Como resposta à declaração do chefe da diplomacia americana, o ditador pediu que os Estados Unidos "tirem o nariz de seu país" e acusou a imprensa estrangeirade incitar uma "guerra civil" em Caracas.  

Mesmo diante do ceticismo com relação à sua vitória, México, Brasil e Colômbia exigiram, em um documento conjunto, as atas de votação que mostrariam de onde saíram os votos que o reelegeram. Fortalecido internamente com tutela militar, Maduro não se vê constrangido em apelar para fraude, escreve Luiz Raatz

Frente às pressões internacionais, Eliane Cantanhêde avalia que o autocrata, como uma "fera acuada, é capaz de qualquer coisa, inclusive de um autogolpe e de um banho de sangue".

O mundo, a Europa em especial, sofre sob calor excessivo

 Calor extremo mata mais de 176 mil por ano na Europa

https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2024/08/calor-extremo-mata-mais-de-175-mil-pessoas-na-europa-anualmente-diz-oms.shtml

Folha de S. Paulo, 1/08/2024

PARIS

Continente com a taxa de aquecimento mais rápida do planeta, a Europa já registra mais de 176 mil mortes anuais relacionadas ao calor extremo. O dado foi destacado pelo diretor regional da OMS (Organização Mundial da Saúde), Hans Kluge, em um comunicado divulgado nesta quinta-feira (1º).

A região representa 36% das mortes excessivas por calor no globo, estimadas em 489 mil por ano. A mortalidade relacionada às altas temperaturas aumentou 30% na região nas últimas duas décadas.

"A região europeia está aquecendo mais rápido do que qualquer outra região da OMS, com temperaturas aumentando cerca de duas vezes mais rápido que a média global. Isso tem levado a graves consequências para a saúde das pessoas", afirmou Kluge.

“O estresse térmico é a principal causa de morte relacionada ao clima na região. Temperaturas extremas exacerbam condições crônicas, como doenças cardiovasculares, respiratórias, cerebrovasculares, problemas de saúde mental e diabetes", completou o diretor. "Grupos particularmente vulneráveis incluem idosos, especialmente aqueles que vivem sozinhos, e mulheres grávidas."

O alerta do chefe regional da OMS para a Europa foi feito para apoiar uma "chamada para a ação" contra o contra o calor extremo lançada pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, na última quinta-feira (25).

Na semana passada, a Terra registrou seus três dias mais quentes da história recente. O recorde aconteceu na segunda-feira, 22 de julho, que teve temperatura média de 17,16°C.

Destacando a sucessão de recordes de calor, o líder das Nações Unidas cobrou mais ação das autoridades mundiais para limitar o aquecimento global em 1,5°C, em comparação às temperaturas médias do período pré-industrial. A cifra, considerada pelos cientistas o limite para evitar as piores consequências das mudanças climáticas, é também o valor preferencial acordado no Acordo de Paris, em 2015.

Em junho, no entanto, o planeta completou 12 meses consecutivos com temperaturas médias iguais ou superiores à marca de 1,5°C. Embora seja motivo de alerta, os cientistas consideram que o valor ainda não pode ser considerado definitivamente ultrapassado.

Ainda assim, o aumento das temperaturas já castiga a população em várias regiões no mundo. Na Europa, o verão tem sido marcado por ondas de calor no sul e no centro do continente, com os termômetros ultrapassando os 40°C em várias cidades.

Nesta semana, pesquisadores do World Weather Attribution divulgaram uma análise indicando que a intensidade da atual onda de calor extremo que vem atingindo boa parte da Europa Ocidental e do norte da África —apelidada de "cúpula de calor"— só pode ser explicada pelo aquecimento global causado pela ação humana.

De acordo com os cientistas, o aquecimento global agravado pela queima de combustíveis fósseis foi o responsável por elevar as as temperaturas na região em cerca de 2,5°C a 3,3°C. As análises indicam que um evento dessas dimensões não seria possível sem o aquecimento global.

É esse o fenômeno que tem elevado as temperaturas em Paris durante os Jogos Olímpicos. Nesta semana, o público e os atletas sofreram com temperaturas que chegaram a ultrapassar os 35°C.

"O mundo assistiu aos atletas suando sob um calor de 35°C. Se a atmosfera não estivesse sobrecarregada com emissões de combustíveis fósseis, Paris teria sido cerca de 3°C mais fria e muito mais segura para a prática de esportes", disse Friederike Otto, climatologista do Imperial College London e parte do grupo World Weather Attribution, em entrevista ao jornal britânico The Guardian.

O governo francês também tem investido em manter a população e os turistas hidratados. Centenas de distribuidores de água potável foram espalhados pela capital francesa. Em estações de trem e de metrô, há também funcionários entregando água gratuitamente.

Na Grécia, além dos incêndios florestais, os últimos meses foram marcados por mortes de turistas. Em junho, pelo menos seis viajantes morreram em episódios relacionados ao excesso de calor, incluindo apresentador britânico Michael Mosley.

As autoridades helênicas chegaram a fechar temporariamente alguns pontos turísticos durante as horas mais quentes do dia. O governo também determinou restrições a algumas atividades realizadas no exterior nos horários mais quentes, incluindo a construção civil.

Em meio a alertas de altas temperaturas de seus serviços meteorológicos, outros países também implementaram restrições e medidas de contenção.

"Para mitigar esses riscos [associados ao calor], mais de 20 países da região desenvolveram planos de ação para enfrentar ondas de calor, mas isso ainda é insuficiente para proteger todas as comunidades. A OMS/Europa está atualizando suas diretrizes de planos de ação para a saúde e o calor, que servirão como referência para governos nacionais e locais", disse o diretor da OMS para Europa, Hans Kluge.

Governo brasileiro normalizando a ditadura da Venezuela - Roberto Freire, Eduardo Jorge, Gilberto Natalini, Augusto de Franco (Inteligência Democrática)

 Governo brasileiro normalizando a ditadura da Venezuela

Nós não aceitamos

O mundo está assistindo, ainda atônito, a uma série de fraudes cometidas pela ditadura venezuelana. Uma fraude antes das eleições, não permitindo que candidatos oposicionistas competitivos concorressem, amordaçando a imprensa e proibindo a realização de campanhas adversárias. Uma fraude durante as eleições, com o sequestro de mesas de votação e de urnas e a expulsão das seções eleitorias de fiscais da oposição. E uma fraude depois do pleito, com a tentativa de Maduro, agora em curso, de falsificar atas eleitorais para inverter o resultado das urnas.

Assistimos também o início do “banho de sangue” prometido pelo ditador Nicolás Maduro. Contam-se, até agora, 20 mortos, centenas de feridos, mais de 750 pessoas presas e muitas desaparecidas, um líder oposicionista sequestrado e a promessa do regime de encarcerar a líder María Corina e o candidato da oposição, Edmundo González.

A Venezuela se isola do mundo democrático e civilizado. Nenhuma das democracias plenas reconheceu o governo que se proclama reeleito fraudulentamente. Isso inclui as democracias liberais de Estados Unidos e Canadá, de países da União Europeia, Noruega, Suíça, Reino Unido, Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Austrália e Nova Zelândia. Sete embaixadores de democracias latino-americanas foram expulsos do país porque pediram a divulgação das atas eleitorais. Somente reconheceram a farsa eleitoral de Maduro as piores ditaduras do planeta, como Cuba, China, Rússia e Bielorússia, Irã, Coreia do Norte, Síria, Nicarágua, além de regimes parasitados por governos populistas, como a Bolívia e Honduras. Brasil, México e Colômbia parecem estar dando tempo ao ditador para falsificar atas eleitorais.

Enquanto isso, Maduro acusa seus opositores de fascistas, golpistas e terroristas, a serviço do imperialismo norte-americano.

O PT, partido do presidente da República, além de reconhecer Maduro como presidente reeleito, culpando falsamente as sanções internacionais ao regime, que julga “ilegais”, pela desastrosa situação do país, saudou “o povo venezuelano pelo processo eleitoral... em uma jornada pacífica, democrática e soberana”.

Não bastasse tudo isso, o presidente do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva, declarou em entrevista que "Não tem nada de grave, não tem nada de assustador" ocorrendo na Venezuela. E repetiu: "Não tem nada de anormal. Teve uma eleição. Teve uma pessoa que disse que tem 51%, tem outra pessoa que teve 40 e pouco por cento. Um concorda, o outro não, entra na Justiça, e a Justiça faz". Como se lá houvesse um poder judiciário independente da ditadura.

Ao normalizar tiranias como a da Venezuela e dos regimes ditatoriais que reconhecem seu governo ilegítimo, Lula está alinhando o Brasil ao que há de mais retrógrado e avesso à democracia no mundo. Os votos dos brasileiros e brasileiras, inclusive dos democratas, que lhe deram um terceiro mandato, não o autorizaram a fazer isso. Lula e o PT estão afrontando nossa formação histórica, nossos valores de liberdade e nossa cultura democrática, ao associar o Brasil à banda podre dos regimes políticos, obscurantista e violadora dos direitos humanos, que está por toda parte atacando as democracias.

A posição do governo brasileiro é inaceitável.

Não se trata de romper relações diplomáticas com a Venezuela - uma relação entre Estados. Não se trata de paralisar o comércio do Brasil com aquele país - e sim de não legitimar uma ditadura cruel, sanguinária, corrupta e ligada ao narcotráfico.

Não se trata, igualmente, de reincidir em velhas divisões ideológicas entre esquerda e direita. Putin e Viktor Orbán, que não podem ser considerados de esquerda, apoiam Maduro. Xi Jinping e Canel, que não podem ser considerados de direita, apoiam a ditadura venezuelana. O que está em jogo é a defesa do mundo democrático contra aqueles que querem estrangular liberdades civis e sufocar direitos políticos, em cada país e em escala global.

Trata-se, agora, de convocar todos os democratas e as democratas para que reajam diante dessa insensatez, obrigando o governo brasileiro a mudar de posição, não aceitar as fraudes da ditadura venezuelana e exigir que se cumpra a vontade, amplamente majoritária, dos eleitores da Venezuela manifestada nas urnas de 28 de julho de 2024.

Os democratas que estão se articulando na iniciativa Livres da Polarização dão um primeiro passo nessa direção, convidando todos os demais movimentos e setores da sociedade a aderirem a essa movimentação cívica por meio de debates, eventos, manifestos e abaixo-assinados, posicionamentos na mídias sociais e na grande imprensa, exigindo a mudança da posição vergonhosa do Brasil.

Nós não aceitamos o que está acontecendo, não validamos as posições de Lula e do PT e não vamos nos calar diante desse ataque ao coração da nossa democracia.

1 de agosto de 2024

Roberto Freire

Eduardo Jorge

Gilberto Natalini

Augusto de Franco