sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

O chanceler palhaço de Trump: Marco Rubio - Rubens Barbosa (interesse Nacional)

 Eu estaria exagerando se chamasse o Secretário de Estado de palhaço?


O Departamento de Estado esvaziado 

Rubens Barbosa

Nos corredores de poder em Washington, comenta-se que o verdadeiro secretário de Estado é Elon Musk e que Rubio estaria adotando uma atitude de não confrontação, esperando que os egos de Trump e Musk se choquem e que o milionário amigo do presidente seja afastado

O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio (Foto: Intagram/senatormarcorubio)

A nomeação do senador conservador da Flórida com amplo conhecimento da política externa norte-americana Marco Rubio para o Departamento de Estado dos EUA foi bem recebida pelo meio político norte-americano que viu nele um fator de moderação para tentar conter as iniciativas despropositadas de Donald Trump. 

É verdade que desde sua indicação, Rubio disse que iria trabalhar para implementar as políticas do presidente, mas isso não significa que iria abandonar as competências e as posições tradicionais do Departamento de Estado para influir nas decisões da Casa Branca.

‘Rubio está sendo marginalizado e não consegue ocupar seu espaço como o principal assessor do presidente dos EUA para a política externa’

Está ficando claro, contudo, que Rubio está sendo marginalizado e não consegue ocupar seu espaço como o principal assessor do presidente dos EUA para a política externa. 

Desde o início do governo, com um baixo perfil em termos de opinião pública, Rubio parece estar sempre a reboque das políticas apresentadas por Trump e por Elon Musk. Em diversos momentos, dá a impressão de que não tem controle sobre a implementação de medidas para a redução da burocracia em sua área, como foi o caso do desmanche da USAID e da perspectiva de redução em 20% do número de funcionários diplomáticos do Departamento de Estado e da redução do número de embaixadas no exterior. 

A reação do senador da Flórida sobre a ideia sem sentido de Trump de os EUA assumirem o controle da Faixa de Gaza e da retirada dos 2,2 milhões de palestinos foi “Make Gaza Beautiful Again”. 

‘Crítico de Cuba, de Teerã, da China e de Putin, na Rússia, Rubio mudou de posição, aderiu ao discurso de Trump e parece aguardar as diretrizes da Casa Branca para se pronunciar’

Grande crítico de Cuba, de Teerã, da China e de Putin, na Rússia, Rubio mudou de posição, aderiu ao discurso de Trump e parece aguardar as diretrizes da Casa Branca para se pronunciar. Grande defensor da ajuda externa por meio da USAID, nada fez para evitar o desaparecimento da agência.

Nos corredores de poder em Washington, comenta-se que o verdadeiro secretário de Estado é Elon Musk e que Rubio estaria adotando uma atitude de não confrontação, esperando que os egos de Trump e Musk se choquem e que o milionário amigo do presidente seja afastado. Outros mostram sinais de que esperam que Rubio não permaneça por muito tempo à frente da diplomacia norte-americana.

‘Rubio começou a aparecer, sem deixar sua marca bem clara, em viagens ao exterior’

Rubio começou a aparecer, sem deixar sua marca bem clara, em viagens ao exterior, à América Central, à Europa e ao Oriente Médio, a fim de discutir a questão dos imigrantes centro-americanos, do Canal do Panamá e das guerras da Ucrânia e de Gaza. 

Nesta semana, Rubio participou junto com o assessor de Segurança Nacional, Mike Waltz, e do enviado de Trump para a guerra da Ucrânia, Keith Kellogg, de reunião na Arábia Saudita para começar a discutir com a Rússia o fim do conflito (sem a presença de Zelensky e de representantes europeus). Nas entrevistas depois do encontro, as principais explicações vieram do assessor de Segurança Nacional e não do secretário de Estado. Ontem, quem conversou com Zelensky em Kiev foi o general Kellogg, não Rubio.

‘A insatisfação dos funcionários diplomáticos cresce junto com a frustração pela maneira como o governo federal está tratando os temas diplomáticos’

A insatisfação dos funcionários diplomáticos no Departamento de Estado cresce junto com a frustração pela maneira como o governo federal está tratando os temas diplomáticos. 

Na semana passada, Trump fez circular um memorando demandando total lealdade às diretrizes da Casa Branca, aparentemente sem consulta a Marco Rubio. 

Aparentemente, o que Musk e Trump querem é uma desculpa para poder eliminar os profissionais e colocar os seus aliados em todos os cargos mais importantes.

Presidente e fundador do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE). É presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da FIESP, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), presidente do Centro de Defesa e Segurança Nacional (Cedesen) e fundador da Revista Interesse Nacional. Foi embaixador do Brasil em Londres (1994–99) e em Washington (1999–04). É autor de Dissenso de Washington (Agir), Panorama Visto de Londres (Aduaneiras), América Latina em Perspectiva (Aduaneiras) e O Brasil voltou? (Pioneira), entre outros.


https://interessenacional.com.br/portal/o-departamento-de-estado-esvaziado/

Os Estados Unidos acabaram de mudar de lado na guerra da Ucrânia Francis Fukuyama, Persuasion

 Os Estados Unidos acabaram de mudar de lado na guerra da Ucrânia

Francis Fukuyama

Persuasion (20/02/2025)

Mesmo que qualquer pessoa com olhos pudesse ver isso chegando, os movimentos recentes de Donald Trump em relação à Ucrânia e à Rússia representam um golpe devastador. Estamos no meio de uma luta global entre a democracia liberal ocidental e governos autoritários, e, nessa batalha, os Estados Unidos acabam de mudar de lado e se aliar ao campo autoritário.

O que Trump disse nos últimos dias sobre a Ucrânia e a Rússia desafia a crença. Ele acusou a Ucrânia de ter iniciado a guerra por não ter se rendido preventivamente às exigências territoriais russas; afirmou que a Ucrânia não é uma democracia; e disse que os ucranianos estavam errados em resistir à agressão russa. Essas ideias provavelmente não foram concebidas por ele, mas vêm diretamente da boca de Vladimir Putin, um homem por quem Trump já demonstrou grande admiração. Reunidos na Arábia Saudita na terça-feira, os Estados Unidos iniciaram uma negociação direta com Moscou, excluindo tanto a Ucrânia quanto os europeus, e cederam antecipadamente dois trunfos cruciais: a aceitação das conquistas territoriais russas até o momento e um compromisso de não permitir que a Ucrânia entre na OTAN. Em troca, Putin não fez uma única concessão.

Levo isso particularmente para o lado pessoal, pois meus colegas da Universidade de Stanford e eu temos trabalhado arduamente desde 2013 para apoiar a democracia na Ucrânia. Realizamos diversos programas para treinar profissionais ucranianos de meia carreira em habilidades de liderança e valores democráticos. Visitei o país muitas vezes e desenvolvi muitas amizades com um grande grupo de ucranianos inspiradores.

Só para deixar claro, há aqui uma enorme questão moral em jogo. A Ucrânia é uma jovem, frágil e imperfeita democracia liberal, mas ainda assim é uma democracia liberal. A Rússia, por outro lado, é a mais recente encarnação da antiga União Soviética, uma entidade cuja dissolução em 1991 Putin lamenta e vem tentando reverter desde então. Trata-se de uma ditadura na qual uma única palavra errada nas redes sociais pode levar alguém à prisão por anos. Lembro-me de caminhar pela Praça Maidan, em Kyiv, alguns anos atrás, maravilhado com o fato de que a Ucrânia era uma sociedade genuinamente livre, onde se podia criticar o governo, circular livremente e votar em um candidato da oposição (como os ucranianos fizeram ao eleger Zelensky e seu partido, Servo do Povo, em 2019). Nada disso acontece na Rússia, que regrediu a uma ditadura totalitária.

Qualquer acordo de paz “negociado” agora pelo governo Trump e pela Rússia não trará paz. Pode haver um cessar-fogo temporário, mas os russos irão se rearmar e reabrir a guerra assim que se reabastecerem. Eles não têm razão para respeitar as atuais linhas de cessar-fogo e buscarão reabsorver toda a Ucrânia no momento oportuno.

Menos notado em meio à atual comoção está o anúncio do Secretário de Defesa, Pete Hegseth, de reduzir o orçamento de defesa dos EUA em 8% ao ano pelos próximos cinco anos. Isso é exatamente o oposto do que os Estados Unidos deveriam estar fazendo. No futuro, haverá novas ameaças russas a todos os países de sua periferia—Geórgia, Moldávia, os Estados Bálticos e Polônia. Os EUA não precisam se retirar formalmente da aliança da OTAN; Trump já sinalizou claramente que não cumprirá o compromisso do Artigo 5 de defesa mútua. A América será enfraquecida tanto em sua intenção quanto em sua capacidade de enfrentar futuras ameaças de grandes potências.

E não deixe que ninguém diga que isso está sendo feito para focar nas ameaças de segurança no Extremo Oriente. Neste momento, é inconcebível que Donald Trump use o exército dos EUA para defender Taiwan contra a China. Se a China impor um bloqueio ou se preparar para uma invasão, Trump iniciará uma negociação com Xi Jinping, assim como está fazendo com Putin, que na prática entregará o controle da ilha. Ele então se vangloriará de ter evitado uma guerra.

Desde 1945, os Estados Unidos têm apoiado uma ordem mundial liberal baseada em normas como a proibição do uso da força militar para mudar fronteiras e em acordos formais de defesa mútua, como a OTAN e os tratados de segurança com Japão e Coreia do Sul. Esse sistema foi espetacularmente bem-sucedido em promover paz, prosperidade e democracia. Os EUA usaram seu soft power por meio de instrumentos como a National Endowment for Democracy para apoiar defensores da democracia contra o poder autoritário de países como China, Rússia, Irã e Coreia do Norte.

Os Estados Unidos sob Donald Trump não estão recuando para o isolacionismo. Eles estão ativamente aderindo ao campo autoritário, apoiando autocratas de direita em todo o mundo, de Vladimir Putin a Viktor Orbán, Nayib Bukele e Narendra Modi. A National Endowment for Democracy pode muito bem renascer como a National Endowment for Dictatorship (Fundação Nacional para a Ditadura). Como podemos dizer à Rússia e à China para não continuarem suas conquistas quando nós mesmos estamos ocupados tentando absorver o Panamá e a Groenlândia? Esses movimentos de política externa são completamente coerentes com o ataque do governo Trump ao Estado de Direito no plano interno, seu fortalecimento do poder executivo e o enfraquecimento dos freios e contrapesos em todos os níveis.

Não me digam que o povo americano votou por um mundo ou um país como este no último novembro. Eles não estavam prestando atenção—e deveriam se preparar para ver seu próprio país e o mundo transformados além do reconhecimento.


Julgamento de golpe de Estado é vitória histórica da democracia - Marina Amaral (Agência Pública)


Julgamento de golpe de Estado é vitória histórica da democracia

Marina Amaral
Diretora Executiva da Agência Pública

A denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira, sobre o golpe de Estado, em marcha de julho de 2021 a 8 de janeiro de 2023, sob liderança do ex-presidente Jair Bolsonaro, tocou os corações brasileiros machucados pela impunidade dos ditadores, torturadores e assassinos do golpe de 1964. 

Afinal, eles ainda estão aqui, mas desta vez podem ser julgados e punidos, de acordo com a acusação robusta e minuciosa da PGR, pelos crimes de golpe de Estado, abolição violenta do estado de direito e de organização criminosa “com o objetivo de impedir o regular funcionamento dos Poderes da República (art. 359-L do Código Penal) e depor um governo legitimamente eleito (art. 359-M do Código Penal)”.

E a denúncia vai além, estabelecendo a conexão entre a marcha golpista iniciada em 2021 e os crimes de 8 de janeiro, atribuindo, portanto, à mesma organização criminosa também os crimes de dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União “em investida ocorrida contra as sedes do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal”.

Um avanço importante em relação ao inquérito da Polícia Federal (PF), como observa o advogado criminalista Rafael Borges, estudioso dos crimes contra o Estado de Direito. Em excelente entrevista à Agência Pública, Borges destaca que o “grande mérito da denúncia da PGR” é a comprovação de que o 8 de janeiro não foi fruto de uma ação popular espontânea, mas “a face violenta desse conjunto de preparativos, articulações de conjunturas, de maquinações que vinham sendo feitas desde 2021”. 

Entre os 33 denunciados, além de Bolsonaro, fulguram as quatro estrelas dos generais Braga Netto, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e Estevam Teophilo, além do almirante da Marinha Almir Garnier.

“ Viúvos do golpe de 1964, ressentidos com as investigações da Comissão da Verdade, ciosos de seus privilégios e inconformados com a democracia vigente no país, militares de alta patente, que retomaram o espaço político na derrubada de Dilma Rousseff e ascenderam no governo Temer, reabilitaram o ex-capitão do Exército, proscrito depois de planejar atos terroristas, para que os representasse nas urnas, quando se cogitava a possibilidade de o presidente Lula poder concorrer às eleições.
O que, aliás, é bom lembrar, provocou os tuítes ameaçadores do general Villas Bôas, então comandante do Exército e depois mentor de boa parte dos generais palacianos, às vésperas da votação de um habeas corpus de Lula pelo STF, em abril de 2018. Tuítes esses elaborados em conjunto com o Alto-Comando do Exército, como relatou o próprio Villas Bôas, que confessou ter planejado intervenção militar se Lula fosse solto.

Lula continuou na cadeia até 2019, Bolsonaro foi eleito, levando os militares para o governo, mas a queda de sua popularidade diante da morte de mais de 700 mil brasileiros pela covid, boa parte delas motivada pela má condução de seu governo diante da pandemia, e a anulação da condenação de Lula, em março de 2021, fizeram soar o alarme dos golpistas. Foi a partir daí, segundo a PGR, que a organização criminosa passou a atuar, disseminando mentiras sobre a segurança e isenção do sistema eleitoral para preparar o terreno para a derrubada do Estado democrático. 

Não por acaso, em julho daquele ano, o general Mário Fernandes tornou-se secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência. Preso em novembro de 2023 como suspeito de planejar atividades golpistas violentas como o assassinato de autoridades, como Alexandre de Moraes, o presidente Lula e o vice Alckmin, revelados no inquérito da PF, Fernandes foi comandante dos kids pretos, encarregados do “trabalho sujo” do golpe de Bolsonaro, incluindo a articulação e a radicalização dos acampamentos nos quartéis e os atos golpistas, como o de 8 de janeiro. 

Tudo feito com a anuência e liderança de Jair Bolsonaro, segundo a PGR, que destaca eventos, presenciados por todos nós, que apontavam na direção do golpe. Entre eles, a live de 29 de julho de 2021, quando Bolsonaro incitou publicamente a intervenção das Forças Armadas, e o discurso do ex-presidente em 7 de setembro de 2021, quando transmitiu uma mensagem explícita de golpe em caso de derrota nas urnas em 2022. 

Em 2022, a conspiração escalou com a reunião com os embaixadores estrangeiros, em julho, transmitida ao vivo pelo YouTube, em que o então presidente repisou falsidades contra as urnas e o TSE. Depois a PF descobriria a Abin paralela; a minuta do golpe – segundo a delação de Mauro Cid, editada pelo próprio presidente e por ele apresentada aos comandantes das Forças Armadas; planos de uso das operações da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para impedir a posse de Lula, flagrados com o general Braga Netto; as pressões feitas para que o comandante do Exército, Gomes Freire, aderisse ao golpe, as operações da Polícia Rodoviária Federal para impedir a votação de eleitores de Lula.

Os atentados que se seguiram à diplomação de Lula no TSE até o 8 de janeiro foram o desfecho desse plano que, felizmente, não apenas fracassou em seu principal objetivo, mas foi minuciosamente reconstruído pela PF e PGR e poderá levar à prisão de Bolsonaro, militares e civis golpistas. 

Das investigações da PF à peça da PGR, prevaleceram a competência, a transparência e o respeito pelos fatos, pelas leis e ritos institucionais, o que traz alívio para nós, cidadãos, que queremos viver em um país democrático. 

Por mais que os envolvidos e seus aliados, incluindo um jornalão que se dizia progressista e parece ter retornado às origens colaboracionistas de 1964, tentem colocar esse trabalho em dúvida. Longa vida para a democracia e para o jornalismo de interesse público!


Marina Amaral
Diretora Executiva da Agência Pública
marina@apublica.org 

Com um mês de Trump, o mundo mudou, mas para pior - Stephen Collinson, Caitlin Hu (CNN Meanwhile in America)

Com um mês de Trump, o mundo mudou, mas para pior 

 Stephen Collinson and Caitlin Hu

CNN Meanwhile in America, Feb 20, 2025

Anne Applebaum returning from Munich: farewell to America

 End of an Era 

After Munich 

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The first Munich Security Conference was held in 1963, on the initiative of Ewald Von Kleist, a member of the anti-Nazi resistance. The original purpose was to bring together Germans, Americans and other Europeans for an annual discussion of security, and an annual reinforcement of the shared transatlantic commitment to democratic values and the rule of law. Von Kleist hoped, by doing so, to prevent a return of the fascist regime he hated. 

Over the years the conference grew bigger. Senator John McCain famously brought a a planeload of Americans every year - other Senators, members of Congress, journalists, security analysts. The American Vice-President and the German Chancellor usually make speeches. Foreign and defense ministers from across the NATO alliance come too. At some point it grew too big: at the height of the conference, on Saturday morning, it can be too crowded to walk across the lobby of the hotel that hosts the event. 

I have been to many Munich conferences, including the remarkable one that took place in 2022, on the eve of the Russian invasion of Ukraine, when everyone present vowed to help Ukraine (and yet Zelensky went home to fight alone). This one was different. Vice President JD Vance arrived intending not to express solidarity, or even to solve common problems. He wanted to blow up the transatlantic alliance, and he succeeded. 

In a way, this was helpful: Vance clarified the Trump administration’s position on alliances, especially in Eurpe. It took me a few days to process what had happened, but I wrote about this dramatic shift today

For eight decades, America’s alliances with other democracies have been the bedrock of American foreign policy, trade policy, and cultural influence. American investments in allies’ security helped keep the peace in formerly unstable parts of the world, allowing democratic societies from Germany to Japan to prosper, by preventing predatory autocracies from destroying them. We prospered too. Thanks to its allies, the U.S. obtained unprecedented political and economic influence in Europe and Asia, and unprecedented power everywhere else.

The Trump administration is now bringing the post–World War II era to an end.

Vance’s speech was followed by revelations of the extraordinary “deal” that the U.S. Treasury Secretary offered to the Ukrainian president, Volodymyr Zelensky, a few days ago. Several people in Munich had seen it: 

It calls for the U.S. to take 50 percent of all “economic value associated with resources of Ukraine,” including “mineral resources, oil and gas resources, ports, other infrastructure,” not just now but forever, as the British newspaper The Telegraphreported and others confirmed: “For all future licenses the U.S. will have a right of first refusal for the purchase of exportable minerals,” the document says.

Having offered Ukraine more or less what the Versailles Treaty offered a defeated Germany, President Trump then launched an extraordinary, dishonest attack on Zelensky. I corrected a few of his points: 

No, Ukraine did not start the war; Russia launched the invasion, Russia is still attacking Ukraine, and Russia could end the war today if it stopped attacking Ukraine. No, the U.S. did not spend “$350 billion” in Ukraine. No, Volodymyr Zelensky does not have “four percent” popularity; the real number is more than 50 percent, higher than Trump’s. No, Zelensky is not a “dictator”; Ukrainians, unlike Russians, freely debate and argue about politics. But because they are under daily threat of attack, the Ukrainian government has declared martial law and postponed elections until a ceasefire. With so many people displaced and so many soldiers at the front line, Ukrainians fear an election would be dangerous, unfair, and an obvious target for Russian manipulation, as even Zelensky’s harshest critics agree.

I cannot emphasize enough the dramatic nature of this change. America has switched side, not only in Ukraine, but also more broadly in the war of ideas. Read the whole article (it’s a gift link) and my recommendations for Europe, right here:


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Ucrânia: entre a guerra e a desonra -Vitelio Brustolin CNN Forum

Ucrânia: entre a guerra e a desonra

Vitelio Brustolin

CNN Forum, 20 fevereiro 2025


https://www.cnnbrasil.com.br/forum-opiniao/analise-ucrania-entre-a-guerra-e-a-desonra/


        “Você teve escolha entre a guerra e a desonra. Você escolheu a desonra e terá guerra.” Essa foi a declaração de Winston Churchill quando Neville Chamberlain retornou com a assinatura de Hitler no Pacto de Munique.

        Isso foi em 1938. Hitler recebeu os Sudetos da Tchecoslováquia. Meses depois, invadiu a porção ocidental da Tchecoslováquia. Inglaterra e França apenas protestaram. Meses depois, dividiu a Polônia com Stálin e começou a Segunda Guerra Mundial. A história pode se repetir, não como farsa, mas como nova tragédia. A humanidade parece não aprender e estar fadada a repetir seus erros.

Putin ambicionava ter um governo ucraniano obediente, como o da Chechênia ou o de Belarus. Em 2010, um presidente pró-Rússia, Viktor Yanukovych, foi eleito na Ucrânia. Ele assinou um acordo que permitia a presença das tropas russas na região da Crimeia, além de autorizar o treinamento de militares na península de Kerch. 

        Ainda assim, em setembro de 2013, a Rússia advertiu que se a Ucrânia avançasse com um acordo de livre comércio com a União Europeia, “enfrentaria uma catástrofe financeira” e “possivelmente o colapso do Estado”. Diante disso, Yanukovych recuou e se recusou a assinar o acordo com a União Europeia, refutando uma negociação que estava sendo feita há anos e que ele mesmo havia aprovado anteriormente. 

        Essa decisão do então presidente ucraniano de suspender a assinatura do acordo entre União Europeia e Ucrânia, escolhendo, em vez disso, estreitar laços com a Rússia e a com União Econômica Eurasiática, levou multidões às ruas da Ucrânia para protestar no evento que foi inicialmente chamado de “Euromaidan”. Os protestos duraram três meses, de 21 de novembro de 2013 a 23 de fevereiro de 2014 e culminaram no impeachment de Yanukovych, enquanto ele fugia para a Rússia. 

        Na sequência, a Rússia enviou soldados sem identificação para a Ucrânia, ocupando, sobretudo, a região da Crimeia, mas também ocupando parte da região de Donbas. A ocupação foi concluída em 18 de março de 2014. Atualmente a Ucrânia considera que a Crimeia está ocupada pelos militares russos, mas não reconhece a perda do território.

        A Ucrânia não era inimiga da Rússia. A Ucrânia entregou à Rússia as suas armas nucleares em 1994, por meio do Memorando de Budapeste, um acordo garantido por três potências nucleares: Rússia, Estados Unidos e Reino Unido. China e França mais tarde também aderiram; ou seja, todos os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. 

        O convite para a Ucrânia ingressar na Otan estava engavetado desde a guerra da Geórgia, em 2008. Após 2014, esse ingresso se tornou inviável pelas regras da própria Otan, já que a Ucrânia se tornou território de conflito com a anexação da Crimeia e a guerra civil no Donbas.

        Para resumir: a Ucrânia era um país neutro, como a Rússia queria, desde que obteve a independência em 1991, mas mudou de rumo após Putin promover a anexação da península da Crimeia, em 2014. O Parlamento ucraniano aprovou por larga maioria uma alteração na Constituição e tornou a adesão à União Europeia e à Otan objetivos nacionais. A alteração foi concluída em 2019, três meses antes da eleição de Zelensky. 

        Os grupos extremistas da Ucrânia foram criados em 2014, motivados pela agressão russa – dentre eles, o famigerado Batalhão Azov. Já naquela época existiam grupos extremistas na própria Rússia, como o Russkii Obraz, um grupo neo-nazista que se tornou uma grande força no cenário nacionalista radical da Rússia e que foi apoiado por Putin. Além disso, em 2014 também foi criado o Grupo Wagner, formado por mercenários que atuaram em diversos conflitos ao redor do mundo e que tinha integrantes assumidamente neo-nazistas. O grupo, acusado de cometer crimes de guerra, como saques, estupros, massacres de civis, tortura e execução sumária de prisioneiros de guerra, foi fundado pelo oligarca Yevgeny Prigozhin, antigo amigo Putin que se voltou contra ele em 2023 e, meses depois, morreu em um acidente aéreo suspeito.

        Um dos objetivos declarados por Putin com a guerra na Ucrânia era “restringir a expansão da Otan”. Conforme exposto acima, era impossível o ingresso da Ucrânia nessa organização, pois o país estava em guerra. No entanto, após a invasão da Ucrânia pela Rússia, a Otan de fato se expandiu. O ingresso da Finlândia, após ter sido neutra desde 1945, e da Suécia, que era neutra desde 1814, tiveram o efeito contrário ao que Putin aventava.

        Esses países se aproximaram da Otan para se protegerem da Rússia. Assim como aconteceu com outros países do Leste Europeu, incluindo ex-repúblicas soviéticas. 

Putin alega que, em 1990, o então presidente dos EUA George Bush prometeu ao líder russo Mikhail Gorbachev que a Otan não “se moveria nem uma polegada para o leste” além da Alemanha, se esse país fosse unificado. O próprio Gorbachev, no entanto, afirmou que essa promessa nunca foi feita e que o acordo era apenas sobre a Alemanha, conforme pode ser verificado aqui:  https://www.brookings.edu/articles/did-nato-promise-not-to-enlarge-gorbachev-says-no

        Mas qual é então o real objetivo de Putin com a guerra na Ucrânia? Carl von Clausewitz ensina que a guerra é “uma continuação da política por outros meios”. Quando não se consegue o que se quer pela via diplomática, os Estados podem tentar obtê-lo pelo uso da força. A guerra tem, portanto, um objetivo político: a alteração ou manutenção de um determinado status quo; ou seja: a obtenção de “uma paz mais favorável”.

        O objetivo é o seguinte: Putin não reconhece o direito de a Ucrânia existir como país, conforme escreveu em um ensaio publicado em julho de 2021, no site do Kremlin. A ironia disso, é que os ucranianos não querem fazer parte da Rússia, caso contrário, não estariam lutando há três anos contra a segunda maior potência militar do mundo, com a qual fazem fronteira terrestre. 

        Para se ter uma ideia, a Ucrânia é do tamanho do Estado de Minas Gerais e tem uma população três vezes menor que a da Rússia. É notável que o país esteja conseguido resistir por tanto tempo, mas também é evidente que só vem resistindo com armamentos e auxílios de aliados.

        E é justamente aqui que chegamos ao momento presente: desde o início da guerra, países europeus ajudaram a Ucrânia com o equivalente a US$ 137 bilhões, enquanto os Estados Unidos forneceram o equivalente a US$ 118 bilhões. A Ucrânia pode continuar resistindo sem o apoio dos Estados Unidos? O ex-presidente Joe Biden prometeu por diversas vezes que os EUA apoiariam “pelo tempo que for necessário”. Donald Trump, porém, tem outras ideias.

        Em 1938, Hitler convenceu a Grã-Bretanha e a França de que a Tchecoslováquia, e não a Alemanha nazista, seria a causa do conflito na Europa. O pacto ficou conhecido como um exemplo de “política do apaziguamento”, pois Reino Unido e França tentaram evitar uma guerra cedendo às exigências de Hitler. A Tchecoslováquia não foi sequer ouvida.

        Também não foram ouvidos os países que foram divididos em zonas de ocupação e influência na Conferência de Yalta, em fevereiro de 1945. Stálin, da União Soviética; Roosevelt, dos Estados Unidos; e Churchill, do Reino Unido, “decidiram” por todos os demais. E foi assim que começou a Guerra Fria.

        De novo: Putin não reconhece o direito de a Ucrânia existir como país. Qualquer acordo sobre a Ucrânia que não envolva garantias de segurança levará a outra guerra. Afinal, quando ocupou a Crimeia em 2014, Putin não alegou que estava fazendo isso pela “expansão da Otan”. A invasão de 2022 foi só uma continuação da guerra iniciada oito anos antes. 

        Pior que isso: com o afastamento dos Estados Unidos e seu eventual consentimento de uma nova ocupação russa em territórios ucranianos, ninguém na Europa acredita que a Rússia irá parar na Ucrânia. 

        Há tropas russas ocupando territórios na Georgia, na Abecásia e Ossétia do Sul; além da Moldávia, na Transnístria. A Rússia interferiu recentemente nas eleições presidenciais na Romênia, que, por conta disso, foram anuladas. Os países bálticos, Estônia, Letônia e Lituânia, se preparam abertamente para uma guerra, reforçando seus exércitos e construindo muros nas fronteiras (sim, retornamos aos muros que marcaram a Guerra Fria). A Polônia – que foi dominada por quatro anos pelos nazistas e por cinco décadas pelos soviéticos – investe quase 5% do PIB em defesa, pois não quer ser escravizada novamente. Esses são apenas alguns exemplos, já que desde a ocupação da Crimeia, em 2014, a Europa aumentou em 50% as despesas com defesa. O gasto total dos 27 estados-membros da União Europeia em 2024 foi de € 320 bilhões, contrastando com os € 200 bilhões de 2021, antes de a Rússia lançar seu ataque contra a Ucrânia. 

        A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, está propondo uma cláusula de emergência que permite aos governos que as despesas militares não sejam contabilizadas em seus limites de déficit orçamentário. É uma cláusula semelhante à que foi usada para a área de saúde, durante a pandemia de Covid-19. O objetivo é fortalecer a Ucrânia e chegar a um investimento de € 500 bilhões em defesa. 

        Enquanto isso, o gasto militar da Rússia em 2024 foi estimado pelo Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo, o SIPRI, em US$ 140 bilhões, o que representa quase 40% de todo o orçamento anual do país. Não se trata só de empregar recursos, é preciso fortalecer as bases industriais de defesa da Europa, já que a Rússia produz armamentos e munições com rapidez e custos comparativamente reduzidos, além de contar com o apoio direto do Irã, Belarus e da Coreia do Norte.             Além disso, a Europa precisará agir coordenadamente, após ter deixado a sua segurança a cargo dos Estados Unidos nos últimos 80 anos. 

        Nas guerras de Inverno e da Continuação, entre 1939 e 1945, a Finlândia perdeu 11% do seu território para a União Soviética de Stálin, contudo, saiu dessas guerras soberana. Passou 80 anos se armando e hoje tem um dos mais bem equipados exércitos da Europa. Entrou para a União Europeia junto com a Suécia em 1995 e em 2023 ingressou na Otan. O destino da Ucrânia pode ser semelhante, mas apenas se contar com o apoio de aliados.

        “Você teve escolha entre a guerra e a desonra”, disse Churchill. É a mesma escolha imposta hoje à Europa. O preço da desonra pode ser alto demais.

 

Vitelio Brustolin

PhD em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento

É professor de Relações Internacionais na Universidade Federal Fluminense (UFF), pesquisador da Harvard Law School e do Harvard Department of the History of Science. Pós-doutorado na Harvard University.

 


Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...